Os Ăndices usados para medir o progresso dos estudantes na trajetĂ³ria educacional revelam uma grande distĂ¢ncia entre a realidade das cidades e da Ă¡rea rural. Nas cidades, metade dos adolescentes com idade entre 15 e 17 anos estudam na etapa correta – o ensino mĂ©dio. No campo, a proporĂ§Ă£o Ă© bastante inferior: somente um terço desses jovens estĂ¡ concluindo a educaĂ§Ă£o bĂ¡sica.
Apesar dos dados das taxas de escolarizaĂ§Ă£o – que mostram quantos estudantes frequentam a etapa correta em relaĂ§Ă£o Ă idade – dos adolescentes do campo com idade entre 15 e 17 anos terem melhorado nos Ăºltimos cinco anos, os detalhes da Pesquisa Nacional por Amostra de DomicĂlios, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e EstatĂstica (IBGE) mostram o tamanho da desigualdade educacional do PaĂs . De 2004 para 2009, o crescimento foi de 13,7 pontos percentuais.
Segundo as informações chamadas de microdados da pesquisa, em 2004, enquanto 49,3% dos adolescentes da Ă¡rea urbana estavam concluindo a educaĂ§Ă£o bĂ¡sica, apenas 22% dos jovens da Ă¡rea rural estavam na mesma situaĂ§Ă£o. Em 2009, os nĂºmeros subiram para 54,4% e 35,7%, respectivamente. Entre as crianças de 7 a 14 anos, a situaĂ§Ă£o Ă© bem melhor: 94,8% das 5 milhões que moram no campo estĂ£o matriculadas no ensino fundamental.
Mais de 1,2 milhĂ£o de estudantes do campo com idade para cursar o ensino mĂ©dio ainda estĂ£o no ensino fundamental ou desistiram da escola. MĂ´nica Molina, doutora em desenvolvimento sustentĂ¡vel e professora adjunta da Universidade de BrasĂlia (UnB), reconhece os avanços, mas defende polĂticas mais incisivas para a Ă¡rea. “O volume de ações nĂ£o Ă© proporcional ao tamanho do problema”, garante.
Para Daniel Ximenes, diretor de Estudos e Acompanhamento das Vulnerabilidades Educacionais da Secretaria de EducaĂ§Ă£o Continuada, AlfabetizaĂ§Ă£o e Diversidade (Secad) do MinistĂ©rio da EducaĂ§Ă£o, a dispersĂ£o geogrĂ¡fica dos alunos dificulta o trabalho das escolas. Neste sentido, ele acredita que as classes multisseriadas – na mesma turma, o professor dĂ¡ aulas para estudantes que sĂ£o de sĂ©ries diferentes – contribuĂram para a permanĂªncia dos alunos na escola. O material didĂ¡tico distribuĂdo pelo MEC aos colĂ©gios, para ele, tambĂ©m ajudou a melhorar os Ăndices.
Campo X cidade
Os Ăndices que apontam a quantidade de adolescentes com idade entre 15 e 17 anos que estĂ£o cursando a etapa correta, o ensino mĂ©dio, mostram uma grande distĂ¢ncia entre os estudantes que vivem em Ă¡reas urbanas e rurais. Confira a taxa de escolarizaĂ§Ă£o lĂquida (em %) dos Ăºltimos cinco anos.
Fragilidades
MĂ´nica estuda as dificuldades e as especificidades da educaĂ§Ă£o do campo hĂ¡ anos. Para a professora, alguns fatores explicam a distĂ¢ncia entre a educaĂ§Ă£o realizada nas Ă¡reas urbana e rural. Primeiro, diz ela, a oferta de escolas no ensino mĂ©dio Ă© insuficiente para a demanda. HĂ¡ quase 9 mil colĂ©gios em Ă¡reas rurais. Deste total, 75% oferecem aulas para estudantes de 1ª a 4ª sĂ©ries do ensino fundamental e 25%, para alunos de 5ª a 8ª. SĂ³ 4% desses estabelecimentos tĂªm turmas de ensino mĂ©dio.
Levar os estudantes para estudar na cidade, de acordo com especialistas, nĂ£o Ă© uma boa soluĂ§Ă£o para o problema. A distĂ¢ncia desanima, o transporte pĂºblico muitas vezes nĂ£o funciona e, o pior, a escola da cidade perde o significado para o jovem nascido e criado no campo. “A educaĂ§Ă£o no campo tem especificidades que nĂ£o se limitam Ă adaptaĂ§Ă£o de conteĂºdos. Houve um desmantelamento da educaĂ§Ă£o no campo. O conselho definiu novas diretrizes para a Ă¡rea e podemos avançar muito mais”, afirma a conselheira ClĂ©lia Craveiro BrandĂ£o, do Conselho Nacional de EducaĂ§Ă£o (CNE).
Para a professora da UnB, entender as necessidades de quem mora no campo Ă© essencial para que a realidade possa ser diferente no futuro. “Primeiro, Ă© preciso reconhecer que levar a educaĂ§Ă£o atĂ© o campo Ă© um direito dos brasileiros que lĂ¡ vivem e nĂ£o um favor. A oferta no local onde eles moram tambĂ©m Ă© importante para que as vivĂªncias e o conhecimento prĂ¡tico produzido por eles sejam reconhecidos como valores”, analisa.
MĂ´nica acredita que Ă© preciso romper preconceitos. “A ideia de que tudo o que vem do campo Ă© atrasado e arcaico precisa acabar. Os professores tambĂ©m precisam estar preparados para lidar com isso”, comenta. Para ela, o Programa de Apoio as Licenciaturas em EducaĂ§Ă£o do Campo (Procampo) Ă© fundamental. Ela conta que, no Ăºltimo estudo que fez, com base em dados do prĂ³prio MEC, 57% dos 300 mil professores do campo em exercĂcio nĂ£o tinham formaĂ§Ă£o superior.
A infraestrutura das escolas, segundo a professora, tambĂ©m precisa ser melhorada. “A maioria nĂ£o possui biblioteca, laboratĂ³rios de ciĂªncia ou informĂ¡tica, nem acesso Ă internet”, critica MĂ´nica.