Mesmo com o aumento expressivo da participaĂ§Ă£o feminina no mercado de trabalho brasileiro, as mulheres continuam carregando o fardo das tarefas de casa e trabalham, em mĂ©dia, cinco horas a mais por semana que os homens - o que equivale a 20 horas adicionais por mĂªs, cerca de dez dias a mais por ano.
Enquanto elas cumprem uma jornada semanal de 36 horas remuneradas, mais 22 horas de afazeres domĂ©sticos, eles trabalham 43,4 horas, mais 9,3 em casa por semana. Em um ano, as mulheres dedicam 275 horas a mais que os homens a todas as tarefas, revelam dados da OrganizaĂ§Ă£o Internacional do Trabalho (OIT).
De acordo com o relatĂ³rio "Perfil do trabalho decente no Brasil: um olhar sobre as unidades da federaĂ§Ă£o", alĂ©m de ter uma jornada menor, no que diz respeito aos afazeres domĂ©sticos, os homens participam mais de atividades interativas.
- Mesmo dentro desse tempo, eles realizam principalmente tarefas como ir ao supermercado e levar as crianças Ă escola - disse JosĂ© Ribeiro, coordenador na OIT do projeto de monitoramento e avaliaĂ§Ă£o do trabalho decente no Brasil.
O levantamento foi realizado com base em dados do governo federal colhidos entre 2004 e 2009.
Para LaĂs Abramo, diretora do escritĂ³rio da OIT no Brasil, a incorporaĂ§Ă£o das mulheres ao mercado de trabalho nĂ£o foi acompanhada de uma redefiniĂ§Ă£o dos papĂ©is dentro de casa. Ela observa ainda que, em muitos casos, a mulher ainda nĂ£o pode trabalhar porque nĂ£o tem com quem deixar os filhos. Pelos dados da pesquisa, 11,5% das mulheres ocupadas de 16 anos ou mais tĂªm filhos de atĂ© seis anos de idade. No entanto, 73,3% dessas crianças nĂ£o frequenta creche.
- Para mudar essa realidade, Ă© importante elaborar polĂticas que envolvam desde os serviços de creche de maneira generalizada, passando pela criaĂ§Ă£o de restaurantes e lavanderias populares, atĂ© o tempo gasto de casa ao trabalho - ressaltou.
No Rio, 22% das pessoas gastam mais de uma hora para chegar ao trabalho
Segundo o relatĂ³rio, enquanto na mĂ©dia nacional 9,5% dos trabalhadores gastam mais de uma hora para se deslocarem entre a residĂªncia e o trabalho, no conjunto das metrĂ³poles esse Ăndice chega a 17,5%.
No Rio, essa proporĂ§Ă£o se eleva para 22% e, em SĂ£o Paulo, para 23,2%. Na avaliaĂ§Ă£o de LaĂs, em termos gerais, a situaĂ§Ă£o do trabalho no Brasil melhorou, mas ainda hĂ¡ distorções histĂ³ricas a serem corrigidas, como a desigualdade de gĂªnero e as diferenças regionais das condições de trabalho.
- Tivemos um aumento da formalizaĂ§Ă£o do trabalho e da proteĂ§Ă£o social e uma reduĂ§Ă£o no trabalho infantil. Sem dĂºvida, isso aponta para uma tendĂªncia do mercado nacional - ressaltou.
Entre os fossos a serem superados, a diretora destacou a precariedade dos contratos das empregadas domĂ©sticas. Apesar de sua importĂ¢ncia nas famĂlias, em nenhuma unidade da federaĂ§Ă£o, o Ăndice dessas trabalhadoras com carteira assinada alcança 40%. Essas porcentagens sĂ£o maiores em SĂ£o Paulo (38,9%), Santa Catarina (37,6%) e Distrito Federal (37%). Os piores resultados estĂ£o no Amazonas (8,5%), CearĂ¡ (9,3%), PiauĂ (9,7%) e MaranhĂ£o (6,7%).
- Isso Ă© cultural. Tem a ver com a ideia de que os trabalhadores domĂ©sticos nĂ£o sĂ£o como os demais - disse.
Ela lembrou que o Brasil ainda nĂ£o aderiu Ă ConvenĂ§Ă£o Internacional sobre o Trabalho Decente para Trabalhadores DomĂ©sticos, aprovado em junho pela OIT. O documento precisa ser ratificado pelos paĂses-membros e prevĂª a aprovaĂ§Ă£o de leis que garantam mais direitos Ă categoria.