domingo, 14 de outubro de 2012

Renda comprometida das famílias com dívidas bate recorde de 22,38%


O comprometimento de renda das famílias brasileiras com o pagamento de dívidas bateu novo recorde em junho. Segundo dados divulgados nesta quinta-feira, 20, pelo Banco Central, naquele mês, 22,38% dos ganhos mensais dos brasileiros eram destinados a essas despesas. O recorde anterior era de outubro de 2011, quando o porcentual estava em 22,35%. Em maio deste ano, o comprometimento era de 21,93% da renda.
Segundo o BC, 8,01% dos ganhos foram usados para pagamento de juros em junho, abaixo do recorde de 8,13% verificado em outubro de 2011. Outros 14,37% foram para amortização do principal das dívidas, porcentual recorde. Os dados mostram ainda que a dívida total das famílias brasileiras correspondia, em junho, a 43,94% da sua renda acumulada nos últimos 12 meses, outro recorde, superando os 43,42% de maio.
O comprometimento da renda é apurado com base na relação entre os valores mensais a serem pagos no serviço das dívidas com o sistema financeiro e a renda das famílias líquida de impostos, expressa na Massa Salarial Ampliada Disponível (MSAD). O endividamento total considera a massa ampliada em 12 meses.
O dado do BC foi divulgado com defasagem maior que a habitual por conta dos problemas na divulgação dos números do IBGE, responsável pela apuração da MSAD, parte da Pesquisa Mensal do Emprego (PME) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). (AE)

Trabalho semi-escravo e repressão: Funcionários da Foxconn trabalham 14 horas por dia


Uma investigação do jornal britânico The Mirror publicada neste domingo mostra as péssimas condições de trabalho dos funcionários da Foxconn - empresa que presta serviços para a Apple - na montagem do Iphone 5 em uma planta da companhia na China.
Segundo funcionários da empresa, durante a jornada de trabalho, que duram até 14 horas, eles são proibidos de falar uns com os outros. Além disso, há uma regra não escrita que proíbe o trabalhador de ir mais de três vezes ao banheiro durante o período - em que um telefone passa pelas mão em cerca de 30 segundos, informou a publicação.
Um empregado da empresa ainda destaca que na saída dos dormitórios - onde cerca de 79 mil pessoas dormem dentro da empresa, com oito pessoas em cada quarto, muitas vezes com banheiros quebrados - são revistados intimamente, para que não haja roubos.
"Os gerentes de linha, que estão sob muita pressão para atingir metas, vão gritar com você se as coisas não correrem como um relógio...Há dias em que é simplesmente impossível trabalhar mais rápido", afirma um funcionário. "Esse telefone é para pessoas com dinheiro. Não trabalhadores americanos", disse.
Nessas condições, milhares de trabalhadores realizaram uma greve em uma das plantas da empresa na China, porém, segundo a publicação, foram rapidamente reprimidos pelas forças de segurança. "Os manifestantes foram arrastados para fora de seus quartos, em suas roupas íntimas, e eram espancados com cassetetes", afirma uma funcionária.

"Não vendo nem troco" - Luiz Gonzaga e Gonzaguinha

Gonzagão & Gonzaguinha - A vida do viajante (1979)

Luar Do Sertão - Gonzagão e Milton Nascimento

"Guerra civil" não declarada: 'Dos esquadrões (da morte) ao PCC, 52 anos de violência mataram 130 mil pessoas'



 “Para cada policial morto, dez bandidos vão morrer”, bradou em novembro de 1968 o investigador Astorige Correia, o Correinha, na frente de jornalistas durante o enterro de Davi Parré, investigador morto por um traficante da zona norte de São Paulo conhecido como Saponga. O juramento antecipava a série de assassinatos praticada por policiais civis do famigerado esquadrão da morte liderado pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury.
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Em dois momentos distantes, separados por mais de meio século, a vingança continua fazendo a engrenagem dos homicídios girar. Para compreender a violência nos dias de hoje, é fundamental entender a variação dos homicídios nos últimos 52 anos. A epidemia dos assassinatos começa no fim dos anos 1960, depois que as mortes a bala passam a ser vistas como uma maneira de se manter o controle dos roubos em uma cidade que crescia desordenadamente.Na semana passada, a fatídica sentença voltou a assombrar o cotidiano dos paulistas como se as 130 mil mortes ocorridas em 52 anos tivessem sido insuficientes para dar lições. O homicídio de policiais militares na Baixada Santista e em Taboão da Serra provocaram uma sequência de 20 homicídios nos bairros vizinhos. Moradores que viram o massacre apontaram PMs à paisana como suspeitos.
Antes disso, o mundo do crime em São Paulo era quase romântico, palco dos desviantes que vagavam na boca do lixo perto da Estação da Luz e da velha rodoviária do centro. No chamado Quadrilátero do Pecado, região da Avenida Duque de Caxias, que no futuro se transformaria na cracolândia, em vez de revólveres, os malandros usavam navalhas em noitadas abastecidas por anfetaminas e destilados.
Mais do que um reduto de criminosos violentos, o submundo paulistano era palco de contravenções e contraventores que vendiam sexo, jogos de azar e drogas leves. Assassinatos, nesse tempo, eram a opção dos vilões, malvados e loucos. “Os tempos eram outros. O crime que mais assustava era o furto qualificado, quando o ladrão invadia um comércio ou uma casa quando o dono estava fora”, lembra o criminalista Roberto Von Hyde, de 82 anos, que defendeu criminosos perseguidos pelo esquadrão, além de João Acácio Pereira da Costa, o Bandido da Luz Vermelha, que em 1967 foi preso por assaltar casas e matar quatro pessoas.
“Crimes de sangue” envolviam geralmente histórias de maridos traídos, que, movidos pelo ódio incontrolável, muitas vezes matavam a si próprios em tragédias passionais à la Nelson Rodrigues. Entre 1960 e 1965, em mais da metade dos assassinatos em São Paulo, corpos de vítimas foram encontrados dentro de casa, revelando forte associação entre esse tipo de crime e paixões domésticas mal resolvidas.
Por serem ações tresloucadas, os assassinos sofriam controle acirrado de instituições e da sociedade. Casos como o de Benedito Moreira de Carvalho, que ficou conhecido como o Monstro de Guaianases ao ser acusado de violentar e matar dez mulheres entre 1950 e 1953, tornavam o homicida um pária, odiado e caçado como personagem de filme de terror.
Mudança
A epidemia de assassinatos em São Paulo começou quando homicídios passaram a ser vistos como ferramenta para limpar a sociedade dos bandidos. Com o crescimento dos roubos e dos assaltos a banco no fim dos anos 1960, viraram instrumento de extermínio ou vingança para ser usado em benefício da população com medo.
Em vez de monstros, os homicidas que alegavam agir em defesa da sociedade e tornar a cidade mais segura se transformaram em heróis. Os chamados “presuntos” eram desovados em estradas de São Paulo, depois de serem retirados de presídios como o Tiradentes.
Chefe do esquadrão da morte, o delegado Fleury - que começou em 1968 a matar suspeitos com ajuda de outros integrantes do bando - virou um dos ídolos do período, recebendo homenagens em letras de canções populares. E os métodos cruéis do esquadrão também ganharam prestígio durante o regime militar. Técnicas de tortura e assassinatos passaram a ser usadas por integrantes do Exército e da Polícia Militar no combate à guerrilha e para desbaratar os grupos de esquerda. Em 1969, Fleury estava à frente da emboscada que levou à morte do líder comunista Carlos Marighella na Alameda Casa Branca.

Rota

No combate ao crime comum, policiais das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) assumiram nos anos 1970 o posto de “caçadores de bandidos”, celebrados pela população. “Em bairros das periferias, a população pedia para beijar nossa mão”, lembra o coronel Niomar Cyrne Bezerra, ex-comandante da Rota na época.
Nos anos 1980, saiu da PM um dos principais matadores da história da cidade. O soldado Florisvaldo de Oliveira, conhecido como Cabo Bruno, morto há duas semanas depois de ficar 27 anos na prisão, iniciou sua carreira de justiceiro matando a soldo de comerciantes. Logo justiceiros pipocaram por todos os cantos de São Paulo. De forma geral, todos alegavam matar bandidos em defesa dos trabalhadores.
Em 1987, depois da prisão de Francisco Vital da Silva, justiceiro conhecido como Chico Pé de Pato, a população do Jardim das Oliveiras, na zona leste, foi em peso ao Fórum de Santana pedir sua liberdade.
Com o passar dos anos, no entanto, foi ficando mais claro que os homicídios, em vez de controlarem o crime, acabavam provocando novos assassinatos, em círculos ininterruptos de violência. Se por um lado eliminavam suspeitos, consolidavam também nesses bairros o medo da morte e estimulavam o desejo de vingança.
É o que revela a história do matador César de Santana Souza, que nos anos 1990 dizia ter matado mais de 50 pessoas no Grajaú, na zona sul. Ele praticou o primeiro homicídio por vingança, depois que um amigo foi morto em um campinho de futebol. Jurado de morte por inimigos que queriam vingança, passou a matar por razões cada vez mais banais, sempre que pressentia que corria risco de ser morto. Ele chegou a acreditar que a violência o ajudaria a dominar o bairro. Depois de um tempo, percebeu, no entanto, que homicídios serviam apenas para provocar novos homicídios. Em 2006, terminou assassinado por integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) que passaram a vender drogas em seu bairro.
Grupos mataram mais que a ditadura
Tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo, o esquadrão da morte representou o começo da epidemia de assassinatos. Não pela quantidade de homicídios de seus integrantes, mas por colocar em prática uma nova forma de ver o mundo e lidar com assassinatos em sociedades em processo de urbanização.
 
O esquadrão começou no Rio em 1958 e serviu de modelo para o resto do Brasil, inclusive São Paulo. Policiais paulistas conversavam com os cariocas antes de se organizar para matar. O Espírito Santo, Estado que liderou o ranking dos assassinatos no Brasil nos anos 1980 e 1990, também teve seu esquadrão.
Considerando levantamentos policiais do período, entre 1963 e 1975 os grupos de extermínio formados por policiais mataram quase 900 pessoas no Rio (654) e em São Paulo (200) - mais do que os 20 anos de regime militar.  (AE)

Brasil é negligente no controle de agrotóxicos


O Brasil, um dos maiores produtores agrícolas do mundo, é uma das nações mais atrasadas no controle de agrotóxicos. Dos 50 produtos químicos mais aplicados na agricultura, 22 são proibidos pela União Europeia (UE) e Estados Unidos, mas continuam sendo largamente utilizados em território brasileiro, apesar dos riscos que oferecem à saúde.
Entre eles, agentes que causam cegueira, má formação fetal, câncer (em especial os de tireoide e mama), puberdade precoce, problemas respiratórios e disfunções renais, de acordo com relatórios técnicos de várias entidades lançados neste ano e que corroboram alertas feitos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em anos anteriores.
Estudo
Pesticidas causam desequilíbrio no organismo e diversas doenças
Os malefícios dos agrotóxicos no corpo humano são conhecidos há pelo menos duas décadas, embora somente nos últimos anos pesquisadores tenham conseguido juntar um número suficiente de estudos para comprovar seu efeito cumulativo na saúde ao longo de anos de exposição. São casos agudos (intoxicação por pequenas doses, num curto espaço de tempo) ou crônicos, quando ocorre manipulação prolongada de várias substâncias ou ainda no ventre materno, o que interfere no desenvolvimento fetal e causa deformações incuráveis.
Segundo a chefe do Setor de Endocrinologia do Hospital Evangélico de Curitiba, Mirnaluci Ribeiro Gama, tais substâncias químicas, chamadas de disruptores endócrinos, têm o poder de simular ou bloquear a ação dos hormônios produzidos pelo corpo, o que gera desequílibrios metabólicos e multiplicações celulares que podem levar ao câncer. “Glândulas como a tireoide, testículos e ovários, assim como o tecido adiposo, são os mais frequentemente acometidos”, explica.
Estrogênio
Um exemplo, cita a médica, ocorre com os hormônios sexuais, em especial o estrogênio. Meninas expostas a agrotóxicos entraram na puberdade antes do tempo. Substâncias presentes nesses agentes, chamadas de xenoestrógenos, enganam o organismo e simulam o papel do hormônio, induzindo as meninas a menstruar precocemente. A exposição ao estrogênio por um período maior do que o programado pela natureza também aumenta o risco de câncer de mama, já que este hormônio alimenta os receptores de estrogênio das células mamárias.
Nos homens, foi comprovado o aumento de casos de infertilidade, devido à redução do número de espermatozoides em indivíduos expostos aos produtos. Os agrotóxicos também são uma das causas comprovadas do Mal de Parkinson, além de alguns casos de leucemia, linfomas e mielomas múltiplos.
Exceção
Desde 2008, 14 substâncias químicas estão na mira da Anvisa. Destas, quatro foram ou devem ser retiradas do mercado, mas nos demais casos, a discussão pouco avançou. Confira quais são as substâncias, o que causam, a situação atual sobre sua discussão e em que países já são proibidas:
Abamectina
Toxicidade aguda e suspeita de toxicidade reprodutiva; Ainda não foi discutida; única substância não proibida pela União Europeia.
Acefato
Neurotoxicidade, carcinogenicidade e toxicidade reprodutiva; Já houve consulta pública para seu banimento, mas decisão não foi publicada; União Europeia.
Carbofurano
Alta toxicidade aguda e desregulação endócrina; Ainda não houve consulta pública; União Europeia e EUA.
Cihexatina
Alta toxicidade aguda, carcinogenicidade para seres humanos, toxicidade reprodutiva e neurotoxicidade; retirado do mercado em novembro de 2011; União Europeia, Japão, EUA e Canadá.
Endossulfam
Alta toxicidade aguda, desregulação endócrina e toxicidade reprodutiva; Será retirado do mercado em julho de 2013; União Europeia e Índia.
Forato
Alta toxicidade aguda e neurotoxicidade; Já houve consulta pública, mas não foi publicada decisão; União Europeia e EUA.
Fosmete
Neurotoxicidade; já houve discussão e produto será mantido no mercado com restrições; União Europeia.
Glifosato
Intoxicação (há solicitação de revisão da Ingesta Diária Aceitável (IDA) por parte de empresa registrante, necessidade de controle de impurezas presentes no produto técnico e possíveis efeitos toxicológicos adversos); Não houve consulta pública; Em revisão pela União Europeia.
Lactofem
Carcinogênico; não houve consulta pública; União Europeia.
Metamidofós
Alta toxicidade aguda e neurotoxicidade; Foi retirado do mercado em julho deste ano; União Europeia, China e Índia.
Paraquate
Alta toxicidade aguda e toxicidade; Não houve consulta pública; União Europeia.
Parationa Metílica
Neurotoxicidade, desregulação endócrina, mutagenicidade e carcinogenicidade; já houve consulta pública, mas decisão não foi publicada; União Europeia e China.
Tiram
Mutagenicidade, toxicidade reprodutiva e desregulação endócrina; não houve consulta pública; EUA.
Triclorfom
Neurotoxicidade, potencial carcinogênico e toxicidade reprodutiva; retirado do mercado em 2010; União Europeia.

Fonte: Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida -www.contraosagrotoxicos.org
Desde 2008, a Agência Nacional de Vigilância Sani­tária (Anvisa) alerta para a necessidade de vetar o uso dessas substâncias, mas somente agora, com o veto de países a produtos brasileiros cultivados com alguns agrotóxicos, é que a discussão ganhou corpo. A agência estuda proibir dez substâncias, além de quatro que já tiveram sua retirada do mercado aprovada.
Nessa relação está o endossulfam, cujos efeitos foram primeiramente notados num vilarejo na Índia, onde 6 mil pessoas (cerca de 50% dos domicílios), a maioria crianças, apresentaram graves deformações físicas e neurológicas. O produto só deve ser banido em 2013, de acordo com a agência. Na UE, ele está proibido desde 1985.
“Após a revolução verde [disseminação de práticas agrícolas, entre elas o uso de produtos químicos, que permitiu o aumento da produção nos anos 70], estamos vivendo a revolução vermelha. É um modelo químico-dependente que está causando um sério problema à saúde. Há evidências científicas disso há muito tempo”, afirma o pesquisador da Universidade Federal do Mato Grosso Wanderlei Pignati, que coordenou um estudo sobre agrotóxicos que foi apresentado na Conferência das Nações Unidas sobre Sustentabilidade, a Rio+20, em junho, no Rio de Janeiro.
Além do limite
A aplicação de agrotóxicos além do Limite Máximo de Resíduos (LMR) permitido de acordo com a legislação também preocupa porque gera uma série de complicações em trabalhadores do campo e consumidores. Relatório de 2010 do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para), da Anvisa, revelou que 28% de 2.488 amostras de alimentos analisadas continham substâncias autorizadas, mas acima do LMR, ou proibidas. De acordo com o Ministério da Saúde, o uso indiscriminado de agrotóxicos causou 7.677 casos de intoxicação no país em 2009.
“O Brasil é hoje o maior consumidor mundial de agrotóxicos e existe muita pressão das empresas para que esse modelo seja mantido. Há um esforço da Anvisa para controlar e proibir essas substâncias, mas as empresas entram na Justiça para barrar a discussão”, explica a assessora jurídica da organização Terra de Direitos, Ana Carolina Brolo de Almeida.
Em 2008, quando as discussões para a proibição das 14 substâncias se iniciaram, as empresas conseguiram suspender a publicação dos resultados dos estudos por dois anos. Em 2010, o processo foi retomado, mas devido ao atraso, as discussões não avançaram. A reportagem enviou perguntas por e-mail à Anvisa, mas o órgão não se pronunciou até o fechamento desta reportagem.
Pulverização aérea é ineficiente
Além de permitir o uso de substâncias que já são proibidas em países desenvolvidos, o Brasil adota outra prática banida pela União Europeia desde janeiro de 2009: a pulverização aérea de plantações, que, no intuito de abranger a maior área possível de cultivo, também contamina o ar, solo, mananciais, estradas e até vilarejos a quilômetros de distância.
Tática de guerra
“É uma prática que lembra uma guerra [Vietnã], usar avião para despejar veneno. É preciso proibir essa prática o mais rápido possível”, diz o médico e pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso Wanderlei Pignati, um dos maiores especialistas no assunto. A pesquisadora do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Isabel Fontes Jardim concorda. Uma tese de doutorado orientada por ela em 2009 mostrou que, além de prejudicial à saúde, a prática é ineficaz. “Somente 1% do produto aplicado atinge o alvo. Os 99% restantes vão para o ar, água e solo.”
Especialista em agrotóxicos e sua relação com doenças, a médica e pesquisadora da Universidade Federal do Ceará Raquel Rigotto diz que as normas brasileiras que determinam limites para a prática são ineficazes – como uma distância mínima de 500 metros para povoados e de 250 para mananciais. “Num ecossistema, isso [os limites] é muito pouco. Há vários aspectos que interferem, como os ventos, a temperatura, a umidade. Não há como controlar. Portanto, a prática precisa ser abolida.”
Para se aprofundar
Acesse os relatórios já publicados sobre agrotóxicos pela Anvisa, Câmara dos Deputados e Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), este último apresentado na Rio+20:
Abrasco
Relatório I: http://migre.me/b78cS
Relatório II: http://migre.me/b78dG
Câmara dos Deputados:http://migre.me/b78em

Curitiba: A eleição mais polarizada desde 1985


Desde a redemocratização, apenas a eleição de 1985 teve uma polarização tão forte na corrida pela prefeitura de Curitiba como a que ocorreu no domingo passado. Naquele ano, em que havia apenas um turno, Roberto Requião (PMDB) foi vencedor no sul da cidade e Jaime Lerner, na região norte. O mesmo ocorreu agora, com Ratinho Jr. (PSC) e Gustavo Fruet (PDT), respectivamente. A diferença é que esta eleição será decidida no 2.º turno, o que exige que os candidatos se aventurem pelo “território” do adversário.
No 1.º turno, o candidato do PSC fez 332.408 votos, dos quais metade (52%) nas zonas eleitorais 145.ª, 174.ª, 175.ª e 176.ª. Os bairros que compõem essas regiões têm renda familiar média variando de R$ 700 a R$ 1,5 mil. Além disso, a maioria dos eleitores tem apenas o ensino médio completo e os menores índices de conclusão de ensino superior. A maior diferença de Ratinho sobre Fruet ocorreu na 175.ª zona (imediações do Pinheirinho e Sítio Cercado). Nessa região, Ratinho teve 48,1% dos votos válidos. Fruet ficou somente em 3.º, com 17%.
Segundo turno
Fruet dará mais atenção ao sul; Ratinho Jr. não mudará estratégia
Apesar de ter ficado com índices que variaram entre 18% e 26,3% dos votos válidos nas zonas eleitorais ao norte de Curitiba, a campanha de Ratinho Jr. afirmou à reportagem que a votação dele nessa região foi “satisfatória”. Em e-mail enviado à reportagem, a equipe informou que serão mantidas as atividades normais de campanha.
A diferença estará no programa eleitoral, de 20 minutos diários – no primeiro turno ele tinha aproximadamente 3 minutos, em dias intercalados. “Os programas permitirão aprofundar as propostas. Assim, Ratinho Jr. espera chegar mais suficientemente ao eleitor da região norte e das demais regiões da cidade, possibilitando que ele julgue as propostas apresentadas”, informou a assessoria.
Para Gustavo Fruet, o eleitor da região sul ainda não o conhece bem. “Na eleição de 2010, na disputa por cadeira no Senado, a votação na região sul também foi menos expressiva do que nas outras regiões da cidade. Isso comprova que o eleitor do sul ainda não conhece nossa trajetória e nossas propostas. Esse quadro será alterado neste segundo turno”, disse Fruet, em entrevista feita por e-mail. Ele pretende aumentar a presença nesta região, com “caminhadas, distribuição de material e movimentação de lideranças”. Na segunda-feira passada, o candidato esteve no Sítio Cercado, um dos bairros mais populosos do sul de Curitiba.
Candidatos têm votos em toda Curitiba
Apesar da maior concentração de eleitores no sul ou no norte, Ratinho Jr. e Fruet tiveram expressiva votação no “reduto” do adversário
Fruet conquistou 265.451 votos em 7 de outubro, dos quais 44% nas zonas 1.ª, 2.ª, 177.ª e 178.ª. Os bairros dessas regiões têm famílias com renda média que varia de R$ 800 a R$ 3,5 mil. Também apresentam maior nível de escolaridade: de 35,2% a 49,5% do eleitorado concluiu o ensino superior. A maior diferença de votos entre o candidato do PSC e o pedetista ocorreu na 178.ª zona (que inclui uma faixa entre o Centro e Santa Felicidade). Fruet fez 34,5% e Ratinho ficou em 3.º, com 23,4%.
A retrospectiva das últimas eleições mostra como a polarização atual é forte. Em 1985, quando Curitiba tinha apenas cinco zonas eleitorais, Requião venceu na 3.ª e 145.ª. Lerner, na 1.ª, 2.ª e 4.ª. Em 1988, 1992 e 1996, as disputas pela prefeitura de Curitiba foram decididas no primeiro turno com grande vantagem para o primeiro colocado e vitória dele em quase todas as zonas eleitorais. No primeiro turno de 2000, Cassio Taniguchi ganhou de Angelo Vanhoni em todas as zonas, apesar da votação do petista ter forçado o segundo turno. Em 2004, Beto Richa e Vanhoni também se revezaram na liderança de algumas zonas, mas o tucano ganhou na 3.ª e na 174.ª. Em 2008, Richa se reelegeu com vitória em todas as regiões.
Segundo especialistas, o mais indicado é tentar avançar nas regiões onde o candidato não fez tantos votos. “Fruet precisa se popularizar nas regiões mais pobres e Ratinho Jr. precisa vencer o preconceito da classe média e alta para avançar nas regiões mais nobres”, observa Emerson Cervi, cientista político da UFPR.
Segundo Geraldo Tadeu Monteiro, diretor-executivo do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), é normal que no primeiro turno os candidatos se dediquem a conquistar o voto de sua base, ou da região onde tem mais potencial. “Mas no segundo turno é preciso buscar votos de maneira ampla. Ratinho fez 34% e Fruet 27%. Para ser vencedor, é preciso ter 50% mais um dos votos. Inevitavelmente terão de buscar votos em outras áreas para ganhar.”
Clique aqui e confira o infográfico em tamanho maior

 
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