O SeminĂ¡rio de ComunicaĂ§Ă£o da CUT-RJ iniciou nesta quinta-feira (13) levantando o tom contra os retrocessos no Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), o que trarĂ¡ graves prejuĂzos Ă soberania e o desenvolvimento nacional, com reflexos negativos para a cultura e Ă prĂ³pria democracia.
Enquanto as todo poderosas emissoras de televisĂ£o esboçam um faturamento anual da ordem de R$ 14 bilhões, alertaram os debatedores, o faturamento das teles jĂ¡ alcança a R$ 170 bilhões, o que lhes dĂ¡ um poder de fogo ainda maior para impor seus interesses sobre os do paĂs, alertaram os debatedores.
Na avaliaĂ§Ă£o das cerca de 50 lideranças e assessores sindicais, o recuo manifestado pelo ministro Paulo Bernardo - ao enfraquecer a TelebrĂ¡s e dar superpoderes Ă s teles, boa parte estrangeiras - Ă© um desserviço ao paĂs, pois acabarĂ¡ ofertando uma banda curta e cara, desvirtuando completamente o projeto inicial do PNBL e as deliberações da Confecom (ConferĂªncia Nacional de ComunicaĂ§Ă£o).
“ComunicaĂ§Ă£o Sindical, novas mĂdias e democratizaĂ§Ă£o das comunicações” Ă© o tema do SeminĂ¡rio, que foi aberto pelo secretĂ¡rio estadual da pasta, o petroleiro Vitor Carvalho. Ele fez um resgate do protagonismo do sindicalismo cutista no Rio e destacou o empenho em fortalecer e ampliar os instrumentos de diĂ¡logo com a base e o conjunto da sociedade.
ATUALIDADE
A mesa da manhĂ£ debateu a Atualidade da luta pela democratizaĂ§Ă£o da comunicaĂ§Ă£o e contou com a presença de ClĂ¡udia de Abreu, assessora do Sindipetro-RJ e da coordenaĂ§Ă£o da Fale Rio; do deputado Robson Leite (PT), presidente da Frente Parlamentar pela DemocratizaĂ§Ă£o da ComunicaĂ§Ă£o da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e de Altamiro Borges, presidente do Centro de Estudos de MĂdia Alternativa BarĂ£o de ItararĂ©.
Em sua intervenĂ§Ă£o, ClĂ¡udia esclareceu que Ă© um erro reduzir o PNBL a uma “banda estreita” ou “bandinha”, circunscrita fundamentalmente Ă regiĂ£o Sudeste, a mais rica do paĂs, e a os “quem puder pagar”.
Entre as ações concretas em defesa da democratizaĂ§Ă£o da comunicaĂ§Ă£o, a jornalista citou o projeto do deputado Vicentinho, ex-presidente da CUT, em defesa do direito de antena para as centrais sindicais, que podem passar a dispor de um horĂ¡rio na televisĂ£o – nos moldes do jĂ¡ existente para a propaganda partidĂ¡ria – para dialogar mais amplamente com os trabalhadores e a sociedade.
Citando o editorial da Band da semana passada contra a greve dos Correios, em que o apresentador Joelmir Beting estampou “com baba e tom raivoso o Ă³dio de classe dos seus patrões contra os trabalhadores e o governo”, Altamiro Borges lembrou que “o vĂdeo expressa o que Ă© a mĂdia no Brasil”. Pela capacidade que os conglomerados midiĂ¡ticos tĂªm de interferir na subjetividade, alertou Miro, Ă© fundamental que “a comunicaĂ§Ă£o seja encarada como um investimento estratĂ©gico na batalha de ideias”. “A mĂdia hegemĂ´nica atua na deformaĂ§Ă£o do comportamento, na degradaĂ§Ă£o total, no incentivo ao individualismo exacerbado e ao consumismo doentio, negando a aĂ§Ă£o coletiva, negando o Sindicato e o Partido”, destacou.
O deputado Robson Leite enfatizou a necessidade da construĂ§Ă£o de polĂticas pĂºblicas de comunicaĂ§Ă£o que apontem para uma democratizaĂ§Ă£o do acesso Ă educaĂ§Ă£o e Ă cultura, qualificando de “tragĂ©dia” os recuos na implantaĂ§Ă£o do PNBL.
O presidente da Frente Parlamentar defendeu a mais ampla liberdade de expressĂ£o, que “nĂ£o Ă© o mesmo que liberdade de empresa” e enfatizou que “regular nĂ£o Ă© censura, Ă© impedir qualquer tipo de cerceamento”. “Hoje quem pratica censura Ă© o grande capital. É ele quem silencia os movimentos sociais na mĂdia e impõe sua ditadura, como fez recentemente contra as greves dos bancĂ¡rios e dos trabalhadores dos Correios”, exemplificou.
DESAFIOS
A mesa da tarde contou com a presença do jornalista e professor da Facha, Marcos Alexandre; da coordenadora da ONG Criar Brasil – Centro de Imprensa, Assessoria e RĂ¡dio, RosĂ¢ngela Fernandes, e de Valter Sanches, diretor de ComunicaĂ§Ă£o do Sindicato dos MetalĂºrgicos do ABC.
Marcos Alexandre traçou o caminho histĂ³rico da imprensa sindical desde o inĂcio do sĂ©culo 20 atĂ© o surgimento da CUT, frisando o significado do protagonismo dos trabalhadores para a efetivaĂ§Ă£o de uma imprensa efetivamente plural no paĂs, liberta das amarras do grande capital que manipula a informaĂ§Ă£o como negĂ³cio privado.
Destacando a importĂ¢ncia estratĂ©gica da comunicaĂ§Ă£o sindical na disputa de hegemonia com o capital, Valter Sanches lembrou que a categoria metalĂºrgica investe em comunicaĂ§Ă£o desde as histĂ³ricas greves do ABC. “Os trabalhadores saĂam da assembleia e voltavam para casa. AĂ viam no Jornal Nacional, que divulgava imagens de arquivo, que a greve tinha terminado, que eram apenas poucas fĂ¡bricas que mantinham o movimento. Foi entĂ£o que o companheiro Lula disse para os companheiros que sĂ³ confiassem na comunicaĂ§Ă£o das assembleias e na Tribuna MetalĂºrgica”, recordou. Sanches falou sobre a histĂ³rica experiĂªncia com a TV dos Trabalhadores, a TVT, que apĂ³s mais de duas dĂ©cadas teve sua concessĂ£o liberada para o Sindicato de SĂ£o Bernardo, e da necessidade de manter os veĂculos de comunicaĂ§Ă£o sempre em perfeita sintonia com a base, de olho nos interesses histĂ³ricos da classe.
RosĂ¢ngela centrou sua exposiĂ§Ă£o na defesa do papel do rĂ¡dio como parceiro do movimento sindical e social, citando uma pesquisa que mostra que 69,6% dos brasileiros ouvem pelo menos uma hora de programaĂ§Ă£o em casa. Ela citou ainda que a pesquisa aponta que 20,9% dos brasileiros escutam rĂ¡dio no carro e 17,6% pelo celular, o que demonstra a vitalidade e a relevĂ¢ncia deste meio de comunicaĂ§Ă£o. Nos petroleiros do Norte Fluminense, lembrou, Ă© atravĂ©s das ondas do rĂ¡dio que a mensagem sindical chega Ă s plataformas, sendo tambĂ©m um poderoso aliado dos trabalhadores do campo. Citando o programa Voz do Trabalhador, da CUT-Rio, RosĂ¢ngela lembrou debates importantĂssimos sobre a reduĂ§Ă£o da jornada de trabalho para 40 horas semanais, Reforma PolĂtica, SaĂºde e Segurança no Trabalho, entre outras pautas que dĂ£o maior consistĂªncia Ă aĂ§Ă£o sindical.
O SeminĂ¡rio prossegue nesta sexta-feira com a participaĂ§Ă£o da secretĂ¡ria nacional de ComunicaĂ§Ă£o da CUT, Rosane Bertotti, que farĂ¡ uma exposiĂ§Ă£o sobre as ações que vĂªm sendo desenvolvidas na pasta, junto Ă CMS (CoordenaĂ§Ă£o dos Movimentos Sociais) e ao FNDC (FĂ³rum Nacional pela DemocratizaĂ§Ă£o da ComunicaĂ§Ă£o).
Ainda na parte de amanhĂ£ haverĂ¡ a mesa Imagem, publicidade e relaĂ§Ă£o com a mĂdia, com a participaĂ§Ă£o de Paulo Rodrigues, publicitĂ¡rio e artista grĂ¡fico; JoĂ£o Roberto Ripper, fotĂ³grafo e jornalista e Max Leone, assessor do Sisejufe e sub-editor de Economia do jornal O Dia. Ă€ tarde Ă© a vez da mesa Movimento Sindical, mĂdias sociais e novas tecnologias, com Oona Castro, diretora do Instituto Sociocultural Overmundo; Arthur William, membro do Gruo de Tecnologia da InformaĂ§Ă£o e da ComunicaĂ§Ă£o da Amarc (AssociaĂ§Ă£o Mundial de RĂ¡dios ComunitĂ¡rias) e Alex Capuano, coordenador do Projeto ConexĂ£o Sindical.