segunda-feira, 27 de agosto de 2012

CONVITE!!! AmanhĂ£ ocorrerĂ¡ o lançamento do ObservatĂ³rio de Direitos Humanos


“Os trabalhadores do mundo precisam se unir”


“Trabalhadores do mundo, uni-vos!”. Durante anos, esta frase provocou arrepios nos cidadĂ£os norte-americanos por ser um dos mais conhecidos lemas do comunismo internacional. Adotada pela extinta UniĂ£o SoviĂ©tica, a frase faz parte doManifesto Comunista, de Karl Marx e Friederich Engels.
Noventa e seis anos depois da RevoluĂ§Ă£o Socialista que fez nascer a UniĂ£o SoviĂ©tica,  22 anos depois do seu fim, 24 anos apĂ³s a queda do Muro de Berlim, o lema renasce na voz e nas ações de um cidadĂ£o norte-americano. Agora, quem conclama a uniĂ£o dos trabalhadores do mundo inteiro Ă© Bob King, presidente da United Auto Workers (UAW), um dos maiores e mais antigos sindicatos dos Estados Unidos. O UAW nasceu nos anos de 1930 e inicialmente congregava os trabalhadores da montadora Ford. Da luta por melhorias nas condições dos trabalhadores durante a Grande DepressĂ£o, o UAW viu crescer a organizaĂ§Ă£o sindical nos Estados Unidos. E agora, preocupada, assiste ao seu declĂ­nio.
Nos anos de 1950, cerca de 35% dos trabalhadores norte-americanos eram sindicalizados. Agora, esse percentual reduziu-se para apenas 7%. Para Bob King, nĂ£o se trata de um problema localizado, mas de um fenĂ´nemo mundial. A nova realidade da economia globalizada e da possibilidade de colaboraĂ§Ă£o virtual pela rede de computadores em alguns setores precariza as relações de trabalho. As empresas buscam paĂ­ses e regiões do mundo onde possam produzir com menor custo de mĂ£o-de-obra. Aos poucos, começam a inviabilizar a produĂ§Ă£o nos lugares onde a situaĂ§Ă£o Ă© melhor, e pressionam pela piora dessas condições. Para King, Ă© uma disputa predatĂ³ria, onde todos perdem.
AlĂ©m do nĂºmero cada vez menor de trabalhadores sindicalizados, os Estados Unidos sentem outros efeitos da precarizaĂ§Ă£o. Empresas se movimentam mesmo dentro do paĂ­s de regiões onde os trabalhadores tĂªm mais direitos para outras. Ou as empresas se mudam do paĂ­s para outros nos quais sĂ£o menores os direitos do trabalhador. “Segmentos inteiros da indĂºstria de transformaĂ§Ă£o saĂ­ram do paĂ­s”, revela ele. “Quase nĂ£o existem mais confecções no paĂ­s”.
Tal situaĂ§Ă£o se repete pelo mundo. Para o presidente da UAW, somente um processo de conscientizaĂ§Ă£o e uniĂ£o global dos trabalhadores pode fazer frente a isso. Um sistema pelo qual os sindicatos mais fortes e organizados ajudassem no fortalecimento das organizações de trabalho mais fracas, estabelecendo limites mundiais para as condições de trabalho que nĂ£o seriam ultrapassados.
“Para aumentar seus lucros, um grande nĂºmero de empresas transnacionais tem conseguido transferir sua produĂ§Ă£o para lugares onde podem se aproveitar de legislaĂ§Ă£o trabalhista fraca para pagar salĂ¡rios mais baixos, oferecer menos benefĂ­cios e solapar a capacidade dos trabalhadores de formar sindicatos fortes”, critica Bob King. “As empresas de grande porte operam globalmente hĂ¡ algum tempo; Ă© chegada a hora dos sindicatos e movimentos sociais operarem globalmente tambĂ©m”, conclama ele.
No quarto mandato Ă  frente do UAW, King esteve no Brasil em julho, para conversas dentro desse esforço de organizaĂ§Ă£o mundial dos trabalhadores. Na ocasiĂ£o, conversou com o ex-presidente Lula, com representantes dos sindicatos e dos governos. Na sua rĂ¡pida passagem por BrasĂ­lia, foi negociada esta entrevista exclusiva, por e-mail.

PsicĂ³loga acusa Bolsonaro de deturpar sua opiniĂ£o

O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) pode terminar o ano novamente com uma aĂ§Ă£o no Conselho de Ética da CĂ¢mara. Mais do que isso, pode vir a ser investigado pela delegacia de crimes cibernĂ©ticos da PolĂ­cia Federal. Em 15 de maio, psicĂ³logos, pesquisadores e parlamentares reuniram-se em um seminĂ¡rio na CĂ¢mara dos Deputados para discutir o combate Ă  homofobia, intitulado “Respeito e diversidade se aprende na infĂ¢ncia”. Seria mais uma reuniĂ£o, nĂ£o fosse a intervenĂ§Ă£o feita por Bolsonaro nas imagens gravadas na ocasiĂ£o pela TV CĂ¢mara. Os participantes do evento acusam o parlamentar de ter feito uma ediĂ§Ă£o em que, as declarações, fora do contexto, serviriam para o que o parlamentar diz ser uma defesa em prol da legalizaĂ§Ă£o da pedofilia e da homossexualidade.
“Esse vĂ­deo do Bolsonaro Ă© uma infraĂ§Ă£o que viola os meus direitos autorais, porque as minhas teses nĂ£o sĂ£o aquelas. É uma interpretaĂ§Ă£o com base no meu posicionamento pĂºblico. Mas eu nunca autorizei aquele vĂ­deo tal como editado. Eu nĂ£o me reconheço naquelas teses que estĂ£o sendo replicadas em blogs na internet”, afirmou a psicĂ³loga Tatiana Lionço, que foi convidada para falar no evento sobre sexualidade na infĂ¢ncia.
No seminĂ¡rio, Tatiana abordou o tema de forma didĂ¡tica. No entanto, o vĂ­deo publicado pelo parlamentar utiliza uma frase do inĂ­cio da fala da psicĂ³loga, uma outra, no meio da explanaĂ§Ă£o e uma declaraĂ§Ă£o do final da palestra, dando a entender que a psicĂ³loga defende a pedofilia e estimula a homossexualidade entre crianças. “Dessa forma, ele descontextualiza tudo. E o que Ă© mais grave Ă© que agora estĂ£o replicando o vĂ­deo na internet como se eu tivesse defendido uma tese que eu jamais defenderia. Eu nĂ£o reconheço isso que estĂ¡ sendo veiculado”, protestou.
No inĂ­cio do vĂ­deo, Bolsonaro afirma que a reuniĂ£o tratou da volta do chamado “kit-gay” nas escolas. AlĂ©m disso, o parlamentar reclamou da utilizaĂ§Ă£o do kit como estĂ­mulo Ă  homossexualidade na infĂ¢ncia. O material foi elaborado pelo governo com o nome de “kit anti-homofobia”, com o objetivo de combater o bullying homofĂ³bico.
Veja o vĂ­deo “Deus salve as crianças”, com a ediĂ§Ă£o feita por Bolsonaro da fala de Tatiana Lionço
Veja a Ă­ntegra do seminĂ¡rio da CĂ¢mara (a fala de Tatiana começa a partir de 2h30



Falsa apologia ao sexo
Nas gravações, a ediĂ§Ă£o Ă© montada de forma que a palestra de Tatiana parece fazer apologia ao sexo na infĂ¢ncia. Na montagem, a fala de Tatiana aparece da seguinte forma: “Gostaria de iniciar, abordando um tema um tanto quanto controverso, que Ă© o da sexualidade infantil. Que, recorrentemente, no caso da pedofilia dentro da igreja catĂ³lica, Ă© a culpa da criança homossexual. As brincadeiras sexuais infantis tambĂ©m podem envolver os outros. Meninos buscando conhecer os corpos de outros meninos ou meninas, meninas buscando conhecer os prĂ³prios corpos e o de outras meninas e meninos. EntĂ£o, quando meninos e meninas brincam sexualmente com os seus corpos, eles nĂ£o estĂ£o sendo gays ou lĂ©sbicas. NĂ£o Ă© disso que se trata. Que deixem as crianças brincarem em paz. Isso as tornarĂ¡ adultos e adolescentes mais inteligentes, mais perspicazes no enfrentamento e na transformaĂ§Ă£o do mundo que lhes deixamos como herança”.
Na verdade, as frases montadas como se ditas umas atrĂ¡s da outra foram ditas pela psicĂ³loga em momentos diferentes da sua explanaĂ§Ă£o. Na primeira parte de sua palestra, a psicĂ³loga explicava que a sexualidade infantil Ă© um meio pelo qual as crianças começam a conhecer seus prĂ³prios corpos e que isso, segundo a psicĂ³loga, faz parte do processo de construĂ§Ă£o da representaĂ§Ă£o de si mesmos. Ela, inclusive, diz claramente que “afirmar a existĂªncia da sexualidade infantil nĂ£o Ă© o mesmo que afirmar que as crianças visariam o coito genital”. Fica, portanto, evidente que a psicĂ³loga, ao longo da sua explanaĂ§Ă£o, nĂ£o estimula sexo entre as crianças, mas relata apenas os aspectos da natural curiosidade infantil com a sua sexualidade. Tal frase de Tatiana, mostrando claramente que nĂ£o estĂ¡ falando de “coito genital” nĂ£o consta da ediĂ§Ă£o feita por Bolsonaro, que dĂ¡ a impressĂ£o de que as brincadeiras infantis relativas Ă  sexualidade sĂ£o sexo da forma entendida por adultos.
A frase “que deixem as crianças brincarem em paz”, Ă© colocada no trecho editado como se fizesse referĂªncia ao que Tatiana acabara de dizer sobre os aspectos da curiosidade infantil acerca da sexualidade. PorĂ©m, Tatiana sĂ³ menciona tal perĂ­odo cerca de dez minutos depois.
Em seguida, ela afirma que “isso [brincar em paz] as tornarĂ¡ adolescentes e adultos mais inteligentes e potencialmente mais perspicazes no enfrentamento e na transformaĂ§Ă£o do mundo que lhes deixamos como herança”. Bolsonaro, na sua ediĂ§Ă£o, dĂ¡ a entender que Tatiana dizia que crianças homossexuais seriam mais inteligentes que as outras, quando, na verdade, ela referia-se Ă  inteligĂªncia de qualquer criança.
O deputado incluiu tambĂ©m no vĂ­deo, legendas que questionam as afirmações da psicĂ³loga. “Fica parecendo que eu estou estimulando o sexo na infĂ¢ncia, como se fosse uma coisa banal. E nĂ£o foi isso o que eu disse. Nunca falei que os homossexuais sĂ£o mais inteligentes. Naquele trecho eu estava falando de todas as crianças. [...] Eu construĂ­ uma linha de raciocĂ­nio totalmente diferente. Se o deputado e a sua assessoria tĂªm dificuldades intelectuais de acompanhar meu argumento, o Ă´nus disso nĂ£o pode ser meu”, reclamou.
RepercussĂ£o
Tatiana afirma que o vĂ­deo postado inicialmente pelo deputado tem gerado uma sequĂªncia de replicações em blogs, muitas delas acompanhadas de discursos difamatĂ³rios na internet. “Eu estou pedindo aos prĂ³prios blogs para retirarem as matĂ©rias e estou informando que acionarei a Justiça. Estou salvando as pĂ¡ginas e assim tenho as provas. Estou fazendo de tudo para desmascarar essa manobra perversa, de um deputado federal para caluniar pessoas competentes, sĂ©rias, que lutam pelos direitos humanos no paĂ­s”, disse.
A psicĂ³loga informou que jĂ¡ entrou em contato com a PolĂ­cia Federal pelo canal de denĂºncia contra crimes cibernĂ©ticos, e tambĂ©m relatou o fato Ă  Procuradoria da RepĂºblica no Distrito Federal. Tatiana afirma que irĂ¡ processar o deputado, por meio de uma aĂ§Ă£o judicial junto Ă  Defensoria PĂºblica, pelo crime de uso indevido da imagem e por violaĂ§Ă£o de direitos autorais. “Eu procurei todos esses Ă³rgĂ£os e tambĂ©m a ouvidoria da CĂ¢mara dos Deputados para que esse parlamentar, que Ă© pago com dinheiro pĂºblico, responda pelo que fez”, disse.
Segundo Tatiana, a ouvidoria da CĂ¢mara respondeu que solicitou Ă  TV CĂ¢mara um posicionamento sobre o ocorrido e que, caso seja comprovada a ediĂ§Ă£o de mĂ¡-fĂ©, seria oficializada a denĂºncia junto Ă  Corregedoria da Casa. Caso o Ă³rgĂ£o aceite a denĂºncia e as provas, o caso pode ser levado ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da CĂ¢mara. “Eu espero que isso aconteça sim. Ele usou a minha imagem sem o meu consentimento, e tentou construir um discurso que nĂ£o Ă© meu. Aquilo que Ă© apresentado no vĂ­deo nĂ£o sĂ£o as minhas teses”, ressalta Tatiana. (CF)

Crise econĂ´mica foi uma bĂªnĂ§Ă£o para o crime organizado, diz autor do livro "Gomorra"


O escritor e jornalista italiano Roberto Saviano, autor dolivro-reportagem Gomorra, afirma qua a atual crise global foi uma “benĂ§Ă£o para as organizações criminosas".

Em artigo ao jornal The New York Times na ediĂ§Ă£o deste domingo (26/08), Saviano afirma que a crise econĂ´mica foi determinada tambĂ©m pelos capitais ilegais. "Uma sĂ©rie recente de escĂ¢ndalos financeiros revelaram a existĂªncia de estreitas conexões entre os maiores institutos bancĂ¡rios mundiais e esse mundo aparentemente subterrĂ¢neo feito de criminosos, traficantes de drogas e de armas".
"Os maiores bancos norte-americanos nos Ăºltimos anos foram cada vez com maior frequĂªncia avalistas ocultos dos cartĂ©is sul-americanos, lavando dinheiro proveniente do narcotrĂ¡fico, enquanto na outra parte do globo as organizações comiam literalmente a GrĂ©cia e a Espanha", afirma o autor de "Gamorra".
Para o jornalista, esse tipo de relaĂ§Ă£o entre bancos e gĂ¢ngsters estĂ¡ longe de ser um fato novo, “mas o que impressiona Ă© que eles alcançaram os nĂ­veis mais altos da finança global”.

Ele lembra o exemplo da companhia norte-americana Wachovia, prestadora de uma sĂ©rie de serviços financeiros e que, desde 2008, foi adquirida pela Wells Fargo.  Em 2010, a empresa admitiu ter ajudado a financiar a guerra do narcotrĂ¡fico mexicano por nĂ£o ter identificado a origem ilĂ­cita de transações que osenvolviam. A companhia aceitou pagar 160milhões de dĂ³lares em multas por tolerar o esquema de lavagem de dinheiro entre os anos de 2004 a 2007. (OM)

Ex-soldados israelenses revelam rotina de humilhaĂ§Ă£o e violĂªncia contra crianças palestinas

Durante uma madrugada em 2009, todas as casas da cidade palestina Salfit, localizada na CisjordĂ¢nia, foram invadidas por soldados israelenses. A ordem do Comando Central era prender todas as pessoas que tivessem de 15 a 50 anos e levĂ¡-las para uma escola que havia se tornado provisoriamente um centro de detenĂ§Ă£o. Isso porque a AgĂªncia de Segurança de Israel, que realiza o serviço de segurança interna, queria coletar informações sobre as pedras que eram jogadas contra jipes militares nas estradas e ruas ao redor da cidade.


Os militares colocaram vendas e algemas de plĂ¡stico, muitas vezes apertando-as, nos jovens e adultos. Por sete horas, estes palestinos permaneceram sentados sem poder nem se mexer, sem acesso Ă  Ă¡gua e comida, em um sol escaldante. Eles nĂ£o sabiam por que estavam lĂ¡ e nem o que seria feito pelos militares -- um dos jovens urinou nas calças. Muitos ficaram com as mĂ£os roxas pela falta de circulaĂ§Ă£o sanguĂ­nea e outros com os braços dormentes por conta das algemas. Um dos garotos, de apenas 15 anos, pediu para ir ao banheiro e, antes de ser levado por um soldado, foi espancado ainda no chĂ£o.

Essa Ă© apenas uma das muitas histĂ³rias publicadas neste domingo (26/08) pela Breaking the Silence (Quebrando o SilĂªncio em traduĂ§Ă£o livre), uma organizaĂ§Ă£o de antigos oficiais do ExĂ©rcito de Israel dedicada Ă  divulgaĂ§Ă£o das ações militares nos territĂ³rios palestinos ocupados. Mais de 30 ex-soldados revelaram como trataram crianças e jovens palestinos durante as operações militares e prisões de 2005 a 2011, revelando um padrĂ£o de abuso.



O documento estĂ¡ repleto de descrições de intimidações, humilhações, violĂªncia verbal e fĂ­sica e de prisões arbitrĂ¡rias por parte dos militares israelenses em circunstĂ¢ncias cotidianas na CisjordĂ¢nia e na Faixa de Gaza. Os casos tratam de jovens e crianças que atiraram pedras ou outros objetos contra jipes militares, que participaram de protestos ou que simplesmente sorriram para um soldado, deixando-o irritado. NĂ£o faltam histĂ³rias tambĂ©m de palestinos presos e agredidos arbitrariamente: “O garoto nĂ£o foi mal-educado e nem tinha feito nada para irritar. Ele era Ă¡rabe”, se justifica um antigo sargento do ExĂ©rcito de Israel no relatĂ³rio.
O argumento central da maioria das histĂ³rias Ă© que, com as prisões e agressões, esses jovens aprenderiam que nĂ£o podem jogar pedras contra os militares nem se manifestar de alguma forma entendida pelos israelenses como violenta. “Muitos dizem que os palestinos devem ser espancados, porque esta Ă© a Ăºnica forma que podem aprender”, conta um antigo militar nĂ£o identificado.

Apesar de alguns ex-soldados repetirem essa justificativa, a maioria admite que as ações nĂ£o tiveram resultados. Pedras continuaram a ser atiradas, pneus queimados e protestos realizados, mas as ações militares permaneceram as mesmas. “Muitas vezes me senti muito ambivalente, incerta do que estava fazendo e em que lado eu estava nisso tudo”, diz uma sargenta.
Arrependimento

A imagem de crianças espancadas, feridas por tiros de bala de borracha e de pĂ³lvora, humilhadas e apavoradas marcou muitos dos militares envolvidos nas ações e hoje, eles decidiram relatar a indiferença adquirida nos corpos do ExĂ©rcito. “Ele cagou nas calças, eu escutei, presenciei a humilhaĂ§Ă£o. Eu tambĂ©m senti o cheiro. Mas, eu nĂ£o me importava”, lembra um ex-sargento da detenĂ§Ă£o de uma criança.
“O que nĂ³s fazĂ­amos nĂ£o era nada em comparaĂ§Ă£o com o que eles faziam”, conta um militar se referindo ao batalhĂ£o de patrulha das fronteiras. “Eles nĂ£o davam a mĂ­nima. Saiam quebrando o joelho das pessoas como se nĂ£o fosse nada. Sem piedade”, lembra, indignado.

"VocĂª nunca sabe os seus nomes, vocĂª nunca fala com eles, eles sempre choram, cagam em suas prĂ³prias calças ... HĂ¡ aqueles momentos incĂ´modos, quando vocĂª estĂ¡ em uma missĂ£o de prisĂ£o, e nĂ£o hĂ¡ espaço na delegacia de polĂ­cia, entĂ£o vocĂª pega a criança de volta, coloca uma venda nela, joga ela numa sala e espera a polĂ­cia para vir buscĂ¡-lo na parte da manhĂ£. Ele fica ali como um cachorro", descreve um ex-militar.
O documento abrange tambĂ©m casos em que os prĂ³prios militares provocavam palestinos para poderem revidar. Eles estariam "entediados".O ex-primeiro sargento de um batalhĂ£o em Hebron revela que seu grupo jogava granadas dentro de mesquitas durante cerimĂ´nias e que um comandante impedia as pessoas de saĂ­rem da reza por horas atĂ© alguĂ©m jogar um coquetel molotov ou atirar pedras. Ele diz que usavam as crianças como escudos humanos e que apontavam armas em sua cabeça para os deixarem apavorados. “Foi somente depois que comecei a pensar nessas coisas, nĂ³s perdemos todo o senso de compaixĂ£o”, conclui.
Ă“dio

Apesar de estes soldados possuĂ­rem remorso e arrependimento, eles contam que muitos de seus companheiros e eles prĂ³prios odiavam os Ă¡rabes e eram convictos do que faziam. “Eles eram vermes e em algum ponto, eu lembro que eu os odiava, odiava eles [palestinos]. Eu era um racista, estava tĂ£o zangado com eles pela sua sujeira, sua misĂ©ria, a porra toda”, afirma um sargento de Hebron.

O relatĂ³rio revela que os militares tinham que seguir regras de procedimento em suas ações, mas que na experiĂªncia cotidiana isso nĂ£o funcionava. Para prender um palestino, tinham que vendĂ¡-lo e algemĂ¡-lo; para conter uma manifestaĂ§Ă£o ou impedir um palestino de fugir, deveriam atirar contra suas pernas a uma distĂ¢ncia de 20 metros; para bater em um palestino com o cassetete, nĂ£o podiam atingir a sua cabeça.
“Nos disseram para nĂ£o usar o cassetete na cabeça das pessoas. Eu nĂ£o lembro onde disseram que era para bater, mas assim que a pessoa estĂ¡ no chĂ£o e vocĂª estĂ¡ a espancando com um cassetete, Ă© difĂ­cil de distinguir”, diz um ex-sargento de Ramallah, na CisjordĂ¢nia. Outro sargento lembra de um protesto: “O cara do meu lado atirou no chĂ£o para fazĂª-los correr e de repente, ele disse ‘Oops!’. Eu olho e vejo uma criança sangrando no chĂ£o. Quatro palestinos foram mortos naquela noite. NinguĂ©m falou conosco sobre isso. NĂ£o houve nenhuma investigaĂ§Ă£o”.

As declarações foram reunidas para mostrar a realidade do cotidiano dos soldados israelenses em relaĂ§Ă£o ao povo palestino. “Lamentavelmente esta Ă© a consequĂªncia moral de tantos anos de ocupaĂ§Ă£o dos territĂ³rios palestinos”, explica Yehud Shaul da Breaking the Silence. (OM)


Para acessar o relatĂ³rio: clique aqui.
 




 
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