segunda-feira, 23 de julho de 2012

Pesquisa mostra o que faz PMs virarem assassinos


Um dos policiais sonhava em proteger a sociedade e trabalhava dobrado para prender suspeitos. Mas nada adiantava - levados Ă  delegacia, eles eram soltos apĂ³s pagar propina. O outro se sentia superpoderoso com a arma na mĂ£o e achava que seria admirado pela tropa depois de praticar assassinatos. Os dois se tornaram policiais assassinos e cumpriram pena no PresĂ­dio RomĂ£o Gomes, em SĂ£o Paulo.
Identificados pelos pseudĂ´nimos Steve e Mike, contaram suas histĂ³rias e motivações ao tenente-coronel AdĂ­lson Paes de Souza, que foi para a reserva em janeiro. As entrevistas estĂ£o na dissertaĂ§Ă£o de mestrado A EducaĂ§Ă£o em Direitos Humanos na PolĂ­cia Militar, defendida no mĂªs passado na Faculdade de Direito da Universidade de SĂ£o Paulo (USP), no Largo SĂ£o Francisco.
A discussĂ£o sobre o que leva um agente pĂºblico a atirar e matar ganhou força na semana passada, quando uma abordagem equivocada da PolĂ­cia Militar causou a morte do publicitĂ¡rio Ricardo Prudente de Aquino, de 39 anos, no Alto de Pinheiros, zona oeste. O erro fez a polĂ­cia rever anteontem seu treinamento de como abordar veĂ­culos suspeitos de forma correta.
Na entrevista, Steve explicou ao coronel sua rotina de visitar velĂ³rios de policiais mortos. InĂºmeras frustrações o levaram a assumir o papel de "juiz, promotor e advogado". JĂ¡ o policial que se identificou como Mike relatou que imaginava que, ao praticar homicĂ­dios, seria mais respeitado por colegas de tropa.
"Como meu trabalho mostra, existe razĂ£o na preocupaĂ§Ă£o de entidades nacionais e internacionais com a violĂªncia na sociedade brasileira", diz Souza. "O quadro Ă© considerado grave. Fiz o estudo e ouvi os policiais por acreditar que a mudança da situaĂ§Ă£o passa por melhorias na educaĂ§Ă£o do policial."
Formado em Direito, o tenente-coronel tambĂ©m integra a ComissĂ£o Justiça e Paz da Arquidiocese de SĂ£o Paulo desde 2007. Foi orientado pelo professor Celso Lafer e participaram de sua banca o filĂ³sofo Roberto Romano e o professor AndrĂ© de Carvalho Ramos. O trabalho cita dados da Ouvidoria de SĂ£o Paulo sobre violĂªncia policial: com populaĂ§Ă£o quase oito vezes menor que a dos Estados Unidos, o Estado de SĂ£o Paulo registrou 6,3% mais mortes por policiais militares em um perĂ­odo de cinco anos.
Direitos humanos. A educaĂ§Ă£o de baixa qualidade em direitos humanos Ă© apontada pelo coronel como uma das causas da violĂªncia policial. A dissertaĂ§Ă£o mostra que, no ano 2000, eram dadas 144 horas/aula de direitos humanos. Dezoito anos depois, os currĂ­culos com matĂ©rias de direitos humanos diminuĂ­ram no Estado. Atualmente, o tema corresponde a 90 horas/aula, o que significa 1,47% do total da carga horĂ¡ria do curso.
Souza ainda sugere em seu trabalho maior participaĂ§Ă£o da sociedade civil para ajudar a criar um tipo de educaĂ§Ă£o de perfil crĂ­tico, com debates mais transparentes e participaĂ§Ă£o popular. (AE)

 
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