quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Uma resposta à crise do neoliberalismo. Chamado a blindar a América do Sul

Arturo Lozza

A cúpula da Unasul, em um passo transcendente, proporá medidas conjuntas de defesa frente aos efeitos da crise capitalista.

Na semana passada, Ollanta Humala jurou, como Presidente do Peru, e impulsionou, como primeiro ato de seu governo, uma cúpula da Unasul, toda uma definição de política exterior de um país que até esse instante era um forte aliado estratégico e comercial dos Estados Unidos.

O encontro tinha como objetivo assinar uma declaração sobre o combate conjunto à desigualdade social na região; porém, a lacerante e acelerada realidade global determinou que os mandatários resolvessem dar um passo transcendente, para alguns "revolucionário” na breve história da organização sul-americana: dada a gravíssima crise dos Estados Unidos e da Europa, estabelecer urgentes medidas de defesa para evitar que esse terremoto que estoura no norte provoque um tsunami que golpeie as economias de nossas nações do sul. Isto é, tomar medidas em bloco, defensivas, de "blindagem” frente ao embate das grandes potências capitalistas que, sem dúvidas, buscarão trasladar essa crise para as "nações emergentes”, através de capitais e investimentos especulativos.

É a primeira vez que a América do Sul –em uma longa história de depredações imperiais- decide adotar uma estratégia comum de conteúdo anti-imperialista. A profundidade e alcances dessas medidas serão o resultado de duas reuniões dos Ministros de Economia que, sob as instruções diretas dos presidentes, acontecerão uma em Lima (Peru) e, outra, em Buenos Aires (Argentina), ainda nos próximos dias.

Nessa reunião cúpula da Unasul em Lima, a voz de largada foi a de Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia, cujas palavras assombraram a mais de um de seus pares, ao queixar-se porque as potências em crise "estão destruindo nossa capacidade de gerar mais empregos e, ao mesmo tempo, a América Latina está sentada sobre umas reservas de 700 milhões de dólares que estão perdendo valor com a crise”.

Há também uma realidade extra que agrava a situação desse país> tanto a Colômbia quanto o Peru e o Chile foram atados aos Tratados de Livre Comércio (TLCs) com os Estados Unidos. Recordemos que essas nações do "grupo do Pacífico”, naquele momento haviam conformado o bloco aliado a Washington, que atuava como contrapeso após a estrepitosa derrota sofrida pela Alca, em Mar Del Plata.

Hoje, os acontecimentos estão dando razão àqueles que, como Néstor Kirchner, Hugo Chávez, Lula e Rafael Correa, fizeram naufragar aquela ferramenta da dependência. O Peru já tem outro governo, o de Ollanta Humala; Santos, da Colômbia, propõe agora uma nova estratégia; e o conservador presidente chileno, Sebastián Piñera, contrariando seu pinochetismo econômico, diz que a América do Sul não tem porque sofrer os caprichos de europeus e de norte-americanos. Evidentemente, muda, tudo muda...

A recente visita de Cristina Kirchner ao Brasil e seu encontro com Dilma Rousseff não fez mais do que definir ainda mais a adoção de medidas comuns para evitar o tsunami. "Devemos desenvolver uma estratégia inteligente de integração pra blindar a região”, propôs Cristina, e Dilma, investindo contra os "países ricos”; porém, sobretudo contra os Estados Unidos, os acusou de revalorizações artificiais de suas moedas, o que tem causado sucessivas desvalorizações do Real.

Dias mais tarde, desde o Equador, Rafael Correa insistiu no que foi dito na cúpula de Lima: a necessidade de que os governos da América Latina tenham uma moeda regional para enfrentar medidas de Washington, que golpeariam os mercados do mundo.

Ressaltou: "Devemos proteger-nos de uma eventual crise norte-americana” e "para impedir que nossas economias sejam, desnecessariamente, dependentes do dólar”. Referindo-se às próximas reuniões dói Ministros da Economia, agregou que deverão não somente dar respostas conjunturais às medidas que os Estados Unidos venham a tomar, como também deverão definir "transformações estruturais”.

"Por que raio temos que depender do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BM) se temos economias suficientes para criar o Banco do Sul e financiar nosso próprio desenvolvimento?”, perguntou Correa.

Enquanto cada governo da Unasul ajusta suas proposições às reuniões dos Ministros da Economia, vemos o vendaval provocado por aquele ocidente que um dia proclamou "o fim da história”: a ação das grandes corporações sobre o Parlamento norte-americano e sobre Barack Obama precipitou uma aguda crise política nos Estados Unidos em um contexto de mais ajuste e mais endividamento; Zapatero, na Espanha, se vê forçado a antecipar as eleições para novembro/2011 e terá que deixar o governo; as sociais-democracias se revolvem na traição de seus princípios; o fascismo está lançado à ofensiva com suas grandes quotas de discriminação racial e, em sentido contrário, se precipitam multitudinárias mobilizações contra o neoliberalismo.

A América do Sul observa o terremoto desde o balcão; porém, não está alheia aos acontecimentos, o tsunami pode chegar a golpear duro se não forem tomadas medidas contra os poderosos capitais especulativos que chegam e que, ao ir-se, deixam o panorama arrasado, caso não sejam tomadas medidas contra a fuga de capitais, contra a privatização de seus enormes recursos naturais; se não se acaba com os grandes monopólios multinacionais dos cereais e da alimentação que são uma barreira à soberania alimentar caso não se endureça nos controles sobre o comércio exterior...

Definitivamente, a precipitação da crise global do neoliberalismo, que deixa à mostra suas consequências, vai trazendo respostas, impensadas até há pouco tempo, como as da Unasul, que poderão ser mais ou menos anti-imperialistas, mais ou menos profundas; porém, certamente, significarão um passo mais nesse processo de avançada que é, sem dúvida, um dos fatos que mostram a decadência do império yanqui e o aparecimento do bloco da América do Sul como fator cada vez mais importante rumo à multipolaridade, à independência e à soberania dos povos. (Adital)


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