domingo, 15 de janeiro de 2012

"Pensava no sofrimento da família", diz delegado sobre morte de refém

Pela primeira vez desde que se envolveu na morte do refém Lírio Persch, gaúcho que morava no Paraná, o delegado Leonel Fagundes Carivali, 41 anos, vem a público para falar sobre a participação em uma série de acontecimentos que tornaram o 21 de dezembro de 2011 uma data marcada por trapalhadas policiais.

À reportagem de Zero Hora, ele relatou as horas que antecederam a morte de Persch, em Gravataí, e alegou ter agido em legítima defesa.

Zero Hora – Como começou o seu 21 de dezembro?

Leonel Fagundes Carivali –
Por volta das 2h, fui acordado por um telefonema do 17º BPM informando que o sargento tinha sido morto por pessoas que se diziam policiais do Paraná e que estavam sendo apresentados na delegacia de plantão. Perguntaram se eu sabia da presença desse policiais na nossa área. Respondi que não e que estava indo para a delegacia.

ZH – Como estava o ambiente?

Carivali –
Muito tenso devido às particularidades do episódio. Eu fui até o local da morte para conhecer o cenário. Por volta das 6h, voltei para casa. Não consegui descansar porque o telefone não parou de tocar. Fui para a delegacia regional esperar o chefe de Polícia. Passei toda a manhã envolvido com a ocorrência. No início da tarde, eu recebi uma ligação de que estava circulando na área uma equipe de policiais do Paraná, estava em busca dos quadrilheiros e pedia nossa ajuda. Marcamos um encontro na cidade.

ZH –O que aconteceu depois que vocês se encontraram?

Carivali –
Rodamos em busca de três veículos que estavam sendo rastreados por satélites e usados pelos quadrilheiros. Depois de uma hora, estávamos voltando para a delegacia regional quando fomos parados pela BM. Eu estava acompanhado de outro delegado. Fomos abordados pelos brigadianos, e o outro veículo, com policiais paranaenses, seguiu. Depois de identificado, desci do carro e pedi auxílio para os brigadianos na busca. Naquele exato momento, uma porta de garagem se abre bem na minha frente. Um Corsa, com insulfilme nos vidros, começa a sair de ré. Vi que era um dos veículos suspeitos. Tirei a arma do coldre e gritei que era polícia.

ZH – Atirou naquele instante?

Carivali –
Não. O Corsa voltou para dentro da garagem e, pela porta direita, saiu um homem com uma arma na mão. Gritei “arma”, procedimento da rotina policial. O homem girou para ficar na posição de tiro e disparou. Eu atirei nele.

ZH – Quantos disparos fez?

Carivali –
Acredito que, pelo menos, tenha atirando duas vezes, procedimento padrão da polícia. Infelizmente, errei. (A perícia apurou que foram três tiros, que acertaram o lado direito traseiro do veículo: no porta-malas, no para-choque e no vidro, disparo que acertou a vítima nas costas).

ZH – O senhor afirmou que reconheceu o Corsa. Era do seu conhecimento que o veículo estava envolvido em situação com reféns. Portanto, havia a possibilidade de eles estarem ali. Não seria mais prudente ter agido de uma outra maneira?

Carivali –
Não sabíamos que estávamos na frente do cativeiro. Insisto, os tiros não foram disparos no veículo, mas no agressor com a arma.

ZH – O que aconteceu depois?

Carivali –
Eles acionaram o controle para fechar o portão. Cercamos o prédio e, depois de algum tempo, eles saíram com as mãos para cima e se deitaram no chão. Foram identificados pelos policiais do Paraná. Um alemãozinho disse que era refém e que o amigo estava ferido. Vimos que estava morto e não mexemos no corpo.

ZH – Foi ali que percebeu que havia matado um refém?

Carivali –
Eu não era o único policial. Mas desde de o início assumi que havia feito os disparos.

ZH – Depois, o que aconteceu?

Carivali –
Liguei para minha mulher e falei o que havia acontecido. Pensava naquela hora no sofrimento da família do refém morto.

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