quinta-feira, 14 de março de 2013

Os "estranhos negĂ³cios" da Petrobras!


No inĂ­cio de 2005 a refinaria Pasadena Refining System, de Pasadena, no Texas, foi adquirida pela empresa belga Astra Oil Company, pela quantia de US$ 42,5 milhões; em setembro de 2006 a Astra alienou Ă  Petrobras 50% da refinaria mediante o pagamento de US$ 360 milhões, ou seja, vendeu metade da refinaria por mais de oito vezes o que pagara pela refinaria inteira, um ano e meio antes. NĂ£o seria de estranhar, por conseguinte, que a Astra Oil Co. pretendesse vender os 50% que permaneciam no seu patrimĂ´nio. Ocorre que, por desentendimentos cuja natureza ignoro, a Astra ajuizou aĂ§Ă£o contra a Petrobras e nela a Petrobras teria sido condenada e, mercĂª de acordo extrajudicial, pagou Ă  Astra US$ 820 milhões, pondo fim ao litĂ­gio.
Somadas as duas parcelas, US$ 360 milhões em setembro de 2006 e US$ 820 milhões em junho de 2009, a Astra Oil Co. embolsou da Petrobras US$ 1,180 bilhĂ£o por uma refinaria que em 2005 lhe custara US$ 42,5 milhões.
Este o resumo do caso, do começo ao fim, havido entre a Astra Oil Co. e a Petrobras. InĂ©pcia? Leviandade? GestĂ£o temerĂ¡ria? PrevaricaĂ§Ă£o? Outras causas? NĂ£o sei, o que sei Ă© que o insĂ³lito fenĂ´meno rompe todos os critĂ©rios atinentes a qualquer negĂ³cio e particularmente em relaĂ§Ă£o a uma empresa que, embora de natureza privada pertence Ă  naĂ§Ă£o, sua maior acionista.
Ora, nĂ£o Ă© de supor-se que o representante de uma das maiores empresas do paĂ­s, afeita a lidar com milhões e bilhões, pudesse ser um parvo, um bonifrate, um pateta. No entanto, os nĂºmeros sĂ£o constrangedores. De uma refinaria adquirida por US$ 42,5 milhões, em 2005, 50% dela no ano seguinte foi alienada por US$ 360 milhões e os outros 50% tambĂ©m transferida Ă  Petrobras mediante o pagamento de US$ 820 milhões; somados os dois pagamentos, vale a repetiĂ§Ă£o, atingem a US$ 1,180 bilhĂ£o. Dir-se-Ă¡ que para zerar todos os litĂ­gios, teria entrado o “valor estratĂ©gico”… capaz de assegurar a duplicaĂ§Ă£o da capacidade da refinaria, e revelar os segredos do fundo do mar no Golfo do MĂ©xico, mas sabe a chacota. NĂ£o surpreende que quando se conheceram os nĂºmeros do negĂ³cio, estes como o valor “estratĂ©gico” passavam a ser contestados.
Este o caso atĂ© onde sei e o que sei Ă© o que tem sido divulgado. Com efeito, ele vem sendo abordado pelos meios de comunicaĂ§Ă£o e atĂ© agora nĂ£o se sabe de nenhuma providĂªncia que tivesse sido tomada. O assunto nĂ£o Ă© agradĂ¡vel, mas nem por isso pode ser mantido sob o comodismo do silĂªncio. Repito a sentença do Padre Vieira, “a omissĂ£o Ă© um pecado que se faz nĂ£o fazendo”. É evidente que a senhora presidente da RepĂºblica tem todas as condições para o cabal esclarecimento da singular operaĂ§Ă£o. Entre nĂ³s quando se fala em comissĂ£o esta terĂ¡ de ser de “alto nĂ­vel” e quando se trata de inquĂ©rito ele hĂ¡ de ser “rigoroso”. Ora, quando o substantivo precisa da bengala do adjetivo o remĂ©dio Ă© outro. Sempre entendi que os inquĂ©ritos nĂ£o podem nem devem ser “rigorosos”, nem flĂ¡cidos; respeitadas as garantias de defesa, a diligĂªncia, a isenĂ§Ă£o, a tempestividade e a obediĂªncia aos prazos legais, substituem com vantagem o rigor. Nada de rigorismo ou lassidĂ£o, bastam legalidade e pontualidade; em uma palavra: a exaĂ§Ă£o. (PB)

TCU vai investigar compra de refinaria nos EUA por Petrobras



Ministro disse ver "fortes indĂ­cios de dano aos cofres pĂºblicos"

O Tribunal de Contas da UniĂ£o (TCU) vai investigar a compra pela Petrobras de uma refinaria em Pasadena, nos Estados Unidos, operaĂ§Ă£o considerada lesiva ao patrimĂ´nio pĂºblico pelo MinistĂ©rio PĂºblico junto ao TCU. O ministro JosĂ© Jorge determinou que a investigaĂ§Ă£o comece imediatamente, a cargo dos auditores de uma das Secretarias de Controle Externo (Secex) do TCU no Rio de Janeiro - no caso, a unidade responsĂ¡vel por fiscalizar as estatais brasileiras. JosĂ© Jorge comunicou essa decisĂ£o ao plenĂ¡rio do tribunal ontem.
- Os fortes indĂ­cios de dano aos cofres pĂºblicos, de gestĂ£o temerĂ¡ria e de gestĂ£o antieconĂ´mica nĂ£o foram mitigados com a resposta da estatal. HĂ¡ nos autos evidĂªncias consistentes de que o acordo de acionistas foi bem desfavorĂ¡vel Ă  Petrobras, pois nĂ£o foram compartilhados os riscos do negĂ³cio - disse o ministro do TCU, que levantou dĂºvidas sobre os valores pagos pela estatal e apontou a "gravidade" dos fatos denunciados pelo MinistĂ©rio PĂºblico.
Procuradoria do RJ farĂ¡ outra aĂ§Ă£o
A compra da refinaria americana Pasadena Refining System (PRSI), no Texas, ocorreu em 2006. Desde entĂ£o, a Petrobras investiu no negĂ³cio US$ 1,18 bilhĂ£o (R$ 2,32 bilhões, pela cotaĂ§Ă£o de ontem do dĂ³lar). O MinistĂ©rio PĂºblico constatou que a refinaria nĂ£o processa um Ăºnico barril de petrĂ³leo e ainda nĂ£o deu retorno financeiro Ă  estatal. AlĂ©m da inspeĂ§Ă£o formal a ser feita pelo TCU no Rio, a Procuradoria da RepĂºblica no estado tambĂ©m deverĂ¡ abrir um procedimento para investigar a compra da refinaria.
O procurador junto ao TCU Marinus Marsico sustenta que as explicações dadas pela Petrobras nĂ£o afastaram as suspeitas de irregularidades, o que foi corroborado pelo ministro JosĂ© Jorge. A apuraĂ§Ă£o do procurador mostrou que o investimento na refinaria começou em 2005, ano em que o grupo belga Astra/Transcor e a Petrobras deram inĂ­cio Ă s negociações.
Em 2005, o grupo Astra comprou a refinaria por US$ 42,5 milhões. No ano seguinte, a estatal brasileira comprou 50% da refinaria e seu estoque de Ă³leo por US$ 360 milhões. Por US$ 820 milhões, a Petrobras assumiu completamente a refinaria, em junho de 2012.
O petista JosĂ© SĂ©rgio Gabrielli, atual secretĂ¡rio de Planejamento do governo da Bahia, era presidente da Petrobras na ocasiĂ£o, e Dilma Rousseff estava Ă  frente do Conselho de AdministraĂ§Ă£o da estatal.
A Petrobras nĂ£o quis se pronunciar sobre esse assunto. (AG)


O novo Papa e a ditadura militar argentina


O cardeal Bergoglio e os trinta anos do golpe na Argentina

Dando comunhĂ£o ao general Vilela, ex-ditador e genocida 

 Eis de novo em evidĂªncia a Igreja catĂ³lica da Argentina, uma das mais conservadoras, senĂ£o reacionĂ¡ria da AmĂ©rica Latina e cuja cumplicidade durante os atrozes anos da ditadura militar, entre 1976 e 1983, escandalizaram o mundo. 

Quem traz para a superfĂ­cie a memĂ³ria daquele perĂ­odo nefasto, cravejado de 30 mil desaparecidos, Ă© HorĂ¡cio Verbitski, jornalista e escritor argentino que foi nestes 22 anos de democracia um dos mais prĂ³ximos companheiros das MĂ£es da Praça de Maio.

Agora, com Kirchner, o vento mudou e sĂ£o disse Verbitski "ao menos 200 os militares na prisĂ£o" e 1.400 as causas judiciĂ¡rias pela violaĂ§Ă£o dos direitos humanos. A notĂ­cia Ă© do Il Manifesto, 10-5-06.

Segundo o Il Manifesto, Verbitski Ă© autor de quinze livros, entre eles O VĂ´o que relata o testemunho do capitĂ£o da marinha Adolfo Scilingo sobre os vĂ´os da morte, nos quais detentos vivos eram jogados dos aviões no Rio da Prata.

Agora, Verbitski - afirma o jornal italiano - lança na ItĂ¡lia o seu livro A Ilha do SilĂªncio no qual desenvolve uma implacĂ¡vel acusaĂ§Ă£o contra o papel da Igreja na ditadura argentina.

Em A Ilha do SilĂªncio, que se lĂª como um romance de fato e atroz, diz o Il Manifesto, comparecem todos os nomes notĂ¡veis da Igreja na Argentina, os cardeais Caggiano, Aramburo e Pimatesta, os bispos e vigĂ¡rios castrenses Tortolo, Bonamin e Grasseli, e o habitual nĂºncio Pio Laghi. Mas tambĂ©m o nome do atual cardeal Jorge Mario Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires, que poderia ter se tornado o primeiro papa latino-americano no conclave apĂ³s a morte de Wojtyla, vencido por Ratzinger.

De acordo com Il Manifesto, "uma vitĂ³ria do jesuĂ­ta Bergoglio teria sido uma desgraça nĂ£o menor daquela do pastor alemĂ£o". E Verbitski, segundo o jornal, explica e documenta o porque.

Esclarecedor e demolidor, em particular, Ă© o acontecimento dos dois padres jesuĂ­tas, Orlando Yorio e Francisco Jalics, que fizeram o erro de trabalhar nas favelas de Buenos Aires e por isto foram traĂ­dos e entregues aos militares por Bergoglio (que obviamente nega), diz o jornal a partir de relatos do jornalista.

Verbitski contou estes fatos na Universidade de Roma, apresentando o livro, acompanhado pelo vice-reitor Maria Rosalba Stabili e pelo professor ClĂ¡udio Tognonato. Eles trĂªs e outros inumerĂ¡veis participantes falarĂ£o hoje e amanhĂ£ da "Argentina; trinta anos do golpe. O ExĂ­lio na ItĂ¡lia" destaca o Il Manifesto.
http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=3649

Bergoglio - "Mentiras e calĂºnias" na Igreja argentina


 Fonte: Unsinos
 Em 1995, o jesuĂ­ta Francisco Jalics publicou um livro, "Ejercicios de meditaciĂ³n". Ao narrar seu sequestro, dizia que "muitas pessoas que sustentavam convicções polĂ­ticas de extrema direita viam com maus olhos nossa presença nas favelas. Interpretavam o fato de que vivĂªssemos ali como um apoio Ă  guerrilha e se propuseram nos denunciar como terroristas. 
NĂ³s sabĂ­amos de onde soprava o vento e quem era o responsĂ¡vel por essas calĂºnias. Assim, fui falar com a pessoa em questĂ£o e lhe expliquei que ele estava jogando com as nossas vidas. O homem me prometeu que faria saber aos militares que nĂ£o Ă©ramos terroristas. Por declarações posteriores de um oficial e 30 documentos aos quais pude ter acesso mais tarde, pudemos comprovar sem lugar a dĂºvidas que esse homem nĂ£o cumpriu sua promessa, mas, pelo contrĂ¡rio, havia apresentado uma falsa denĂºncia aos militares".

Em outra parte do livro, ele acrescenta que essa pessoa tornou "crĂ­vel a calĂºnia, valendo-se de sua autoridade" e "testemunhou diante dos oficiais que nos sequestraram que havĂ­amos trabalhado na cena da aĂ§Ă£o terrorista. Pouco antes, eu havia manifestado a essa pessoa que ele estava jogando com as nossas vidas. Ele devia ter consciĂªncia de que nos mandava a uma morte certa com as suas declarações".

A identidade dessa pessoa que Ă© revelada em uma carta que Orlando Yorioescreveu em Roma em novembro de 1977, dirigida ao assistente geral daCompanhia de Jesus, padre Moura. Esse texto permite conhecer o resto da histĂ³ria, pelo testemunho direto de uma das vĂ­timas.

A reportagem Ă© de Horacio Verbitsky, publicada no jornal PĂ¡gina/12, 10-04-2010. A traduĂ§Ă£o Ă© de MoisĂ©s Sbardelotto.

Nessa recapitulaĂ§Ă£o escrita 18 anos antes que o livro de Jalics, Yorio conta a mesma coisa, mas em vez de "uma pessoa" diz Jorge Mario Bergoglio[cardeal arcebispo de Buenos Aires]. Conta que Jalics falou duas vezes com o provincial, que "se comprometeu a frear os rumores dentro da Companhia e a se adiantar para falar com os membros das Forças Armadas para testemunhar nossa inocĂªncia". TambĂ©m menciona as crĂ­ticas que circulavam na Companhia de Jesus contra ele e Jalics: "Fazer orações estranhas, conviver com mulheres, heresias, compromisso com a guerrilha", semelhantes Ă s que Bergoglio transmitiu Ă  Chancelaria. Yorio nĂ£o conhecia a existĂªncia desse documento, que eu encontrei cinco anos depois de sua morte. Em seu livro, Bergoglio diz o mesmo que lhes transmitia a Jalics e Yorio: que ele nĂ£o acreditava na veracidade dessas acusações. Por que, entĂ£o, devia comunicĂ¡-las ao governo militar, como prova o documento que se reproduz abaixo?

Uma boca importante
Quando Bergoglio disse que havia recebido relatĂ³rios negativos sobre ele, Yorio falou com os consultados por meio de seu superior. Pelo menos trĂªs deles (os sacerdotes Oliva, JosĂ© Ignacio Vicentini e Juan Carlos Scannone) lhe disseram que nĂ£o haviam opinado contra ele, mas sim a favor. No clima da Argentina, a acusaĂ§Ă£o de pertencimento Ă  guerrilha em "uma boca importante (como a de um jesuĂ­ta) podia significar simplesmente a nossa morte. As forças de extrema direita jĂ¡ haviam metralhado um sacerdote em sua casinha e haviam raptado, torturado e abandonado morto a um outro. Os dois viviam em favelas. NĂ³s havĂ­amos recebido avisos no sentido de nos cuidarmos", escreveu Yorio ao padre Moura.

Ele acrescenta que Jalics falou nĂ£o menos do que duas vezes com Bergoglio para fazer com que ele visse o perigo em que essas versões os colocavam. Segundo Yorio, "Bergoglio reconheceu a gravidade do fato e se comprometeu a frear os rumores dentro da Companhia e a falar com membros das Forças Armadas para testemunhar nossa inocĂªncia. [Mas como] o provincial nĂ£o fazia nada para nos defender, começamos a suspeitar de sua honestidade. EstĂ¡vamos cansados da provĂ­ncia e totalmente inseguros".

Tinham seus motivos. Durante anos, Bergoglio os havia submetido a um fustigamento insidioso, sem assumir de forma aberta as acusações contra ele, que sempre atribuĂ­a a outros sacerdotes ou bispos que, uma vez confrontados, o desmentiam. Bergoglio havia lhes garantido uma continuidade de trĂªs anos em seu trabalho na vila de Bajo Flores. Mas informou ao arcebispoJuan Carlos Aramburu que estavam ali sem autorizaĂ§Ă£o. O aviso lhes chegou por meio de um dos fundadores do Movimento de Sacerdotes para o Terceiro Mundo e da pastoral "villera",Rodolfo Ricciardelli, a quem o prĂ³prio Aramburu havia contado. Quando Yorio o consultou, Bergoglio lhe disse que Aramburu "era um mentiroso" e que empregava essas "tĂ¡ticas para incomodar a Companhia".


A infĂ¢mia pĂºblica
Em nosso intercĂ¢mbio epistolar, Yorio defendeu que, no clima de medo e delaĂ§Ă£o instalado dentro da Igreja e da sociedade, os sacerdotes que trabalhavam entre os mais pobres "eram demonizados, postos em suspeita dentro de nossas prĂ³prias instituições e acusados de subverter a ordem social". 

Nesse contexto, foram submetidos por Bergoglio "Ă  proibiĂ§Ă£o e Ă  infĂ¢mia pĂºblica de nĂ£o poder exercer o sacerdĂ³cio, dando assim ocasiĂ£o e justificaĂ§Ă£o para que as forças repressivas fizessem com que desaparecĂªssemos. Podiam nos avisar de que havia perigos, mas sem frear as difamações das que os mesmos que nos faziam o serviço de nos avisar eram cĂºmplices. Podiam nos alertar que estĂ¡vamos marcados e acusados, mas mantendo no mistĂ©rio e na ambiguidade as causas da acusaĂ§Ă£o, tirando-nos assim a possibilidade de nos defender".

Uma vez que saĂ­ram da Companhia de Jesus, Bergoglio lhe recomendou que fossem ver o bispo de MorĂ³n, Miguel Raspanti, em cuja diocese poderiam salvar o sacerdĂ³cio e a vida. O provincial se ofereceu para enviar um relatĂ³rio favorĂ¡vel para que os aceitasse. Yorio e Jalics souberam pelo vigĂ¡rio e por alguns sacerdotes da diocese de MorĂ³n que la carta do provincial Bergoglio a Raspanti continha acusações "suficientes para que nĂ£o pudĂ©ssemos exercer mais o sacerdĂ³cio".

– NĂ£o Ă© verdade. Meu relatĂ³rio foi favorĂ¡vel. O que acontece Ă© que Raspanti Ă© uma pessoa de idade que Ă s vezes se confunde – defendeu-se Bergoglio diante de Yorio. Mas em seu novo encontro com o bispo de MorĂ³n, ratificou as acusações, segundo o relato que Raspanti transmitiu a outro sacerdote da comunidade de Bajo Flores, Luis DourrĂ³n. Yorio insistiu entĂ£o com Bergoglio.

– Raspanti diz que seus sacerdotes se opõem a que vocĂªs entrem na diocese – arguiu desta vez o provincial.

Outra alternativa possĂ­vel era que eles se integrassem Ă  Equipe da Pastoral "Villera" do Arcebispado de Buenos Aires. Seu responsĂ¡vel, padre HĂ©ctor BotĂ¡n, propĂ´s isso ao arcebispo Aramburu.

– ImpossĂ­vel. HĂ¡ acusações muito graves contra eles. NĂ£o quero nem vĂª-los – respondeu-lhe.

Um dos sacerdotes "villeros" se queixou ao vigĂ¡rio episcopal da regiĂ£o de Flores, Mario JosĂ© Serra.

– As acusações vĂªm do provincial – explicou-lhe Serra.

O prĂ³prio Serra foi encarregado de comunicar a Yorio que haviam lhe retirado sua licença para exercer seu ministĂ©rio na arquidiocese, devido ao fato de que o provincial havia informado que "eu saĂ­ da Companhia".

– NĂ£o tinham por que te tirar a licença. Essas sĂ£o coisas do Aramburu. Eu te dou licença para que continues celebrando missa em privado, atĂ© que consigas um bispo – disse-lhe Bergoglio.

A Ăºltima tentativa para lhes conseguir um bispo que os incardinasse foi feita pelo sacerdote da arquidiocese Eduardo GonzĂ¡lez. Convocado Ă  Assembleia PlenĂ¡ria do Episcopado que começou no dia 10 de maio de 1976, ele propĂ´s o caso ao arcebispo de Santa Fe, Vicente Zazpe.

– NĂ£o Ă© possĂ­vel se encarregar deles, porque o provincial anda dizendo que vai lhes tirar da Companhia – defendeu.

A Equipe da Pastoral "Villera" enviou uma carta de protesto a Bergoglio, com cĂ³pia ao nuncioPio Laghi, a Aramburu e a Raspanti, que nĂ£o responderam. O tempo havia se esgotado, epoucos dias depois Yorio e Jalics foram sequestrados, conduzidos Ă  Esma [Escola de MecĂ¢nica da Armada] e depois a uma casa operativa, na qual foram torturados.

Um interrogador com ostensivos conhecimentos teolĂ³gicos disse a Yorio que sabiam que ele nĂ£o era guerrilheiro, mas que, com o seu trabalho na vila, unia os pobres, e isso era subversivo. Sua liberdade foi negociada pelo governo em troca de que o episcopado recebesse o chefe do Estado Maior do ExĂ©rcito, Roberto Viola, e o ministro da Economia, JosĂ© MartĂ­nez de Hoz. Um dia antes dessa visita ao episcopado, Yorio e Jalics foram drogados e depositados por um helicĂ³ptero em um banhado de Cañuelas.

Depois de recuperar a liberdade, Yorio se refugiou em uma igreja e depois na casa de sua mĂ£e. A proteĂ§Ă£o de um bispo era mais urgente do que nunca. O Ăºnico que o aceitou foi Jorge Novak. Quando começaram as batidas policiais na regiĂ£o e soube que perguntavam por Yorio, Novak insistiu para que ele saĂ­sse do paĂ­s. "Bergoglio nĂ£o queria me mandar para Roma, mas por pressĂ£o da minha famĂ­lia e de Novak eu saĂ­. Estava escondido, porque houve uma ordem deVidela para me buscar", escreveu-me Yorio em 1999.

Quando reapareceram em Cañuelas, a entĂ£o irmĂ£ Norma GorriarĂ¡n, da Companhia de Maria, visitou Yorio na casa de sua mĂ£e. Em uma entrevista para o meu livro "Historia polĂ­tica de la Iglesia CatĂ³lica argentina", realizada no dia 27 de julho de 2006, ele lembrou que estavam descascando ervilhas quando chegou a irmĂ£ de Yorio com a informaĂ§Ă£o de que o estavam buscando. "Eu o levei a uma casa de irmĂ£s em Villa Urquiza, onde tive Orlando por um mĂªs, em uma salinha, no terraço".

Bergoglio exigiu que dissesse onde estava Yorio, "aparentemente para protegĂª-lo. Mas nĂ£o me parecia confiĂ¡vel". A religiosa se negou. Bergoglio "tremia, furioso pelo fato de que uma freira insignificante o enfrentava. Apontava para mim e me dizia: `VocĂª Ă© responsĂ¡vel pelos riscos que Orlando corre, onde quer que esteja`. Ele queria saber onde ele estava".

Por Ăºltimo, Laghi conseguiu os documentos para ele, e Bergoglio lhe pagou a passagem para Roma. "Mas ele nĂ£o pĂ´de me dar nenhuma explicaĂ§Ă£o sobre o ocorrido antes. Adiantou-se a me pedir por favor que nĂ£o as desse, porque se sentia muito confuso e nĂ£o saberia me dar essas informações. Eu tambĂ©m nĂ£o lhe disse nada. O que poderia lhe dizer?".

Yorio lembrou que apenas em Roma o secretĂ¡rio do geral dos jesuĂ­tas "tirou a venda dos meus olhos". Esse jesuĂ­ta colombiano, o padre CĂ¡ndido Gaviña, "me informou que eu havia sido expulso da Companhia. TambĂ©m me contou que o embaixador argentino no Vaticano havia lhe informado que o governo dizia que havĂ­amos sido capturados pelas Forças Armadas porque os nossos superiores eclesiĂ¡sticos haviam informado o governo que pelo menos um de nĂ³s era guerrilheiro. Gavigna pediu-lhe que confirmasse isso por escrito, e o embaixador o fez".

Em troca, Jalics viajou aos Estados Unidos e depois Ă  Alemanha. Escreveu que tinha mais ressentimento para quem os havia entregue do que contra seus capturadores e, apesar da distĂ¢ncia, "nĂ£o cessavam as mentiras, calĂºnias e ações injustas". Mas, conta em seu livro, em 1980, queimou os documentos comprovatĂ³rios do que ele chama de "o delito" de seus perseguidores. AtĂ© entĂ£o, os havia guardado com a secreta intenĂ§Ă£o de utilizĂ¡-los. "Desde entĂ£o me sinto verdadeiramente livre e posso dizer que perdoei de todo o coraĂ§Ă£o".

Em 1990, durante uma de suas visitas ao paĂ­s, Jalics se reuniu no instituto Fe y OraciĂ³n, da rua Oro 2760, com Emilio e Chela Mignone. Segundo a ata desse encontro, escrita por Mignone, Jalics lhes disse que "Bergoglio se opĂ´s a que, uma vez posto em liberdade, ele permanecesse na Argentina e falou com todos os bispos para que nĂ£o o aceitassem em suas dioceses em caso de se retirar da Companhia de Jesus". Bergoglio diz agora que, quando Jalics vem ao paĂ­s, ele o visita. A famĂ­lia de Yorio tem uma informaĂ§Ă£o diferente: Ă© Bergoglio quem o busca, como parte de sua operaĂ§Ă£o de dissimulaĂ§Ă£o.


O papel de Bergoglio na ditadura argentina
Bergoglio amistosamente cumprimentando o ditador genocĂ­da Videla
Fonte : Unisinos

Diante de um grande pĂºblico, no qual se encontravam membros da Igreja CatĂ³lica e de outras confissões, foi apresentado nesta sexta-feira o livro "El jesuita: Conversaciones con el cardenal Jorge Bergoglio", dos jornalistas Francesca Ambrogetti e Sergio Rubin.

A nota Ă© do jornal ClarĂ­n, 12-06-2010. A traduĂ§Ă£o Ă© de MoisĂ©s Sbardelotto.

No livro, Bergoglio defende sua atuaĂ§Ă£o durante a Ăºltima ditadura depois que o jornalistaHoracio Verbitsky o acusou em uma sĂ©rie de artigos de ter virtualmente "entregue" ao governo militar dois sacerdotes de sua congregaĂ§Ă£o, a Companhia de Jesus, que trabalhavam em uma vila portenha.

Bergoglio tambĂ©m se refere Ă  atuaĂ§Ă£o da Igreja nos anos de chumbo. A apresentaĂ§Ă£o esteve a cargo de "Canela" (a jornalista Gigliola Zecchin); Juan Carr, da Rede SolidĂ¡ria e de Alberto Zimerman, da DAIA..
 

A "operaĂ§Ă£o conclave" de Bergoglio

Bergoglio com o general Videla: colaboraĂ§Ă£o com a ditadura
Fonte: Unisinos.

12 de Abril de 2010

Quando a publicaĂ§Ă£o mais importante da Alemanha, a revista Der Spiegel, se refere ao "papado falido" do seu compatriota Joseph Ratzinger (o mesmo termo que a InteligĂªncia norte-americana aplica aos Estados com vazio de poder nos quais justifica sua intervenĂ§Ă£o), o primaz da Argentina e arcebispo de Buenos Aires, cardeal Jorge Bergoglio (foto), empreende uma operaĂ§Ă£o de lavagem de sua imagem com a publicaĂ§Ă£o de um livro autobiogrĂ¡fico.

O ostensivo propĂ³sito de "El Jesuita", como o livro Ă© intitulado, Ă© defender seu desempenho como provincial da Companhia de Jesus entre 1973 e 1979, manchado pelas denĂºncias dos sacerdotes Orlando Yorio e Francisco Jalics, que ele entregou aos militares. Ambos foram sequestrados cinco meses a partir de maio de 1976. Em troca, as quatro catequistas e dois de seus esposos sequestrados dentro da mesma operaĂ§Ă£o nunca reapareceram. Entre eles, estavam MĂ³nica Candelaria Mignone, filha do fundador do CELS (Centro de Estudos Legais e Sociais), Emilio Mignone, e MarĂ­a Marta VĂ¡zquez Ocampo, da presidente das MĂ£es da Praça de Maio, Martha Ocampo de VĂ¡zquez.

A reportagem Ă© de Horacio Verbitsky, publicada no jornal PĂ¡gina/12, 10-04-2010. A traduĂ§Ă£o Ă© de MoisĂ©s Sbardelotto.

Ratzinger tem 83 anos e, segundo a Der Spiegel, muitas vozes pedem a sua renĂºncia. O sacerdote Paolo Farinella escreveu na prestigiosa revista italiana de filosofia MicroMega, cujo diretor Paolo Flores D’Arcais participou de debates pĂºblicos sobre filosofia com o Papa, queBento XVI deveria pedir perdĂ£o aos crentes afetados pela restriĂ§Ă£o do celibato, pelas condições nos seminĂ¡rios e pelos milhares de casos de abusos de crianças e dizer-lhes: "Vou me retirar para um monastĂ©rio e passarei o resto dos meus dias fazendo penitĂªncia pelo meu fracasso como sacerdote e como Papa".

NinguĂ©m se surpreenderia se, depois de beber uma tisana noturna falhasse o coraĂ§Ă£o de um homem entristecido e angustiado por causa das injustas crĂ­ticas que atingem seu desempenho como bispo da Baviera e nĂ£o perdoam nem seu amado irmĂ£o Georg. A revista alemĂ£ menciona o antecedente de Celestino V, um Papa do sĂ©culo XIII, que renunciou porque nĂ£o se sentiu capaz de cumprir com suas funções.

Se algo disso ocorrer, Bergoglio precisa de uma folha de serviços limpa. Diante de uma pergunta sobre o Papa ideal, o presidente da AssociaĂ§Ă£o AlemĂ£ da Juventude CatĂ³lica, Dirk Tänzler, disse Ă  Der Spiegel que preferiria que o escolhido tivesse trabalhado em uma parte pobre da AmĂ©rica do Sul ou em outra regiĂ£o atingida pela pobreza, jĂ¡ que teria uma visĂ£o diferente do mundo. A compaixĂ£o pela pobreza, compartilhada com a Sociedade Rural e aAssociaĂ§Ă£o Empresarial AEA, Ă© o nicho de oportunidade escolhido pelo episcopado sob a conduĂ§Ă£o de Bergoglio.

O SilĂªncio

É o cardeal que vincula seu descarrego com a eleiĂ§Ă£o papal. Seu livro narra que quando a vida de JoĂ£o Paulo II se apagava e o nome de Bergoglio figurava nos prognĂ³sticos dos jornalistas especializados, "voltava a se agitar uma denĂºncia jornalĂ­stica publicada poucos anos atrĂ¡s emBuenos Aires" e que, "Ă s vĂ©speras do conclave, que devia escolher o sucessor do Papa polonĂªs, uma cĂ³pia de um artigo com a acusaĂ§Ă£o, de uma sĂ©rie do mesmo autor, foi enviada aos endereços de correio eletrĂ´nico dos cardeais eleitores com o propĂ³sito de prejudicar as chances que eram outorgadas ao purpurado argentino". Bergoglio diz em seu livro que nunca responder Ă  acusaĂ§Ă£o "para nĂ£o fazer o jogo de ninguĂ©m, nĂ£o porque tivesse algo para esconder". Ele nĂ£o explica porque mudou agora.

Pastores e lobos

Na realidade, a primeira versĂ£o do episĂ³dio nĂ£o se deve a nenhum jornalista, mas sim a Emilio Mignone. Em seu livro "Iglesia y dictadura", editado em 1986, quando Bergoglio nĂ£o era conhecido fora do mundo eclesiĂ¡stico, Mignone exemplificou com seu caso "a sinistra cumplicidade" com os militares, que "se encarregaram de cumprir a tarefa suja de limpar o pĂ¡tio interior da Igreja, com a aquiescĂªncia dos prelados".

Segundo o fundador do Centro de Estudos Legais e Sociais (CELS), durante uma reuniĂ£o com a Junta Militar em 1976, o entĂ£o presidente da ConferĂªncia Episcopal e vigĂ¡rio castrense,Adolfo Servando Tortolo, concordou que, antes de deter um sacerdote, as Forças Armadas iriam avisar o bispo respectivo. Mignone acrescenta que, "em algumas ocasiões, a luz verde foi dada pelos prĂ³prios bispos. No dia 23 de maio de 1976, a Infantaria da Marinha deteve, no bairro de Bajo Flores, o presbĂ­tero Orlando Yorio e o manteve durante cinco meses na qualidade de desaparecido. Uma semana antes da detenĂ§Ă£o, o arcebispo [Juan Carlos]Aramburu havia lhe retirado sua licença ministerial, sem motivo nem explicaĂ§Ă£o. Por diferentes expressões ouvidas por Yorio em sua detenĂ§Ă£o, fica claro que a Armada interpretou tal decisĂ£o e, possivelmente, algumas manifestações crĂ­ticas de seu provincial jesuĂ­ta, Jorge Bergoglio, como uma autorizaĂ§Ă£o para proceder contra ele. Sem dĂºvida, os militares haviam advertido a ambos acerca de sua suposta periculosidade". Mignone se pergunta "o que a histĂ³ria irĂ¡ dizer sobre esses pastores que entregaram suas ovelhas ao inimigo sem defendĂª-las nem resgatĂ¡-las".

A chaga aberta

Eu publiquei a histĂ³ria nesta mesma coluna, no dia 25 de abril de 1999. AlĂ©m da opiniĂ£o deMignone, a nota incluiu a opiniĂ£o de quem foi sua colaboradora no CELS, a advogada Alicia Oliveira, que disse o que agora repete no livro: que seu amigo Bergoglio, preocupado com a iminĂªncia do golpe, temia pelo destino dos sacerdotes do assentamento e lhes pediu que saĂ­ssem dali. Quando foram sequestrados, ele tentou localizĂ¡-los e buscar sua liberdade, assim como ajudou os outros perseguidos.

Por causa dessa nota, Orlando Yorio se comunicou comigo do Uruguai, onde vivia. Por telefone e por e-mail, refutou as afirmações de Bergoglio e Oliveira. "Bergoglio nĂ£o nos avisou do perigo iminente" e "tambĂ©m nĂ£o tenho nenhum motivo para pensar que ele fez alguma coisa pela nossa liberdade, mas sim todo o contrĂ¡rio", disse.

Os dois sacerdotes "foram libertados pela gestĂ£o de Emilio Mignone e a intercessĂ£o do Vaticano e nĂ£o pela atuaĂ§Ă£o de Bergoglio, que foi quem os entregou", acrescentou AngĂ©lica Sosa de Mignone, Chela, a esposa durante meio sĂ©culo do fundador do CELS. Seus testemunhos foram incluĂ­dos na nota "La llaga abierta", publicada no dia 09 de maio de 1999. TambĂ©m foram transmitidas ali as posições de Bergoglio e do outro padre sequestrado naquele dia, Francisco Jalics.

QuestĂ£o de Estilo

Em seu livro, Bergoglio diz agora que Yorio e Jalics "estavam preparando uma congregaĂ§Ă£o religiosa, e lhe entregaram o primeiro rascunho das regras aos bispos Pironio, Zazpe e Serra. Conservo a cĂ³pia que me deram". Bergoglio tambĂ©m me entregou uma cĂ³pia. Expressa o tipo de dĂºvidas e de conflitos que foram comuns em um alto nĂºmero de sacerdotes a partir doConcĂ­lio Vaticano II, com "a crise das congregações religiosas, os sinais dos tempos modernos, a coincidĂªncia com o sentir da busca dos jovens e a confirmaĂ§Ă£o espiritual que sentimos em nosso modo de viver atual".

O problema, nesse caso, era como compatibilizar "o estilo inaciano da vida religiosa" com "a vida moderna [que] pedia um estilo novo". A ata acrescenta que as Congregações ApostĂ³licas estĂ£o organizadas de modo que seus superiores "parecem se ocupar mais com as obras do que pela atenĂ§Ă£o espiritual de seus sĂºditos". Em troca, eles idealizam o modelo das fundações monĂ¡sticas e propõem que "a comunidade se una em torno de uma busca espiritual e de um projeto de vida e nĂ£o em torno de obras". Isso apresenta uma "incompatibilidade pessoal" aos sacerdotes subordinados Ă  disciplina de sua congregaĂ§Ă£o.

Em sua carta ao padre Moura, Yorio menciona essa ata como resposta Ă  pressĂ£o deBergoglio para que dissolvessem a comunidade em Bajo Flores. Acrescenta que deixaram paraPironio, Zazpe e Serra "um esboço de estruturaĂ§Ă£o de vida religiosa em caso de que nĂ£o pudĂ©ssemos continuar na Companhia e fosse possĂ­vel realizĂ¡-la fora", o que nĂ£o implica que eles quisessem sair dela. Em uma viagem posterior Ă  Argentina, Pironio disse-lhe que nĂ£o havia consultado o assunto em Roma, porque Bergoglio "havia ido lhe ver para lhe dizer que o padre geral era contrĂ¡rio a nĂ³s". Zazpe respondeu que "o provincial andava dizendo que nos tiraria da Companhia", e Serra comunicou-lhe que lhe retirariam a licença na arquidiocese porqueBergoglio havia comunicado "que eu estava saindo da Companhia".

Segundo Bergoglio, o superior jesuĂ­ta Pedro Arrupe disse que eles deviam escolher entre a comunidade em que viviam e a Companhia de Jesus. "Como eles persistiram em seu projeto e o grupo se dissolveu, pediram a saĂ­da da Companhia". Bergoglio acrescenta que a renĂºncia de Yorio foi aceita no dia 19 de março de 1976. "Diante dos rumores da iminĂªncia do golpe, eu lhes disse que tivessem muito cuidado. Lembro que lhes ofereci, se chegasse a ser conveniente para sua segurança, que viessem viver na casa provincial da Companhia", disse Bergoglio. Afirma tambĂ©m que nunca acreditou que eles estivessem envolvidos em atividades subversivas. "Mas, por causa de sua relaĂ§Ă£o com alguns padres das vilas de emergĂªncia, eles ficavam muito expostos Ă  paranoia da caça Ă s bruxas. Como permaneceram no bairro, Yorio e Jalics foram sequestrados durante um rastreamento".

Papeizinhos

Bergoglio tambĂ©m nega ter aconselhado os funcionĂ¡rios de Culto da Chancelaria que rejeitassem a solicitaĂ§Ă£o de renovaĂ§Ă£o do passaporte de Jalics, que ele mesmo apresentou. Segundo Bergoglio, o funcionĂ¡rio que recebeu o pedido lhe perguntou pelas "circunstĂ¢ncias que precipitaram a saĂ­da de Jalics". Ele diz que respondeu: "Ele e seu companheiro sĂ£o acusados de serem guerrilheiros e nĂ£o tinham nada a ver".

O cardeal acrescenta que "o autor da denĂºncia contra mim revisou o arquivo da Secretaria de Culto, e a Ăºnica coisa que mencionou foi que encontrou um papelzinho daquele funcionĂ¡rio no qual ele havia escrito que eu lhe disse que fossem acusados como guerrilheiros. Eu havia entregue essa parte da conversa, mas nĂ£o a outra na qual eu lhe indicava que os sacerdotes nĂ£o tinham nada a ver. AlĂ©m disso, o autor da denĂºncia ignora minha carta, na qual eu colocava minha cara por Jalics e fazia o pedido".

NĂ£o foi nada disso. Em notas publicadas aqui e em meus livros "El Silencio" "Doble juego", narrei a histĂ³ria completa e publiquei todos os documentos, começando pela carta de cuja omissĂ£o Bergoglio reclama. Depois, segue a recomendaĂ§Ă£o do funcionĂ¡rio de Culto que o recebeu, Anselmo Orcoyen: "Em atenĂ§Ă£o aos antecedentes do requerente, esta DireĂ§Ă£o Nacional Ă© da opiniĂ£o de que nĂ£o deve aceder".

O terceiro documento Ă© o definitĂ³rio. Esse papelzinho, assinado por Orcoyen, diz que Jalicstinha atividade dissolvente em comunidades religiosas femininas e conflitos de obediĂªncia, que esteve com Yorio na ESMA (detido, diz, em vez de sequestrado) por "suspeito contato com guerrilheiros". O ponto mais interessante Ă© o seguinte, porque remete a intimidades da Companhia de Jesus, vistas a partir da Ă³tica de Bergoglio, que nĂ£o tinha nenhuma necessidade de confiar ao funcionĂ¡rio da ditadura: "Viviam em uma pequena comunidade que o Superior JesuĂ­ta dissolveu em fevereiro de 1976 e se negaram a obedecer solicitando a saĂ­da da Companhia em 19/03".

Ele acrescenta que Yorio foi expulso da Companhia e que "nenhum bispo da Grande Buenos Aires quis lhe receber". A "Nota Bene" final Ă© inegĂ¡vel: Orcoyen diz que esses dados lhe foram repassados "pelo padre Jorge Mario Bergoglio, firmante da nota, com especial recomendaĂ§Ă£o de que nĂ£o se fizesse o que Ă© solicitado".

(nĂ£o duvido nada que Bergoglio seja eleito Papa - ele tem o perfil ideal para o cargo)



Bergoglio - Novos testemunhos sobre Bergoglio e a ditadura argentinaa ditadura argentina

Fonte - Unisinos

O papel do agora cardeal Bergoglio, da Argentina, no desaparecimento de sacerdotes e o apoio Ă  repressĂ£o ditatorial Ă© confirmado por cinco novos testemunhos. Falam um sacerdote e um ex-sacerdote, uma teĂ³loga, um integrante de uma fraternidade leiga que denunciou noVaticano o que acontecia na Argentina em 1976 e um leigo que foi sequestrado junto com dois sacerdotes que nĂ£o reapareceram.

A reportagem Ă© de Horacio Verbitsky, publicada no jornal PĂ¡gina/12, 18-04-2010. A traduĂ§Ă£o Ă© de MoisĂ©s Sbardelotto.

Cinco novos testemunhos, oferecidos de forma espontĂ¢nea a partir da notĂ­cia "Seu passado o condena", confirmam o papel do agora cardeal Jorge Bergoglio na repressĂ£o do governo militar sobre as fileiras da Igreja CatĂ³lica que ele hoje preside, incluindo o desaparecimento de sacerdotes. As testemunhas sĂ£o uma teĂ³loga que durante dĂ©cadas deu catequese em colĂ©gios do bispado de MorĂ³n, o ex-superior de uma fraternidade sacerdotal que foi dizimada pelos desaparecimentos forçados, um integrante da mesma fraternidade que denunciou os casos ao Vaticano, um sacerdote e um leigo que foram sequestrados e torturados.


TeĂ³loga de minissaia

Dois meses depois do golpe militar de 1976, o bispo de MorĂ³n, Miguel Raspanti, tentou proteger os sacerdotes Orlando Yorio e Francisco Jalics porque temia que fossem sequestrados, mas Bergoglio se opĂ´s. Assim indica a ex-professora de catequese em colĂ©gios da diocese de MorĂ³n, Marina Rubino, que nessa Ă©poca estudava teologia no ColĂ©gio MĂ¡ximo de San Miguel, onde Bergoglio vivia. Por essa circunstĂ¢ncia, ela conhecia a ambos. AlĂ©m disso, ela havia sido aluna de Yorio e Jalics e sabia do risco que eles corriam. Marina decidiu dar seu testemunho depois de ler a nota sobre o livro de descargo de Bergoglio.

Marina Rubino vive em MorĂ³n desde sempre. No ColĂ©gio do Sagrado CoraĂ§Ă£o de Castelar, ela dava catequese Ă s crianças e formava os pais, o que lhe parecia mais importante. "Uma vez por mĂªs, nos reunĂ­amos com eles. Era um trabalho muito bonito. Essa experiĂªncia durou 15 anos". TambĂ©m deu cursos de iniciaĂ§Ă£o bĂ­blica "em todos os lugares nĂ£o turĂ­sticos da Argentina. TĂ­nhamos uma publicaĂ§Ă£o, com comentĂ¡rios aos textos dos domingos. QuerĂ­amos que as comunidades tivessem elementos para pensar". Desde que se aposentou, dĂ¡ aulas de tecelagem em centros culturais, sociedades de fomento ou em casas.

Ela nĂ£o quis ingressar no seminĂ¡rio de Villa Devoto porque nĂ£o lhe interessava a formaĂ§Ă£o tomista, mas sim a BĂ­blia. Em 1972, começou a estudar teologia na Universidad del Salvador. A carreira era cursada no ColĂ©gio MĂ¡ximo de San Miguel. No primeiro ano, teve como professor Francisco Jalics e, no segundo, Orlando Yorio. Enquanto estudava, coordenava a catequese no colĂ©gio Sagrado CoraĂ§Ă£o de Castelar, onde tambĂ©m estava a religiosa francesa LĂ©onie Duquet. "Eram tempos difĂ­ceis. Por fazer no colĂ©gio uma opĂ§Ă£o pelos pobres levando a sĂ©rio oConcĂ­lio Vaticano II e a reuniĂ£o do Celam de MedellĂ­n, perdemos a metade dos alunos. Mas mantivemos essa opĂ§Ă£o e continuamos formando pessoas mais abertas Ă  realidade e ao compromisso com os mais necessitados, defendendo que a fĂ© tem que fortalecer essas atitudes, e nĂ£o as contrĂ¡rias".

O bispo era Miguel Raspanti, que entĂ£o tinha 68 anos e havia sido ordenado em 1957, nos Ăºltimos anos do reinado de Pio XII. Era um homem bem intencionado que fez todos os esforços para se adaptar Ă s mudanças do ConcĂ­lio, do qual participou. Depois do "cordobazo" de 1969, repudiou as estruturas injustas do capitalismo e estimulou o compromisso com a "libertaĂ§Ă£o de nossos irmĂ£os necessitados". Mas o problema mais grave que ele pĂ´de identificar em MorĂ³n foi o aumento dos impostos sobre o pequeno comerciante e o proprietĂ¡rio da classe mĂ©dia. "Muitas vezes, foi preciso discutir e defender essas opções no bispado, e Dom Raspanti costumava terminar as entrevistas dizendo-nos que, se acreditĂ¡vamos que era preciso fazer esta ou aquela coisa, se estĂ¡vamos convencidos, ele nos apoiava", lembra Marina. Suas palavras sĂ£o acompanhadas com atenĂ§Ă£o por seu esposo, Pepe Godino, um ex-padre de Santa MarĂ­a, CĂ³rdoba, que integrou o Movimento de Sacerdotes para o Terceiro Mundo.

Marina cursava teologia em San Miguel das 8h30min Ă s 12h30min. NĂ£o haviam lhe dado a bolsa, porque era mulher, mas, como era a coordenadora de catequese em um colĂ©gio do bispado, Raspanti intercedeu e obteve que uma entidade alemĂ£ se encarregasse dos custos dos seus estudos. TambĂ©m nĂ£o quiseram lhe dar o tĂ­tulo quando se formou em 1977. O diretor da teologia,JosĂ© Luis Lazzarini, lhe disse que havia um problema, que nĂ£o haviam se dado conta de que ela era mulher. Marina partiu em busca de quem a havia recebido ao ingressar, o jesuĂ­ta VĂ­ctor Marangoni:

- Quando vocĂª me viu pela primeira vez, vocĂª se deu conta de que eu era mulher ou nĂ£o?

- Sim, claro, por quĂª? - respondeu atordoado o vice-reitor diante dessa forte mulher de minissaia.

- Porque Lazzarini nĂ£o quer me dar o tĂ­tulo.

Marangoni se encarregou de reparar essa absurdo. Marina tem seu tĂ­tulo, mas a entrega oficial nunca ocorreu.

A desproteĂ§Ă£o

Em um meio-dia, ao sair de seus cursos, "encontrei Dom Raspanti de pĂ© no hall da entrada, sozinho. NĂ£o sei por que o mantinham ali esperando. Estava muito silencioso. Perguntei se estava esperando por alguĂ©m, e ele me disse que sim, o padre provincial Bergoglio. Tinha o rosto desfigurado, pĂ¡lido, acreditei que estava mal de saĂºde. Cumprimentei-o, perguntei se ele se sentia bem e o convidei a passar para uma salinha que havia no hall".

- NĂ£o, nĂ£o me sinto mal, mas estou preocupado – respondeu Raspanti.

Marina diz que tem uma memĂ³ria fotogrĂ¡fica daquele dia. Ela fala com voz calma, mas se percebe o apaixonamento em seus olhos grandes e expressivos. Pepe a olha com ternura.

"Me impressionou ver Raspanti sozinho, ele que sempre ia com o seu secretĂ¡rio", diz. Marina sabia que seus professores Jalics e Yorio e um terceiro jesuĂ­ta que trabalhava com ela no colĂ©gio de Castelar, Luis Dourron, haviam pedido para passar para a diocese de MorĂ³n. Yorio, Jalics, Dourron e Enrique Rastellini, que tambĂ©m era jesuĂ­ta, viviam em comunidade desde 1970, primeiro em ItuzaingĂ³ e depois no Barrio Rivadavia, junto Ă  Gran Villa do Bajo Flores, com conhecimento e aprovaĂ§Ă£o dos sucessivos provinciais da Companhia de Jesus, Ricardo Dick O’Farrell e Bergoglio.

"Eu lhe disse que Orlando e Francisco haviam sido meus professores e que Luis trabalhava conosco na diocese, que eram irrepreensĂ­veis, que nĂ£o duvidasse em recebĂª-los. Todos estĂ¡vamos inclinados para que pudessem vir para MorĂ³n. Nenhum dos que conheciam a situaĂ§Ă£o se opunha. Raspanti me disse que era sobre isso que vinha falar com Bergoglio. JĂ¡ havia recebido Luis, mas precisava de uma carta na qual Bergoglio autorizasse a passagem de Yorio e Jalics".

Marina entendeu que era uma simples formalidade, mas Raspanti lhe esclareceu que a situaĂ§Ă£o era mais complicada. "Com as mĂ¡s referĂªncias que Bergoglio havia mandado, ele nĂ£o podia recebĂª-los na diocese. Estava muito angustiado porque, nesse momento, Orlando e Francisco nĂ£o dependiam de nenhuma autoridade eclesiĂ¡stica e me disse:

- NĂ£o posso deixar dois sacerdotes nessa situaĂ§Ă£o, nem posso recebĂª-los com o relatĂ³rio que ele me mandou. Venho para lhe pedir que simplesmente os autorize e que retire esse relatĂ³rio que dizia coisas muito graves.

Qualquer um que ajudasse a pensar era guerrilheiro, comenta Marina. Acompanhou seu bispo atĂ© que Bergoglio o recebeu e depois foi embora. Ao sair, viu que o carro de Raspanti tambĂ©m nĂ£o estava no estacionamento. "Deve ter vindo de Ă´nibus, para que ninguĂ©m o seguisse. Queria que a coisa ficasse entre eles dois. Estava fazendo o impossĂ­vel para dar-lhes proteĂ§Ă£o".

A teĂ³loga acrescenta que a angĂºstia de Raspanti lhe impressionou, porque, "mesmo que ele nĂ£o pudesse ser qualificado de bispo progressista, sempre nos defendeu, defendeu os padres questionados da diocese, levava a dormir na casa episcopal aqueles que corriam mais risco e nunca nos proibiu de fazer ou dizer algo que considerĂ¡ssemos fruto do nosso compromisso cristĂ£o. Como bom salesiano, se comportava como uma galinha choca com seus padres e seus leigos, abrigava, cuidava, mesmo que nĂ£o estivesse de acordo. Eram pontos de vista diferentes, mas ele sabia escutar e aceitava muitas coisas".

Um desses padres Ă© Luis Piguillem, que havia sido ameaçado. Ele voltava de bicicleta quando se topou com uma barreira policial que impedia a passagem. Insistiu que queria passar, porque sua casa ficava no bairro, e um policial lhe disse:

- VocĂª vai ter que esperar porque estamos fazendo uma operaĂ§Ă£o na casa do padre.

Piguillem deu meia volta com sua bicicleta e se afastou sem olhar para trĂ¡s. Dali, foi para o bispado de MorĂ³n, onde Raspanti lhe deu refĂºgio. Os militares disseram que ele havia se escondido debaixo das saias do bispo. Mas nĂ£o se atreveram a ir buscĂ¡-lo ali.

- Raspanti era consciente do risco que Yorio e Jalics corriam?

- Sim. Disse que tinha medo de que desaparecessem. Dois sacerdotes nĂ£o podem ficar no ar, sem um responsĂ¡vel hierĂ¡rquico. Poucos dias depois, soubemos que eles os haviam levado.

De CĂ³rdoba a Cleveland

Outro testemunho recolhido a partir da publicaĂ§Ă£o do domingo Ă© o do sacerdote Alejandro Dausa, que, na terça-feira 03 de agosto de 1976, foi sequestrado em CĂ³rdoba, quando era seminarista da Ordem dos MissionĂ¡rios de Nossa Senhora de La Salette. Depois de seis meses nos quais foi torturado pela polĂ­cia cordobesa no Departamento de InteligĂªncia D2, ele pĂ´de viajar para os Estados Unidos, aonde o responsĂ¡vel do seminĂ¡rio jĂ¡ havia chegado, o sacerdote norte-americano James Weeks, por quem o governo de seu paĂ­s se interessou. Neste ano, irĂ¡ se realizar em CĂ³rdoba o julgamento daquele episĂ³dio, cujo principal responsĂ¡vel Ă© o general Luciano MenĂ©ndez. Agora, Dausa vive na BolĂ­via e conta que tanto


Ao chegar aos EUA, soube por Ă³rgĂ£os de direitos humanos que Jalics se encontrava em Cleveland, na casa de uma irmĂ£. Dausa e os outros seminaristas, que estavam iniciando o noviciado, convidaram-lhe para dirigir dois retiros espirituais. Ambos foram realizados em 1977, um em Altamont (Estado de Nova York) e outro em Ipswich (Massachusetts). Dausa lembra: "Como Ă© natural, conversamos sobre os sequestros respectivos, detalhes caracterĂ­sticas, antecedentes, sinais prĂ©vios, pessoas envolvidas etc. Nessas conversas, ele nos indicou que Bergoglio os havia entregue e denunciado".

Na dĂ©cada seguinte, Dausa trabalhava como padre na BolĂ­via e participava dos retiros anuais da La Salette na Argentina. Em um deles, os organizadores convidaram Orlando Yorio, que nessa Ă©poca trabalhava em Quilmes. "O retiro foi em Carlos Paz, CĂ³rdoba, e tambĂ©m nesse caso conversamos sobre a experiĂªncia do sequestro. Orlando indicou o mesmo que Jalics sobre a responsabilidade de Bergoglio".

Os assuncionistas

Yorio e Jalics foram sequestrados no dia 23 de maio de 1976 e conduzidos Ă  Esma [Escola de MecĂ¢nica da Armada], onde um especialista em assuntos eclesiĂ¡sticos que conhecia a obra teolĂ³gica de Yorio lhes interrogou. Em um dos interrogatĂ³rios, perguntou-lhe sobre os seminaristas assuncionistas Carlos Antonio Di Pietro e RaĂºl Eduardo RodrĂ­guez. Ambos eram colegas de Marina Rubino no curso de teologia de San Miguel e desenvolviam trabalhos sociais no bairro popular La Manuelita, de San Miguel, onde viviam e atendiam Ă  capela Jesus OperĂ¡rio. Dali, foram sequestrados dez dias depois que os dois jesuĂ­tas, no dia 04 de junho de 1976, e levados para a mesma casa operativa que Yorio e Jalics. Na metade da manhĂ£, Di Pietro telefonou para o superior assuncionista Roberto Favre e lhe perguntou pelo sacerdote Jorge Adur, que vivia com eles em La Manuelita.

- Recebemos um telegrama para ele e temos que lhe entregar – disse.

Desse modo, conseguiu que a Ordem se pusesse em movimento. O superior Roberto Favreapresentou um recurso de habeas corpus, que nĂ£o obteve resposta. Adur conseguiu sair do paĂ­s, com a ajuda do nĂºncio Pio Laghi, e se exilou na França. Voltou de forma clandestina em 1980, convertido em capelĂ£o do autodenominado "ExĂ©rcito Montonero" e foi preso-desaparecido no trajeto para o Brasil, onde procurava se encontrar com o Papa JoĂ£o Paulo II.

O mesmo caminho do exĂ­lio foi seguido por um dos detidos na batida policial do bairro La Manuelita, o entĂ£o estudante de medicina e hoje mĂ©dico Lorenzo Riquelme. Quando recuperou sua liberdade, a Fraternidade dos IrmĂ£ozinhos do Evangelho lhe deu hospitalidade em sua casa portenha da rua Malabia. Em comunicações desde a França com quem era entĂ£o o superior dos IrmĂ£ozinhos do Evangelho, Patrick Rice, Riquelme disse que quem o denunciou foi um jesuĂ­ta do ColĂ©gio de San Miguel, que era por sua vez capelĂ£o do ExĂ©rcito. Ele estĂ¡ convencido de que esse sacerdote presenciou as torturas que lhe foram aplicadas, em Campo de Mayo, acredita ele.

O amolecedor

TambĂ©m em consequĂªncia da notĂ­cia do domingo, um fundador da fraternidade leiga dos IrmĂ£ozinhos do Evangelho Charles de Foucauld, Roberto Scordato, aceitou narrar seu conhecimento do caso. Entre o fim de outubro e o começo de novembro de 1976, Scordato se reuniu em Roma com o cardeal Eduardo Pironio, que era prefeito da CongregaĂ§Ă£o para os Religiosos do Vaticano, e lhe comunicou o nome e o sobrenome de um sacerdote da comunidade jesuĂ­ta de San Miguel que participava das sessões de tortura em Campo de Mayocom o papel de "amolecer espiritualmente" os detidos.

Scordato pediu-lhe que transmitisse ao superior geral Pedro Arrupe, mas ignora o resultado de sua gestĂ£o, se Ă© que teve algum. Consultado para esta nota, Rice, que tambĂ©m foi sequestrado e torturado nesse ano, disse que isso nĂ£o teria sido possĂ­vel sem a aprovaĂ§Ă£o do padre provincial. Rice e Scordato acreditam que esse jesuĂ­ta tinha o sobrenome GonzĂ¡lez, mas, a 34 anos de distĂ¢ncia, nĂ£o lembra com certeza.

FĂºria

Como todas as vezes em que seu passado o alcança, Bergoglio atribui a divulgaĂ§Ă£o de seus atos ao governo nacional. Nesta semana, ele reagiu com fĂºria durante a homilia que pronunciou em uma missa para estudantes. Naquilo que seu porta-voz descreveu como "uma mensagem para o poder polĂ­tico", ele disse que "nĂ£o temos direitos a mudar a identidade e a orientaĂ§Ă£o da PĂ¡tria", mas sim a "projetĂ¡-la para o futuro em uma utopia que seja continuidade com aquilo que nos foi dado", que os jovens nĂ£o tĂªm outro horizonte do que comprar drogas e que os dirigentes procuram ascender, aumentar o caixa e promover os amigos.

Com esse Ă¢nimo irascĂ­vel, ele inaugurarĂ¡ em San Miguel a primeira assembleia plenĂ¡ria do Episcopado de 2010.

 
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