domingo, 17 de junho de 2012

Brasil é o segundo no ranking de vítimas fatais em acidentes de motos

Um estudo inédito sobre a violência no trânsito, realizado pelo Instituto Sangari por meio da análise de 1 milhão de certidões de óbito em todo o mundo, revelou que o Brasil é o segundo país do mundo em vítimas fatais em acidentes envolvendo motocicletas, com 7,1 óbitos a cada 100 mil habitantes. O Mapa da Violência 2012, publicado pela revista Veja, mostra que apenas no Paraguai se morre mais, com 7,5 óbitos por 100 mil habitantes. A situação no Brasil e no vizinho sul-americano é bem diferente do terceiro colocado no ranking global: a Tailândia tem taxa de 4,6 óbitos por 100 mil habitantes, enquanto Colômbia aparece em quarto, com 4,2 óbitos, e Chipre fica com o quinto lugar, com 3,7 óbitos.

Como base de comparação, o índice nos Estados Unidos, o décimo colocado da lista, é de 1,7 óbito a cada 100 mil habitantes. Nos últimos 15 anos, o crescimento da taxa de mortalidade em acidentes com motocicleta no Brasil aumentou 846,5%, enquanto a de carros cresceu 58,7%. O nível da violência no trânsito é tanto que condena à morte no local do acidente cerca de 40% dos envolvidos nas ocorrências. Em 2012, mais de 13 mil brasileiros devem morrer nas ruas e avenidas do país em acidentes com veículos de duas rodas. Em 2010, foram 13.452 vítimas fatais, contra 1.421 registradas em 1996. Entre as vítimas, 75% são homens e 40% têm entre 21 e 35 anos.

Como forma de comparação, o número de vítimas fatais em acidentes com carros em 2010 foi de 11.405 pessoas, contra 7.188 de 1996. Uma das razões para este panorama é a explosão no mercado das duas rodas nos últimos 10 anos. A frota de motocicletas em circulação no país cresceu nada menos que 246% na última década, atingindo 18,5 milhões de unidades. Enquanto isso, a frota de carros apresentou crescimento menos significativo, de 65,3%, atingindo 37,2 milhões de veículos. Outras causas apontadas por especialistas do setor à revista Veja, como José Eduardo Gonçalves, diretor executivo da Abraciclo, a associação das fabricantes de motocicletas, são a ausência de uma legislação mais rigorosa com a categoria, a falta de pistas exclusivas para motos e a não obrigatoriedade de treinamento específico 
para trabalhadores como motoboys. (MotorDream)

Erundina: ‘Não vou estar confortável no mesmo palanque que Maluf’


 A deputada Luiza Erundina (PSB), pré-candidata a vice-prefeito na chapa de Fernando Haddad (PT) na disputa pela Prefeitura de São Paulo, disse ter sido surpreendida pela aliança com o PP, de Paulo Maluf. “Não vou estar confortável no mesmo palanque com o Maluf. Com certeza não. Até acho que ele nem vai enfrentar a reação da massa, que é o nosso povo, com quem a gente vai ganhar as eleições e governar a cidade. Com esse povo a gente consegue manter a coerência”, afirmou, em entrevista ao Estado neste sábado, 16.
Na última quarta-feira, 13, o Estado noticiou com exclusividade a possibilidade de a deputada aceitar a formação de chapa com o ex-ministro da Educação. A aliança com os petistas deve dar a Haddad cerca de 1min 30s em cada um dos blocos do horário eleitoral na TV, que começa a partir de agosto. “Entendo o pragmatismo de ter uns minutos a mais numa disputa acirrada, esses minutos, segundos, devem fazer diferença. Agora, não sei se o custo político compensa a vantagem do tempo de televisão”, completou a ex-prefeita, que administrou a cidade pelo PT entre 1989 e 1992.
“Mas acho que a campanha não sou eu e nem Maluf individualmente. É um processo muito mais amplo, complexo, plural. Isso se dilui, a meu ver. Claro que não é confortável. Pra mim, não será confortável estar no mesmo palanque com o Maluf”, afirmou numa referência ao deputado e ex-prefeito, que foi um dos seus maiores adversários políticos na capital. Leia a seguir a íntegra da entrevista.
Estado: A sra. decidiu tomar um rumo diferente do PT 15 anos atrás. Agora voltam a se juntar. Mudou a sra ou mudou o PT?
Luiza Erundina: Mudamos os dois. Eu nunca me afastei daquilo pelo que eu ajudei a construir no PT, a militar, a construir as tarefas políticas que o PT me atribuiu durante todo aquele tempo. A partir daí é que mudei de partido. Não foi uma decisão fácil. Foi traumática para mim. Mas naquele momento minha experiência no PT havia se esgotado.
Estado: Por que?
Luiza Erundina: Eu entendia que minha visão político-partidária, minha prática política, minha relação com o partido durante o governo foi uma relação difícil, as experiências de campanha também foram muito difíceis. Os processos se esgotam e a gente tem que ter coragem para não… Em um determinado momento me coloquei a seguinte hipótese: ou eu saio da política, embora filiada ao PT, mas se militância, ou para continuar a fazer política com o nível de engajamento, de participação e militância era melhor eu ir para outro espaço.
Estado: Mas por que o realinhamento com o PT?
Luiza Erundina: Nem fui eu. Foi uma decisão partidária. Lógico que como liderança partidária isso passa por mim. Eu sou ouvida. A direção me consultou e nós fizemos uma discussão política mais aprofundada. Avaliamos que no interesse maior do projeto que estamos construindo no País desde a primeira vitória de Lula, a vitória da Dilma, tem sido num alinhamento estratégico com o PT.
Estado: Por que vale em 2012 e não valeu em 2004?
Luiza Erundina: Eu era uma candidata potencial naquele momento. Havia condições objetivas para que eu pudesse disputar o cargo de prefeita. No segundo turno fui de cabeça e procurei dar a minha contribuição.
Estado: As feridas já estão cicatrizadas? A senhora dividiu na sexta a mesma mesa com o Rui Falcão, que esteve em trincheiras opostas as da senhora no PT na década de 90.
Luiza Erundina: Isso foi uma das dificuldades, a relação do governo com o governo e com o partido no município. Quem era o presidente na época era o Rui Falcão. Nós tivemos muita dificuldade. Ele reconhece hoje, não publicamente, mas, particularmente, faz má autocrítica de que o partido poderia ter ajudado o governo e não ter criado tanta tensão como ocorreu naquele momento.
Estado: A sra. disse que é amiga da Marta e que vai tentar trazê-la para a campanha. O que explica a ausência dela? Ressentimento?
Luiza Erundina: Não tenho detalhes sobre o que aconteceu entre a Marta e o partido dela. Mas conheço muito a Marta. Ela é muito franca, inteira, fala exatamente aquilo que acha, sente. É uma pessoa que não tem meio-termo. Isso é um mérito e um valor dela. O governo dela deixou uma herança.
Estado: Líderes do PT já afirmaram que ela está cometendo um grave erro político. Está?
Luiza Erundina: Não faço esse julgamento político, sobretudo porque tenho a expectativa de que ela vai entender a necessidade de vir ajudar. Falar isso é julgá-la mais ainda.
Estado: O PT mudou ao chegar ao poder?
Luiza Erundina: Um partido de esquerda, com vocação socialista, que era o que eu entendia do PT quando estava no partido, quando chega ao poder tem dificuldade de conviver com os limites que existem nesse Estado. Ter que governar com outras forças políticas é mais complicado, mais difícil. O PT não é mais aquele de 30 anos atrás, com certeza, até pelo fato de participar da luta institucional nos marcos da política que existe hoje no País. Se explica que o PT, mesmo com o corte ideológico dos nossos partidos, tenha que fazer inflexões para sobreviver como governo.
Estado: A sra. está dizendo que o PT se tornou mais pragmático?
Luiza Erundina: Com certeza. Muito mais pragmático. Com o presidencialismo e uma minoria no Congresso você tem muito mais dificuldade de governar. Eu vivi isso na cidade de São Paulo. Governei quatro anos com minoria na Câmara dos Vereadores. Para ter maioria, teria que ter feito concessões. Eu preferi não ter maioria, não ter conseguido aprovar certas iniciativas de lei do que ter feito concessões. Mas aquilo pensado numa cidade talvez tenha sido menos difícil de administrar do que no âmbito do País.
Estado: O PT fez muitas concessões? Perdeu a coerência?
Luiza Erundina: Fez muitas concessões. Não diria de forma absoluta que perdeu a coerência. O programa partidário, por essas injunções da política institucional, da correlação de forças, teve que ser mudado. Até porque o partido faz suas análises a partir das suas experiências de governo. Tudo isso envolve tantas variáveis… É fácil julgar estando de fora dizendo que tal política é incoerente. Mas você não está dentro do espaço de decisão. Prefiro não julgar um partido em que não estou mais. Agora, com todas as críticas que a gente pode fazer aos governos do Lula e da Dilma, eles foram governos voltados para o interesse da maioria. Mesmo que isso tenha exigido certas concessões ao outro polo da sociedade. A política é real. Não é algo que se dá no plano do ideal, da abstração, da vontade política só.
Estado: Alianças com Sarney, Jader, Renan… Isso é bem real, não?
Luiza Erundina: É bem real. Quando penso num processo desses, a aliança maior que me mobiliza é a aliança com o povo. Os nossos governos federais, desde o primeiro governo Lula, teriam menos força no Congresso se houvesse uma aliança mais estratégica, orgânica e permanente com a sociedade civil organizada. Espero dar a minha contribuição chegando lá com o Haddad.
Estado: A sra. combateu o deputado Paulo Maluf durante parte muito importante de sua carreira política. Que avaliação a sra. faz da entrada dele na campanha?
Luiza Erundina: Foi uma decisão dos partidos que não passou nem passaria por mim. Provavelmente teria dificuldade de aceitar essa decisão. Meu partido deve ter sido consultado sobre isso. As responsabilidades de alianças são da direção nacional.
Estado: Tivesse sido consultada, diria ‘não’?
Luiza Erundina: Faria minhas ponderações. Não vou estar confortável no mesmo palanque com o Maluf. Com certeza não. Até acho que ele nem vai enfrentar a reação da massa, que é o nosso povo, com quem a gente vai ganhar as eleições e governar a cidade. Com esse povo a gente consegue manter a coerência.
Estado: A sra. foi surpreendida pelo apoio?
Luiza Erundina: Fui, quando o jornalista me mostrou uma mensagem eletrônica. Agora eu entendo o pragmatismo de ter uns minutos a mais numa disputa acirrada, esses minutos, segundos, devem fazer diferença. Agora não sei se o custo político compensa a vantagem do tempo de televisão. Mas acho que a campanha não sou eu e nem Maluf individualmente. É um processo muito mais amplo, complexo, plural. Isso se dilui, a meu ver. Claro que não é confortável. Pra mim não será confortável estar no mesmo palanque com o Maluf. Não que eu tenha nada contra a pessoa dele. Inclusive a gente convive no Congresso numa boa. Ele sabe o que eu penso, eu sei o que ele pensa. A gente convive no mesmo espaço e tem que saber distinguir a pessoa daquilo que ela pensa e faz na política. (AE)

Governo Federal carimba documentos como 'secretos' para driblar Lei de Acesso


Para driblar a obrigação de divulgar dados públicos, imposta pela Lei de Acesso à Informação, o governo está reclassificando documentos como sigilosos. Antes de livre consulta, os papéis estão ganhando carimbo de reservados após a entrada em vigor da norma, em 16 de maio, sem justificativa legal, com o propósito de adiar a divulgação por até 25 anos.
Os ministérios baseiam-se nas exceções previstas no texto legal, apesar de a Lei de Acesso ressaltar que a transparência é regra. Entre os argumentos mais usados está o risco à "segurança da sociedade ou do Estado", à qual os órgãos públicos se apegam até para negar dados de convênios prosaicos, firmados diariamente pela administração.
O Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) usou essa justificativa para que o Estado não tivesse acesso a dados de parceria firmada com entidade sem fins lucrativos do Rio de Janeiro, cujo objetivo era a simples realização de palestras e cursos de acessibilidade para facilitar a inclusão de pessoas com deficiência.
O processo requisitado contém dados da contratação, que custou R$ 1,5 milhão ao erário. A decisão de negá-los partiu da diretora do Departamento de Ações Regionais para Inclusão Social, Renata Maria Gonzatti, que impôs ao processo sigilo de três anos, renovável por mais três - a lei, no entanto, prevê prazo mínimo de cinco.
Numa resposta lacônica, ela não explica qual seria, no caso, a ameaça à integridade social ou do Estado. Na prática, a medida igualou o convênio aos documentos que tratam de questões relativas à soberania nacional, às relações internacionais ou às atividades de inteligência do Brasil.
"É uma resposta picareta, tão patentemente absurda que beira ao cinismo", critica Cláudio Weber Abramo, diretor executivo da ONG Transparência Brasil, entidade que participou da elaboração do texto que, após discussões no governo, deu origem à nova legislação.
Finalidade. Para ele, o abuso do mecanismo de reclassificação contraria o que a lei estabelece e as diretrizes que o próprio Planalto afirma, oficialmente, ter dado aos seus organismos: "Esse tipo de comportamento tem a finalidade de esconder informação e quem esconde tem, geralmente, um motivo para isso. Podemos não saber qual é, mas tem".
Vinculado ao Ministério da Educação (MEC), o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) negou acesso ao resultado de uma auditoria já concluída. O documento foi classificado como reservado em 4 de junho deste ano, 20 dias após o Estado ter solicitado cópia da auditoria e prazo final para que o órgão respondesse ao pedido.
O auditor chefe do órgão, Lúcio Meira de Mesquita, alegou que o resultado da investigação interna é considerada imprescindível à segurança da sociedade e do Estado por comprometer atividades de inteligência. O presidente do Inep, Luiz Cláudio Costa, aceitou o argumento e estipulou em cinco anos o prazo de restrição ao documento, que trata de irregularidades em contratos públicos.
Estranhamento. Questionada, a Controladoria-Geral da União (CGU), guardiã da Lei de Acesso no governo federal, diz que não pode se pronunciar sobre casos específicos, por ser instância de recursos relativos aos pedidos. Mas, nos bastidores, auditores do órgão, consultados sobre as negativas do MCT e outros órgãos, demonstraram estranhamento.
A Lei de Acesso completou ontem um mês em vigor. Balanço da CGU mostra que, até a última quinta-feira, mais de 10 mil pedidos foram apresentados. Desse total, 6.964 ou 69% foram respondidos. Em cada dez respostas, uma foi favorável aos pedidos, segundo a estatística. Contudo, nem sempre a informação solicitada é apresentada na integralidade. Em todas as situações em que o atendimento não é satisfatório, o pleiteante pode recorrer em duas instâncias administrativas.

Se a Embrapa for privatizada, o Brasil perde

Ao mesmo tempo que se entusiasma com novos flancos de atuação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), como o estudo de novas técnicas geoespaciais ou o vasto potencial para pesquisas em cana-de-açúcar e fertilizantes, o engenheiro agrônomo Pedro Arraes, presidente da estatal há quase quatro anos, defende fervorosamente que a empresa continue 100% pública. “O nosso objetivo não é o lucro imediato”, afirma Arraes. Mas ele não desconsidera a importância dos recursos privados no aumento da autonomia da empresa. “Como empresa pública, é lógico que temos de arrecadar, isso nos dá flexibilidade”, afirma em entrevista à DINHEIRO RURAL .


DINHEIRO RURAL – O orçamento da Embrapa é suficiente para as suas pesquisas?
PEDRO ARRAES – Estamos com problemas no orçamento, por conta do contingenciamento de verbas do governo, que cortou R$ 140 milhões em emendas parlamentares da nossa previsão de R$ 2 bilhões. Mas acabamos de receber uma liberação de recursos, que deve resolver até o meio do ano. A Embrapa teve um orçamento bastante ampliado nos últimos três anos. Mas, para pesquisa, sempre há carência de recursos.

RURAL – Há recursos suficientes para investir em negócios que tragam mais receita para a empresa?
ARRAES – Fizemos em abril uma reformulação da Secretaria de Negócios. Obviamente que nosso maior negócio está na pesquisa. Hoje, temos projetos com a Vale, Petrobras, Bunge e pequenas queijeiras do Nordeste. Nosso negócio é muito mais amplo que o da Petrobras, por exemplo. Mas também há o papel da Embrapa como empresa pública: temos uma participação fundamental em tecnologias de qualidade; em não deixar o Brasil alheio a pesquisas de ponta no Exterior; e em criar diversidade na indústria do agronegócio. A concentração que existe em algumas áreas do agronegócio não é boa para o Brasil, e temos um envolvimento fundamental do fortalecimento da empresa nacional.

A contenção de verbas, pelo governo, tirou da pesquisa R$ 140 milhões em 2012

AFP Photo / Mahmud Hams
NANOTECNOLOGIA: pesquisador analisa frutas no laboratório da Embrapa Sudeste, em São Carlos (SP)

RURAL – Quanto do orçamento da Embrapa é destinado a pesquisas?
ARRAES – Cerca de 70% do nosso orçamento é para pagamento de pessoal. Cerca de R$ 100 milhões a R$ 150 milhões são aplicados diretamente em pesquisa. Outros R$ 70/80 milhões vêm de agências do governo para fomento científico como Finep, Faperj, Fapesp e CNPq, bem como de fundos setoriais. Ainda recebemos o pagamento de royalties, que geram em torno de R$ 30 milhões. Esse valor às vezes cai, mas é praticamente estável. Esperamos aumentar a receita com a Secretaria de Negócios. Se chegarmos a 5% do nosso orçamento total, nos próximos três anos, seria bastante interessante. Como empresa pública, é lógico que temos que arrecadar, isso nos dá flexibilidade.

RURAL – A Embrapa tem sido muito criticada por ter perdido participação no mercado de sementes.
ARRAES – Acho que a Embrapa não pode mais ter 70% de participação no mercado de sementes de milho, algodão e soja, como tínhamos há 15 anos, quando não havia mais ninguém além de nós. As empresas que estão aí têm todo um arcabouço genético que foi desenvolvido pela Embrapa. Não podemos nos abster de ser marca de qualidade e inovação. Temos é que fazer Parcerias Público Privada (PPPs). Nosso objetivo não é o lucro imediato. Se for assim, não fazemos inovações estratégicas, um investimento de longo prazo. Então, teremos de trabalhar mais em ativos de inovação em nanotecnologia, biotecnologia, de onde podemos ganhar para ter flexibilidade de orçamento.

Cerca de 70% do orçamento da Embrapa é para pagamento de pessoal

RURAL – Abrir o capital não está nos planos, já que esses ativos inovadores demandam mais recursos?
ARRAES – Não seria compatível com a Embrapa. É importante lembrar que o nosso orçamento tem crescido e sido suficiente. Também estamos num processo de reestruturação interna e de inovação, sempre buscando a melhor eficiência em PPPs. Fizemos uma parceria extremamente interessante com algumas empresas no arranjo de integração lavoura-pecuária-floresta. Agora, transformar a Embrapa inteira em empresa privada é inviável. Ela é uma empresa social, trabalha para todos, desde o grande até o pequeno produtor.



RURAL – Alguns especialistas acham que a Embrapa deveria ser uma Petrobras, com ações em bolsa e foco no lucro.
ARRAES – A Embrapa talvez seja até mais importante para o governo do que a Petrobras, em termos de política e estratégia externa brasileira. Por exemplo: eu estava recentemente no semiárido, que enfrenta uma grande seca, com a presidenta Dilma Rousseff, acompanhando um programa do governo de cisternas públicas. No meio da seca, havia uma plantação de 16 tipos de frutas, em 900 hectares. Havia cisternas de 16 mil litros de água a 32 mil litros, que tinham sido recolhidos na chuva. Como entrar num negócio desses sendo uma S/A? Mas, como política de governo, é extremamente importante. Temos todas as condições de nos voltar para os negócios sem problema nenhum, alavancando a indústria nacional. Se tivermos só metas de curto prazo, deixamos de investir no longo prazo. É preciso manter o equilíbrio. Se a Embrapa for uma empresa privada, o Brasil perde com isso. Essa não é a intenção do governo, nem da maioria dos nossos pesquisadores.



RURAL – Mas, muitas pesquisas não produzem resultados objetivos. Como resolver isso?
ARRAES – Temos 1.180 projetos de pesquisa, divididos em seis macroprogramas. Por mais que a Embrapa tenha mecanismos gerenciais para agregar, buscar resultados e inovação que façam diferença em toda a cadeia produtiva, existe mesmo uma dispersão inerente no processo de pesquisa. Criamos então o que estamos chamando de portfólios de pesquisa. E o primeiro é numa área em que não temos muita tradição de trabalho, que é a cana-de-açúcar, uma demanda do setor produtivo. Temos 189 pessoas que estão trabalhando de alguma forma com a cultura.


Divulgação
CERRADO:
 tratorista colhe soja no Tocantins, em pesquisa de grãos resistentes a altas temperaturas



RURAL – Há orientação clara do governo para ampliar a pesquisa em etanol?
ARRAES – Há hoje um problema de preço e oferta e acho que podemos contribuir na pesquisa, solucionando alguns desses problemas. Há certos paradigmas muito importantes na questão do álcool. A partir de 2014, não se poderá mais queimar cana-de-açúcar em São Paulo e em vários Estados. É um problema que parece relativamente simples, porque a queima tem seus efeitos ruins, pois aumenta o CO² no ar. Mas também tem seus efeitos benéficos. Há mais de 100 anos se queima cana e isso diminuiu as pragas. Será necessário fazer uma série de ajustes agronômicos.



RURAL – Em quais projetos a Embrapa deve se debruçar nos próximos anos?
ARRAES – Uma área com grande ênfase no nosso plano estratégico é a de técnicas de georreferenciamento. Talvez a discussão que temos hoje entre ruralistas e ambientalistas fosse bem menor se já tivéssemos a real dinâmica da agricultura no território. Você pode pegar primeiro a vegetação, depois os mapas de solo, precipitação, infraestrutura e, ao montar esse quebra-cabeça, ter uma visão desse território e suas potencialidades. Outra grande área é um centro que foi criado em 2010, a Embrapa Estudos e Capacitação, um núcleo de inteligência estratégica para responder a perguntas como: para que rumo vai a pesquisa na Amazônia? Qual o papel da agricultura orgânica daqui a 10 anos?



RURAL – Como vai funcionar a Embrapa Internacional? A empresa poderá usar seu know-how em cooperação internacional para explorar novos mercados?
ARRAES – A Embrapa Internacional vai ajudar a ampliar todos os nossos pilares de atuação internacional, que são três: científico, de cooperação tecnológica e de negócios. O primeiro – e mais importante para nós – nos permite criar os Laboratórios Virtuais no Exterior (Labex), em áreas de excelência como os Estados Unidos, a França, Inglaterra, Coreia do Sul e, recentemente, a Alemanha; em junho, a China; e, em breve, o Japão. Como temos um know-how muito grande, eles também têm interesse em vir para cá. Todos os nossos projetos lá fora têm objetivo muito claro de capacitar a instituição local de pesquisa. Mas também recebemos US$ 2,5 milhões da Fundação Bill Gates para nossos projetos na África, uma forma inteligente de fazer interação em pesquisa. (Isto É)



 
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