Durante os 47 anos que comandou a Gazeta do Povo o doutor Francisco da Cunha Pereira Filho nĂ£o chegou a ser uma unanimidade. Mas de uma coisa nem seus maiores adversĂ¡rios questionava. Essa coisa era seu apreço ao ParanĂ¡. A expressĂ£o “paranismo” parecia ter sido cunhada para ele e suas campanhas cĂvicas em prol de causas do interesse do Estado marcaram Ă©poca. Foi graças Ă força da Gazeta do Povo e da RPC que os municĂpios do ParanĂ¡, inundados pela hidrelĂ©trica de Itaipu, começaram a receber royalties. Um dinheiro que mudou a face da regiĂ£o Oeste. SĂ³ para enumerar uma das muitas campanhas vitoriosas idealizadas e comandadas pessoalmente por Cunha Pereira.
Pois, o que diria o doutor Francisco se visse no que a Gazeta do Povo se transformou? O jornal nĂ£o defende mais as causas paranistas. Ao contrĂ¡rio. Seu principal comentarista polĂtico, Celso Nascimento, Ă© um jornalista que solta foguetes e estoura champanhes cada vez que o ParanĂ¡ sofre uma derrota. A mira do seu ressentimento Ă© o governador Beto Richa, mas ele vibra e comemora cada vez que o Estado sofre um gol contra.
Uma prova disso Ă© a coluna desta quinta-feira, 16 de agosto, quando Nascimento se rejubila com o fato que “a semana estĂ¡ sendo prĂ³diga de mĂ¡s notĂcias para o ParanĂ¡”. Ele se regozija principalmente com o fato do governo do PT ter deixado o ParanĂ¡ de fora de um pacote de investimentos R$ 130 bilhões.
“Quanto ao pacote federal, a previsĂ£o Ă© construir 7,5 mil quilĂ´metros de rodovias e 10 mil de ferrovias em todo o paĂs nos prĂ³ximos cinco anos. NĂ£o hĂ¡ um Ăºnico quilĂ´metro que favoreça o escoamento da produĂ§Ă£o paranaense via Porto de ParanaguĂ¡ ou de modernizaĂ§Ă£o da malha existente, cheia de gargalos. Seria mĂ¡-vontade do governo petista com um estado cujo governador Ă© tucano? Ou serĂ¡ que o ParanĂ¡ esteve alheio Ă s tratativas para a formulaĂ§Ă£o do pacote e nĂ£o apresentou ou defendeu nenhum projeto de seu interesse?”, vibra o jornalista.
A euforia do colunista com o prejuĂzo que sofre o ParanĂ¡ Ă© tĂ£o grande, e sua sanha de atribuir a culpa de tudo ao governo do Estado Ă© tĂ£o enorme, que ele ignora um fato Ă³bvio. O ParanĂ¡ tem trĂªs ministros petistas no cĂrculo mais Ăntimo da presidente Dilma Rousseff (Gilberto Carvalho, Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann), nenhum deles moveu uma palha para que o ParanĂ¡ tivesse parte desses novos investimentos.
Ao contrĂ¡rio, tudo indica que, empenhados hĂ¡ mais de uma dĂ©cada em tomar o poder no Estado, usando agora um cavalo de TrĂ³ia (Gustavo Fruet) para tentar tomar a prefeitura de Curitiba, os ministros petistas que o ParanĂ¡ tem em BrasĂlia nĂ£o se importam nem um pouco em prejudicar o Estado para atingir seus objetivos polĂticos.
Toda essa campanha sĂ³rdida contra o ParanĂ¡ o doutor Francisco poderia atĂ© entender, como parte do jogo rasteiro e repulsivo da polĂtica, embora lamentasse. O que certamente ele jamais aceitaria Ă© que o principal colunista polĂtico do seu jornal fosse tambĂ©m o capitĂ£o do time do gol contra.