sexta-feira, 17 de junho de 2011

Site com acervo do extinto jornal Nosso Tempo serĂ¡ lançado em Foz do Iguaçu na segunda, dia 20/06

Capa Nosso Tempo, ediĂ§Ă£o 1

O Brasil enfrenta a ditadura militar. A populaĂ§Ă£o reivindica o fim do governo opressor, o fim da censura e a volta das liberdades civis. É nesse contexto que nasce o jornal Nosso Tempo. A primeira ediĂ§Ă£o do semanĂ¡rio circula em 3 de dezembro de 1980, com uma corajosa capa denunciando a tortura em Ă³rgĂ£os de segurança da cidade.

Durante grande parte da dĂ©cada de 1980, Nosso Tempo Ă© o Ăºnico jornal de uma regiĂ£o estratĂ©gica no contexto nacional. Cabe ao semanĂ¡rio registrar a histĂ³ria de Foz do Iguaçu, dos municĂ­pios do Oeste do ParanĂ¡, do Paraguai e da Argentina, os governos, as manifestações populares, as transformações da sociedade, enfim, o dia a dia de uma zona de conflitos constantes.

Trinta anos apĂ³s a primeira ediĂ§Ă£o, a quase centenĂ¡ria Foz do Iguaçu ganha um presente para a preservaĂ§Ă£o da sua histĂ³ria. O acervo do jornal foi recuperado, digitalizado e publicado na internet. Agora serĂ¡ possĂ­vel fazer uma releitura histĂ³rica visitando o site Nosso Tempo Digital, a ser lançado segunda-feira, 20, no salĂ£o de eventos do Hotel Foz do Iguaçu.

AlĂ©m da apresentaĂ§Ă£o do portal, serĂ¡ lançada uma exposiĂ§Ă£o com a reproduĂ§Ă£o de 40 capas e pĂ¡ginas histĂ³ricas do jornal. A ediĂ§Ă£o retrata bandeiras levantadas por Nosso Tempo, como a luta para derrubar a ditadura no Brasil e no Paraguai, a liberdade de expressĂ£o, solidariedade aos Ă¡rabes, Diretas JĂ¡, manifestações populares, e entrevistas com pioneiros.

O evento tambĂ©m pretende integrar gerações, fazer uma ponte entre quem viveu o extinto ?nanico? da imprensa alternativa (personagens, editores, trabalhadores e apoiadores) e os moradores da cidade, como trabalhadores de diferentes Ă¡reas, estudantes, universitĂ¡rios, jornalistas, sindicalistas, e educadores.

O projeto ? A primeira etapa do projeto reĂºne as 387 edições de 1980 a 1989. Esse material estava disponĂ­vel apenas em coleções particulares e na Biblioteca Municipal. O acervo, entretanto, tem se deteriorado com o tempo, correndo o risco de desaparecer com o passar dos anos. JĂ¡ a segunda etapa do projeto, com a digitalizaĂ§Ă£o das edições de 1990 a 1994, serĂ¡ lançada no segundo semestre.

O projeto Ă© um sonho antigo e uma realizaĂ§Ă£o de MEGAFONE ? Rede Cidadania na ComunicaĂ§Ă£o, com patrocĂ­nio da Itaipu Binacional e UniamĂ©rica. Apoiam a iniciativa o Sindicato dos Jornalistas do ParanĂ¡ (SubseĂ§Ă£o de Foz do Iguaçu), Casa da AmĂ©rica Latina, GuatĂ¡ ? Cultura em Movimento, e Centro de Direitos Humanos e MemĂ³ria Popular.

O objetivo dos organizadores Ă© preservar a memĂ³ria da cidade, facilitar o acesso Ă  histĂ³ria local e regional registrada pelo Nosso Tempo, democratizar a consulta ao acervo aliando alta tecnologia e as facilidades da internet, alĂ©m de estimular a digitalizaĂ§Ă£o de outros documentos.

Antes a pesquisa era restrita, com horĂ¡rios delimitados, e consumia muito tempo de leitura. Agora uma pesquisa pode ser feita em segundos com a digitaĂ§Ă£o de palavras-chaves no buscador.

?Com a publicaĂ§Ă£o do acervo na web, queremos fazer jus aos conceitos de democratizaĂ§Ă£o da informaĂ§Ă£o, acessibilidade de pesquisa e releitura histĂ³rica. Esses sĂ£o os pilares do Nosso Tempo Digital. Com ele Ă© possĂ­vel viajar no passado para entender melhor nosso presente e assim contornar o esquecimento seletivo a quem interessa apagar o passado!?, afirmou o jornalista Alexandre Palmar, um dos organizadores do projeto.

Para Wemerson Augusto, tambĂ©m jornalista e organizador, ?o projeto alia tecnologia e memĂ³ria. Ler, reler e digitalizar o Nosso Tempo foi muito bom. JĂ¡ digitalizados, os arquivos ajudarĂ£o os leitores a compreender melhor parte da histĂ³ria das TrĂªs Fronteiras, do contexto do paĂ­s na Ă©poca e dos anseios da populaĂ§Ă£o?.

Conforme o jornalista e organizador Douglas Furiatti, o pioneirismo do projeto Ă© importante para abrir caminho Ă  digitalizaĂ§Ă£o em Foz do Iguaçu e regiĂ£o. ?O Nosso Tempo Digital nĂ£o apenas imortaliza um valoroso jornal que circulou na cidade como abre a possibilidade de outros veĂ­culos impressos seguirem o mesmo caminho. NĂ£o se trata de uma ediĂ§Ă£o diĂ¡ria on-line, e sim de todo o conteĂºdo veiculado na histĂ³ria dos periĂ³dicos publicado num site especĂ­fico?, ressaltou Furiatti.

O jornal ? Em 1980, o general JoĂ£o Figueiredo Ă© presidente do paĂ­s. Ney Braga governa o ParanĂ¡, e ClĂ³vis Cunha Viana Ă© o prefeito de Foz do Iguaçu. Nenhum dos trĂªs chega ao posto por meio do voto direto dos eleitores. O editorial da ediĂ§Ă£o de estreia de Nosso Tempo revela a linha de atuaĂ§Ă£o: ?Nossa liberdade nos darĂ¡ condições de falar de tudo e de todos, promover o que Ă© vĂ¡lido e combater o que nos pareça condenĂ¡vel. NĂ£o faremos do jornal um imenso frio noticiĂ¡rio desalmado??. É assim ao longo dos anos 80. Para viajar pelas pĂ¡ginas do jornal visite www.nossotempodigital.com.br.

SERVICO:
Lançamento Nosso Tempo Digital
DigitalizaĂ§Ă£o do acervo do jornal Nosso Tempo (1980-1994), publicaĂ§Ă£o dos arquivos na internet e montagem de exposiĂ§Ă£o.
Data: 20 de junho (segunda-feira)
HorĂ¡rio: 20 horas
Local: SalĂ£o de eventos do Hotel Foz do Iguaçu - Avenida Brasil, 97

Impressões e opiniões pessoais em relaĂ§Ă£o ao debate sobre imprensa alternativa ocorrido na UniBrasil

Maura Martins: professora e coordenadora do curso de Jornalismo da UniBrasil

HĂ¡ cerca de um mĂªs tive a grata surpresa de mais uma vez ser convidado para um bate-papo com acadĂªmicos de jornalismo. Quem me procurou foi a estudante Leriane, dizendo que quem tinha me indicado era a professora Maura Martins, coordenadora do curso de jornalismo da UniBrasil.

A Maura, que mediou o nosso debate com os alunos, foi professora da minha filha Jeniffer, e por sinal uma grande professora, pois em vez de como muitos outros mestres fazem, ao se acomodarem em repassar somente aquilo o que a grade de disciplinas exige, ela tenta despertar em seus alunos a benĂ©fica inquietude do espĂ­rito crĂ­tico tĂ£o necessĂ¡rio aos que tem como futuro eixo das suas carreiras o espĂ­rito do jornalismo investigativo, onde o estabelecimento da anĂ¡lise do contraditĂ³rio leva a sĂ­ntese.

Dirigi-me a Unibrasil para a conversa sem ter estabelecido um prĂ© conceito sobre com quem iria debater ou o que iria explanar. Em tudo o que faço tento nĂ£o antecipar a realidade, pois Ă© esta que nos tem a dizer os rumos a seguir. LĂ¡ fui bem recebido pelos alunos, que cursam o primeiro ano de jornalismo, o que nĂ£o esperava, mas isto foi gratificante, jĂ¡ que ainda nĂ£o estĂ£o contaminados pelo sofisma maniqueĂ­sta que em parte domina o tendencioso mercado multimĂ­dia.

Nas grandes redações restaram poucos dos antigos profissionais que viam na profissĂ£o o seu papel social a cumprir e este era o de ser o porta voz dos anseios da populaĂ§Ă£o na busca da verdade dos fatos, pois o dever era o de bem informar. NĂ£o que nas redações nĂ£o existissem os meros escribas de aluguel, eles existiam e ainda existem, pois as reportagens investigativas a cada dia mais dĂ£o lugar a flashes parciais sobre os fatos onde a profundidade do estabelecimento do contraditĂ³rio, que deveria ser a regra nĂºmero um a ser seguida por qualquer jornalista, foi deixada de lado. De acordo com os interesses dos que pautam as redações se ouve ou nĂ£o as partes e assim a verdade dos fatos vira “coisa secundĂ¡ria”. A ideologia da redaĂ§Ă£o Ă© a do mercado. “Quem paga leva”.

NĂ£o sei se cumpri bem o meu papel ou se o que abordei era o esperado, mas com certeza tentei ao mĂ¡ximo ser fiel e honesto com a forma dialĂ©tica como vejo o mundo na anĂ¡lise do papel da imprensa alternativa como forma de expressar democraticamente o ponto de vista de um segmento ou de uma frente que taticamente reĂºne vĂ¡rios agrupamentos com suas propostas unificadoras dos anseios coletivos.

Embora o tema seja pesado espero nĂ£o ter sido cansativo e se pequei na explanaĂ§Ă£o ao tentar abordar um tema tĂ£o abrangente sem ser prolixo, ou foi pelo escasso tempo nĂ£o ter permitido ir com mais profundidade abordar a todas as variantes implĂ­citas nesta discussĂ£o, jĂ¡ que a mĂ­dia alternativa sempre estĂ¡ vinculada a um movimento social e as ‘suas verdades’.

O debate começou com o estabelecimento do contraditĂ³rio sobre dois pontos de vista em relaĂ§Ă£o ao papel da imprensa alternativa, a popular “nanica”. Uma das abordagens teve como base um texto do Raimundo Pereira, que foi um dos principais articulistas dentro da mĂ­dia alternativa durante o perĂ­odo de combate ao regime ditatorial implantado pĂ³s 64. E este aborda a existĂªncia da mesma como parte essencial e permanente para a prĂ³pria existĂªncia do regime democrĂ¡tico, pois nele embora o espaço de discussĂ£o em sociedade jĂ¡ esteja presente a grande mĂ­dia nĂ£o cumpre o papel de ser o porta voz dos mais diversos segmentos organizados e seus interesses de classe.

O autor do outro texto, cujo nome agora me foge a memĂ³ria, afirmava que a imprensa alternativa era um fenĂ´meno que surgia em perĂ­odos de exceĂ§Ă£o, mas que o democratizaĂ§Ă£o da sociedade apĂ³s os findamentos destes estĂ¡ deixava de ter a mesma importĂ¢ncia, pois a partir do retorno ao regime democrĂ¡tico a grande imprensa sem censura cumpriria este papel, o que nĂ£o Ă© a realidade ao estĂ¡ estar subordinada aos interesses de classe de quem a financia. A grande mĂ­dia estĂ¡ subordinada aos interesses de quem paga os anĂºncios publicados e contra os interesses destes, por ser economicamente dependente, nĂ£o se volta. Assim por mais que ela possa contribuir para o debate democrĂ¡tico, e contribui, da mesma nĂ£o dĂ¡ para esperar total isenĂ§Ă£o.

Na discussĂ£o sobre o papel essencial dos “nanicos” no enfrentamento contra a ditadura e a favor da liberdade de manifestaĂ§Ă£o e expressĂ£o e do retorno ao estado de direito disse a eles que estes jornais, que nĂ£o eram financiados pelo “ouro de Moscou” ou por “la plata cubana” e sim por democratas progressistas, por doações de militantes engajados e pelas vendas de mĂ£o em mĂ£o.

Com o passar do tempo, com o desgaste da ditadura perante a opiniĂ£o pĂºblica e seu conseqĂ¼ente isolamento a partir do governo Geisel, começa a abertura polĂ­tica a existĂªncia dos jornais alternativos de Frente PolĂ­tica (OpiniĂ£o, Movimento, Versus Coojornal, etc.) começa a perder o seu papel aglutinador e as diversas correntes que antes os compunham começam a editar os seus prĂ³prios jornais (Tribuna da Luta OperĂ¡ria, Hora do Povo, Voz da Unidade, Em Tempo, etc.) com as posições de cada segmento.

Outro ponto questionado foi sobre quais eram os interesses que estes jornais alternativos representavam, no que abordei que eles a princĂ­pio eram o de serem os porta vozes da Frente DemocrĂ¡tica e Popular. Em seus conselhos editoriais estavam presentes desde setores nacionalistas democrĂ¡ticos, setores liberais democrĂ¡ticos atĂ© as organizações de esquerda.

Embora a partir do Ă¡pice da “abertura lenta e gradual”, que nĂ£o foi nenhuma dĂ¡diva do regime ditatorial e sim um recuo por parte daqueles que implantaram o regime de terror e censura, pois o povo estava se manifestando nas urnas e nas ruas exigindo o retorno a democracia, os agrupamentos de oposiĂ§Ă£o, tanto na aĂ§Ă£o de divulgaĂ§Ă£o dos novos jornais nanicos, como em outros atos em defesa do estado de direito, continuaram a agir em forma de Frente PolĂ­tica.

As apreensões de jornais, incĂªndios provocados e outras formas de atentados contra as redações e bancas de revistas se faziam presentes como parte do cotidiano, como tambĂ©m a continuidade das prisões arbitrĂ¡rias de militantes da oposiĂ§Ă£o, as ameaças de morte, espacamentos de manifestantes, etc., como os atos terroristas de estado que atingiram com incĂªndios e explosões atĂ© um ato de primeiro de maio promovido no Rio Centro, como a OAB, a ABI, etc. nĂ£o permitiam qualquer tipo de sectarismo. Como forma de reaĂ§Ă£o a estes atos criminosos provocados pela extrema direita institucional surgiu o Movimento Popular “Bombas nĂ£o explodem idĂ©ias”, que abrigou em seu interior a todas as correntes de pensamento em oposiĂ§Ă£o Ă  ditadura.

Outro ponto que abordei que considero importante resgatar foi o fato da grande mĂ­dia financiada pelo IPES/IBAD ter servido como importante instrumento tanto na preparaĂ§Ă£o do golpe de 64, como depois na manutenĂ§Ă£o da ditadura por 21 anos. Falei sobre a Globo ter sido bancada pelo grupo estrangeiro norte americano Time Life, o que na Ă©poca que ocorreu era ilegal por ferir a nossa soberania nacional, com o objetivo de sustentaĂ§Ă£o dos golpistas, como tambĂ©m sobre o seu alienante papel atual, onde segundo o Ă¢ncora Bonner o pobre conteĂºdo do jornal nacional Ă© destinado para o pĂºblico “Homer Simpson”.

Outro que entrou em discusĂ£o foi Ildeu Manso, que no passado tambĂ©m teve fortes ligações com a imprensa alternativa, sendo que na Ă©poca da ditadura ele era o responsĂ¡vel pela sucursal do Hora do Povo, abordou a importante questĂ£o que Ă© o papel desagregador do pensamento coletivo imposto pela grande mĂ­dia atravĂ©s da fragmentaĂ§Ă£o e diluiĂ§Ă£o da informaĂ§Ă£o. Segundo ele estĂ¡ “poluiĂ§Ă£o” causada propositalmente pelo grande volume de informações negativas com pouca importĂ¢ncia e profundidade de anĂ¡lises, mas com forte conteĂºdo violento sofista maniqueĂ­sta, nos levam a individualizaĂ§Ă£o excessiva e a perda de humanidade nas relações, pois com a banalizaĂ§Ă£o da misĂ©ria e da violĂªncia ficamos insensĂ­veis ao que acontece a nossa volta, jĂ¡ que com tantas informaĂ§Ă£o negativas tudo fica “normal”.

Agradeço ao professora Maura Martins e aos alunos pela oportunidade que nos foi dada de debater com a comunidade acadĂªmica da UniBrasil.

 
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