sábado, 29 de janeiro de 2011

Identificadas as vítimas de acidente de avião em Londrina

Foto de Gilberto Abelha

Folha de Londrina

Os três ocupantes do bimotor que caiu na noite de ontem na zona sul foram supostamente identificados por familiares e serão sepultados neste sábado (29), de acordo com a Acesf - Administração de Cemitérios e Serviços Funerários de Londrina. De acordo com o Instituto Médico Legal, ainda não há confirmação oficial da identificação das vítimas e resultado de exames de materiais coletados dos corpos carbonizados só devem sair em 30 dias.

Oséias Júnior Pereira Sena, de 18 anos, que, era funcionário de uma empresa de táxi aéreo, está sendo velado na Igreja Assembleia de Deus do Jardim Santa Joana, na Rua Antônio Mazzer, 115. Segundo familiares, ele nunca havia voado e tinha medo de avião. Ontem, Oséias teria aceito o convite de embarcar na aeronave feito pelos tripulantes. Eles haviam decolado do aeroporto de Londrina para fazer um voo treinamento porque na segunda-feira iriam se submeter a prova para renovação de habilitação de voo. O sepultamento de Oséias será às 17h no Cemitério Jardim da Saudade.

O piloto Gleiton Zanetta Borba, de 33 anos, e o co-piloto, Ronaldo de Souza Pescador, 33 anos, serão sepultados em Sertanópolis mas ainda não há confirmação de local e horário.

O acidente ocorreu ontem no início da noite, no Distrito do Espírito Santo, área rural de Londrina. Hoje é esperado a chegada de um oficial do Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa) 5, de Canoas (RS).

Este foi o segundo acidente aéreo ocorrido na região de Londrina em pouco mais de um mês. Em 12 de dezembro de 2010, um modelo também bimotor caiu na área rural do Distrito de Warta. Os sete ocupantes da aeronave sobreviveram.

Projeto tenta recuperar 'Jardim do Éden' iraquiano

BBC

Desde a queda do ex-líder iraquiano Saddam Hussein, um grupo de especialistas vem trabalhando para restaurar uma região do Iraque que foi, no passado, o maior ecossistema úmido da Eurásia.

Os Sapais da Mesopotâmia, plenos de água e vida natural, são tidos por muitos cristãos como o berço da humanidade, o verdadeiro Jardim do Éden.

Na década de 1990, para punir tribos árabes nativas da região pantanosa - que haviam se revoltado contra seu governo após a primeira Guerra do Golfo - e outros opositores que se refugiavam no local, Saddam drenou os rios que abasteciam a área.

O ex-líder construiu uma rede de canais para desviar a água dos rios Eufrates e Tigre, direcionando-a para o mar.

Cercada de terras áridas, esta rara paisagem de pântanos e lagos que cobria 15 mil quilômetros quadrados no sul do país passou a ocupar 10% do seu território original, com consequências devastadoras para a vida selvagem e os povos que ali viviam.

Reconstrução

Agora, o iraquiano Azzam Alwash lidera um grupo de engenheiros e biólogos que trabalham para restaurar os pântanos e trazer de volta as inúmeras espécies de animais e plantas que nativas da região.

Alwash, que após fugir do governo de Saddam Hussein viveu vários anos nos Estados Unidos, costumava acompanhar seu pai - um engenheiro do departamento de água do governo - em viagens aos sapais.

Após a ocupação do Iraque, em 2003, ele voltou ao país para trabalhar no pântano e fundou a organização Nature Iraq, dedicada a proteger e restaurar o patrimônio natural iraquiano.

Quem visita os Sapais da Mesopotâmia hoje descobre um Iraque diferente daquele que existe na televisão. Oito anos após o início do projeto, grandes porções dos pântanos foram restauradas.

O pântano foi devastado durante o governo de Saddam Hussein

No entanto, o ritmo da restauração caiu bastante, por causa da escassez de água na região. No seu ápice, o projeto chegou a recuperar mais de 50% do pantanal, mas hoje a proporção caiu para 30%.

Os sapais voltaram a sofrer com a disputa pelo abastecimento de água.

Porque as represas locais reduziram o volume de água que chega à região, as inundações que, com a chegada da primavera, retiravam os depósitos de sal acumulados no pântano e reabasteciam os leitos das lagoas com minerais pararam de acontecer.

Como resultado, os sapais estão ficando mais salinos, o que afeta o ecossistema da região. Tudo isso, aliado a uma prolongada seca regional, está provocando um segunda onda de desertificação no local e ameaçando a vida selvagem.

As poucas tribos árabes que retornaram aos sapais correm o risco de ter de partir de novo, já que os pântanos não conseguem suprir suas necessidades de subsistência.

Alwash e a ONG Nature Iraq estão tomando medidas para tentar reverter o quadro. Entre elas, a construção de uma grande barreira no rio Eufrates para tentar elevar artificialmente o nível do rio.

Se der certo, a obra pode reidratar uma grande porção central do pantanal.

No entanto, será uma medida temporária enquanto outra obra, que deverá fechar um dos canais de drenagem construídos por Saddam, está em andamento.

O projeto ainda prevê a redistribuição da água que chega aos sapais, usando uma rede de reguladores para garantir um suprimento contínuo para os pântanos centrais.

Com a restauração, tribos árabes voltaram a viver no local.

Vitórias

Entre as vitórias já conseguidas pela restauração de Azzam Alwash está a volta aos Sapais da Mesopotâmia do bando de uma rara espécie de pássaro, a Marmaronetta angustirostris, que foi avistado no local. Ornitólogos contaram pelo menos 40 mil pássaros no grupo.

A ave, também conhecida como ganso de Magalhães, vive apenas nessa região e do outro lado da fronteira, na Turquia.

Mas a desertificação dos pântanos reduziu tanto a sua população que hoje a espécie é considerada ameaçada de extinção.

Outros pássaros raros tem sido avistados na área, que agora pode ser visitada por especialistas. As expedições para o estudos de pássaros eram proibidas durante o governo de Saddam Hussein.

O desafio que permanece é manter a água fluindo para os pantanais, permitindo que o "Éden" floresça novamente.

Elefantes começam a utilizar primeira passarela da África dedicada ao mamífero

AP

Já entardecia nas encostas arborizadas do Monte Quênia, e o tráfego havia diminuído na principal rodovia da região. Foi quando três elefantes cruzaram a estrada pelo primeiro túnel dedicado à espécie na África. A ideia, aparentemente simples, apresenta uma solução para o crescente conflito entre homens e animais nos biomas africanos.

O túnel, que custou US$ 250,000, provenientes de doações, reconecta duas áreas ocupadas por populações de elefantes que haviam sido separadas por anos pela rodovia, no Quênia. Os animais atravessaram a passagem sem colocar motoristas, palntações ou residentes da vila próxima em perigo.

“Foi a primeira vez que conseguimos registrar elefantes utilizando a passagem. Não esperávamos que fosse acontecer tão rápido”, disse Susie Weeks, oficial exectuiva da Mount Kenya Trust, uma das ONGs parceiras do projeto. Com 4,5 metros, o túnel foi aberto no final de Dezembro de 2010.

A vida selvagem africana têm sofrido os impactos do desenvolvimento humano. Vilas e plantações se instalam em áreas que, por séculos, foram habitats naturais de animais selvagens. A nova passagem de elefantes liga habitats das áreas elevadas do Monte Quênia, com 2 mil animais, e das florestas baixas e planícies e planícies, com 5 mil.

Iain Douglas-Hamilton, fundador da ONG Save the Elephants, disse que também foi aberto um “corredor” de cercas com 14 quilômetros, que se estende para os dois lados do túnel, para ajudar os elefantes a se locomoverem para cima e para baixo em busca de comida e amigos. O corredor e o túnel, juntos, custaram US$ 1 milhão.

Uso do agrotóxico metamidofós no Brasil será proibido em 2012



A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou o banimento do agrotóxico metamidofós do Brasil. O produto, usado nas lavouras de algodão, amendoim, batata, feijão, soja, tomate e trigo pode provocar prejuízos para o feto, além de ser prejudicial para os sistemas neurológico, imunológico, reprodutor e endócrino.

Esse é o quarto agrotóxico cuja comercialização é proibida pela Anvisa desde 2008, quando a agência preparou uma lista de reavaliação com 14 produtos suspeitos de provocar danos à saúde.

Além do metamidofós, foram proibidos o cihexatina, o tricloform e o endossulfam. "Nossa expectativa é avaliar todos os produtos da lista neste ano. Até porque certamente novos produtos deverão ser incluídos para reavaliação", afirmou Luiz Claudio Meirelles, gerente geral de toxicologia da Anvisa.

A retirada do metamidofós do mercado brasileiro será feita de maneira programada. Pela decisão, publicada nesta segunda-feira, 17, no Diário Oficial da União, o produto poderá ser comercializado somente até o fim do ano. O agrotóxico poderá ser usado nas lavouras até junho de 2012.

Meirelles afirmou que a retirada programada é feita de forma a não provocar impacto negativo na agricultura. "É preciso também que haja tempo para os produtores se adaptarem e terem acesso a produtos menos tóxicos."

O metamidofós já foi banido nos países da União Europeia, na China, Indonésia, Costa do Marfim, em Samoa, no Paquistão e Japão. De acordo com Meirelles, o produto encontra-se em processo de retirada nos Estados Unidos.

O agrotóxico já havia passado por reavaliação da Anvisa em 2002. Na época, o uso do produto foi restrito, além de a forma de aplicação ter sido alterada. No mesmo ano, também foi realizada a primeira reavaliação de agrotóxicos no Brasil pela Anvisa, com banimento de quatro deles. A análise da lista de 2008, por sua vez, demorou para ganhar ritmo. Por pressões políticas, divergências no governo e ações na Justiça, somente no ano passado as avaliações começaram a ser feitas com maior rapidez.

Para evitar que fabricantes acabem logo com seus estoques, a comercialização do metamidofós até dezembro não poderá ultrapassar a média histórica de vendas. "Vamos fiscalizar o cumprimento dessa determinação", disse Meirelles.

Com a decisão da Anvisa, também não serão autorizados registros de novos compostos que levem metamidofós, nem a importação do produto. Terminado o prazo em que a comercialização é permitida, os fabricantes ficarão responsáveis pela retirada das unidades remanescentes do mercado.

O inseticida metamidofós é comercializado no Brasil com alguns diferentes nomes comerciais, entre eles: Tamaron BR (Bayer), Hamidop 600 (Arysta), Metamidofos Fersol 600 (Fersol), Metafos (Milenia), Metasip (Sipcam Agro), Dinafos (Cheminova). É um inseticida acaricida organofosforado sistêmico, formulado como concentrado solúvel ou solução aquosa não concentrada, que contém 600 g do ingrediente ativo metamidofós por litro do produto comercial. Está autorizado pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), do Ministério da Saúde apenas para uso em pulverização foliar nas culturas de algodão, amendoim, batata, feijão, soja, tomate e trigo, via trator, pivô central ou aplicação aérea, evitando-se, assim, maior contato de aplicadores em exposição ocupacional. Na cultura do tomate, seu uso está autorizado somente para tomate rasteiro, com fins industriais (massa de tomate, etc.), sendo seu uso proibido para tomate de mesa.

O ingrediente ativo metamidofós tem sua toxicidade avaliada pela sua dose letal 50 (DL50) aguda oral para ratos de 30 mg/kg, sendo considerado muito tóxico. As formulações de metamidofós foram todas enquadradas pela ANVISA nas Classes toxicológicas I ou II (altamente tóxicas). Do ponto de vista de sua ação tóxica, como qualquer outro organofosforado, também o metamidofós é um éster inibidor da enzima acetilcolinesterase (uma enzima vital para o funcionamento do sistema nervoso), sendo este seu modo de ação, tanto nos insetos pragas, objetos do controle, bem como, assim, também nos demais animais (mamíferos inclusive).


Movimento GLBT faz protesto no Centro de Curitiba

GP

Cerca de 30 pessoas, entre elas representantes de entidades ligadas ao movimento GLBT, do Conselho Estadual de Saúde e do Conselho Nacional de Segurança Pública, fizeram uma manifestação na manhã deste sábado (29) no Centro de Curitiba.

Os manifestantes usaram cartazes e apitos para protestar contra a falta de segurança e pediram justiça para os crimes cometidos contra travestis e transexuais. A falta de possibilidade de estudo também foi outro tema levantado, o que os tornaria mais expostos a atos de violência.

O manifesto que teve início na praça Rui Barbosa por volta das 11h30 se estendeu até a Boca Maldita. Às 12h, os manifestantes ainda protestavam no local. Diversos curiosos que passavam pelo calçadão da rua XV, olhavam atentamente, aplaudiam e apoiavam a causa.

A presidente do transgrupo, Marcela Prado Carla Amaral, diz que essa é uma manifestação nacional e que mobiliza todas as capitais brasileiras. "Os travestis e transexuais estão comemorando e reivindicando políticas públicas desde ontem".

Já o presidente do grupo Dom da Terra e integrante do Conselho Nacional de Segurança Pública, Márcio Maristas, diz que esses atos são repetidos todos os anos. "Queremos que Curitiba saia desse cenário de mortes e violência". Segundo ele, propostas e diretrizes para segurança da classe estão sendo debatidos.

Mortes de travestis

Na última terça-feira (25), uma travesti foi encontrada morta em um heliporto situado no bairro Alto Boqueirão, em Curitiba. Segundo a polícia, a vítima foi executada com um tiro na nuca. Foi a segunda travesti assassinada em dois dias na capital paranaense.

Um dia antes o corpo de uma travesti foi encontrado na Cidade Industrial de Curitiba. A vítima – identificada como João Leandro Rosário dos Santos, de 26 anos – foi assassinada a pedradas.

Números

O número de homossexuais assassinados no Brasil superou 250 casos em 2010, um recorde histórico, conforme o Grupo Gay da Bahia (GGB). O dado faz parte do relatório anual - ainda em fase de conclusão - elaborado pela entidade e que será apresentado oficialmente em março.
Em entrevista, o fundador do GGB, Luiz Mott, destaca que foi a primeira vez que a quantidade de homicídios ultrapassa a casa das 200 notificações. Em 2009, foram 198, cerca de 50 a menos do que registrado no ano passado.

"Na década anterior, matava-se, em média, um homossexual a cada três dias. Nos últimos anos, essa média passou para um assassinato a cada um dia e meio. Há uma escalada que reflete a violência crescente no Brasil, sobretudo, no que se refere aos crimes letais. Em geral, a impunidade é grande, mas é maior quando a vítima é homossexual, já que as pessoas não querem se envolver, testemunhar. Ainda há muito tabu, muito preconceito", detalha o ativista.

Conforme o GGB, o Brasil continua liderando o número de mortes violentas de homossexuais, vencendo de longe o México (país conhecido pelo seu machismo) que registrou 35 casos no ano passado e Estados Unidos, com 25.

Entre os estados, a Bahia e o Paraná estão no topo da lista dos assassinatos com 25 casos cada um. Por outro lado, a capital paranaense, Curitiba, bate a baiana em número de mortes de homossexuais em 2009, firmando-se como a metrópole brasileira mais homofóbica: 14 homicídios contra 11 de Salvador.

Sindilegis reelege presidente




Edenilson Carlos Ferry ontem foi reeleito presidente do Sindicato dos Servidores do Legislativo Estadual (Sindilegis). Ferry ocupava o cargo desde maio do ano passado como interino.

Eleito com 686 votos, Edenilson, mais conhecido como Tokka, após a proclamação do resultado da eleição afirmou em seu discurso que "vai honrar os votos recebidos" pela chapa unica, o que é fruto do ótimo trabalho executado por ele e os demais dirigentes no comando do Sindicato, pois hoje existe na Alep um grande clima de unidade imperando na categoria funcional. Ela está muito satisfeita pelas vitórias obtidas neste curto período em que a direção interina esteve no comando, no caso o pagamento da URV e o reajuste salarial de 13,72%.

Desde a posse do Edenilson Carlos Ferry na direção do Sindilegis uma das principais bandeiras de luta do servidores públicos lotados na Assembléia Legislativa do Paraná foi a da busca do direito já adquirido, mas ainda não implantado em folha de pagamento, pela diferença da URV, o que foi conquistado após paralização grevista, que foi a primeira em toda a história da ALEP.

Na época da vitoriosa paralisação grevista Edenilson ressaltou que “o fruto desta jornada de luta é apenas uma das conquistas que o Sindicato espera obter, pois é grande a agenda de reivindicações da entidade e que a força do Sindicato reside na união dos servidores e quanto maior ela for maior será o poder de negociação da categoria”.

Ex-comandante dos Bombeiros nega autoria de crimes e acusa outro policial militar

O ex-comandante do Corpo de Bombeiros do Paraná coronel Jorge Luiz Thais Martins negou, neste sábado (29), ter matado nove usuários de drogas entre agosto de 2010 e janeiro de 2011 nas imediações do bairro Boqueirão, em Curitiba. Martins acusou um policial militar de ser o autor da série de assassinatos. Segundo ele o PM também teve um parente assassinado naquela região com golpes de chave de fenda. "O que consta dos autos, este policial militar jurou que iria se vingar em cima de todos os drogados da região", declarou.

O coronel acredita em uma confusão das testemunhas no momento da identificação. “As testemunhas descreveram o autor como um homem de cabelo grisalho e curto. São características que batem comigo, mas com este outro militar também”, afirmou.

Segundo o ex-comandante, sua arma de serviço, uma pistola ponto 40, é a única que já teve e que jamais foi disparada. Ele garantiu que a pistola será entregue à perícia na segunda-feira (31). “Jamais mataria estas pessoas. Se tivesse que matar, mataria a pessoa que puxou o gatilho e disparou quatro vezes contra meu filho”, declarou.

“Sou inocente e fui escrachado. Não esperaram o julgamento para me condenar”, declarou. O ex-comandante se apresentou à polícia na sexta-feira (28) e está detido no Quartel da Polícia Militar em Curitiba. “Por tudo que fiz nos meus 37 anos de serviço, não merecia isso”, disse.

A globalização destruiu totalmente o social


Aos 85 anos de idade, o sociólogo francês Alain Tourraine é um dos pensadores contemporâneos que há mais tempo oferece ideias originais para explicar o que acontece por este vasto mundo. Ainda nosanos 60, quando a fumaça saindo das chaminês eram sinal de pujança econômica, ele foi dos primeiros a falar de uma sociedade pós-industrial, em que os serviços e não a industria seria a locomotiva do crescimento.

Hoje em dia ele é um dos mais argutos intérpretes da recente crise global que abalou as finanças internacionais e fala de um mundo em que a sociedade e a política perdeu espaço para a economia. Para ele, depois que a globalização destruiu o social, são forças não-sociais, como a ecologia, o novo feminismo e o individualismo que devem moldar a sociedade moderna.

Sobre essas ideias versa a entrevista que Alain Touraine concedeu à jornalista Leila Sterenber, do programa Milênio, do canal de televisão por assinatura Globo News, levada ao ar no último dia 17 de janeiro, e que a Consultor Jurídico transcreve a seguir:
Leila Sterenberg — Heidegger, Derrida, Foucault, McLuhan, Bauman. Uma lista hipotética dos pensadores mais importantes da segunda metade do século 20 pode ser tão extensa quanto inglória, mas o nome do sociólogo francês Alain Touraine certamente estará nela. Criador do conceito de sociedade pós-industrial, que caracteriza a substituição de uma economia baseada na indústria para outra em que o setor de serviços tem um peso maior, Touraine foi um dos primeiros intelectuais a exercer um olhar crítico sobre os processos de privatização, internacionalização do capital, liberalismo econômico, mudanças sociais, tudo aquilo que seria chamado, décadas depois, de globalização. Com uma produção intelectual extensa — publicou cerca de 40 livros — ele se debruçou sobre analises que vão do movimento de maio de 68 e o seu comunismo utópico até discussões sobre a laicidade do Estado e a capacidade das sociedades em aceitar a diferença. Sua obra mais recente Après la Crise (Depois da Crise, em português), trata dos rumos da economia de mercado. É observador atento do que se passe no Brasil. Em sua visita mais recente fez críticas ao sistema político brasileiro, mas se mostrou otimista em relação a nosso futuro.

Aos 85 anos o professor Alain Touraine é lúcido, franco e gentil. Ele recebeu a equipe do Milênio no Rio de Janeiro.

Leila Sterenberg — Em seu último livro, Après la Crise, o senhor explica como a crise econômica age nas tendências de longo prazo que transformam a sociedade. E o senhor veio ao Brasil para um seminário com o tema “A Queda e o Renascimento das Sociedades Ocidentais”. A crise econômica mundial que começou nos EUA em 2008 faz parte desse processo de queda e renascimento, e nós, neste momento, ainda estamos em queda ou já estamos no processo de renascimento?

Alain Touraine — O que eu quis dizer é que uma crise é algo normal, meu Deus! Nós podemos cair, um motor pode entrar em pane, nós podemos fazer uma bobagem. O que eu acho é que aquilo que estamos vivendo é bem mais do que uma crise. É algo de longo prazo com o qual vamos conviver, e que é a separação completa da economia e da sociedade. E eu ainda acrescento a isso, como consequência, a destruição do que chamamos de sociedade, já que o que chamamos de sociedade são instituições que usam recursos, com os quais fazemos escolas, estradas, sistemas de previdência social, aviões, o que se quiser. Bem, o que nós vivemos por trás da crise é a globalização, ou seja, o fato de que a economia mundial hoje está essencialmente ligada às finanças. A existência de empresas, em si, não é um problema. Mas nós não estamos mais em mundo de empresas, estamos em um mundo de mercado, de mercado globalizado, e ninguém pode controlar isso. Obama, com a ajuda dos europeus, conseguiu impedir a catástrofe, mas não conseguiu mudar o sistema, e os europeus conseguiram ainda menos. Consequentemente podemos dizer que, hoje, o sistema econômico-financeiro mundial não está controlado e não é controlável. Em outras palavras, a ideia de reforma social desapareceu, não faz mais sentido. Nós não podemos mais reformar isso.

Leila Sterenberg — As manifestações populares na Europa por causa das medidas de austeridade, o próprio crescimento da extrema direita na Europa, a posição ferrenha a Barack Obama nos EUA, representada pelo Tea Party, e o populismo nem sempre democrático na América Latina, tudo isso faz parte do mesmo fenômeno, são facetas dele?

Alain Touraine — Podemos dizer que sim, mas em nível bem geral. Porém, é preciso avaliá-los separadamente. O que me impressiona na Europa, há alguns anos, é o silêncio. Antes, havia lutas sociais contra a transnacionalização da produção etc. Desde 2007, desde que eclodiu a crise, não vemos quase nada. E o que aparece não são contraprojetos ou críticas, pois o pensamento político chegou a zero. O que aparece são condutas de recusa. Às vezes, uma recusa da extrema esquerda, mas, na maioria das vezes, é uma recusa da extrema direita. O maior movimento de opinião política da Europa hoje em dia é a xenofobia, em especial nos países do norte, nos países avançados, que tiveram reformas social-democráticas etc. Assusta-nos ver como foi na Suécia, que era o país social-democrata por excelência. Há alguns anos, era governada pela direita, mas acaba de incorporar a extrema direita à maioria parlamentar. E há um movimento que podemos chamar de fascista — embora a palavra não queira dizer muita coisa hoje em dia — extremamente xenófobo na região belga de Flandres. Eu não falo do Bloco Flamengo, que é a esquerda. Extrema esquerda ou extrema direita, pouco importa, mas a forma extremada do movimento flamengo. Hoje, não existem mais projetos sociais, não existe mais debate social. Que país discute a educação? Só dizem que vai mal. Que país discute a democracia? Só dizem que não existe mais. Entende? Estamos em uma situação histórica que, a meu ver, marca o fim daquilo que foi o modelo europeu, sob o qual muitas pessoas ainda vivem no mundo, de um jeito ou de outro, inclusive o Brasil, e a pergunta que fica é: hoje existem forças capazes de resistir ao vasto poder da economia financeira global? Esse é o problema. E, para dificultar ainda mais a solução do problema, eu acrescento: quais são as forças que não podem mais ser sociais, já que a globalização fez desaparecer, destruiu totalmente, o social? Então, são necessárias forças não sociais. Essa é a minha preocupação.

Leila Sterenberg — E quais seriam as forças não sociais?

Alain Touraine — Então, vamos lá. Eu vejo três forças em ação, mas uma delas, no momento está congelada, não atua. A força não social que tem mais importância hoje, inclusive no Brasil, é a ecologia. A ecologia não é algo social, é a vida ou a morte do planeta. Não é um problema cultural, mas de sobrevivência. Não é um problema social. E a prova disso é que vemos pessoas sensíveis ao tema da ecologia na direita, na esquerda, no centro, isso não importa. Os alemães são muito sensíveis ao tema, os americanos e os ingleses também. Discute-se isso na China, nas reuniões internacionais. Isso, a meu ver, é a primeira grande coisa. Que é real, presente. O segundo fator com o qual eu continuo a contar bastante – eu até escrevi um livro sobre isso há não muito tempo – é o novo feminismo. As mulheres conseguiram seus direitos etc., mas, quando conversamos com as mulheres hoje, quando trabalhamos com as mulheres, qualquer tipo de mulher, seja ela funcionária, operária, professora etc., elas representam efetivamente um novo modelo de sociedade. As mulheres têm esse modelo e o expressam facilmente, mas elas sumiram da vida política, e os estudos sobre as mulheres são sempre sobre violência, violência e violência. Antes, era a violência brutal. Agora, é o incesto, o estupro pelo marido... Ou seja, as formas mais extremas de violência que há. E não falamos mais de mulheres que atuam, como agente de mudança. O terceiro elemento é, no fundo, o mais interessante, porque é o mais decisivo, é o individualismo. O individualismo, por definição, não é social, pois se trata de definir o indivíduo de outra forma que não socialmente. Às vezes, o resultado é ruim, como o comunitarismo: todos somos iguais, homogêneos, com a mesma identidade. Deixemos isso de lado, pois é fácil julgá-lo, e é algo negativo. Vocês tem uma afirmação que sumiu por 150, 200 anos, que é a afirmação dos direitos. Os direitos, naturalmente, políticos, sociais, hoje em dia, direito à cultura, os direitos das mulheres, das minorias etc. Mas isso tudo se juntou e se tornou um princípio fundamental, que é lutar pelo direito de ter direitos. Essa frase não é minha, mas de Hannah Arendt, e eu acho que ela resume bem a força moral, ética e política que se constituiu em torno desse tema do valor universal não social, mais que social... Quando digo mais que social, quer dizer, por exemplo, que isso não está nos códigos, mas na Constituição, ou seja, acima do nível da lei ordinária. Então, eu queria dizer que, se vocês conseguirem desenvolver a estimular ainda mais a consciência ecológica, se vocês forem cada vez mais sensíveis à violência contra os seres humanos, de todos os tipos... Pois o mundo está cheio de massacres e genocídios, de gente morrendo de fome ou que são deixadas a morrer de fome. Então, aí, surge a pergunta: como isso tudo pode caminhar junto? E torna-se necessário um instrumento político para ligar isso tudo, mas, aí, nós não temos. Mesmo quando falamos de democracia, não sabemos mais do que falamos.

Leila Sterenberg — E o que o senhor pensa do Brasil politicamente, porque o senhor declarou que temos um sistema político horrível, corrupto. O que o senhor acha da maturidade democrática do Brasil?

Alain Touraine — Eu acho que historicamente, falando, o Brasil teve um sistema político horrível, com um populismo no limite do ridículo. Janio Quadros e Jango não foram muito brilhantes. Foi o colapso do sistema político, e, por muito tempo, houve incidentes famosos no Congresso, violência etc. Mas é preciso lembrar que o Brasil viveu 16 anos de uma formidável consolidação. Fernando Henrique Cardoso reconstruiu as instituições, começou a fazer as pessoas entrarem em uma casa reconstruída, e Lula, em seu segundo mandato, incluiu muitas outras pessoas. Então, o Brasil de hoje é um país que dispõe de uma infraestrutura e também de uma riqueza econômica que não tem nada a ver... O Brasil se tornou uma grande potência. O BRIC não quer dizer grande coisa, pois os países são muito diferentes uns dos outros, mas o Brasil é realmente uma grande potência. Mas com um sistema político que continua fraco. Não vou citar nenhum partido, mas há grandes partidos no Brasil aos quais nem adianta perguntar qual é seu programa, pois ele será “x” ou “y”, em aliança com este ou aquele partido.

Leila Sterenberg — Foi por isso que o senhor disse que existe o risco de o Brasil regredir?

Alain Touraine — Existe, perfeitamente, mas existe em todos os países... Existe um risco grande, depois desse esforço de consolidação, de reconstrução do Brasil e também de um período muito favorável do ponto de vista econômico, de vocês terem uma pressão do tipo populista. Com a saída de Lula – ou não, mas, em todo caso, fora da cadeira presidencial -, não sabemos se esse sistema político será capaz de resistir às demandas, de não ceder às pressões indiscriminadas, sejam elas boas ou ruins. Eu estou otimista. Mais uma vez, eu acho que o Brasil de hoje, dentre os novos grandes países, as novas grandes potências, é o país que tem mais argumentos nas mãos e que mais tem construído uma civilização. Isso me impressiona muito no Brasil. É verdade que a opinião pública reconhece os países que criam símbolos e aqueles que não criam. Se você diz “Uruguai”, tudo bem que é um país pequeno, mas nada nos vem à mente. Se você diz “Brasil”, imediatamente... Entende? De “Garota de Ipanema” até "Lula", passando por várias coisas, as escolas de samba etc.

Leila Sterenberg — O futebol!

Alain Touraine — E o futebol, claro. Mas, enfim, há vários símbolos nacionais, e eu acho que, hoje, estamos em um ponto em que a consciência nacional é fundamental para a modernização de um país?

Leila Sterenberg — Como o senhor vê a nova presidente?

Alain Touraine — Eu não vejo, pois não a conheço. Ninguém a conhece, ela tem um passado que foi lembrado, ela provavelmente é uma pessoa mais política. A ideia que me vem em mente é que Lula era – falando da pessoa – um sindicalista, e ela é uma política. E, sendo política, deve ser mais radical, enquanto, com um sindicalista como Lula, era possível negociar. E ele negociou em nível mundial, foi um negociador formidável. Então, obviamente, deve haver um crescimento da vontade política, dos esforços necessários e, consequentemente, uma certa tensão política. Mas eu acho que a tensão política é algo positivo.

Leila Sterenberg — Com uma mulher que quase se tornou presidente da França, Ségolène Royal, o senhor escreveu em 2008 o livro Si La Gauche Veut dês Idées” (Se a esquerda quisesse ideias, em português), com propostas para uma nova esquerda na França. Ele chama a atenção para um nome que é cada vez mais forte no Partido Socialista, que é o de Dominique Strauss-Kahn, que é o diretor-geral do Fundo Monetário Internacional. É possível que vejamos, em 2012, um candidato do Partido Socialista saído do primeiro escalão do FMI e...?

Alain Touraine — O que não é uma garantia de esquerda.

Leila Sterenberg — Pois é. Há um paradoxo nisso?

Alain Touraine — Há um paradoxo. Que vou resumir da seguinte maneira: atualmente, a lógica das coisas é que Sarkozy perca. Ele é muito impopular, só tem 25% a 30% de apoio. A coisa pode mudar em um ano, mas, atualmente, ele é muito impopular. Qual é a dificuldade que há pela frente? Pela primeira vez, a ideia de um presidente de esquerda não é um sonho, é uma realidade. Qual é a dificuldade? Para que haja um presidente de esquerda, o presidente, o candidato, não pode ser demais à esquerda e seu programa tem que ser bem de esquerda. Porque as pessoas têm muita raiva do governo atual. Como reunir o centro-esquerda e a esquerda da esquerda? Você falou de Strauss-Kahn, mas, no Partido Socialista, não há operários. Há alguns patrões, há vários engenheiros, mas não operários. Então, é um partido que não tem base hoje em dia. Porque as classes médias intelectuais, que votam no Partido Socialista, são vítimas da evolução social atual e dos esforços financeiros necessários que sobrecarregam os médios, não os pequenos, que não têm dinheiro, nem os grandes, que dão um jeito para não pagar imposto ou para pagar menos do que deveriam. Então, ainda há uma fragilidade da oposição socialista. Mas ela é menos absoluta na Itália.

Leila Sterenberg — O que está acontecendo?

Alain Touraine — Há um esgotamento dos modelos políticos, e eu acho que a responsabilidade dos intelectuais nisso é muito grande, porque, em uma país como a França ou a Itália, um pouco no Brasil, muito na Argentina, na Venezuela e em outros países, os intelectuais fizeram a política do pior. Na América Latina, a maioria dos intelectuais disse: “Nós dependemos do capitalismo internacional, então não podemos fazer nada.” Os intelectuais franceses gostam muito de falar o mesmo: “Não podemos fazer nada. Somos dominados, manipulados etc.” E essa atitude é desastrosa politicamente e faz com que exista ainda em países como a França, todo um vocabulário político que data de 100 anos atrás — ou, no mínimo, 50 anos, mas está mais para 100 anos — e que não tem nenhuma capacidade de mobilização. Nós não podemos sobreviver às mudanças atuais sem idéias novas de uma maneira que corresponda à realidade e que inspire confiança. Então, o que eu diria hoje do mundo ocidental é que essas doenças são bem menos doenças da mão, das pernas ou dos pés, do que são da cabeça. Em outras palavras, se eu assumo uma posição radical ou até excessiva sobre a situação, dizendo que há todo um sistema que ruiu do ponto de vista econômico, é preciso ver que o grande obstáculo hoje em dia – como eu dizia, um pouco para o Brasil, mas muito mais para os europeus – é a renovação das idéias e do pessoal, dos político, dos intelectuais, dos sindicatos, de tudo. A Europa é uma região sem voz, que não fala. Hoje, eu tenderia mais a dizer que, se o modelo europeu – ou seja, a união da sociedade e da economia, com a política unindo tudo isso -, se o modelo europeu puder renascer, neste momento, é mais provável que seja fora da Europa. Na Europa, eu estou pessimista, pois, afinal de contas, fatos são fatos, o mundo está em pleno crescimento, com exceção da Europa, dos EUA e de parte do mundo árabe. Em outras palavras, os europeus e os americanos – mas os europeus mais claramente – giram em torno de 0% a 1% de crescimento, enquanto o mundo todo cresce a 5%, e a China cresce a 8%, 9%, 10%. Se pensarmos em 10, 20 anos, vemos uma reversão completa.

Leila Sterenberg — Esse crescimento da China, que, aliás, não é uma democracia, o senhor tem medo desse crescimento?

Alain Touraine — Não, eu nunca tenho medo do crescimento. Eu acho que o crescimento é sempre bom, e vocês, latinos-americanos, em especial, vivem da China atualmente. A Argentina vive completamente da China. O Brasil vende para a China alimentos, mas também metais. A vantagem do Brasil é que ele criou um mercado interno, ele implantou uma indústria, e, nos últimos 15 anos, também houve um grande movimento de integração de parte da população. Mas a África só vive... E a África hoje tem uma taxa de crescimento, ao menos aparente... É preciso levar em conta que a população cresce muito rápido. Mas a África está se recuperando, e são os chineses que administram o comércio internacional dos países africanos. Eu poderia encontrar exemplos em toda parte, mas eu acho que, em escala mundial, para salvar um modelo que podemos chamar de “civilizado”, hoje, os olhares se voltam em especial para a Índia e o Brasil.

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | belt buckles