quinta-feira, 4 de abril de 2013

Em época em que paira a ameaça de guerra da Coréia do Norte contra a Coréia do Sul e os EUA: 'Memórias de fogo'



Os Estados Unidos, que acusam a Coréia de estar produzindo armas de destruição em massa, não hesitaram, desde os anos 40, em usá-las. É esta a história desconhecida da guerra do Coréia, que aniquilou cidades e matou milhões de pessoas com bombardeios de napalm

Soldados estadunidenses andam entre prisioneiros políticos assassinados pelo governo sul-coreano em Daejeon, Coréia do Sul. Julho de 1950


Mais que uma guerra "esquecida", valeria a pena falar, tratando-se da guerra da Coréia (1950-1953), de uma guerra desconhecida. O efeito inacreditavelmente destrutivo das campanhas aéreas norte-americanas contra a Coréia do Norte – que foram do despejo contínuo e em grande escala de bombas incendiárias (essencialmente com napalm) às ameaças de recurso a armas nucleares e químicas1 e à destruição de gigantescas barragens norte-coreanas na fase final da guerra – é indelével. Estes fatos são no entanto pouco conhecidos, mesmo pelos historiadores, e as análises da imprensa sobre o problema nuclear norte-coreano nestes últimos dez anos nunca as mencionaram.

A guerra da Coréia tem fama de ter sido limitada, mas ela foi bem parecida com a guerra aérea contra o Japão imperial durante a Segunda Guerra mundial. E foi freqüentemente dirigida pelos mesmos responsáveis militares norte-americanos. Se os ataques de Hiroshima e Nagasaki foram objeto de inúmeras análises, os bombardeios incendiários contra as cidades japonesas e coreanas receberam bem menos atenção. Quanto às estratégias nuclear e aérea de Washington no nordeste asiático depois da guerra da Coréia, estas foram ainda menos compreendidas, ao passo que estas estratégias definiram as escolhas norte-coreanas e permanecem um fator chave na elaboração da estratégia norte-americana em matéria de segurança nacional. (...)

O napalm foi inventado no fim da Segunda Guerra mundial. Sua utilização provocou um debate de grandes proporções durante a guerra do Vietnã, fomentado por fotos intoleráveis de crianças que corriam nuas sobre as estradas, com a pele em farrapos... Uma quantidade ainda maior de napalm foi no entanto despejada sobre a Coréia, com efeito bem mais devastador, porque a República Popular Democrática da Coréia (RPDC) tinha maior número de cidades populosas que o Vietnã do Norte. Em 2003, eu participe de uma conferência ao lado de ex-combatentes norte-americanos da guerra da Coréia. No momento de uma discussão a respeito de napalm, um sobrevivente da batalha do Reservatório de Changjin (Chosin, em japonês), que havia perdido um olho e uma parte da perna, afirmou que esta arma era, bem entendido, ignóbil, mas que ela «caíra sobre as pessoas boas».

Cenas macabras

Bombardeios com bombas incendiárias sobre a Coréia do Norte

As pessoas boas? Como quando um bombardeio atingiu por engano uma dúzia de soldados norte-americanos: "Em toda minha volta os homens estavam queimados. Eles rolavam na neve. Homens que eu conhecia, com quem eu havia marchado e combatido, suplicavam que eu atirasse neles... Era terrível. Quando o napalm havia queimado completamente a pele, ela se descolava em farrapos do rosto, dos braços, das pernas... como batatas chips2".

Um pouco mais tarde, George Barrett, do New York Times, descobriu um "tributo macabro à totalidade da guerra moderna" numa vila ao norte de Anyang (Coréia do Sul): "Os habitantes de toda a cidade e dos campos em torno foram mortos e conservaram exatamente a posição em que estavam quando foram atingidos pelo napalm: um homem se preparava para montar na bicicleta, cinco dezenas de crianças brincavam num orfanato, uma mãe de família estranhamente intacta tinha na mão uma página do catálogo Sears-Roebuck onde estava o pedido n° 3 811 294 de uma ‘encantadora espreguiçadeira de cor coral’". Dean Acheson, secretário de Estado, queria que este tipo de «reportagem sensacionalista» fosse denunciada à censura, a fim de que se possa nelas colocar um fim3.

Uma das primeiras ordens para incendiar as cidades e as vilas que encontrei nos arquivos foi dada no extremo sudeste da Coréia, enquanto combates violentos se desenrolavam ao longo do perímetro de Pusan. Era o começo de agosto de 1950, quando milhares de guerrilheiros assediavam os soldados norte-americanos. No dia 6 de agosto de 1950, um oficial norte-americano deu à força aérea a ordem de "obliterar as seguintes cidades": Chongsong, Chinbo e Kusu-Dong. Bombardeiros estratégicos B-29 foram igualmente empregados para bombardeios táticos. No dia 16 de agosto, cinco formações de B-29 atacaram uma zona retangular próxima ao front, que contava um grande número de cidades e vilas. Criaram um oceano de fogo, despejando centenas de toneladas de napalm. Uma ordem semelhante foi emitida no dia 20 de agosto. E no dia 26 de agosto, encontramos nestes mesmos arquivos a simples menção: "onze vilas incendiadas4". (...)

Chuvas de napalm

Cidades coreanas arrasadas pelos ataques com bombas incendiárias norte americanas

Os pilotos tinham ordem de atacar os alvos que eles pudessem discernir para evitar atingir civis, mas eles bombardeavam freqüentemente centros populacionais importantes identificados por radar, ou despejavam enormes quantidades de napalm sobre objetivos secundários, nos casos em que o alvo principal não pôde ser atingido. A cidade industiral de Hungnam foi alvo de um ataque maior no dia 31 de julho de 1950, no curso do qual 500 toneladas de bombas foram soltas através das nuvens. As chamas se elevaram a até uma centena de metros. O exército norte-americano despejou 625 toneladas de bombas sobre a Coréia do Norte no dia 12 de agosto, uma tonelagem que teria requerido uma frota de 250 B-17 durante a Segunda Guerra mundial. No fim de agosto, as formações de B-29 derramavam 800 toneladas de bombas por dia sobre o Norte5. Esta tonelagem consistia em grande parte em napalm puro. De junho a fim de outubro de 1950, os B-29 derramaram 3,2 milhões de litros de napalm.

No seio da força aérea norte-americna, alguns se deleitavam com as virtudes deste exército relativamente novo, introduzido no fim da guerra precedente, rindo-se dos protestos comunistas e confundindo a imprensa ao falar de "bombardeios de precisão". Os civis, gostavam eles de supor, eram prevenidos da chegada dos bombardeiros por panfletos, enquanto que todos os pilotos sabiam que estes panfletos não tinham qualquer efeito6. Isso não era mais que um prelúdio da destruição da maioria das cidades e vilas norte-coreanas que iria se seguir à entrada da China na guerra.

A entrada dos chineses no conflito provocou uma escalada imediata da campanha aérea. A contar do início de novembro de 1950, o general MacArthur ordenou que a zona situada entre o front e a fronteira chinesa fosse transformada em deserto, que a viação destruísse todos os "equipamentos, usinas, cidades e vilas" nos milhares de quilômetros quadrados do território norte-coreano. Como relatou um assessor militar britânico do quartel-general de MacArthur, o general norte-americano deu ordem para "destruir todos os meios de comunicação, todos os equipamentos, usinas, cidades e vilas", com exceção das barragens de Najin, próximas à fronteira soviética e de Yalu (poupadas para não provocar Moscou e Pequim). "Esta destruição [deveria] começar na fronteira manchu e continuar em direção ao sul". No dia 8 de novembro de 1950, 79 B-29 despejaram 550 toneladas de bombas incendiárias sobre Sinuiju, "riscando [a cidade] do mapa". Uma semana depois, um dilúvio de napalm se abatia sobre Hoeryong "com o objetivo de liquidar o local". No dia 25 de novembro, "uma grande parte da região noroeste entre Yalu e as linhas inimigas mais ao sul [...] está mais ou menos incendiada". A zona logo iria se tornar uma "extensão deserta de terra queimada7".

Ameaça atômica

Tudo isso se passava antes da grande ofensiva sino-coreana, que expulsou as foças da ONU do norte da Coréia. No início do ataque, nos dias 14 e 15 de dezembro, a aviação norte-americana soltava sobre Pyongyang 700 bombas de 500 libras, napalm derramado por aviões de combate Mustang, e 175 toneladas de bombas de demolição de efeito retardado, que aterrorizavam com um barulho surdo e explodiam em seguida, quando as pessoas tentavam salvar os mortos dos braseiros acesos pelo napalm. No início de janeiro, o general Ridgeway ordenou de novo qua a aviação atacasse a capital Pyongyang "com o objetivo que foi alcançado em dois tempos, nos dias 3 e 5 de janeiro". À medida que os norte-americanos se retiravam para o sul do paralelo 30, a política incendiária da terra arrasada prosseguiu: Uijongbu, Wonju e outras pequenas cidades do sul, das quais o inimigo se aproximava, foram a presa das chamas8.

A aviação militar tentou também decapitar a direção norte-coreana. Durante a guerra no Iraque em março de 2003, o mundo conheceu a existência da bomba denominada "MOAB" (Mother of all bombs, ou Mãe de todas as bombas), que pesa 21.500 libras e tem uma capacidade explosiva de 18 mil libras de TNT. A Newsweek publicou uma foto dela em sua capa, com o título "Por que a América dá medo no mundo? 9". No decurso do inverno de 1950-1951, Kim Il Sung e seus aliados mais próximos haviam voltado a seu ponto de partida dos anos 30 e se abrigavam em profundos bunkers em Kanggye, perto da fronteira manchu. Depois de três meses de vãs buscas a partir do desembarque de Inch’on, os B-29 despejaram bombas "Tarzan" sobre Kanggye. Tratava-se de uma bomba nova, enorme, de 12 mil libras, nunca utilizada antes. Mas não era mais que um foguete ao lado da arma incendiária final, a bomba atômica.

No dia 9 de julho de 1950, apenas duas semanas depois do começo da guerra, o general MacArthur enviou ao general Ridgeway uma "mensagem urgente" que incitou os chefes do Estado Maior (CEM) "a examinar se seria necessário ou não dar ’bombas A’ a MacArthur". O general Charles Bolte, chefe das operações, foi encarregado de discutir com MacArthur sobre a utilização de bombas atômicas "em apoio direto aos combates terrestres". Bolte avaliava que se poderia reservar de dez a vinte bombas para o teatro coreano sem que as capacidades militares globais dos Estados Unidos se encontrassem afetadas "além da medida". MacArthur sugeriu a Bolte uma utilização tática das armas atômicas e lhe fez uma exposição sumária das ambições extraordinárias que ele alimentava no âmbito da guerra, especialmente a ocupação do Norte e uma resposta a uma potencial intervenção chinesa ou soviética, como segue: «Eu os isolarei na Coréia do Norte. Na Coréia, eu vejo um beco sem saída. Apenas as passagens provenientes da Manchúria e Vladivostock comportam inúmeros túneis e pontes. Eu vejo aí uma ocasião única de utilizar a bomba atômica, para fazer um ataque que barraria a estrada e demandaria um trabalho de reparação de seis meses".

A China na mira

Presidente Truman ameaçou ataque nuclear contra a China

Nesta fase da guerra, no entanto, os chefes do Estado Maior rejeitaram o uso da bomba, pois faltavam alvos suficicientemente importantes para necessitar de armas nucleares; temiam também as reações da opinião mundial cinco anos após Hiroshima e esperavam que o curso da guerra fosse mudado por meios militares clássicos. O cálculo não foi mais o mesmo desde que consideráveis contingentes de soldados chineses entraram na guerra em outubro de 1950.

Na ocasião de uma famosa entrevista coletiva, no dia 30 de novembro, o presidente Truman desfraldou a ameaça da bomba atômica10. Não era um blefe, como se supunha então. No mesmo dia, o general da força aérea Stratemeyer enviou ordem ao general Hoyt Vandenberg para colocar em alerta o comando aéreo estratégico "a fim de que ele esteja pronto para enviar sem atraso formações de bombardeiros equipados de bombas médias ao Extremo Oriente [...] este suplemento [devendo] compreender capacidades atômicas".

O brigadeiro Curtis LeMay se lembra claramente que os CEM haviam chegado anteriormente à conclusão de que as armas atômicas provavelmente não seriam empregadas na Coréia, exceto no caso de uma "campanha atômica geral contra a China maoísta". Mas, como as ordens mudavam em razão da entrada das forças chinesas na guerra, LeMay queria ser encarregado da tarefa; ele declarou a Stratemeyer que seu quartel general era o único a possuir a experiência, a formação técnica e "o conhecimento íntimo" dos métodos de lançamento. O homem que dirigiu o bombardeio incendiário de Tóquio em março de 1945 estava pronto a voltar ao Extremo Oriente para comandar os ataques11. Washington se preocupava pouco, na época, em saber como Moscou iria reagir, pois os norte-americanos possuíam ao menos 450 bombas atômicas, enquanto os soviéticos tinham apenas 25.

Planos de ataque

Desembarque do general MacArthur na Coréia

Pouco tempo depois, no dia 9 de dezembro, MacArthur fez saber que queria um poder discricionário no que dizia respeito à utilização de armas atômicas sobre o teatro coreano, e, no dia 24 de dezembro, ele entregou uma "lista de alvos que devem retardar o avanço inimigo" para os quais ele dizia ter necessidade de 26 bombas atômicas. Ele pedia, além disso, que quatro bombas fossem lançadas sobre as "forças de invasão" e quatro outras sobre as "concentrações inimigas cruciais de meios aéreos".

Em entrevistas divulgadas depois de sua morte, MacArthur afirmava ter um plano que permitia ganhar a guerra em dez dias: "eu teria despejado três dezenas de bombas atômicas [...] arrasando tudo ao longo da fronteira com a Manchúria". Ele teria em seguida levado 500 mil soldados da China nacionalista a Yalu, depois teria "espalhado atrás de nós, do mar do Japão ao mar Amarelo, um cinturão de cobalto radioativo [...] cuja duração de vida ativa se situa entre 60 e 120 anos. Durante 60 anos ao menos, não seria possível uma invasão terrestre da Coréia pelo norte". Ele tinha certeza de que os Russos nada fariam diante desta estratégia do extremo: "Meu plano era simples como um bom-dia12".

A radioatividade do cobalto 60 é 320 vezes mais elevadas que a do rádio. Segundo o historiador Carroll Quigley, uma bomba H de 400 toneladas de cobalto poderia destruir toda vida animal sobre a terra. As propostas belicistas de MacArthur parecem insensatas, mas ele não era o único a pensar dessa maneira. Antes da ofensiva sino-coreana, um comitê submetido aos chefes do Estado Maior havia declarado que as bombas atômicas poderiam se mostrar como "fator decisivo" que bloquearia o avanço chinês na Coréia. No início, via-se eventualmente sua utilização num "cordão sanitário [que poderia] ser estabelecido pela ONU, seguindo uma faixa situada da Manchúria até o norte da fronteira coreana".

Sugestão de cataclisma

Enquanto ameaçavam de ataque atômico os norte americanos faziam testes nucleares para mostrarem o poder da bomba 

Alguns meses mais tarde, o deputado Albert Gore (o pai de Al Gore, candidato democrata derrotado em 2000, que se opôs em seguida à guerra do Vietnã), deplorava que "a Coréia [faça] a cama da virilidade norte-americana" e sugeria que se pusesse um fim à guerra com "alguma coisa cataclísmica" - a saber, um cinturão radioativo que dividiria a península coreana em duas de maneira permanente. Ainda que o general Ridgeway não tenha falado de bomba de cobalto, depois de ter sucedido MacArthur enquanto comandante norte-americano na Coréia, ele renovou em maio de 1951 o pedido formulado por seu predecessor no dia 24 de dezembro, reivindicando desta vez 38 bombas atômicas13. Esse pedido não foi aceito.

No início de abril de 1951, os Estados Unidos estiveram a um passo de utilizar armas atômicas, no momento, precisamente, em que Truman destituía MacArthur. Se as informações a respeito desse episódio permaneceram ainda em grande parte classificadas como secretas, é agora claro que Truman não destituiu MacArthur unicamente em razão de sua insubordinação reiterada, mas porque ele queria um comandante confiável no local, caso Washington decidisse recorrer às armas atômicas. Em outros termos, Truman se livrou de MacArthur para manter aberta sua política em matéria de armas atômicas. No dia 10 de março de 1951, depois que os chineses concentraram novas forças perto da fronteira coreana e que os soviéticos estacionaram 200 bombardeiros sobre as bases aéreas da Manchúria (de onde eles poderiam atingir não apenas a Coréia, mas as bases norte-americanas no Japão) 14, MacArthur pediu uma "força atômica do tipo Dia D", a fim de conservar a superioridade aérea no teatro coreano. No dia 14 de março, o general Vandenberg escrevia: "Finletter e Lovett alertados sobre as discussões atômicas. Eu creio que está tudo pronto". Fim de março, Stratemeyer relatou que os fossos de carregamento de bombas atômicas sobre a base aérea de Kadena, em Okinawa, estavam novamente operacionais. As bombas foram transportadas para lá em peças separadas e montadas depois na base, faltando apenas carregar o miolo nuclear. No dia 5 de abril, os CEM ordenaram que represálias atômicas imediatas fossem lançadas contra as bases manchus se novos contingentes importantes de soldados chineses se juntassem aos combates ou, ao que parece, se bombardeiros partissem de lá contra posições norte-americanas. No mesmo dia, Gordon Dean, presidente da Comissão sobre Energia Atômica, tomou medidas para fazer a transferência de nove ogivas nucleares Mark IV para o 9o grupo de bombardeiros da aviação militar, destinado ao transporte de bombas atômicas. (…)

Milhões de mortos

Os chefes do Estado Maior cogitaram novamente o emprego de armas nucleares em junho de 1951 – desta vez, do ponto de vista tático sobre o campo de batalha15 – e foi o caso de várias outras situações até 1953. Robert Oppenheimer, ex-diretor do Projeto Manhattan, trabalhou sobre o "Projeto Vista", destinado a avaliar a viabilidade do uso tático de armas atômicas. No início de 1951, um jovem chamado Samuel Cohen, que estava em missão secreta para o departamento de defesa, estudou as batalhas que conduziram à segunda tomada de Seul e concluiu que deveria existir um meio de destruir o inimigo sem destruir a cidade. Ele se tornaria o pai da bomba de nêutrons16.

O projeto nuclear mais aterrorizante dos Estados Unidos na Coréia foi provavelmente a operação Hudson Harbor. Esta operação parece ter feito parte de um projeto mais vasto que tratava da «especulação aberta pelo departamento de defesa e especulação clandestina por parte da Central Intelligence Agency, na Coréia, sobre a possibilidade de utilizar novas armas» (um eufemismo designando o que se chama hoje de armas de destruição em massa). (...)

Sem recorrer às «novas armas», ainda que o napalm fosse muito novo na época, a ofensiva aérea não deixou de arrasar a Coréia do Norte e de matar milhões de civis antes do fim da guerra. Durante três anos, os norte-coreanos se viram diante da ameaça cotidiana de serem queimados pelo napalm: "Não se podia escapar", disse-me um deles em 1981. Em 1952, praticamente tudo havia sido completamente arrasado no centro e no norte da Coréia. Os sobreviventes viviam em grutas. (...)

Cidades aniquilidadas

No decorrer da guerra, escrevia Conrad Crane, a força aérea norte-americana «provocou uma destruição terrível em toda a Coréia do Norte. A avaliação, na época do armistício, dos prejuízos causados pelos bombardeios revelou que das 22 principais cidades do país, 18 haviam sido aniquiladas no mínimo pela metade». Sobressaía de um quadro estabelecido pelo autor que as grandes cidades industriais de Hamh˘ung e de H˘ungnam haviam sido destruídas em 80 a 85%, Sariw˘on em 95%, Sinanju em 100%, o porto de Chinnamp’o em 80% e Pyongyang em 75%. Um jornalista britânico descrevia uma das milhares de vilas aniquiladas como "um montículo expandido de cinzas violetas". O general William Dean, que foi capturado depois de batalha de Taej˘on, em julho de 1950, e levado ao Norte, declarou em seguida que da maioria das cidades e vilas que ele viu, não restou mais que "entulho ou ruínas cobertas de neve". Todos os coreanos que ele encontrou, ou quase, haviam perdido um parente no bombardeio17. Winston Churchill, no fim da guerra, se emocionou e declarou a Washington que no momento em que o napalm foi inventado no fim da Segunda Guerra mundial, ninguém imaginava que se iria "aspergi-lo" sobre uma população civil18.

Tal foi a "guerra limitada" travada na Coréia. À guisa de epitáfio para esta guerra aérea desenfreada, citemos o ponto de vista de seu arquiteto, o general Curtis LeMay, que declarou depois do início do conflito: "De certa forma nós colocamos por baixo da porta do Pentágono um bilhete dizendo: ‘Nos deixem ir até lá [...] incendiar cinco das maiores cidades da Coréia do Norte – elas não são muito grandes – isso deverá acertar as coisas’. Bem, nos responderam aos gritos – ‘Vocês vão matar inúmeros civis’ e ‘é horrível demais’. No entanto, em três anos (...) nós incendiamos todas [sic] as cidades da Coréia do Norte, assim como da Coréia do Sul (...). Em três anos, é aceitável, mas matar algumas pessoas para resolver o problema, muita gente não consegue conceber 19".

(Trad. : Fabio de Castro)

1 - Stephen Endicott, Edward Hagerman, “As armas biológicas da guerra da Coréia”, Le Monde diplomatique, julho de 1999.
2 - Citado em Clay Blair, Forgotten War, p. 515.
3 - Arquivos nacionais norte-americanos, dossiê 995.000, caixa 6175, despacho de George Barrett, 8 de fevereiro de 1951.
4 - Arquivos nacionais, RG338, dossiê KMAG, caixa 5418, diário KMAG, entradas dos 6, 16, 20 e 26 de agosto de 1950.
5 - New York Times, 31 de julho, 2 de agosto e 1o de setembro de 1950.
6 - Ver “Air War in Korea”, em Air University Quarterly Review 4, n° 2, outono de 1950, pp. 19-40 e “ Precision bombing ” in Air University Quartely Review 4, n° 4, verão de 1951, pp. 58-65.
7 - Arquivos MacArthur, RG6, caixa 1, “Stratemeyer para MacArthur”, 8 de novembro de 1950; Public Record Office, FO 317, documento n° 84072, “Relatório aos chefes do Estado Maior”, 6 de novembro de 1950; documento n° 84073, 25 de novembro de 1959.
8 - Bruce Cumings, The Origins of the Korean War, tomo 2, Princeton University Press, 1990, pp. 753-754; New York Times, 13 de dezembro de 1950 e 3 de janeiro de 1951.
9 - Newsweek, 24 de março de 2003.
10 - The New York Times, 30 de novembro e 1o de dezembro de 1950.
11 - Hoyt Vandenberg Papers, caixa 86, Stratemeyer para Vandenberg, 30 de novembro de 1950; LeMay para Vandenberg, 2 de dezembro de 1950. Ver também Richard Rhodes, Dark Sun: The Making of the Hydrogen Bomb, 1955, pp. 444-446.
12 - Bruce Cumings, op. cit. , p. 750. Charles Willoughby Papers, caixa 8, entrevistas para Bob Considine e Jim Lucas em 1954, publicadas em The New York Times, 9 de abril de 1964.
13 - Carroll Quigley, Tragedy and Hope: A History of the World in Our Time, MacMillan, Nova York, 1966, p. 875. C. Quigley foi o professor preferido de William Clinton na Georgetown University. Ver também B. Cumings, op. cit. p. 750.
14 - Os documentos tornados públicos depois do colapso da União Soviética não parecem corroborar esta informação. Segundo os historiadores, os soviéticos não empregaram uma força aérea desta importância na época, ao contrário do que pensavam os serviços de informação – em razão talvez de um serviço eficaz de desinformação por parte dos chineses.
15 - Não se tratava de utilizar armas nucleares ditas táticas, ainda não disponíveis em 1951, mas de utilizar os Mark IV taticamente nos combates, como as bombas clássicas despejadas pelos B-29 haviam sido utilizadas nos combates desde o fim de agosto de 1950.
16 - Samuel Cohen era um amigo de infância de Herman Kahn. Ver Fred Kaplan, The Wizards of the Armageddon, Simon & Schuster, Nova York, 1983, p. 220. Sobre Oppenheimer e o Projet Vista, ver B. Cumings, op. cit., pp. 751-752, David C. Elliot, “Project Vista and Nuclear Weapons in Europe” in International Security 2, n° 1, verão de 1986, pp. 163-183.
17 - Conrad Crane, American Airpower Strategy in Korea, pp. 168-169.
18 - Jon Halliday e Bruce Cumings, Korea: The Unknown War, Pantheon Books, Nova York, 1988, p. 166.
19 - J. F. Dulles Papers, história oral Curtis LeMay, 28 de abril de 1966.

Antes da guerra: Curitiba integralista, Praça Tiradentes, 1937


 
Milton Ribeiro

Um tanto irresponsavelmente, fiz algumas pesquisas no Google que envolviam Curitiba. Procurei um texto de um morador arejado que descrevesse a cidade. Abrindo o texto, procurei a palavra “conservador”. Havia (há) 7 ocorrências da palavra. O Cristóvão Tezza insiste e insiste na palavra. Talvez fosse casual.

Outro teste. Por associação, achei natural que houvesse grandes manifestações integralistas realizadas pelo avós dos atuais curitibanos. Procurei fotos em Porto Alegre e Curitiba. A superioridade de registros fotográficos deste gênero tupiniquim de extrema-direita na capital paranaense era flagrante sobre Porto Alegre. Fui ver se Plínio Salgado não tinha nascido na cidade. Não, ele era paulista. Até, certa vez, elegeu-se deputado federal pelo Paraná porque seria mais fácil…

Segui navegando e encontrei este registro integralista de 2011 em Curitiba. Nada em Porto Alegre.

Agora, vejam esta foto de 1937:

É muita gente, meus sete leitores. Não encontrei nada deste tamanho em outra cidade brasileira.

E, para completar, encontrei este recentíssimo registro no Facebook, escrito pelo curitibano André Feiges e que ornamenta e completa de forma muito coerente a mesma foto acima.
Não é à toa que somos como somos, vejam nosso passado (quase) recente… a quantidade de simpatizantes fascistas em Curitiba é absurda. A foto é duma demonstração integralista, realizando saudação nazista na Praça Tiradentes em 1937. 
– Comentário: Muita gente interpretou mal a descrição que coloquei na foto, pois bem, cabe-me explicar. Não se trata de legitimar nenhum movimento repressor e totalitário, pelo contrário, acredito é preciso compreender nosso passado para lidar com um problema presente, que é a existência de grupos neonazistas. Quando coloco “nós”, quero dizer “nós curitibanos”, e portanto trato de algo inegável, pois “entre nós curitibanos” há diversos simpatizantes fascistas, e sabemos todos disto.
Há exatamente uma semana atrás um destes grupos perseguiu e assassinou um jovem a facadas na região do Centro Histórico de Curitiba. Não foi um fato isolado, estes grupos há poucos meses assassinaram outro rapaz, por motivação homofóbica. E anteriormente já o fizeram por motivações racistas e xenofóbicas.
Reconhecer a existência de fascistas, nazistas, racistas, homofóbicos entre nós é uma necessidade para dimensionarmos o tamanho do problema e elaborar estratégias de enfrentamento.
Negar os fatos é impedir sua mudança.
Apesar do gestual, os integralistas costumam negar suas relações com o fascismo.  OK, Anauê!

Curitiba, antes da guerra


Corria o ano de 1937, as notícias fervilhavam com informações vindas da Europa, onde Hitler, Mussolini, Franco e Salazar governavam seus países sob o tacão das ditaduras. No Brasil, o ditador Getúlio Vargas instituía o Estado Novo arrochando o regime. No Paraná, o interventor Manoel Ribas dirigia o estado e Curitiba teria três prefeitos.
Até o mês de junho de 1937 governou Curitiba o prefeito João Lothário Meissner que foi empossado no cargo em 1932 pelo interventor Manoel Ribas. De junho a setembro de 1937, a prefeitura ficou sob o comando de Aluizio França e que, neste curto período, ordenou a demolição do Teatro Guayra, que ficava na Rua Dr. Murici, fato que somente ocorreria mais tarde, por volta de 1942.
Ainda em 1937, em setembro, assumiu a prefeitura da capital o médico gaúcho Carlos Heller, que exerceria o cargo até 1938. Em 1937, no mês de dezembro, nasceu Jaime Lerner que também chegou à Prefeitura de Curitiba durante a ditadura militar instalada em 1964.
Entre os movimentos políticos que abalaram a cidade no período pré-guerra, nada foi mais forte que os participantes do Integralismo cujo líder era Plínio Salgado. Movimento fascista espelhado tanto em Mussolini como no nacional socialismo de Hitler, encontrou apoio principalmente entre os descendentes de alemães e italianos, que residiam em Curitiba, tendo também como adeptos seguidores das religiões católicas e luteranas.
Eram comum os desfiles dos simpatizantes do integralismo pelas ruas da cidade, todos vestindo camisas verdes, uma cópia tupiniquim dos camisas negras do fascismo italiano e dos camisas marrons, do nazismo alemão. Ficou famosa a reunião realizada no Teatro Guayra, à noite, após um desfile pela cidade com os participantes portando archotes. Uma verdadeira marcha au flambeau.
A não ser por essas agitações esporádicas de tais extremistas, Curitiba ia levando sua vida de cidade pacata, divertindo-se nos cinemas do centro da cidade. Participando das retretas que as bandas militares proporcionavam no coreto da Praça Osório ou então no coreto Mourisco do Passeio Público.
As ruas dos bairros ainda, em sua maioria, eram de terra o que infernizava a vida dos moradores com a lama na época das chuvas e a poeira no tempo de seca. Tais vias muitas vezes não passavam de caminhos marcados pelos rodados das carroças que por ali transitavam. Um dos exemplos que mostravam como as ruas eram descuidadas pela prefeitura ficava por conta da Avenida República Argentina que possuía um trânsito intenso dos veículos com tração animal. O leito da rua era coberto de saibro cuja poeira levantada era depositada nas fachadas das casas e nos jardins dando uma coloração única de tom ocre em ambos os lados e em toda extensão da via. (GP)

Vale a pena ler:

O integralismo vivia aqui

O jornalista sênior, Milton Ivan Heller, publica pelo Instituto Memória o livro Conspiração Nazista nos Céus da América, minucioso relato sobre o que considera evidência dos sonhos de Hitler de implantar aqui uma Alemanha Antártica, desde o sul do Brasil até a Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile, e porções do Peru e da Bolívia.

Militante de esquerda democrática, Milton Ivan escreve sobre núcleos pró-nazistas no cenário político da Curitiba dos anos 30 e 40 do século passado. Aí inclui as manifestações da Ação Integralista Brasileira, partido fundado em 1932 e proscrito em 1938. Era chefiada por Plínio Salgado, que chegou a vencer eleições no Paraná.

Nas ilustrações, a capa do livro, com a letra grega Sigma, ou Integral, símbolo das hostes integralistas, vestidas em camisas verdes e gravatas pretas, que se saudavam com o gritoAnauê, levantando os braços.

Na foto histórica, comício realizado em Curitiba, antes que o presidente Getúlio Vargas declarasse os integralistas brasileiros fora da lei. No nosso cemitério Municipal, há lápides de mármore com o símbolo partidário Sigma, ao invés da cruz cristã. (MS)

Mais sobre o Milton:

Gregório Bezerra: depoimento de um herói popular







Gregório Bezerra

Maria do Carmo Andrade


Gregório Bezerra, político, líder comunista e ex-sargento do Exército brasileiro, nasceu no dia 13 de março de 1900, no sítio Mocós, município de Panelas de Miranda, estado de Pernambuco. Filho de camponês paupérrimo e analfabeto, passou muita fome desde o ventre materno, porque sua mãe também passava fome.

         Nasceu num ano de grande seca, quando centenas de retirantes morriam pelas estradas afora, em busca de comida e água para beber. Não havia leite, nem materno nem de gado. Seus pais e seus irmãos mais velhos, que haviam perdido a safra anterior, perambulavam nas estradas da caatinga, em busca de trabalho para amenizar a situação crítica da família.

         Gregório começou a trabalhar na agricultura, preparando roçados, na idade em que deveria ter ido para a escola. Não teve, portanto, oportunidade de ser alfabetizado.

         Em 1917, depois de muitas andanças, já no Recife, trabalhando como ajudante de pedreiro, participou de uma passeata por melhores salários e em solidariedade ao movimento bolchevique na União Soviética. Foi preso, julgado e condenado a sete anos de prisão.

         Depois de um novo julgamento foi libertado em 1922. Como para conseguir emprego, precisava do certificado do serviço militar, resolveu entrar para o Exército no Recife. Em 1923, foi transferido para o Rio de Janeiro, onde completou o serviço militar.

         Em 1925, decide se alfabetizar para fazer o curso de Sargento de Infantaria. Já segundo-sargento, é designado Instrutor da Companhia de metralhadoras pesadas na Vila Militar, tendo sido também instrutor de esportes. Em seguida, solicitou  transferência para a Sétima Região Militar, no Recife.

         Durante o período em que esteve no Exército, depois de alfabetizado, Gregório descobriu o comunismo, ideologia que abraçou durante toda sua vida, porque acreditava que só assim poderia haver uma sociedade mais justa e melhor. Em 1930, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e, em 1935, era um dos líderes do movimento armado, Aliança Nacional Libertadora (ANL). Participou, como militar rebelde, da luta armada que tentou implantar o regime comunista no Brasil. Com a derrota do movimento, foi preso durante três anos, no Recife, e condenado a  28 anos de prisão, pelo Tribunal de Segurança Nacional.

         Foi transferido para a Ilha de Fernando de Noronha e posteriormente para o presídio da Ilha Grande no Rio de Janeiro, sendo enviado por fim ao presídio Frei Caneca, onde ficou na mesma cela que  Luiz Carlos Prestes.

         Anistiado em 1945, e com a legalização do PCB, Gregório volta a Pernambuco e é eleito Deputado Federal pelo Partido, sendo o segundo mais votado de Pernambuco. Em 1948, o comunismo volta à ilegalidade e Gregório teve seu mandado cassado.

         Pouco depois, um incêndio no 15º Regimento de Infantaria do Exércitoem João Pessoa, Paraíba, é atribuído aos comunistas e Gregório é preso no Rio de Janeiro, conduzido a um presídio na Paraíba, onde permaneceu durante 91 dias, sendo levado depois para o Recife, onde ficou mais dois anos na prisão.

         Novo julgamento libertou Gregório, que passou a percorrer várias regiões brasileiras pregando a Reforma Agrária e organizando sindicatos de trabalhadores rurais. Em 1963, participou da organização de uma greve de 200 mil trabalhadores da zona canavieira de Pernambuco.

         Em 1964, quando o governador Miguel Arraes é deposto e preso, sai em busca de armas para os camponeses na tentativa de enfrentar o Golpe Militar, mas é preso na Usina Pedrosa, no município de Ribeirão-PE. Conduzido para o Recife, é torturado em praça pública, arrastado pelas ruas do bairro de Casa Forte, com uma corda amarrada ao pescoço.

         Incentivado por Paulo Cavalcanti, que estava com ele na mesma prisão, acusados no mesmo processo, Gregório começou a escrever suas memórias. Os manuscritos eram inicialmente entregues a Jurandir Bezerra, filho de Gregório, durante as visitas nos finais de semana. Depois ficaram sob a guarda do próprio Paulo Cavalcanti, que estudava a melhor oportunidade para publicá-los, pois acreditava que seria um “livro de grande interesse social e político, pelo estilo corrente, fácil de ler”.

         Em 1969, foi libertado juntamente com outros companheiros em troca do embaixador norte-americano, Charles B. Elbrick, que havia sido seqüestrado pela resistência à ditadura militar. Segue para o México e depois para a União Soviética, onde viveu durante dez anos.

         Quando Gregório foi exilado do Brasil, ficou sem notícia de seus manuscritos, pensando que tivessem sido apreendidos pelo Exército ou pela Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS). Resolveu, então, reescrever suas memórias, em Moscou, que foram publicadas com sucesso por Ênio Silveira.

         Beneficiado pela anistia em 1979, retorna ao Brasil. Deixa o Comitê Central do PCB, por divergências internas, e, em 1982, foi candidato a deputado federal pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) de Pernambuco, ficando apenas como suplente.

         Morreu na cidade de São Paulo, no dia 23 de outubro de 1983.

         Seu corpo foi velado na Assembléia Legislativa do Estado de Pernambuco, tendo reunindo milhares de pessoas. Do alto de uma galeria da Assembléia Legislativa, uma faixa pintada de vermelho, reproduzia os versos da música cantada por Elis Regina: choram Marias e Clarices no solo do Brasil.


Recife, 3 de novembro de 2005.
(Atualizado em 9 de setembro de 2009).


FONTES CONSULTADAS:

BEZERRA, Gregório. Memórias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979. 2v.

CAVALCANTI, Paulo. A luta clandestina: o caso eu conto como o caso foi. Recife: Ed. Guararapes, 1985.

GREGÓRIO BEZERRA. In: Pernambuco de A/Z. Disponível em: <http://www.pe-az.com.br/biografias/gregório_bezerra.htm>. Acesso em: 10 out. 2005.

GREGÓRIO BEZERRA. In: Portal dos Municípios. Disponível em: <http://www.municipios.pe.gov.br/municipio/Gregorio_Bezerra.asp>. Acesso em: 13 out. 2005.

Júri absolve integrante de milícia da UDR no Paraná


O segundo júri popular de envolvidos no assassinato do trabalhador rural Sebastião Camargo, realizado hoje (4), em Curitiba/PR, absolveu o integrante de uma milícia privada da União Democrática Ruralista – UDR, Augusto Barbosa da Costa, acusado de homicídio doloso. A maioria dos jurados reconheceu a participação do réu de forma efetiva e consciente no crime, portando arma de fogo e aderindo à mesma conduta dos demais presentes no despejo, mas assim mesmo votou pela absolvição do acusado.
Para o advogado assistente de acusação do caso, Fernando Prioste, da Terra de Direitos, a absolvição de um envolvido no assassinato de Sebastião Camargo significa uma fissura na justiça do caso: “A decisão de hoje é uma falha na responsabilização do assassinato, pois já há um articulador de milícia e um fazendeiro condenado, e agora seria um integrante de milícia. Fica uma falha na busca por justiça”. Também compuseram a acusação a promotora de justiça que acompanha o caso, Lúcia Inês Giacometti Andrich, e o advogado integrante do setor de Direitos Humanos do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST e da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, Aton Fon Filho.
Integrantes do MST vindo do interior do estado, estudantes, parlamentares e representantes de movimentos sociais acompanharam o julgamento. 

 O atual júri, envolvendo o assassinato de um trabalhador sem-terra, é o quarto realizado em um espaço de três anos no Paraná, mas outros 15 assassinatos ocorridos no mesmo contexto ainda seguem impunes.
“Isso é consequência de um trabalho desenvolvido para que estas pessoas viessem a ser julgadas. Independente da decisão, esta situação é absolutamente atípica, na qual praticantes de crimes como esses vêm a júri. Trata-se de um avanço do Movimento na sensibilização da sociedade”, afirma o deputado.
Irina Karla Bacci, coordenadora-geral da Ouvidoria Nacional da Secretaria de Direitos Humanos também assistiu ao julgamento. Irina deslocou-se de Brasília para acompanhar o júri e defende que o julgamento também se estenda aos acusados de mandato do crime – não apenas aos acusados pela execução. “As violações de Direitos Humanos no Brasil têm tido resposta da sociedade, que já não tolera mais essa conduta. Com certeza, o júri representa o fim da impunidade na disputa pela terra, que é uma bandeira legítima”, defende. (TD)

Richa dá posse aos membros da Comissão Estadual da Verdade


Hoje estive na solenidade onde o governador Beto Richa deu posse aos membros da Comissão Estadual da Verdade.

 A Comissão tem por fim investigar e esclarecer as violações de direitos humanos praticados no Paraná no período de 1946 a 1988. Ela dará importante contribuição aos trabalhos  da Comissão Nacional da Verdade, a qual repassará todas as informações obtidas no Estado do Paraná.

Além do Paraná, apenas Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo instalaram uma comissão estadual com o propósito de apoiar o grupo nacional. A instituição da Comissão Estadual da Verdade foi proposta por lei aprovada pela Assembleia de Legislativa e sancionada no dia 28 de novembro de 2012.

A comissão funcionará no âmbito da Secretaria Estadual da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, que é dirigida pela Secretária  Maria Tereza Uille Gomes. 

“Um grupo que tem toda condição de investigar e esclarecer todo tipo de abuso que tenha ocorrido naquele período. Dessa forma, o Paraná se mostra na vanguarda dos direitos humanos”, disse o governador.

Em seu discurso Beto Richa lembrou do esforço do seu pai, oex-governador José Richa, que lutou contra a ditadura militar. “Cresci vendo meu pai lutando pelas Diretas Já. Foi essa a formação que tive de caráter e vida pública. Faremos o possível para resgatar a história dos paranaenses”.

A secretária Maria Tereza Uille Gomes lembrou que o Paraná foi o primeiro estado a abrir os arquivos públicos e a criar uma lei para indenizar ex-presos políticos ou suas famílias. “A Lei 11.255, de 21 de dezembro de 1995, que está em vigor até hoje, de autoria do na época deputado estadual Beto Richa, e serviu de exemplo para muitos estados brasileiros. A participação na Comissão Estadual da Verdade será considerada de serviço público relevante e honorífico pela concretização do Estado Democrático de Direitos e promoção dos Direitos Humanos no Paraná”. Segundo ela, a previsão de término dos trabalhos da Comissão Estadual é o mesmo fixado pela Comissão Nacional da Verdade: final do primeiro semestre de 2014.

Olympio de Sá Sotto Maior Neto, ex–procurador–geral de Justiça do Ministério Público do Paraná, e um dos membros da Comissão, disse: “Um período em que o Estado de Direito Democrático foi desrespeitado. Vamos agora resgatar a história para que erros como esse nunca mais ocorram”.

Logo após a posse, os membros da comissão fizeram uma reunião para definir o calendário de atividades, que compreende a recepção de testemunhos, informações, dados e documentos que forem encaminhados voluntariamente, bem como o requerimento de informações, dados e documentos de órgãos e entidades do poder público classificados em qualquer grau de sigilo.

Já instalada, a Comissão irá convocar, para entrevistas ou testemunho, pessoas que possam guardar qualquer relação com os fatos e circunstâncias examinados, garantindo anonimato aos que solicitarem; determinar a realização de perícias e diligências para coleta ou recuperação de informações, documentos e dados; promover audiências públicas; requisitar proteção aos órgãos públicos para qualquer pessoa que se encontre em situação de ameaça em razão de sua colaboração com a comissão e promover parcerias com órgãos e entidades, públicos ou privados, nacionais ou internacionais, para o intercâmbio de informações, dados e documentos.

A entidade atuará de forma articulada e integrada com os órgãos públicos, instituições e movimentos sociais, e especialmente com o Ministério Público Federal, Ministério Público do Paraná, Ordem dos Advogados do Brasil (seccional do Paraná), Fórum Paranaense de Resgate da Verdade, Memória e Justiça, Arquivo Público Nacional e Arquivo Público do Estado do Paraná, Comissão Nacional de Anistia, Universidades sediadas no Paraná, Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa do Paraná, Grupo Tortura Nunca Mais – Paraná e Observatório para Resgate da Verdade, Memória e Justiça da Universidade Federal do Paraná.

MEMBROS - Ivete Maria Caribé da Rocha, advogada e integrante do Comitê de Refugiados do Paraná; Luiz Edson Fachin, jurista e professor de direito da UFPR; Marcio Mauri Kieller Gonçalves, bancário e vice–presidente da CUT no Paraná; Neide de Azevedo Lima, ex-presidente do Movimento Feminino pela Anistia; Olympio de Sá Sotto Maior Neto, ex–procurador–geral de Justiça do Ministério Público do Paraná; Pedro Bodê, professor do setor de Ciências Humanas da UFPR e especialista em violência; Vera Karan de Chueiri, professora e vice-diretora do Setor de Ciências Jurídica da UFPR.

Segundo os organizadores do Fórum Paranaense de Resgate da Verdade, Memória e Justiça, dos sete nomeados pelo governador para a comissão seis foram indicados pela instituição. Milton Alves, coordenador do Fórum, avaliou a relevância da comissão para resgate da história do Paraná: “O governador, numa demonstração de democracia e republicanismo, aceitou nossas indicações. Tenho certeza que esse grupo irá apurar todas  as violações contra os direitos humanos realizadas nesse período”.

Além do deputado estadual Wilson Quinteiro, integrante da Comissão dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa e advogado de ex-presos políticos, estiveram presentes na solenidade lideranças jurídicas e políticas.

 
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