segunda-feira, 8 de abril de 2013

A Itaipu, o ParanĂ¡, o Brasil, os paĂ­ses vizinhos, as ditaduras no cone sul e a NaĂ§Ă£o Guarani


Para o Guarani a Casa de Reza (Ogonsu) Ă© o centro de seu universo espiritual cultural

Aqui no ParanĂ¡ perto de 60 Aldeias Guaranis (MbyĂ¡) foram inundadas com a construĂ§Ă£o do lago da Represa de Itaipu durante a ditadura civil e militar. Eles nĂ£o foram indenizados e foram expulsos para o Paraguay. AtĂ© hoje eles lutam por seus direitos, mas sem sucesso.

Na Ă©poca da ditadura os militares sĂ³ reconheceram os direitos dos 71 Ă­ndios da Comunidade de Jacutinga, que foram transferidos para a Reserva IndĂ­gena do Ocoy, com uma Ă¡rea de apenas 250 hectares. Mero jogo de cena que excluiu do direito a terra os outros milhares.

Pelo fato dos Guaranis terem lutado ao lado de Solano Lopes, desde a Guerra do Paraguai o Estado Brasileiro trata este povo como "um inimigo interno".


Outra questĂ£o, que considero um massacre cultural, Ă© o nĂ£o direito dos Guaranis a multinacionalidade, jĂ¡ que Ă©tnica culturalmente eles nĂ£o sĂ£o paraguaios, brasileiros, argentinos peruanos ou bolivianos, e sim parte da naĂ§Ă£o Guarani. Se no ParanĂ¡ a situaĂ§Ă£o vivida pelo povo Guarani nĂ£o Ă© boa, no estado do Mato Grosso contra eles o genocĂ­dio continua em andamento, e isto desde a Guerra do Paraguai.

 Ocorreram aproximadamente 300 assassinatos de lideranças do povo Guarani KaiowĂ¡, na ultima dĂ©cada, este numero passa dos 500 assassinatos desde que estes deram inicio a luta pelo processo de retomada de suas terras tradicionais, a reconstituiĂ§Ă£o de seu “Tekoha”.

A luta pelo direito a Tekoha Ocoy, pelas suas terras tradicionais  na regiĂ£o de Itaipu

"Tekoha": para os Ă­ndios, em sua profundidade, estĂ¡ palavra significa a sua terra natal, seu espaço vital de sobrevivĂªncia, necessĂ¡rio para viver, plantar e se desenvolver. Tekoha vem de  'teko' (= costume, modo de ser) e 'ha' (= lugar em onde), Ă© uma palavra Guarani que significa nĂ£o sĂ³ o territĂ³rio fĂ­sico no qual uma comunidade indĂ­gena vive, mas tambĂ©m as relações sociais (do mesmo modo, nĂ£o sĂ³ as relações econĂ´micas e de subsistĂªncia, mas tambĂ©m as interpessoais) e espirituais que ocorrem neste lugar. E as caracterĂ­sticas e experiĂªncias religiosas vivenciadas nesse territĂ³rio sĂ£o, na visĂ£o de mundo de muitas e muitos indĂ­genas que lĂ¡ vivem, extremamente importantes para suas vidas. Temos que lembrar tambĂ©m que 'econĂ´mico' ou 'religioso' tambĂ©m sĂ£o ideias e divisões nĂ£o indĂ­genas.

Por esse significado mais amplo Ă© que se compreende que para as e os PaĂ¯-tavyterĂ£ (Guaranis Kaiowa) e Ava Guarani (Guaranis Ă‘andeva) nĂ£o Ă© possĂ­vel irem morar em outro territĂ³rio escolhido por nĂ£o indĂ­genas. A permanĂªncia num dado territĂ³rio estĂ¡ muito associada Ă  vontade de divindades. Para elas e eles a terra nĂ£o Ă© sĂ³ um bem econĂ´mico que tem valor de acordo com a extensĂ£o e localizaĂ§Ă£o, e nĂ£o pode ser trocado ou vendido. Essa Ă© uma das maiores mostras dessas e desses indĂ­genas de resistĂªncia Ă  cultura de mercado.

Muitas vezes as e os fazendeiros que invadem terras de TavyterĂ£ e Ava Guarani (ou que compram terras sem ter certeza de que nĂ£o sĂ£o de ocupaĂ§Ă£o indĂ­gena) sugerem aos governos que comprem outras terras para as e os indĂ­genas passarem a morar, buscando fazer com que parem de reivindicar suas terras originais. As e os indĂ­genas vĂªm demonstrando a impossibilidade desse tipo de troca, ao entrarem repetidamente em cada um de seus territĂ³rios tradicionais dos quais foram expulsas e expulsos, mesmo enfrentando ameaças e mortes. Como diz uma placa escrita numa das terras reconquistadas, a de Yvy Katu (terra sagrada): "Yvy Katu. Ficaremos aqui para sempre". 

Grande parte das terras do Brasil, Paraguai, Argentina e BolĂ­via, a nĂ£o muito tempo ocupadas por grandes agronegociantes, inclusive brasileiros, durante as ditaduras nĂ£o eram terras devolutas, a milhares de anos nelas habitavam e habitam os Guaranis, que hoje lutam por seus direitos.

 
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