sexta-feira, 16 de março de 2012

Tailandês recupera cão que havia sido roubado para virar comida; assista

Oposição quer ouvir presidente da Anvisa sobre licenças a indústrias

A oposição ao governo Dilma Rousseff quer que o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Dirceu Brás Aparecido Barbano, preste explicações na Câmara sobre um suposto esquema de liberação de licenças a indústrias farmacêuticas, após a revelação, pelo jornal O Estado de S. Paulo, de uma agenda que indicaria pagamentos de um laboratório investigado por diversas fraudes ao ex-diretor da agência e atual governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT).

Veja também: link Agenda de grupo farmacêutico põe Agnelo Queiroz sob nova suspeita

O deputado Fernando Francischini (PSDB-PR) apresentará à Comissão de Fiscalização e Controle requerimento de convite a Barbano, a ser apreciado na próxima reunião do colegiado, na quarta-feira que vem. O parlamentar também enviou nesta quinta-feira, 15, à Anvisa pedido de abertura de uma sindicância para apurar as novas suspeitas.

Embora a Controladoria Geral da União (CGU), órgão de controle interno do governo, sustente que basta a notícia de uma suposta irregularidade para a abertura de investigação interna, a Anvisa alega que só o fará se provocada por autoridade pública. Segundo Francischini, o ofício para a sindicância será remetido até o fim da tarde desta quinta-feira. "Essa agenda indica que há uma tabela de propina de Agnelo para liberar certificados na Anvisa", acusou o tucano, autor de outras denúncias contra o governador.

Reportagem publicada nesta quinta-feira pelo Estadão informa que a força-tarefa responsável pela Operação Panaceia, formada por Polícia Civil, Ministério Público e Receita Estadual de Minas, com a colaboração do Ministério da Justiça e agentes da própria Anvisa, apreendeu agenda com registros contábeis do laboratório Hipolabor.

Numa das páginas, de 24 de maio, consta a anotação "Agnelo", ao lado de "50.000". Em outra, de 30 de maio, aparece a informação: "Agnelo:.50". Agnelo diz que não tem qualquer relação com o grupo do Hipolabor. Para a sindicância, segundo a CGU, bastaria que a Anvisa solicitasse os documentos apreendidos e as informações.

De 2007 a 2010, como diretor da Anvisa, Agnelo liberou certificados de boas práticas de fabricação (CBPFs) para o Hipolabor e empresas de seu grupo. Os documentos servem para o registro e consequente comercialização de medicamentos. Também são exigidos em licitações e compras do poder público. Em novembro, o lobista Daniel Almeida Tavares acusou o governador de cobrar R$ 50 mil pela liberação do mesmo título à empresa União Química. (AE)


MP decidirá se investiga Mantega por improbidade


O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, enviou à Procuradoria da República no Distrito Federal um pedido feito por seis senadores para investigar se o ministro da Fazenda, Guido Mantega, cometeu improbidade administrativa por causa das suspeitas que levaram à demissão do ex-presidente da Casa da Moeda Luiz Felipe Denucci. No dia 14 de fevereiro, seis senadores pediram a Gurgel que apurasse se Mantega teria sido omisso em manter Denucci no cargo, mesmo diante de denúncias de corrupção levantadas contra ele pela Receita e pela Polícia Federal.

O ex-presidente da Casa da Moeda foi demitido no final de janeiro no momento em que a Folha de S.Paulo preparava uma reportagem sobre ele. O jornal revelou depois que Denucci teria uma conta em offshore por meio da qual receberia propina. Mantega sempre disse que não sabia das suspeitas que pairavam sob seu ex-subordinado, sustentando que a sugestão do nome coube ao PTB em 2008. O partido nega tê-lo indicado.

Gurgel repassou a representação para a Justiça de primeira instância porque é o foro competente para julgar casos de improbidade supostamente cometidos por ministros de Estado. Segundo o procurador-geral, ele só tem competência para investigar Mantega criminalmente, o que não é o caso. Caberá a um procurador da República avaliar a representação. Entre os caminhos, ele poderá decidir se abre inquérito civil contra o ministro, move ação de improbidade (o que pode, em caso de condenação, suspender seus direitos políticos) ou arquivar o pedido.

O pedido de investigação foi subscrito pelos senadores Demostenes Torres (DEM-GO), Alvaro Dias (PSDB-PR), Aloysio Nunes (PSDB-SP), Pedro Taques (PDT-MT), Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP). (AE)

STF decide se crimes da ditadura foram anistiados

O Supremo Tribunal Federal (STF) vai ter de decidir se os responsáveis por desaparecimentos na ditadura militar ainda podem ser processados. Está previsto para a próxima quinta-feira, 22, o julgamento de um recurso no qual a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) sustenta que esses crimes não foram anistiados.

A OAB argumenta que os sequestros de desaparecidos são crimes permanentes já que as vítimas nunca foram encontradas. Dessa forma, os responsáveis não podem ser beneficiados pela Lei de Anistia, que perdoou os crimes cometidos até 15 de agosto de 1979.

A entidade recorreu de uma decisão tomada em 2010 pelo plenário do STF. Na ocasião, o tribunal reconheceu a validade ampla, geral e irrestrita da Lei de Anistia. O entendimento foi de que a lei perdoou os opositores ao regime militar que cometeram crimes e também os agentes de Estado acusados de violações a direitos humanos.

No entanto, para a OAB, o Supremo foi omisso em relação à tese de que os sequestros não poderiam ser perdoados já que são crimes permanentes. A entidade também observa que a Assembleia das Nações Unidas confirmou que são considerados crimes contra a humanidade assassinatos, extermínios e todos atos desumanos cometidos contra a população civil por autoridades estatais. Segundo a Ordem, esses crimes não podem ser anistiados por leis nacionais.

A OAB cita no recurso decisão tomada em 2009 pelo STF autorizando a extradição para a Argentina do major uruguaio Manuel Juan Cordeiro Piacentini. Ele foi acusado de participar da Operação Condor, que nos anos 70 reprimiu os opositores a regimes militares da América do Sul.

No processo analisado pelo tribunal, o militar era acusado de envolvimento no desaparecimento de uma criança de 10 anos. No julgamento, o relator do caso, ministro Ricardo Lewandowski, disse que o crime de sequestro tem caráter permanente já que a vítima não apareceu. (AE)

Grande perda para nação brasileira!!!!! Morreu Aziz Ab’Saber, com seu falecimento o Brasil fica política e culturalmente mais pobre

O pesquisador Aziz Nacib Ab'Saber, um dos maiores especialistas brasileiros em geografia física e referência em assuntos relacionados ao meio ambiente e impactos ambientais decorrentes das atividades humanas, morreu nesta sexta, aos 87 anos, de enfarte.

O geógrafo era professor emérito da USP, autor de mais de 300 trabalhos acadêmicos - Mauro Bellesa/Divulgação
Mauro Bellesa/Divulgação
O geógrafo era professor emérito da USP, autor de mais de 300 trabalhos acadêmicos

O velório será realizado a partir das 19 horas no Salão Nobre da FFLCH, que fica na Rua do Lago, 717, Cidade Universitária, São Paulo, no Prédio da Diretoria e Administração. O sepultamento será neste sábado, às 11h, no Cemitério da Paz (Rua Doutor Luís Migriano, 644, Morumbi, São Paulo.

Professor emérito da FFLCH-USP, ele é autor de mais de 300 trabalhos acadêmicos e considerado referência da geografia em todo o mundo. É autor de estudos e teorias fundamentais para o conhecimento dos aspectos naturais do Brasil. Era presidente de honra e ex-presidente e conselheiro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Ruth Andrade, secretária-geral da entidade, contou ao Estado que foi uma morte tranquila. "Ele acordou, fez café da manhã para toda a família, sentou-se em uma cadeira, falou "Ai" e morreu." Segundo ela, nos últimos meses o pesquisador estava visitando toda a semana a SBPC por conta da realização do terceiro volume da coleção "Leituras Indispensáveis", ainda a ser publicado.

Texto publicado no site da entidade conta que um dia antes de morrer, "o professor, disposto como sempre, fez sua última visita à SBPC, em São Paulo. Em um gesto de despedida, mesmo involuntariamente, ele entregou na tarde de ontem à secretaria da SBPC sua obra consolidada, de 1946 a 2010, em um DVD, para ser entregue a amigos, colegas da Universidade e ao maior número de pessoas." Ruth lembra que ele ainda pediu para que o material seja distribuído a estudantes nos eventos da SBPC. "Será agora a nossa missão", diz.

"Acredito que Aziz era um caso raro de casamento entre ser cientista e ser humanista. Ao mesmo tempo em que ele tinha um conhecimento incrível, não só de geografia, mas de várias áreas, ele tinha a perspicácia de fazer a relação desses assuntos com o cotidiano das pessoas", lembra.

Apesar da idade, Aziz continuava bastante ativo e polêmico. Em várias oportunidades se mostrou contrário ao alarmismo em torno do aquecimento global, reforçando seu aspecto natural. Recentemente também se manifestou sobre a mudança do Código Florestal no Brasil, criticando a ausência, no texto, de todo o zoneamento físico e ecológico do País, "como a complexa região semi-árida dos sertões nordestinos, o cerrado brasileiro, os planaltos de araucárias, as pradarias mistas do Rio Grande do Sul, conhecidas como os pampas gaúchos, e o Pantanal mato-grossense. Na ocasião, ele chegou a defender a criação do Código da Biodiversidade para contemplar a preservação das espécies animais e vegetais", lembra o texto da SBPC. (AE)


Faleceu o Professor Virgílio de Almeida, histórico dirigente do PCB e atual diretor do SESDUEM – Seção Sindical dos Docentes da UEM /ANDES-SN.

O professor Virgílio de Almeida, 68, secretário político do PCB/Maringá, morreu no início da tarde desta sexta-feira (16) após passar mal quando trabalhava em sua sala no Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Ele havia trabalhado normalmente no período da manhã, inclusive em sala de aula.

Segundo a assessoria de imprensa da instituição, uma equipe do Samu foi rapidamente acionada pelos funcionários do departamento. Os médicos tentaram reanimar o professor por cerca de uma hora, porém sem sucesso. O óbito foi constatado às 12h20.

O corpo de Almeida foi encaminhado ao Instituto Médico-Legal (IML) de Maringá para ser necropsiado. O laudo indicará a causa da morte. O professor será velado na capela do Prever, na Rua Vereador Primo Monteschio, nº 250, em Maringá e sepultado neste sábado (17) em horário ainda não definido.

Almeida nasceu em Portugal em 27 de dezembro de 1943. Ela trabalhava na UEM desde fevereiro de 1986 e era uma pessoa muito querida pela comunidade universitária. Atualmente, além de ministrar aulas, o professor ocupava o cargo de secretário de formação sindical da Seção Sindical dos Docentes (Sesduem)

O conservadorismo da Justiça: Justiça Federal do Pará rejeita denúncia contra o major Curió. REFORMA DO JUDICIÁRIO JÁ!!!!

O juiz federal João César Otoni de Matos, de Marabá, rejeitou no início da tarde desta sexta-feira denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal (MPF) contra o coronel da reserva Sebastião Rodrigues de Moura, o major Curió, pelo crime de sequestro qualificado contra cinco militantes, na região do Araguaia na década de 70. Em sua decisão, o magistrado argumenta que não se pode fugir da Lei da Anistia.

"Pretender, depois de mais de três décadas, esquivar-se da Lei da Anistia para reabrir a discussão sobre crimes praticados no período da ditadura militar é equívoco que, além de desprovido de suporte legal, desconsidera as circunstâncias históricas que, num grande esforço de reconciliação nacional, levaram à sua edição", escreveu o juiz João César Matos.

Segundo a denúncia do MPF contra Curió, o grupo foi sequestrado por tropas comandadas pelo militar entre janeiro e setembro de 1974. Após sessões de tortura, não houve mais notícia do paradeiro de nenhum deles. Para driblar a Lei de Anistia - que, em 1979, perdoou os ilícitos cometidos por militares e militantes -, os procuradores alegaram que o crime de sequestro é permanente enquanto as vítimas não forem encontradas. Com isso, os casos não poderiam ser enquadrados na Lei de Anistia.

O juiz federal, no entanto, ressalta que o MPF não fez referência, na denúncia, "a documento ou elemento concreto que pudesse, mesmo a título indiciário, fornecer algum suporte à genérica alegação de que os desaparecidos a que se refere teriam sido - e permaneceriam até hoje - sequestrados."

Para o magistrado, não basta, para configurar o crime de sequestro apenas o fato de os corpos dos desaparecidos não terem sido localizados.

"Aliás, dada a estrutura do tipo do sequestro, é de se questionar: sustenta o parquet [Ministério Público] que os desaparecidos, trinta e tantos anos depois, permanecem em cativeiro, sob cárcere imposto pelo denunciado? A lógica desafia a argumentação exposta na denúncia", diz o juiz federal.

João César Matos acrescenta ainda que, mesmo se o sequestro fosse admitido, a pretensão punitiva já estaria prescrita, ou seja, o Estado não poderia mais puni-lo. Isso porque, segundo o magistrado, "diante do contexto em que se deram os fatos e da extrema probabilidade de morte dos desaparecidos, haveria mesmo de se presumir a ocorrência desse evento morte."

Além disso, o juiz lembra que "os desaparecidos mencionados na denúncia do Ministério Público Federal foram oficialmente reconhecidos como mortos pelo artigo 1º da Lei nº 9.140, de 04.12.1995, data que seria, então, o termo inicial do prazo prescricional relativamente ao delito do artigo 148 do CP (sequestro), cuja pena máxima, na forma do seu parágrafo 1º, é de oito anos".

O juiz ainda rebateu os argumentos segundo os quais o julgamento proferido pelo Corte Internacional dos Direitos Humanos teria a força para afastar a aplicação da Lei de Anistia em casos como os relatados na denúncia oferecida contra o Major Curió.

"A Lei da Anistia operou, para situações concretas e específicas, efeitos imediatos e voltados para o passado".

E referiu-se a entendimento do ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal Eros Grau, para quem a Lei da Anistia "tratou de uma lei-medida, não de uma regra genérica e abstrata para o futuro". (AG)


A tropa do extermínio

Documentos e depoimento de oficial revelam como o Exército cercou, torturou camponeses e aniquilou os guerrilheiros do PCdoB no Araguaia

Alan Rodrigues

Brasil

Exclusivo A tropa do extermínio Documentos e depoimento de oficial revelam como o Exército cercou, torturou camponeses e aniquilou os guerrilheiros do PCdoB no Araguaia Alan Rodrigues, de Campo Grande (MS)

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Quando as formigas começaram a subir pelo corpo, o camponês contou tudo o que sabia sobre os comunistas", revela Vargas.Na Base de Bacaba, segundo o militar, os guerrilheiros eram identificados através de fotografias expostas nas paredes. Quando eram abatidos, colocava- se um "X" sobre a foto. "Os detidos eram marcados com um quadrado", diz Vargas. A base possuía um campo de futebol que servia para o pouso dos helicópteros. "Num terreno próximo ao campo, eu vi sendo enterrados alguns guerrilheiros, mas na Operação Limpeza, em 1975, esses corpos foram levados para um lugar que só Curió sabe."

DOCUMENTO REVELA A ESTRATÉGIA DO EXÉRCITO

Os papéis agora revelados pelo tenente da reserva José Vargas Jiménez mostram como os militares montaram a Operação Marajoara para destruir totalmente os guerrilheiros do PCdoB no Araguaia. Primeiro, eles prenderam e torturaram os camponeses que moravam nas diversas localidades relacionadas no documento. Com isso, reuniram informações e "ganharam" apoio da população na luta contra os insurgentes. A seguir, os militares entraram na mata sem uniforme para caçar e exterminar os comunistas. Cada patrulha militar, formada por dez homens, carregava uma lista com os nomes dos guerrilheiros instalados em áreas já identificadas (leia fac-símile abaixo) a partir das informações prestadas pelos camponeses. Estavam relacionados por ordem de prioridade. Primeiro foram mortos os comandantes da guerrilha.

i74245.jpgEm 14 de outubro de 1973, os militares deram início ao que Vargas chama de "fase do extermínio". No documento que o então sargento carregava, agora revelado por ISTOÉ, está detalhado quem era quem no esquema insurgente. "Tínhamos um álbum de fotos, nomes e área (região) onde atuavam, além de seus destacamentos", lembra o militar. Chamado de "Plano de Captura e Destruição", o relatório, na primeira página, identificava os grupos de guerrilheiros que deveriam ser abatidos, por prioridade. A chamada comissão militar da guerrilha deveria ser dizimada em primeiro lugar. "Eles eram prioridade 1", diz Vargas. Com a relação nas mãos, os militares se embrenharam na floresta e a matança começou. "Numa caminhada pela região de Caçador, encontrei três corpos de guerrilheiros abandonados na mata. Um deles era o André Grabois, filho de um dos líderes dos comunistas. Um outro, um mateiro, um de meus soldados decepou-lhe o dedo, tirou a carne, e colocou o osso num colar", afirma o tenente da reserva. Vargas também se recorda que em 24 de novembro, depois de um tiroteio, outros corpos foram abandonados. "Como não conseguimos identificar um deles, recebemos ordens pelo rádio para decapitar e cortar as mãos do inimigo, para identificação. Os outros corpos foram abandonados por lá. É claro que os animais os comeram. Nós não tínhamos obrigação de carregar corpo de guerrilheiro e nem de enterrá- los", diz. Segundo Vargas, quando as fotos não eram suficientes para identificar os abatidos, suas cabeças e mãos eram cortadas para posterior reconhecimento na Base de Marabá.

No dia de Natal de 1973, um combate exterminou oito integrantes da comissão militar do PCdoB. "Depois disso não houve mais combates, apenas mortes e prisões", lembra o tenente da reserva. "Para cada um que matávamos, fazíamos um risco no fuzil." Um mês depois, em São Domingos das Latas, Vargas capturou "Piauí", como era conhecido o estudante de medicina Antônio de Pádua Costa. Piauí havia assumido o comando do principal destacamento dos guerrilheiros depois do massacre do Natal. "Esse eu peguei na mão, depois de uma luta", conta o militar. "Eu o entreguei vivo ao CIEx. Mas ele consta na lista de desaparecidos políticos", afirma.

Depois de passar quase duas décadas no Serviço de Informação do Exército, Vargas associou sua própria experiência à coleta de relatórios secretos. Aos 59 anos, ele narrou à ISTOÉ os motivos sobre o silêncio em torno da Operação Marajoara. Ela tinha que ser sigilosa porque era uma operação quase clandestina das Forças Armadas. "Além da descaracterização, não éramos obrigados a produzir nenhum documento policial-militar sobre as mortes, nem as do nosso lado", diz. Agora, o militar está empenhado em escrever um livro para publicar no começo de 2009.

FOTOS: ALAN RODRIGUES/AG. ISTOÉ; ARQUIVO PESSOAL

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Pela primeira vez surge um documento do Exército brasileiro comprovando que os militares enfrentaram os militantes do PCdoB no Araguaia (1972/1975) com ordem para matar. Chamado de "Normas Gerais de Ação - Plano de Captura e Destruição", o documento, de 5 de setembro de 1973, elaborado pelo Centro de Informação do Exército (CIEx), ao qual ISTOÉ teve acesso, relaciona os "terroristas traidores da nação" que deveriam ser "destruídos". Em outubro de 1973, este documento estava na mochila do então 3º sargento José Vargas Jiménez, quando desembarcou de um avião militar P A TROPA DO EXTERMÍNIO Hércules C-130, na base militar de Marabá (PA), e subiu em um caminhão do Exército rumo ao quilômetro 68 da Rodovia Transamazônica para combater na Operação Marajoara - a terceira e derradeira fase da Guerrilha do Araguaia. O verbo "destruir" redigido no documento, segundo Vargas, hoje 1º tenente da reserva, é um eufemismo para matar. "A ordem era exterminar", afirmou Vargas à ISTOÉ.

O documento foi expedido e entregue a Vargas pela 2ª Seção do Comando Militar da Amazônia. Naquele momento, o combate à guerrilha contava com um efetivo de 120 guerreiros de selva, integrantes do Batalhão de Brasil EXCLUSIVO Infantaria da Selva, 100 pára-quedistas e 30 agentes do CIEx, todos comandados pelo então major Sebastião Curió. Além do documento, Vargas recebeu fotos plastificadas de cada um dos guerrilheiros e um estudo do PCdoB, de 1972, contendo as estratégias dos comunistas."Fomos para matar. E matamos. Se alguém sobreviveu foi porque colaborou com a gente e hoje vive com outra identidade", afirma o militar. Segundo o PCdoB, 75 corpos tombaram no Araguaia - 58 guerrilheiros e 17 camponeses.

Há 35 anos, Vargas guarda os documentos agora revelados, contrariando uma ordem dos generais, que em 1985 mandaram queimar todo o material referente ao período. Os papéis carregam o carimbo de secreto e indicam que o Exército tem caminhos para elucidar sua real participação nessa história, em vez de apenas dizer que os arquivos oficiais foram destruídos. O depoimento de Vargas prova que as Forças Armadas nunca quiseram prender ninguém. "A ordem era entrar na selva para matar", lembra o oficial da reserva. Em novembro de 1991, Vargas foi agraciado como herói de guerra com a Medalha do Pacifi- cador, a mais alta comenda do Exército. Para tanto, sua atuação foi analisada durante dois anos por uma sindicância coordenada pelo atual chefe da Comunicação Social do Comando Militar do Sul, coronel Aurélio da Silva Bolze. Os documentos guardados por Vargas também estão anexados nessa sindicância.

A caçada final aos comunistas começou em 1º de outubro de 1973. O comando do Exército determinou que fossem buscados, em Clevelândia do Norte (AP), os guerreiros da selva, uma tropa de elite das Forças Armadas. O grupo de 19 combatentes se uniu a outro de 41 vindos de Belém (PA), também treinados para guerrear na mata, e formaram o batalhão de caça aos rebeldes. A tropa era formada por um capitão - Pedro de Azevedo Carioca, já morto -, 20 sargentos, um cabo, 36 soldados e três recrutas. Esse grupo se embrenhou na floresta e durante duas semanas treinou com munição real.Nenhum militar do grupo podia cortar os cabelos, aparar as barbas ou usar farda. "A idéia era confundir a população que apoiava os comunistas", lembra Vargas.Completava as ordens a escolha de um codinome. O sargento escolheu lutar como "Chico Dólar". Operação simultânea acontecia em Manaus (AM) com 60 militares da 12ª RM, outra tropa especial.

Ao desembarcar em Marabá, os 120 homens foram levados para a "Casa Azul", como era conhecida a sede do centro militar. Lá, foi revelada a estratégia de ataque. As operações começaram com o mapeamento da rede de apoio que os guerrilheiros tinham entre os camponeses, as bases dos insurgentes e o poderio de fogo dos inimigos. Para isso, os militares cooptaram camponeses e formaram um Grupo de Autodefesa (GAD). "Eles eram muito bem remunerados por nós. Tinha uma escala de pagamentos que variava entre informação e prisão", conta Vargas. Com os dados em mãos, os militares elaboraram a "tabela nº 01", que se chamava "busca e apreensão". "Recebemos uma lista com o nome de quase 400 moradores que contribuíam com os comunistas", recorda Vargas.

Na madrugada de 3 de outubro, os grupos dos guerreiros da selva e dos pára-quedistas se separaram. A tropa de Vargas embarcou rumo a Bacaba, uma das duas bases militares na região, situada ao norte da área de combate, as margens da Transamazônica. A outra base militar era a de Xambioá, ao sul, próximo ao atual Estado do Tocantins. Partindo das duas bases, fizeram um cerco aos moradores e guerrilheiros (leia mapa acima). Entrando de casa em casa, os militares colecionaram prisões de camponeses. "Em cada cabana que entrávamos prendíamos o chefe da família e, se este tivesse filho homem na idade de lutar, também ia preso", recorda Vargas. "Deixamos só as mulheres e crianças para trás." Nas bases militares, os camponeses eram submetidos a todo tipo de tortura."Eles eram colocados descalços em pé em cima de latas, só se apoiando com um dedo na parede, tomavam 'telefones' - tapas nos ouvidos - e choques elétricos", conta o militar. "Prendi mais de 30", contabiliza. "Um deles eu coloquei nu em um pau-dearara, com o corpo lambuzado de açúcar, em cima de um formigueiro.

A "ORDEM ERA ATIRAR PRIMEIRO"

O 1º tenente José Vargas Jiménez, hoje na reserva, participou da terceira fase da operação militar que aniquilou a Guerrilha do Araguaia. A seguir, os prin cipais trechos de sua entrevista à ISTOÉ:

ISTOÉ - Que ordens o sr. recebeu ao chegar ao Araguaia? José Vargas - Desembarquei na fase do extermínio dos guerrilheiros. A ordem era atirar primeiro, perguntar depois.

ISTOÉ - Como assim, extermínio? Vargas - Recebemos ordem para matar todos. E matamos. Se algum guerrilheiro sobreviveu à terceira fase, foi porque colaborou com a gente e ganhou uma nova identidade.

ISTOÉ - Como foi a ação? Vargas - Os guerrilheiros jamais esperaram um exército descaracterizado, com ordem para exterminar. Não era uma guerra regular. Primeiro, prendemos todos os homens da região. Criamos um Grupo de Autodefesa (GAD), formado por moradores bem remunerados, que nos ajudavam entregando os comunistas. Depois que matamos os comandantes da guerrilha, os outros ficaram perambulando famintos pela selva. Numa tática de desmoralização, quando eles eram capturados, eles eram amarrados pelo pescoço e expostos pelas ruas dos vilarejos.

ISTOÉ - Isso foi feito com algum líder da guerrilha? Vargas - Era para humilhar. Desfilamos com o corpo de Oswaldão, o líder máximo deles, dependurado num helicóptero. Foi o fim do mito.

ISTOÉ - Houve ordens para decapitar os guerrilheiros? Vargas - Foram três os decapitados. Mas foram exceções. Não tínhamos fotos desses guerrilheiros e não dava para carregar os corpos deles pela selva. Para identificá-los depois, cortaram-se a cabeça e as mãos.

ISTOÉ - Quem reconhecia? Vargas - Entregávamos vivo ou morto para o serviço de inteligência. Alguns ficaram na mata.

ISTOÉ - Onde estão os corpos dos guerrilheiros? Vargas - Vários ficaram na selva e foram comidos pelos bichos. Mas, se alguém sabe onde estão, esse alguém é o Curió, que ficou encarregado da Operação Limpeza.

ISTOÉ - O que foi a Operação Limpeza? Vargas - Era uma ação que retirou as ossadas dos guerrilheiros da selva. Dessa operação, eu só ouvi falar. O que dizem é que em 1975 o Curió retirou todos os corpos e os levou para a Serra das Andorinhas. Quando o Curió falar, chega-se à verdade final.

ISTOÉ - O que os militares têm a esconder? Vargas - Eu, por exemplo, capturei dois guerrilheiros e os entreguei vivos ao comando. Eles constam na lista de mortos e desaparecidos políticos.

ISTOÉ - Quem são eles? Vargas - O Piauí e o Zezinho.

ISTOÉ - E o combate à guerrilha urbana? Vargas - Se as forças do Estado tivessem sido radicais nas cidades, não teríamos ministros comunistas fazendo o que querem. Os militares que atuaram nas cidades foram muito tolerantes.

ISTOÉ - O sr. acha, então, que os grupos de esquerda nas cidades também deveriam ter sido exterminados? Vargas - Claro. Se o pessoal que está sendo processado, como o Ustra (coronel Brilhante Ustra), tivesse feito o que fizemos no Araguaia, não teríamos esses aí no poder. Em vez de os ministros do governo Lula ficarem quietos e agradecerem por estar vivos, ficam com revanchismo.

ISTOÉ - O sr. admite a tortura? Vargas - Torturar é normal numa guerra. Para obter informações, você tem que apelar, fazer uma tortura, senão o cara não conta.

ISTOÉ - Tortura é crime. Vargas - Não existe lei numa guerra. Você mata ou morre. A tortura nunca vai acabar. É assim que funciona.

ISTOÉ - O sr. torturou e matou? Vargas - Vi muito guerrilheiro sendo torturado na base de Bacaba, mas eu só apertei um camponês que não queria falar. Coloquei ele nu em um pau-dearara, com o corpo lambuzado de açúcar, em cima de um formigueiro. Quando as formigas começaram a subir pelo corpo dele, o camponês contou tudo. Mas ele ficou vivo.

ISTOÉ - Como eram as torturas? Vargas - As técnicas eram colocá-los em pé o dia inteiro em cima de latinhas, apoiando apenas um dedo na parede. Tinha o "telefone" - tapas nos ouvidos - e socos em pontos vitais, além de choques elétricos.

ISTOÉ - Por que o sr. resolveu fazer essas revelações? Vargas - Tenho esses documentos guardados há muitos anos. Depois que voltei a estudar, me politizei. Achei que a história do Brasil deveria ser contada como de fato aconteceu.

ISTOÉ - E a ordem para destruir os documentos? Vargas - Veio em 1985, quando eu estava no Serviço de Inteligência do Exército.

ISTOÉ - Existe um arquivo sobre a Guerrilha do Araguaia? Vargas - Eu acredito que o CIE deve ter arquivo.

ISTOÉ - O sr. acha que o governo deveria abrir esses arquivos?


 
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