Para o Guarani a Casa de Reza (Ogonsu) Ă© o centro de seu universo espiritual cultural
Aqui no ParanĂ¡ perto de 60 Aldeias Guaranis (MbyĂ¡) foram inundadas
com a construĂ§Ă£o do lago da Represa de Itaipu durante a ditadura civil e militar. Eles nĂ£o foram indenizados e
foram expulsos para o Paraguay. Até hoje eles lutam por seus direitos, mas sem
sucesso.
Na Ă©poca da ditadura os militares sĂ³ reconheceram os
direitos dos 71 Ăndios da Comunidade de Jacutinga, que foram transferidos para
a Reserva IndĂgena do Ocoy, com uma Ă¡rea de apenas 250 hectares. Mero jogo de
cena que excluiu do direito a terra os outros milhares.
Pelo fato dos Guaranis terem lutado ao lado de Solano Lopes, desde a Guerra do Paraguai o Estado Brasileiro trata este povo como "um
inimigo interno".
Outra questĂ£o, que considero um massacre cultural, Ă© o nĂ£o
direito dos Guaranis a multinacionalidade, jĂ¡ que Ă©tnica culturalmente eles nĂ£o
sĂ£o paraguaios, brasileiros, argentinos peruanos ou bolivianos, e sim parte da
naĂ§Ă£o Guarani. Se no ParanĂ¡ a situaĂ§Ă£o vivida pelo povo Guarani nĂ£o Ă© boa, no estado
do Mato Grosso contra eles o genocĂdio continua em andamento, e isto desde a
Guerra do Paraguai.
Ocorreram aproximadamente 300 assassinatos de lideranças
do povo Guarani KaiowĂ¡, na ultima dĂ©cada, este numero passa dos 500
assassinatos desde que estes deram inicio a luta pelo processo de retomada de
suas terras tradicionais, a reconstituiĂ§Ă£o de seu “Tekoha”.
A luta pelo direito a Tekoha Ocoy, pelas suas terras tradicionais na regiĂ£o de Itaipu
"Tekoha": para os Ăndios, em sua profundidade,
estĂ¡ palavra significa a sua terra natal, seu espaço vital de sobrevivĂªncia,
necessĂ¡rio para viver, plantar e se desenvolver. Tekoha vem de 'teko' (= costume, modo de ser) e 'ha' (=
lugar em onde), Ă© uma palavra Guarani que significa nĂ£o sĂ³ o territĂ³rio fĂsico
no qual uma comunidade indĂgena vive, mas tambĂ©m as relações sociais (do mesmo
modo, nĂ£o sĂ³ as relações econĂ´micas e de subsistĂªncia, mas tambĂ©m as
interpessoais) e espirituais que ocorrem neste lugar. E as caracterĂsticas e
experiĂªncias religiosas vivenciadas nesse territĂ³rio sĂ£o, na visĂ£o de mundo de
muitas e muitos indĂgenas que lĂ¡ vivem, extremamente importantes para suas
vidas. Temos que lembrar tambĂ©m que 'econĂ´mico' ou 'religioso' tambĂ©m sĂ£o ideias
e divisões nĂ£o indĂgenas.
Por esse significado mais amplo Ă© que se compreende que para as e os PaĂ¯-tavyterĂ£ (Guaranis Kaiowa) e Ava Guarani (Guaranis Ă‘andeva) nĂ£o Ă© possĂvel irem morar em outro territĂ³rio escolhido por nĂ£o indĂgenas. A permanĂªncia num dado territĂ³rio estĂ¡ muito associada Ă vontade de divindades. Para elas e eles a terra nĂ£o Ă© sĂ³ um bem econĂ´mico que tem valor de acordo com a extensĂ£o e localizaĂ§Ă£o, e nĂ£o pode ser trocado ou vendido. Essa Ă© uma das maiores mostras dessas e desses indĂgenas de resistĂªncia Ă cultura de mercado.
Muitas vezes as e os fazendeiros que invadem terras de TavyterĂ£ e Ava Guarani
(ou que compram terras sem ter certeza de que nĂ£o sĂ£o de ocupaĂ§Ă£o indĂgena)
sugerem aos governos que comprem outras terras para as e os indĂgenas passarem
a morar, buscando fazer com que parem de reivindicar suas terras originais. As
e os indĂgenas vĂªm demonstrando a impossibilidade desse tipo de troca, ao
entrarem repetidamente em cada um de seus territĂ³rios tradicionais dos quais
foram expulsas e expulsos, mesmo enfrentando ameaças e mortes. Como diz uma
placa escrita numa das terras reconquistadas, a de Yvy Katu (terra sagrada):
"Yvy Katu. Ficaremos aqui para sempre". Por esse significado mais amplo Ă© que se compreende que para as e os PaĂ¯-tavyterĂ£ (Guaranis Kaiowa) e Ava Guarani (Guaranis Ă‘andeva) nĂ£o Ă© possĂvel irem morar em outro territĂ³rio escolhido por nĂ£o indĂgenas. A permanĂªncia num dado territĂ³rio estĂ¡ muito associada Ă vontade de divindades. Para elas e eles a terra nĂ£o Ă© sĂ³ um bem econĂ´mico que tem valor de acordo com a extensĂ£o e localizaĂ§Ă£o, e nĂ£o pode ser trocado ou vendido. Essa Ă© uma das maiores mostras dessas e desses indĂgenas de resistĂªncia Ă cultura de mercado.
Grande parte das terras do Brasil, Paraguai, Argentina e BolĂvia, a nĂ£o muito tempo ocupadas por grandes agronegociantes, inclusive brasileiros, durante as ditaduras nĂ£o eram terras devolutas, a milhares de anos nelas habitavam e habitam os Guaranis, que hoje lutam por seus direitos.