domingo, 15 de janeiro de 2012

Lobby de juízes impediu CNJ de pôr fim à farra das verbas milionárias

O lobby de associações de magistrados e a pressão dos tribunais puseram abaixo iniciativa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de editar resolução para pôr um fim na farra de desembolsos milionários à toga. Em 2011, "pelo menos duas ou três vezes", sem êxito, o então conselheiro Ives Gandra da Silva Martins Filho levou a plenário uma proposta para disciplinar a liberação de pagamentos de verbas acumuladas.

"Eu levei a matéria a plenário e pediram para adiar, eram pedidos de associações de magistrados e de Tribunais de Justiça, alguns presidentes de tribunais me procuraram colocando suas preocupações", relata Gandra Filho.

Aos 52 anos, ele é ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST) desde 1999. Por dois anos exerceu a função de conselheiro do CNJ, entre julho de 2009 e junho de 2011.

Supercontracheques são alvo de uma frente de investigação sem precedentes do CNJ.

Aqui e ali magistrados se rebelam à inspeção. Alegam que os valores lhes são devidos, por férias não desfrutadas, vencimentos pagos com atraso e outras situações.

Em São Paulo descobriu-se a "turma do milhão". São desembargadores que receberam quantias superiores R$ 1 milhão. (AE)


: Balança brasileira de manufaturados tem 'rombo' recorde em 2011

Enquanto as exportações do agronegócio brasileiro se destacam, o mesmo não acontece com as vendas de manufaturados, ou seja, produtos industrializados. Segundo números do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), a balança comercial dos manufaturados registrou um défcit (importações maiores do que exportações) recorde de US$ 92,46 bilhões em 2011.

Em todo ano passado, as exportações de manufaturados somaram US$ 92,29 bilhões (36,05% do total, o menor percentual desde 1977), ao mesmo tempo em que as importações destes produtos totalizaram US$ 184,75 bilhões em 2011, de acordo com dados oficiais.

Sobre o ano de 2010, quando o déficit da balança comercial dos produtos manufaturados somou US$ 71,21 bilhões, houve um crescimento de cerca de 30% no resultado negativo, ou US$ 21,25 bilhões. No ano retrasado, as exportações de manufaturados somaram US$ 79,56 bilhões, e as compras do exterior desta categoria de produtos totalizaram US$ 150,77 bilhões.

O último ano em que o Brasil registrou superávit na balança de manufaturados foi em 2006. Naquele ano, as exportações de manufaturados superaram as importações destes produtos em US$ 5 bilhões. Em 2007, 2008 e 2009, houve déficit nesta categoria de produtos de, respectivamente, US$ 9,23 bilhões, US$ 39,8 bilhões e US$ 36 bilhões.

Principais produtos Nos produtos manufaturados, os dados do governo mostram que o Brasil comprou do exterior, principalmente, automóveis, no valor de US$ 11,89 bilhões em 2011, com crescimento de 39% sobre o ano anterior (US$ 8,54 bilhões).

Em segundo lugar no "ranking" de importações de manufaturados, aparecem os óleos combustíveis, com US$ 7,88 bilhões em compras, uma alta de 51% sobre 2010 (US$ 5,2 bilhões). Logo em seguida, vêm as partes e peças de automóveis, com importações de US$ 6,31 bilhões, com crescimento de 20,7% sobre o ano retrasado.

Do lado das exportações, o principal produto vendido pelo Brasil ao exterior, ainda na categoria de produtos manufaturados, foram os automóveis de passageiros, no valor de US$ 4,37 bilhões, com queda de 1% sobre 2010 (US$ 4,41 bilhões).

As partes e peças de automóveis vêm na sequência, com vendas externas de US$ 3,98 bilhões em 2011 - alta de 16,3% - seguidas pelos aviões (exportações de US$ 3,92 bilhões em 2011).

Balança dos produtos básicos No caso da balança comercial dos produtos básicos (insumos), ainda de acordo com números do Ministério do Desenvolvimento, houve um superávit (exportações menos importações) de US$ 90,35 bilhões em 2011, ano no qual as vendas de básicos somaram US$ 122,45 bilhões e as compras do exterior destes produtos totalizaram US$ 32,1 bilhões.

Com isso, o superávit da balança comercial de produtos básicos, como grãos, petróleo e minério de ferro, por exemplo, registrou crescimento de 36,6% sobre o ano de 2010 - quando o saldo positivo somou US$ 66,1 bilhões. No ano retrasado, as exportações de básicos somaram US$ 90 bilhões, e as importações totalizaram US$ 23,89 bilhões. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento.

Para Fiesp, Brasil exporta empregos Para o economista da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Giannetti da Fonseca, do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior, os números do governo mostram que não há dúvidas de que o Brasil está exportando empregos.

"A grande geração de emprego está nas manufaturas. Nada contra a exportação de básicos. Não é um contra o outro. É um e outro. A exportação de 'commodities' existe e é importante para a balança comercial, mas o que não podemos é negligenciar o que está ocorrendo em termos de desindustrialização no Brasil, que é substituição de produção local por importados. O déficit de manufaturas é o termômetro que mede a questão da desindustrialização", disse Giannetti.

Para o economista, o governo teria de conceder mais incentivos para a indústria brasileira. "Esperamos um pouco mais de agressividade do BC e da Fazenda com a questão do câmbio. Já melhorou, mas não está em um nível que deveria. Deveria estara cima de R$ 2 por dólar. Também tem questões tributárias, de créditos de exportação acumulados, e impostos sobre a energia elétrica e combustíveis. E há investimentos baixíssimos em logística, como ferrovias, hidrovias e dutovias", declarou. Para Giannetti, o déficit da balança de manufaturados deve superar a barreira dos US$ 100 bilhões em 2012. De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Empresas de Comércio Exterior (Abece), Ivan Ramalho, ex-secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, o crescimento do déficit da balança comercial de manufaturados, em 2011, preocupa. Entretanto, em sua visão, o Brasil não estaria exportando empregos, pois as compras do exterior, segundo ele, se concentram em 'insumos industriais'. Ele credita este aumento do déficit dos manufaturados em 2011 à queda do dólar - que gerou, em sua visão, aumento de "insumos industriais" importados.

"O câmbio pode levar a indústria a reduzir a nacionalização, gerando empregos lá fora. Em função da sobrevalorização do câmbio [dólar baixo, que vigorou durante a maior parte do ano passado, até a piora da crise financeira em agosto de 2011], faz com que as indústria reduza os componentes nacionais. Mas com a alta recente do dólar, e o programa Brasil Maior, a tendência é estabilizar o quadro atual, ou passar a ter um índice de nacionalização maior em alguns setores. Estou otimista que o déficit [de manufaturados] seja menor neste ano", disse Ramalho. (G1)


TRT do Rio deve dar explicações nesta segunda sobre movimentação atípica de R$ 283 milhões feita por servidor

A presidente do TRT, Maria de Lourdes Sallaberry

São esperadas para esta segunda-feira (16) explicações sobre movimentações financeiras atípicas de R$ 282,9 milhões por um magistrado ou servidor do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) do Rio de Janeiro. O pedido de esclarecimento foi apresentado pela seccional da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio (OAB-RJ), na última sexta-feira (13).

"Diante das informações publicadas na imprensa sobre o relatório do Coaf [Conselho de Controle de Atividades Financeiras], requeremos que o tribunal informe quem é a pessoa e qual a proveniência desses recursos", disse o presidente da OAB-RJ, Wadih Damous. "Entendemos que o tribunal tem como conseguir esses dados, caso não os tenha", completou.

Dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão do Ministério da Fazenda, entregues à Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), apontam que apenas uma pessoa do TRT movimentou a quantia de R$ 282,9 milhões, em 2002. O valor equivale a 94,3% das movimentações fora do normal registradas no ano (R$ 300,2 milhões), no órgão.

A expectativa da OAB-RJ é que a presidente do TRT, Maria de Lourdes Sallaberry, dê explicações sobre os números no início da semana. "Ela se encontrava de férias e retorna nesta segunda. Então, pelo o que eu soube, [ela] se manifestará na segunda-feira", revelou Damous.

No caso do TRT do Rio, se for comprovada movimentação irregular ou ilícita de servidor ou de algum juiz, a OAB-RJ espera que o Ministério Público Federal abra investigações. No entanto, para Damous, o mais importante é que magistrados "não resistam a um sistema de transparência".

"Os indícios [de irregularidades] são muitos. Se constituem crime ou conduta irregular é o que queremos saber. Os juízes, a associação dos magistrados, em vez de clamar tanto por sigilo, deveriam clamar por publicidade. Como servidores, têm a obrigação da transparência, mostrar que não têm nada a temer. Mostrar que sua movimentação, mesmo atípica, foi regular", declarou.

São consideradas transações atípicas, pelo Coaf, operações financeiras que fogem dos padrões bancários e do sistema de prevenção à lavagem de dinheiro. Entre 2000 e 2010, foram identificadas R$ 855,7 milhões de operações do tipo, feitas por juízes e servidores do Judiciário.

A corregedoria do Conselho Nacional de Justiça, que recebeu os dados sobre as movimentações irregulares, encaminhou as informações ao Supremo Tribunal Federal (STF), na última sexta-feira (13). (AB)

Estudantes narram cenas de terror na Custódia; Justiça nega acusações

Seis dos oito manifestantes presos durante as manifestações contra o aumento da passagem de ônibus compareceram à entrevista coletiva no Sindicato dos Correios. Eles foram soltos ontem, após passarem dois dias na Casa de Custódia e Penitenciária Feminina. Os manifestantes relataram as agressões sofridas dentro dos presídios e afirmaram que estão traumatizados e que precisam de psicólogos.

Fotos: Evelin Santos/Cidadeverde.com

Compareceram à coletiva: Helena Sá, 23 anos, Kevin Nogueira, 20 anos, o professor Sá Batista, Socorro Santana funcionária pública, o estudante de inglês da Uespi, Antônio Wilson Freire e Álamo Sousa, 19 anos, estudante de Direito da Faculdade Santo Agostinho.

Relatos das horas no presídio

Segundo os estudantes, foram proferidas por policiais militares e agentes penitenciários frases de efeitos ameaçadoras, como: “bem-vindos ao inferno” e “se olhar pra mim apanha”.


“Falaram para gente, que lá era tudo 'sim senhor' ou 'não senhor'. Tive minha calça jeans rasgada, porque deveria estar usando bermudas. Fomos colocados no pavilhão G, junto com os presos mais perigosos, separados apenas por celas. Fomos algemados nas mãos e nos pés, tratados como bichos. Dormimos no beliche de cimento, sem colchão, na pedra. Não tinha água nem sabão, nem café, quem nos deu isso foram os outros presos. O chuveiro era só um buraco na parede, que caia água durante dez minutos por duas vezes. O sanitário era um buraco no chão, rodeado por cerâmica”, contou Antônio Wilson.

Os manifestantes também relataram casos de agressão física. "Durante a vistoria, alguns PMs encapuzados entraram na cela e nos agrediram. Eu mesmo levei um chute nas costas. Um outro estudante, levou um tapa na cara. As agressões foram muitas, tivemos nossas roupas rasgadas", narrou Álamo.


Antônio Wilson acrescentou que chegou a passar mal pela falta de condições dentro do presídio. "Resolveram depois trocar a gente de pavilhão. Fomos para um pavilhão de presos que já estavam saindo. No caminho passei mal, estava muito quente, meus pés estavam machucados por causa das algemas, inchados. Fomos mais respeitados pelos presos que pela polícia".

Os estudantes caracterizaram as horas passadas no presídio como algo "muito bruto e violento" e se dizem "traumatizados" com os últimos acontecimentos. "Precisamos de um psicólogo", afirmaram.

Momento das prisões

Todos os manifestantes presentes na coletiva afirmaram que não deram motivos para serem presos. Um deles, Antônio Wilson, garantiu que não havia chegado a participar dos protestos. "Eu não participei nenhum dia, mas a Frei Serafim era rota obrigatória para minha volta para casa depois da aula. No dia que fui preso, tinha avistado um homem com o olho sangrando e fui ajudar. Depois comecei a filmar e veio um PM querendo me impedir. Já foi logo me levando preso, sem perguntar nada".

Já Álamo contou que participou do movimento, mas disse que já estava voltando para casa quando foi abordado pela polícia. "Eu já estava no mototáxi, indo para casa. Aí chegou um PM, me deitou no asfalto e me revistou. Ele disse que já tinha prova contra mim". O estudante acrescentou que jamais ajudou em depredações ou agressões.


Helena Sá, filha da professora Lourdes Melo, contou que no momento de sua prisão, estava sentada na Frei Serafim. "Eu estava lá, com uma vela na mão. Não estava agredindo ninguém, nem nada do tipo", explicou.

Faltas

Dois dos manifestantes, por temerem represália, foram orientados por seus advogados a não comparecerem, já que o alvará de soltura proíbe a participação em manifestação. Os advogados acreditam que possam interpretar a coletiva como uma manifestação. A informação foi dada pela organização da coletiva. A coletiva estava prevista para as 11h, mas começou pouco mais de meio-dia.

Persistência

A manifestante Socorro Santana garantiu que nenhum dos presentes na coletiva vai deixar de participar do movimento estudantil, apesar da condição imposta pela justiça para a liberação dos presos. "Eu não tenho medo, vou até o fim. O movimento não vai se intimidar", destacou a funcionária pública.

De real só temos o momento ...


‎"Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro e depois perdem o dinheiro para a recuperar. Por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente, de tal forma que acabam por nem viver no presente nem no futuro. Vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se não tivessem vivido..."

(Kung-Fu-Tzu)

Comissão da Câmara aprova prazo para professor de educação básica fazer curso superior

A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) aprovou na terça-feira (13) proposta que dá prazo de seis anos para os professores da educação básica com a formação em nível médio, na modalidade normal, para a conclusão de curso de licenciatura de graduação plena. Esse prazo, contado da posse em cargo docente da rede pública de ensino, não se aplicará a professores com formação em ensino médio de modalidade normal que trabalhem em creches, na pré-escola e nos anos iniciais do ensino fundamental. A matéria, que tramita em regime de prioridade, agora será examinada pelo plenário.

A proposta é um substitutivo do Senado ao Projeto de Lei 5395/09, do Executivo, que já havia sido aprovado pela Câmara e foi alterado pelos senadores. O substitutivo foi aprovado pela comissão com alterações.

O relator, deputado José Mentor (PT-SP), apresentou parecer pela constitucionalidade, juridicidade e técnica legislativa do substitutivo do Senado e das subemendas da Comissão de Educação e Cultura.

Sem punição

A proposta previa a inabilitação dos professores que não cumprissem o prazo. Entretanto, a comissão de Educação retirou a punição. Segundo a relatora naquela comissão, deputada Fátima Bezerra (PT-RN), não há como inabilitar professores aprovados em concurso e trabalhando em etapa adequada para sua formação. Ou seja, o prazo permanece, mas não há punição se não for cumprido.

Conforme a proposta, será garantida a formação continuada a esses professores, no local de trabalho ou em instituições de educação básica e superior, incluindo cursos de educação profissional, cursos superiores de graduação plena ou tecnológicos e de pós-graduação.

A proposta aprovada prevê também que o Ministério da Educação estabelecerá nota mínima no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como pré-requisito para o ingresso em curso de formação de professores.

Incentivo

União, estados e municípios deverão, de acordo com o texto, adotar mecanismos para facilitar o acesso e a permanência dos professores da educação básica pública nos cursos superiores. Um dos incentivos será a criação de programa institucional de bolsa de iniciação à docência a estudantes matriculados em cursos de licenciatura e graduação plena nas instituições de educação superior. (Uol)

"Pensava no sofrimento da família", diz delegado sobre morte de refém

Pela primeira vez desde que se envolveu na morte do refém Lírio Persch, gaúcho que morava no Paraná, o delegado Leonel Fagundes Carivali, 41 anos, vem a público para falar sobre a participação em uma série de acontecimentos que tornaram o 21 de dezembro de 2011 uma data marcada por trapalhadas policiais.

À reportagem de Zero Hora, ele relatou as horas que antecederam a morte de Persch, em Gravataí, e alegou ter agido em legítima defesa.

Zero Hora – Como começou o seu 21 de dezembro?

Leonel Fagundes Carivali –
Por volta das 2h, fui acordado por um telefonema do 17º BPM informando que o sargento tinha sido morto por pessoas que se diziam policiais do Paraná e que estavam sendo apresentados na delegacia de plantão. Perguntaram se eu sabia da presença desse policiais na nossa área. Respondi que não e que estava indo para a delegacia.

ZH – Como estava o ambiente?

Carivali –
Muito tenso devido às particularidades do episódio. Eu fui até o local da morte para conhecer o cenário. Por volta das 6h, voltei para casa. Não consegui descansar porque o telefone não parou de tocar. Fui para a delegacia regional esperar o chefe de Polícia. Passei toda a manhã envolvido com a ocorrência. No início da tarde, eu recebi uma ligação de que estava circulando na área uma equipe de policiais do Paraná, estava em busca dos quadrilheiros e pedia nossa ajuda. Marcamos um encontro na cidade.

ZH –O que aconteceu depois que vocês se encontraram?

Carivali –
Rodamos em busca de três veículos que estavam sendo rastreados por satélites e usados pelos quadrilheiros. Depois de uma hora, estávamos voltando para a delegacia regional quando fomos parados pela BM. Eu estava acompanhado de outro delegado. Fomos abordados pelos brigadianos, e o outro veículo, com policiais paranaenses, seguiu. Depois de identificado, desci do carro e pedi auxílio para os brigadianos na busca. Naquele exato momento, uma porta de garagem se abre bem na minha frente. Um Corsa, com insulfilme nos vidros, começa a sair de ré. Vi que era um dos veículos suspeitos. Tirei a arma do coldre e gritei que era polícia.

ZH – Atirou naquele instante?

Carivali –
Não. O Corsa voltou para dentro da garagem e, pela porta direita, saiu um homem com uma arma na mão. Gritei “arma”, procedimento da rotina policial. O homem girou para ficar na posição de tiro e disparou. Eu atirei nele.

ZH – Quantos disparos fez?

Carivali –
Acredito que, pelo menos, tenha atirando duas vezes, procedimento padrão da polícia. Infelizmente, errei. (A perícia apurou que foram três tiros, que acertaram o lado direito traseiro do veículo: no porta-malas, no para-choque e no vidro, disparo que acertou a vítima nas costas).

ZH – O senhor afirmou que reconheceu o Corsa. Era do seu conhecimento que o veículo estava envolvido em situação com reféns. Portanto, havia a possibilidade de eles estarem ali. Não seria mais prudente ter agido de uma outra maneira?

Carivali –
Não sabíamos que estávamos na frente do cativeiro. Insisto, os tiros não foram disparos no veículo, mas no agressor com a arma.

ZH – O que aconteceu depois?

Carivali –
Eles acionaram o controle para fechar o portão. Cercamos o prédio e, depois de algum tempo, eles saíram com as mãos para cima e se deitaram no chão. Foram identificados pelos policiais do Paraná. Um alemãozinho disse que era refém e que o amigo estava ferido. Vimos que estava morto e não mexemos no corpo.

ZH – Foi ali que percebeu que havia matado um refém?

Carivali –
Eu não era o único policial. Mas desde de o início assumi que havia feito os disparos.

ZH – Depois, o que aconteceu?

Carivali –
Liguei para minha mulher e falei o que havia acontecido. Pensava naquela hora no sofrimento da família do refém morto.

Para ONGs, Dilma freou debate sobre direitos humanos em 2011

O primeiro ano do governo de Dilma Rousseff foi visto pelas instituições da área de direitos humanos como um período de poucos avanços. O Programa Nacional de Direitos Humanos 3 (PNDH-3) – aprovado em 2009, ainda durante o governo Lula –, que deveria servir como principal diretriz da administração petista, não andou na velocidade que se imaginava. Neste ano, haverá pressão para que Dilma e a ministra da Secreta­­­ria dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, aumentem o ritmo de trabalho.

A primeira e mais urgente tarefa será estabelecer um plano de trabalho. O PNDH-3 contém 519 ações que deveriam ser desenvolvidas. No início de fevereiro, a Se­­­cretaria de Direitos Humanos deve fazer reuniões com instituições do setor para definir quais serão prioritárias no atual mandato. Assim, as entidades acreditam que será mais fácil até mesmo cobrar o governo para ver se as ações estão ou não sendo executadas.

“A impressão que temos foi que a troca de governos provocou uma freada na área dos direitos humanos”, afirma o advogado Darci Frigo, fundador da organização não governamental (ONG) Terra de Direitos. “Os primeiros decretos relativos à reforma agrária do atual governo só saíram depois do Natal”, afirma.

Belo Monte

O avanço da reforma agrária no país é apenas um dos elementos-chave do PNDH-3 que não foram cumpridos no primeiro ano do governo Dilma. Em outros setores, as instituições afirmam que não apenas houve estagnação, e dizem que na verdade houve retrocesso. “É o caso da usina de Belo Monte, no Pará. Os direitos dos indígenas não foram respeitados”, afirma Frigo. A hidrelétrica, que será a terceira maior do mundo, desrespeita outra ação do PNDH-3: segundo o programa, as obras de infraestrutura deveriam sempre respeitar os indígenas. Nesse caso, no entanto, áreas do Xingu serão alagadas, causando problemas para a população local.

Julia Kweitel, diretora de programas da ONG Conectas, concorda com a avaliação de que 2011 foi um ano de espera. “Nem mesmo as negociações com a sociedade civil mantiveram o mesmo ritmo. Só fomos chamados para discutir novamente em dezembro”, conta.

Segundo Julia, houve ações importantes, como o envio de um projeto de lei que cria uma comissão de prevenção à tortura. “Essa comissão poderá entrar em qualquer instituição penal a qualquer momento para fazer vistorias”, diz. Mas mesmo aí há problemas. “O projeto, do jeito que está, não garante a independência dos integrantes da comissão. Agora estamos tentando fazer com que o Congresso mude a proposta”, afirma.

Para o professor Rui Dissenha, responsável pelas cadeiras de Direitos Humanos e Direito Penal na Universidade Positivo, criar um plano de trabalho é fundamental caso o governo queira que a sociedade veja o PNDH como algo mais do que um aglomerado de boas intenções. “Até agora, a impressão que fica é que se trata de uma carta de intenções com significado meramente político. Não adianta ter diretrizes se elas não forem postas em prática”, afirma.

A reportagem procurou a Secretaria de Direitos Humanos durante a semana, mas a resposta da assessoria de imprensa foi de que a ministra Maria do Rosário está em férias e que nenhuma outra pessoa no ministério se pronunciaria sobre o tema. A direção nacional do PT indicou o secretário-geral do partido, Elói Pietá, para responder às perguntas, mas ele preferiu não se manifestar. (GP)

Haraton se foi! Sem o olhar dele Curitiba fica culturalmente mais pobre. Vai em paz meu amigo!!!


Só hoje, quase um mês depois, fiquei sabendo que o amigo Haraton Maravalhas nos deixou. Figura impar que nunca abriu mão de suas opiniões por mais duras que fossem as suas posições. Ele não tergiversava e não vacilava na defesa do que acreditava ser justo e honesto, doe-se a quem doe-se. O seu discurso era racional, claro e translúcido como o pensar de uma criança. Por ser assim tinha poucos amigos, mas verdadeiros e sinceros.

Haraton nos deixa um grande legado, tanto ético como artístico. O acervo deste fotógrafo, aproximadamente 10 mil negativos, retratam grande parte da história do estado. Este tem de ser preservado, e espero que o meio cultural institucional trate este melhor do que o tratou no fim de sua vida. Depois de uma longa jornada de vida enquanto fotógrafo e servidor público faleceu passando necessidades, pois a sua aposentadoria não cobria as suas necessidades mais básicas, não dava para pagar um aluguel em uma moradia descente, se alimentar e cuidar de sua saúde precária.

Autodidata, ele dominou a arte da foto­­gra­­fia, ofício que amava, por seus próprios passos, e ela era a sua vida. Em sua carreira profissional trabalhou para o Canal 12 (RPC TV), como para os jornais O Es­­tado do Paraná e Tribuna do Paraná, como também para a Secretária Estadual da Cultura. Sua obra tem grande importância para o acervo da Casa da Memória, da Fundação Cultural de Curitiba, já que deixou um patrimônio de aproximadamente .

Aos 66 anos morreu, em casa e só, de hemorragia gástrica. A seu pedido não ocorreu cerimônia fúnebre. Ele deixou seis filhos.

Parte do legado de Haraton:



 
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