Daniel C. Valentim
Aaron Swartz se foi ontem. Ele se enforcou em sua residĂªncia, no dia 11 de janeiro de 2013 em New York. De acordo com amigos prĂ³ximos, ele nĂ£o admitia a ideia de que poderia pegar atĂ© 35 anos de prisĂ£o por ter disponibilizado quase 5 milhões de artigos cientĂficos de graça na internet. Isso mesmo: esse hacker distribuiu (e nĂ£o roubou) 5 milhões de artigos para compartilhamento.
A empresa que processou Aaron foi a JSTOR (acrĂ´nimo para “Journal Storage”). Criada em 1995, a JSTOR apareceu no mercado com a missĂ£o de vender artigos cientĂficos em formato PDF (Portable Document Format) para instituições de pesquisa e para usuĂ¡rios comuns. Hoje a empresa Ă© uma gigante no setor. Presente em 150 paĂses, mais de 170 instituições assinam o conteĂºdo desse portal. Os gastos das instituições com essas assinaturas chegam aos milhões de dĂ³lares.
Poderia uma empresa declaradamente sem fins lucrativos destruir a vida desse jovem, ao ponto de levĂ¡-lo a cometer suicĂdio? No dia 19 de julho de 2011, Aaron foi indiciado por fraude e roubo em um processo encabeçado pela JSTOR. Apesar de ter se declarado inocente, teve que pagar uma fiança de cem mil dĂ³lares para responder o processo em liberdade. ApĂ³s sĂ©rios indĂcios de que seria condenado, Aaron desistiu e enforcou-se em sua residĂªncia.
Existe uma guerra silenciosa sendo travada na internet. De que lado vocĂª estĂ¡? Posso dizer que uma parte de minha formaĂ§Ă£o acadĂªmica advĂ©m da coragem e da ousadia de jovens hackers que desafiam qualquer lei e põem suas cabeças em risco em nome de uma causa: a livre circulaĂ§Ă£o de conteĂºdos e informações na internet. Hoje a maior parte dos arquivos baixados por Aaron encontram-se disponĂveis em uma plataforma pirata de distribuiĂ§Ă£o de material acadĂªmico. Esse Ă© um dos seus legados. Mas, e nĂ³s que ficamos, o que podemos fazer agora? Meu palpite Ă© claro: seguir compartilhando e construindo um mundo mais justo que nĂ£o jogaria na cadeia qualquer pessoa que compartilhasse palavras e sonhos.