quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Dilma contraria bancada ruralista vetando 9 pontos do CĂ³digo Florestal


ApĂ³s dias de discussões, a presidente decidiu, no limite do prazo previsto em lei, vetar nove pontos aprovados em setembro pelo Congresso nas regras do novo CĂ³digo Florestal. A decisĂ£o da presidente contraria posições da bancada ruralista.
Os pontos derrubados pela presidente serĂ£o detalhados na ediĂ§Ă£o de amanhĂ£ (19) do "DiĂ¡rio Oficial da UniĂ£o". Entre eles estĂ¡ o veto Ă  reduĂ§Ă£o de margens de rios a serem reflorestadas em grandes e mĂ©dias propriedades, e a retomada da proposta original do governo.
Esse era um dos principais pontos de conflito entre o PalĂ¡cio do Planalto e a bancada ruralista, que conseguiu alterar o texto defendido pelo governo, aliviando o impacto para mĂ©dios e grandes proprietĂ¡rios.
Para retomar a posiĂ§Ă£o expressa em medida provisĂ³ria enviada em maio ao Congresso - e que acabou sendo alterada - a presidente assinou um decreto, que tambĂ©m serĂ¡ publicado amanhĂ£. Esse decreto, cuja publicaĂ§Ă£o estava prevista apenas para novembro, jĂ¡ regulamentarĂ¡ as regras do Cadastro Ambiental Rural e do PRA (Programa de RecuperaĂ§Ă£o Ambiental).
A recuperaĂ§Ă£o de Ă¡reas desmatadas Ă© condicionante para livrar proprietĂ¡rios rurais de multas.
Outro veto refere-se Ă  possibilidade, defendida por ruralistas, que para efeito de recomposiĂ§Ă£o fosse levado em conta o plantio de Ă¡rvores frutĂ­feras.
Em entrevista no PalĂ¡cio do Planalto, apĂ³s uma Ăºltima reuniĂ£o com a presidente Dilma, a ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente) disse que o objetivo dos vetos Ă© preservar um tripĂ© de princĂ­pios: "nĂ£o anistiar, nĂ£o estimular desmatamentos ilegais e assegurar justiça social".
Os vetos, segundo a ministra, atingiram "todo e qualquer texto que leve ao desequilĂ­brio entre ambiental e social".
É a segunda vez que Dilma usa o poder de veto contra mudanças feitas por parlamentares em texto defendido pelo Planalto. Em maio, a estratĂ©gia usada pelo governo foi enviar uma medida provisĂ³ria reforçando pontos defendidos pelo governo, mas derrubados na primeira discussĂ£o no Congresso. Agora, os vetos vieram acompanhados de decreto.
Perguntada se o governo se preocupava com uma reaĂ§Ă£o negativa de parlamentares, Izabella Teixeira disse que o governo "sempre estarĂ¡ aberto ao diĂ¡logo com o Congresso".
O texto do CĂ³digo Florestal ainda demandarĂ¡ a publicaĂ§Ă£o de outros decretos e portarias ministeriais. No entanto, nĂ£o hĂ¡ data definida para a regulamentaĂ§Ă£o desses outros pontos. (Uol)

ParanĂ¡: Deputado Reni pede CPI para investigar pesquisas eleitorais


Com o apoio de 23 parlamentares, o 2º secretĂ¡rio da Assembleia Legislativa, deputado Reni Pereira (PSB), apresentou requerimento na sessĂ£o plenĂ¡ria desta quarta-feira (17) para constituiĂ§Ă£o de uma ComissĂ£o Parlamentar de InquĂ©rito (CPI) destinada a averiguar a situaĂ§Ă£o e possĂ­veis fraudes nos resultados das pesquisas divulgadas pelo Instituto Brasileiro de OpiniĂ£o PĂºblica e EstatĂ­stica – IBOPE – fora da margem de erro, nos vinte dias que antecederam o primeiro turno das eleições deste ano no ParanĂ¡. A comissĂ£o deverĂ¡ ser composta por sete membros, com prazo de 180 dias para realizar seus trabalhos.
O pedido se fundamenta no art. 62, parĂ¡grafos 1º, 2º e 3º da ConstituiĂ§Ă£o Estadual, e nos artigos 34, inciso II, e 36, do Regimento Interno da Casa. Entre os signatĂ¡rios do documento estĂ£o o presidente da Mesa Executiva, deputado Valdir Rossoni (PSDB), e os deputados Cesar Silvestri Filho (PPS), Elio Rusch (DEM), Rasca Rodrigues (PV), Nereu Moura (PMDB) e Ney Leprevost (PSD). (Banda B)
HistĂ³rico:

A pesquisa com resultado adulterado. Nela o candidato da oposiĂ§Ă£o Reni Pereira, eleito prefeito, caiu quatro pontos e Chico Brasileiro subiu 10 pontos, saindo de 32% para 42%.

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O deputado estadual Reni Pereira (PSB), prefeito eleito de Foz do Iguaçu no Ăºltimo domingo (7), pediu Ă  Justiça Federal para investigar as pesquisas eleitorais promovidas pelo Ibope no ParanĂ¡. Em pronunciamento na tribuna da Assembleia, Reni denunciou a manipulaĂ§Ă£o dos levantamentos que acabam de alguma forma influenciando diretamente nos resultados das urnas.

O pedido de Reni tem como base sua prĂ³pria experiĂªncia no pleito em Foz. No sĂ¡bado (6), menos de 12 horas antes de iniciar a votaĂ§Ă£o, a RPC/TV divulgou resultado da pesquisa Ibope, dando a vitĂ³ria com margem de 10% na eleiĂ§Ă£o, ao candidato do PCdoB, Chico Brasileiro. "Na apuraĂ§Ă£o dos votos, fiquei com mais de 7% na frente do meu adversĂ¡rio", relatou o deputado.

"NĂ£o sei se houve benefĂ­cio financeiro ao Ibope, ou qualquer outro tipo de benefĂ­cio, mas que houve benefĂ­cio, isto nĂ£o tem dĂºvida", disparou Reni. "Quem tem que influenciar o resultado da eleiĂ§Ă£o Ă© a populaĂ§Ă£o atravĂ©s do voto, nĂ£o institutos de pesquisas", completou.

O prefeito eleito de Foz informou que a Justiça Federal deverĂ¡ fazer uma investigaĂ§Ă£o sobre todos os questionĂ¡rios da pesquisa que se mostrou totalmente contraditĂ³ria ao resultado do pleito. "Teve gente que foi entrevistada pelos pesquisadores do Ibope Ă s 18h de sĂ¡bado, nĂ£o daria sequer tempo de computar a opiniĂ£o que foi ao ar logo apĂ³s", disse.

De acordo com Reni, a pesquisa do Ibope deixou surpreso inclusive o seu adversĂ¡rio. "Nem ele acreditou naquilo, um erro de quase 18%". O deputado fez questĂ£o de isentar os adversĂ¡rios, partidos e a prĂ³pria RPC, que contratou a pesquisa. "Espero que a emissora rompa o contrato com o Ibope para varrer do nosso Estado este instituto".

O deputado falou ainda que tem preocupaĂ§Ă£o com as pesquisas que poderĂ£o influenciar as eleições em cidades importantes do ParanĂ¡, onde haverĂ¡ segundo turno. No pronunciamento, Reni falou que jĂ¡ conversou com representantes dos partidos aliados e adversĂ¡rios, para aparar as arestas. "Agora temos que trabalhar pelo futuro de Foz do Iguaçu". 

Datafolha: Fruet tem 52%, contra 36% de Ratinho


O candidato do PDT Ă  prefeitura de Curitiba, Gustavo Fruet, tem 52% das intenções de voto na disputa do segundo turno das eleições, de acordo com pesquisa do instituto Datafolha divulgada nesta quinta-feira (18). Ratinho Junior (PSC) aparece com 36%.  A margem de erro da pesquisa, que foi encomendada pela RPCTV, Ă© de 3 pontos percentuais para mais ou para menos. Os eleitores que declararam a intenĂ§Ă£o de votar em branco ou nulo somam 8% e os indecisos, 4%.
Segundo o Datafolha, 17% do eleitores admitem a possibilidade de mudar a intenĂ§Ă£o de voto, o que demonstra que o resultado da eleiĂ§Ă£o ainda nĂ£o estĂ¡ consolidado. O trabalho corpo a corpo e os debates podem interferir na decisĂ£o dos eleitores. Hoje as 22 horas haverĂ¡ debate na Band.
Metodologia
O Datafolha ouviu 1.267 pessoas, com 16 anos ou mais, entre quarta-feira (17) e esta quinta. A pesquisa estĂ¡ registrada no Tribunal Regional Eleitoral do ParanĂ¡ (TRE-PR) sob o nĂºmero PR-00679/2012.

Personalidades nacionais e vereadores eleitos pelo PSDB prestigiam ato de apoio a Gustavo Fruet


AlĂ©m de Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo, o ato de apoio a Fruet tem a presença do ministro da SaĂºde, Alexandre Padilha, dos senadores Cristovam Buarque (PDT-DF) e SĂ©rgio Souza (PMDB-PR), do prefeito reeleito de Porto Alegre, JosĂ© Fortunatti (PDT), e de vereadores do PSDB .
O senador SĂ©rgio Souza anunciou apoio a Fruet nesta quarta-feira. Ele contrariou a orientaĂ§Ă£o do principal lĂ­der peemedebista no estado, o senador Roberto RequiĂ£o, que declarou apoio a Ratinho no segundo turno. (GP)

Ratinho Junior: professores escolherĂ£o novo secretĂ¡rio de educaĂ§Ă£o


O candidato a prefeito Ratinho Junior (PSC) prometeu nesta quinta-feira (18) que os professores e servidores da rede municipal de ensino escolherĂ£o o novo secretĂ¡rio municipal de EducaĂ§Ă£o, caso ele seja eleito. “NĂ£o vamos impor nenhum nome. A educaĂ§Ă£o Ă© algo tĂ£o importante que temos que discutir com os professores quem Ă© o nome mais preparado na cidade para assumir a secretaria”, disse.
Ele ressaltou que nĂ£o farĂ¡ eleiĂ§Ă£o direta, mas que vai se reunir com chefes dos nĂºcleos de educaĂ§Ă£o e os representantes do sindicato da categoria para definir os melhores nomes.

Ratinho tambĂ©m destacou junto aos educadores promessas que estĂ£o em seu plano de governo, como o horĂ¡rio estendido de atendimento em creches, a distribuiĂ§Ă£o de uniformes, a reduĂ§Ă£o da jornada de trabalho dos educadores e a revisĂ£o do plano de carreira da rede municipal de ensino.Em um segundo momento, a Prefeitura faria sondagens de opiniĂ£o com todos os professores e educadores da rede municipal para identificar os nomes mais aceitos, para, sĂ³ entĂ£o, o prefeito definir o nome do secretĂ¡rio. 
(GP)

PolĂ­cia encontra corpo do jornalista desaparecido e acusado Ă© preso, diz Gaeco

O promotor do Gaeco, DenĂ­lson Soares de Almeida, confirmou que o corpo foi encontrado em uma estrada de terra na regiĂ£o metropolitana. O carro do jornalista – uma van Kangoo – tambĂ©m foi encontrado no local. Detalhes sobre o assassinato, no entanto, nĂ£o foram revelados pelo Gaeco. (GP)

Para o desgosto dos petistas histĂ³ricos sĂ³ a placa de pare e a caixa d Ă¡gua aderiram a "onda vermelha"


Um presente para a turma da velha guarda ver e ouvir em casa:




Jornalista desaparecido pode ter sido vĂ­tima de crime passional. Um indivĂ­duo confessou o assassinato. O corpo ainda nĂ£o foi encontrado


Um homem – preso nesta quinta-feira (18) – confessou Ă s autoridades que matou o jornalista cinematogrĂ¡fico Anderson Leandro da Silva, de 38 anos, que estava desaparecido hĂ¡ oito dias. Segundo o coordenador do Grupo de AtuaĂ§Ă£o Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco),Leonir Batisti, o crime teve motivaĂ§Ă£o passional: o jornalista teria mantido um caso com a mulher do acusado. O corpo foi encontrado na tarde de quinta feira, em uma Ă¡rea rural de Quatro Barras, na regiĂ£o metropolitana de Curitiba.
“Ele [o acusado] foi preso hoje [nesta quinta-feira] por mandado judicial e, efetivamente, acabou confessando que matou o jornalista”, resumiu Batisti.
O coordenador do Gaeco afirmou que o acusado disse em depoimento que, assim que soube da traiĂ§Ă£o da mulher, atraiu o jornalista atĂ© um local prĂ³ximo a Quatro Barras, na regiĂ£o metropolitana de Curitiba, e o assassinou. O prĂ³prio acusado guiou policiais do Grupo Tigre, da PolĂ­cia Civil, atĂ© o local onde o corpo do jornalista foi abandonado.

O desaparecimento
Anderson Leandro havia desaparecido no dia 10 de outubro, apĂ³s sair de sua produtora, no bairro Rebouças, em Curitiba, pouco depois das 12h30, a bordo de uma van Kangoo (placas AON-8615). Ele iria a Quatro Barras, na RegiĂ£o Metropolitana de Curitiba, onde se reuniria com um cliente para fazer um orçamento, mas nĂ£o chegou Ă  cidade. CĂ¢meras de monitoramento instaladas nas entradas do municĂ­pio nĂ£o registraram a passagem do veĂ­culo.
A famĂ­lia pediu a quebra do sigilo telefĂ´nico do jornalista. O rastreamento do celular apontou que Anderson Leandro recebeu ou fez uma ligaĂ§Ă£o, jĂ¡ prĂ³ximo a Quatro Barras, meia hora depois de ter saĂ­do da produtora. No dia seguinte – 11 de outubro – a operadora de telefonia captou que o celular dele esteve nos bairros TarumĂ£ e Parolin, em Curitiba. ApĂ³s isso, o aparelho perdeu o sinal.
O suposto cliente, com quem Anderson Leandro se reuniria, nĂ£o voltou a entrar em contato com a produtora, cobrando o jornalista pela ausĂªncia. Por isso, os familiares acreditam que alguĂ©m tenha se passado por cliente para atraĂ­-lo.
A conta bancĂ¡ria do jornalista nĂ£o foi movimentada. A Kangoo e os documentos da vĂ­tima tambĂ©m nĂ£o apareceram. AtĂ© o inĂ­cio da tarde desta terça-feira, ninguĂ©m havia feito contato com a famĂ­lia ou com a polĂ­cia, pedindo resgate. (GP)

O massacre do povo guarani kaiowĂ¡

Aumenta o nĂºmero de suicĂ­dios entre os jovens

A morte de mais uma liderança indĂ­gena em Mato Grosso do Sul expõe massacre do povo guarani kaiowĂ¡
*Caio Zinet, Israel "SassĂ¡" TupinambĂ¡, Mario Cabral
O cacique NĂ­sio Gomes, assassinado no dia 18 de novembro de 2011, foi mais uma das lideranças dos guarani kaiowĂ¡ eliminada por pistoleiros contratados pelo agronegĂ³cio em Mato Grosso do Sul. A comunidade em que ele vivia foi atacada por jagunços, com armamento pesado, que alĂ©m de o executarem deixaram vĂ¡rios feridos por balas de borracha. Os pistoleiros (funcionĂ¡rios de uma empresa de segurança privada, criada pelos fazendeiros) levaram o corpo do cacique e raptaram sua esposa e duas crianças do acampamento. AtĂ© o momento, nem o corpo de NĂ­sio nem as pessoas raptadas foram encontrados.
O fato, pouco noticiado na grande mĂ­dia, expõe a situaĂ§Ă£o dramĂ¡tica de um povo que Ă© sistematicamente perseguido hĂ¡ 511 anos. De acordo com o Conselho Indigenista MissionĂ¡rio (Cimi), entre 2003 e 2010, 253 indĂ­genas foram assassinados em Mato Grosso do Sul.
O poder dos latifundiĂ¡rios da regiĂ£o Ă© tamanho que nem a presença de representantes do governo federal e da Força de Segurança Nacional Ă© capaz de intimidĂ¡-los. Pouco depois da morte de NĂ­sio, um grupo de pistoleiros e fazendeiros parou um Ă´nibus com indĂ­genas e entrou no veĂ­culo filmando e fotografando todos os presentes, em clara tentativa de intimidaĂ§Ă£o do movimento indĂ­gena. AlĂ©m de estarem fotografando indĂ­genas ameaçados de morte, ainda conduziam veĂ­culos sem habilitaĂ§Ă£o.
Representantes do MinistĂ©rio da Casa Civil e da Força de Segurança Nacional que estavam a poucos metros do lugar do assĂ©dio solicitaram apenas que as fotos fossem apagadas das cĂ¢meras.
O cacique LĂ¡dio, filho de Marco Veron, lĂ­der indĂ­gena assassinado em 2003, esteve no dia 29 de novembro, em SĂ£o Paulo, em um ato promovido pela Rede de ProteĂ§Ă£o aos Militantes Ameaçados de Morte para denunciar os recentes assassinatos de indĂ­genas em Mato Grosso do Sul.
A desnutriĂ§Ă£o flagela as crianças

AlĂ©m das mortes, LĂ¡dio apresentou o quadro geral da situaĂ§Ă£o de seu povo, que, ao ser expulso de suas terras, Ă© obrigado a morar na beira de estradas, em condições precĂ¡rias de moradia, nutriĂ§Ă£o e saĂºde, e correndo o risco de atropelamento. “Estamos espremidos entre a soja, a cana e a estrada, vivendo em barracas de lona sem ter o que comer. Estamos jogados na beira da estrada como lixo”, disse LĂ¡dio.
Em cima das terras dos guarani kaiowĂ¡ avança o agronegĂ³cio, seja por meio da produĂ§Ă£o de cana-de-aĂ§Ăºcar, pela plantaĂ§Ă£o de soja ou pelo pasto do boi. Um imenso deserto verde cobre vastas Ă¡reas indĂ­genas em Mato Grosso do Sul. “Nossas terras em Mato Grosso do Sul estĂ£o passando por um processo de devastaĂ§Ă£o total; lĂ¡ um pĂ© de cana vale mais que um Ă­ndio, mais que uma criança indĂ­gena; um boi vale mais que toda uma comunidade indĂ­gena”, denunciou LĂ¡dio.
Enquanto o agronegĂ³cio se expande com incentivo do governo federal, a demarcaĂ§Ă£o das terras indĂ­genas segue em marcha lenta. A ConstituiĂ§Ă£o de 1988 previu que todas as terras indĂ­genas fossem demarcadas em cinco anos, mas, passados 23 anos, exceto em algumas Ă¡reas, principalmente na AmazĂ´nia, isso nĂ£o aconteceu.
O povo guarani kaiowĂ¡ tem direito Ă  demarcaĂ§Ă£o de pelo menos 36 Ă¡reas. Desde 2007, aguardam a finalizaĂ§Ă£o do laudo antropolĂ³gico da Funai e a assinatura da PresidĂªncia da RepĂºblica para serem homologadas.
A demora nas demarcações causa revolta nos indĂ­genas, agravada pelo fato de que veem o agronegĂ³cio entrar livremente nessas Ă¡reas, devastando-as para o plantio de gĂªneros de exportaĂ§Ă£o, como soja e cana, e a pecuĂ¡ria.
AlĂ©m da devastaĂ§Ă£o do meio ambiente em terras ainda nĂ£o demarcadas, os indĂ­genas sofrem nas terras jĂ¡ demarcadas. O cacique LĂ¡dio disse que Ă© comum aviões dos grandes latifundiĂ¡rios sobrevoarem as terras indĂ­genas despejando agrotĂ³xicos.
Outro problema enfrentado nos limites das terras demarcadas Ă© a descontinuidade entre as Ă¡reas. Por diversas vezes, os guarani kaiowĂ¡ sĂ£o obrigados a atravessar fazendas inteiras para acessar uma parte de terra demarcada onde hĂ¡ Ă¡gua ou outros recursos naturais. AlĂ©m de terem de percorrer longas distĂ¢ncias para conseguir Ă¡gua para beber, eles sĂ£o muitas vezes impedidos de cruzar as fazendas.
Guarani vĂ­tima de emboscada de grileiros de terras

Modelo agroexportador
Apesar de vĂ¡rias iniciativas e de alguns avanços civilizatĂ³rios, no Brasil e de modo geral em toda a AmĂ©rica Latina ainda nĂ£o superamos a herança colonial. Isso se reflete em alguns equĂ­vocos econĂ´micos que se perpetuam em nossa histĂ³ria. NĂ³s nos constituĂ­mos como exportadores de produtos primĂ¡rios ou manufaturados. No sĂ©culo XVI, o Brasil jĂ¡ exportava quantidades formidĂ¡veis de manufaturados, principalmente o aĂ§Ăºcar, e por aqui se utilizava a tecnologia de ponta da Ă©poca: os engenhos de aĂ§Ăºcar. PorĂ©m, a existĂªncia de tecnologia de ponta e o volume de exportaĂ§Ă£o nĂ£o se refletiram em desenvolvimento econĂ´mico para os brasileiros, exceto para alguns. AliĂ¡s, estes podemos nominar como a elite do Brasil, que sempre se preocupou em se integrar com as elites dos paĂ­ses imperialistas, a europeia e mais recentemente a norte-americana, manifestando um imenso desprezo e afastamento de seu prĂ³prio povo.
Nas Ăºltimas dĂ©cadas, a demanda por matĂ©ria-prima em volume crescente, antes da Europa e Estados Unidos e mais recentemente da China, definiram um processo de prioridade, na pauta de exportaĂ§Ă£o do Brasil, de produtos primĂ¡rios. Uma das consequĂªncias de tal processo Ă© o aumento do poder polĂ­tico do agronegĂ³cio e a expansĂ£o da fronteira agrĂ­cola. A visĂ£o hegemĂ´nica, que considera o que acontece nas regiões de expansĂ£o da fronteira agrĂ­cola – o ganho de capital a curto prazo e o uso de tecnologia na forma de produtos transgĂªnicos, produtos quĂ­micos, tratores e computadores – como sinĂ´nimo de progresso, Ă© tacanha. Na realidade, o Brasil estĂ¡ repetindo e agravando um modelo que reproduz e amplia o atraso, pois gera a devastaĂ§Ă£o da natureza com esgotamento de seus recursos e aprofunda o sofrimento e o empobrecimento das populações, como ocorre hoje com os guarani que vivem em Mato Grosso do Sul e outras populações do paĂ­s.
De outro lado, os principais antagonistas desse projeto − as populações indĂ­genas, quilombolas, coletor-extrativistas e camponesas − representam os interesses mais progressistas e civilizatĂ³rios, que apontam para a superaĂ§Ă£o da herança colonial, incluindo o modelo econĂ´mico, e da ideologia construĂ­da para mantĂª-la. Mas, atĂ© o momento, os interesses retrĂ³grados prevalecem.
No fundo o cacique NĂ­sio Gomes, que foi assassinado 

SubsistĂªncia ameaçada
Privados de suas terras, os guarani kaiowĂ¡, assim como outros povos indĂ­genas espalhados pelo territĂ³rio brasileiro e suas fronteiras, tĂªm suas condições de subsistĂªncia seriamente ameaçadas, uma vez que a terra Ă© sua fonte de sustento. É a terra que provĂª o alimento, os remĂ©dios, enfim, tudo o que Ă© necessĂ¡rio para a reproduĂ§Ă£o da vida.
Tolhidos do direito de acesso Ă  terra, sobrevivem com o pouco que podem plantar e o que conseguem comprar. LĂ¡dio informou que, em alguns casos, a comida nĂ£o Ă© suficiente para todos na aldeia, o que obriga os adultos a comer raĂ­zes cruas de Ă¡rvores para que as crianças e os idosos tenham o que comer.
Essa situaĂ§Ă£o eleva o Ă­ndice de mortalidade infantil entre os guarani kaiowĂ¡. De acordo com dados do MinistĂ©rio PĂºblico Federal, o coeficiente de mortalidade infantil entre esses indĂ­genas Ă© de 38 a cada mil crianças nascidas vivas, muito superior Ă  mĂ©dia nacional de 25 a cada mil crianças.
Outro Ă­ndice que assusta Ă© o de suicĂ­dio entre os jovens guarani kaiowĂ¡: o MinistĂ©rio PĂºblico Federal estima que chegue a 85 por cem mil pessoas.1 A proximidade com a cultura urbana e a falta de terra para viver de acordo com as tradições indĂ­genas foram apontadas por LĂ¡dio como os principais motivos para os suicĂ­dios.
Apesar do quadro devastador, o povo guarani kaiowĂ¡ vai continuar lutando por seus direitos, retomando suas terras, realizando atos e passeatas para que a sociedade reconheça a tragĂ©dia em que vivem. “NĂ£o queremos cesta bĂ¡sica, queremos nossa terra para plantar. Nossa sobrevivĂªncia depende disso. NĂ£o vamos recuar, vamos lutar atĂ© o final. Nossa briga Ă© para podermos viver nas terras de nossos ancestrais e que, portanto, sĂ£o nossas por direito”, afirmou LĂ¡dio.

Caio Zinet, Israel "SassĂ¡" TupinambĂ¡, Mario Cabral
Pesquisadores fazem parte da Rede de ProteĂ§Ă£o aos Militantes Ameaçados de Morte

1 Dados disponĂ­veis em: www.secretariageral.gov.br/noticias/ultimas_noticias/2011/12/13-12-2011-governo-federal-garante-politicas-publicas-para-indios-na-regiao-da-grande-dourados.

 
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