sĂ¡bado, 16 de outubro de 2010

DesindustrializaĂ§Ă£o: Produtos importados jĂ¡ respondem por um quinto do consumo nacional


Raquel Landim/AE

SĂƒO PAULO - A indĂºstria brasileira estĂ¡, velozmente, perdendo espaço para as importações, que jĂ¡ respondem por um quinto de tudo que Ă© consumido no PaĂ­s. O processo de substituiĂ§Ă£o de matĂ©rias-primas e produtos acabados nacionais por estrangeiros, que vinha em um ritmo controlado, se acelerou nos Ăºltimos meses.

A participaĂ§Ă£o dos produtos importados no consumo saltou de 15,7% no inĂ­cio de 2009 para 17,7% no primeiro trimestre deste ano e chegou ao recorde de 20% no terceiro – uma alta total de 4,3 pontos no perĂ­odo, conforme cĂ¡lculo da LCA Consultores. Entre 2002 e 2008, o ritmo de crescimento era de 1,1% ao ano.

O Brasil se tornou alvo nĂ£o sĂ³ dos paĂ­ses desenvolvidos, como os Estados Unidos, que tentam sair da crise elevando suas exportações, mas tambĂ©m de outros emergentes, como a China, que perderam clientes importantes com a recessĂ£o nos mercados americano e europeu.

A valorizaĂ§Ă£o do real tornou mais fĂ¡cil a tarefa dos estrangeiros, porque reduziu o preço dos produtos importados. O efeito benĂ©fico das importações para o PaĂ­s Ă© ajudar no controle da inflaĂ§Ă£o, mas o fenĂ´meno tambĂ©m começa a prejudicar as empresas, apesar do forte desempenho do mercado domĂ©stico.

A produĂ§Ă£o industrial estĂ¡ estagnada desde março, enquanto as importações jĂ¡ ultrapassaram o nĂ­vel do prĂ©-crise. "Existe uma vazamento de demanda para o exterior", disse FlĂ¡vio Castelo Branco, economista-chefe da ConfederaĂ§Ă£o Nacional da IndĂºstria (CNI).

Os empresĂ¡rios reclamam do governo e pedem proteĂ§Ă£o, com o argumento de que a invasĂ£o dos importados provocou queda nas vendas, elevaĂ§Ă£o dos estoques e reduĂ§Ă£o da rentabilidade. Entre os setores mais afetados estĂ£o tĂªxteis, mĂ¡quinas, eletrĂ´nicos, carros e siderurgia.

"Hoje quem se beneficia do crescimento do Brasil nĂ£o Ă© a indĂºstria brasileira", diz SĂ©rgio Leite, vice-presidente de novos negĂ³cios da Usiminas. As vendas da siderĂºrgica caĂ­ram 20% do segundo trimestre para o terceiro (historicamente, o melhor do ano). A empresa informa que opera hoje com 80% da capacidade instalada, o que Ă© considerado abaixo do ideal.

Efeito em cadeia

A substituiĂ§Ă£o de produtos importados por nacionais estĂ¡ afetando toda a cadeia produtiva: mĂ¡quinas, insumos e produtos acabados. Os carros importados, por exemplo, jĂ¡ respondem por 18% dos licenciamentos no Brasil (comparado com 13% em 2008).

As importações de veĂ­culos nĂ£o estĂ£o mais restritas aos modelos de luxo. TambĂ©m chegam carros mĂ©dios, que concorrem diretamente com modelos feitos localmente. Segundo Rogelio Golfarb, diretor de assuntos corporativos da Ford, as margens de lucro estĂ£o comprimidas e nem mesmo a tarifa de importaĂ§Ă£o de 35% (o mĂ¡ximo permitido ao Brasil na OMC) Ă© suficiente para barrar a importaĂ§Ă£o.

"É claro que o real valorizado tambĂ©m ajuda, mas nĂ£o dĂ¡ para colocar tudo na conta do cĂ¢mbio", disse Golfarb. "Temos de fazer um esforço para aumentar nossa competitividade."

O economista-chefe da MB Associados, SĂ©rgio Vale, chama a atenĂ§Ă£o para outro fator que "empurra" as empresas para a importaĂ§Ă£o: o aumento do custo da mĂ£o de obra, principalmente por causa da falta de pessoal qualificado no PaĂ­s.

O ciclo se torna vicioso, porque um dos remĂ©dios das empresas para reduzir custos Ă© exatamente aumentar a importaĂ§Ă£o de insumos.

É o caso da RTS VĂ¡lvulas Industriais. A fabricante de mĂ¡quinas e equipamentos opera hoje com metade da sua capacidade, porque seus clientes evitam investir antes do resultado das eleições e por causa da concorrĂªncia dos produtos chineses.

Para reduzir seus custos, a RTS tambĂ©m decidiu aproveitar o cĂ¢mbio barato e começou a importar aço inoxidĂ¡vel, seu principal insumo produtivo. "Se eu for utilizar o aço local, fico 100% fora do mercado", conta Pedro LĂºcio, presidente da companhia.

Descompasso

A invasĂ£o de importados e o acĂºmulo de estoques pela indĂºstria no inĂ­cio do ano provocaram um descompasso significativo entre a indĂºstria e o varejo, que continua apresentando resultados espetaculares. Entre junho e agosto, comparados com os trĂªs meses anteriores, o varejo cresceu 7,5% e a produĂ§Ă£o industrial caiu 4,6%.

Os especialistas acreditam que a produĂ§Ă£o industrial vai se recuperar nos prĂ³ximos meses, Ă  medida que os estoques se normalizarem, mas estĂ£o preocupados com os efeitos da invasĂ£o dos importados.

"NĂ£o dĂ¡ para negar que o setor externo provocou um dreno na economia, mas nĂ£o dĂ¡ para saber quanto tempo isso vai durar", disse JĂºlio Callegari, economista do JP Morgan. "Estamos em uma linha divisĂ³ria."

Em busca do apoio do PV, candidatos assumem compromissos ambientais


Herton Escobar/AE

Pressionados pelos 20 milhões de votos obtidos pela candidata do Partido Verde (PV) no primeiro turno, Dilma Rousseff (PT) e JosĂ© Serra (PSDB) nĂ£o podem mais se dar ao luxo de ignorar questões ambientais consideradas prioritĂ¡rias pelo eleitorado "marineiro", como o combate ao desmatamento e a proteĂ§Ă£o ao CĂ³digo Florestal.

O Estado enviou aos dois candidatos uma sĂ©rie de perguntas relacionadas a alguns do principais debates ambientais do Brasil. Todas elas, tambĂ©m, abordadas na lista de 42 compromissos essenciais apresentada pelo PV como base para definiĂ§Ă£o de um eventual apoio do partido a uma - ou nenhuma - das candidaturas. A decisĂ£o serĂ¡ votada hoje em assembleia do partido.

Um dos temas considerados mais crĂ­ticos Ă© a reforma do CĂ³digo Florestal, que estipula regras e limites para a ocupaĂ§Ă£o de Ă¡reas de vegetaĂ§Ă£o nativa. Em resposta ao Estado, ambos se disseram contrĂ¡rios Ă  anistia a desmatadores, prevista no relatĂ³rio de Aldo Rebelo (PC do B), aprovado por uma ComissĂ£o Especial da CĂ¢mara em julho.

A assessoria da campanha tucana afirmou que Serra considera a anistia "inaceitĂ¡vel". "Mas tambĂ©m nĂ£o se pode imaginar que Ă¡reas de agricultura consolidadas hĂ¡ dĂ©cadas tenham que ser abandonadas, pois isso vai afetar a produĂ§Ă£o e o emprego rural", completou. Serra se coloca contra a reduĂ§Ă£o das Ă¡reas de preservaĂ§Ă£o obrigatĂ³ria previstas no cĂ³digo. Propõe o pagamento por serviços ambientais.

O candidato se compromete a resolver o impasse no primeiro semestre de seu governo. "Ambos os lados, ambientalistas e ruralistas, precisam compor uma posiĂ§Ă£o de consenso que equacione os principais problemas dessa agenda no campo", disse.

"Sou a favor do veto a propostas que reduzam Ă¡reas de reserva legal e preservaĂ§Ă£o permanente, embora seja necessĂ¡rio inovar em relaĂ§Ă£o Ă  legislaĂ§Ă£o. Sou favorĂ¡vel ao veto Ă  anistia para desmatadores", afirmou Dilma.

Posições assumidas pelos candidatos:

Desmatamento

Os candidatos expuseram suas estratĂ©gias para reduzir o desmatamento, nĂ£o apenas na AmazĂ´nia, mas em todos os biomas - incluindo o Cerrado, principal Ă¡rea de expansĂ£o agrĂ­cola do PaĂ­s.

Serra defende uma moratĂ³ria de cinco anos sobre o desmatamento de todos os biomas - tempo que considera "suficiente para traçar as novas bases que deverĂ£o reger o desenvolvimento da agricultura sustentĂ¡vel para o futuro". "O setor produtivo aceita essa pausa, necessĂ¡ria para redefinir os marcos legais da relaĂ§Ă£o entre a biodiversidade e o progresso no campo", diz sua assessoria.

Dilma disse que pretende "continuar e avançar nos programas em curso", como as Operações Arco de Fogo e Arco Verde, voltadas para o combate ao desmatamento e a criaĂ§Ă£o de alternativas econĂ´micas sustentĂ¡veis na AmazĂ´nia. "No Cerrado a situaĂ§Ă£o Ă© mais complexa", diz a candidata do PT, lembrando que Ă¡rea de reserva legal, que precisa ser obrigatoriamente preservada com vegetaĂ§Ă£o nativa, no bioma Ă© bem menor do que na AmazĂ´nia (20%, comparado a 80%). "Aqui vale mais atuar na modernizaĂ§Ă£o e no uso sustentĂ¡vel do solo e adotar polĂ­ticas para fazer uso de Ă¡reas degradadas para a expansĂ£o da agropecuĂ¡ria."

Ela nĂ£o faz menĂ§Ă£o Ă  meta de desmatamento zero para todos os biomas, que Ă© um dos compromissos essenciais listados pelo PV na Agenda por um Brasil Justo e SustentĂ¡vel.

Energia

Os candidatos opinaram se concordam com o projeto aprovado para a construĂ§Ă£o da hidrelĂ©trica de Belo Monte, no Rio Xingu, e se acham que hĂ¡ espaço para outras grandes hidrelĂ©tricas na AmazĂ´nia.

"Existem boas possibilidades de aproveitamento do potencial energĂ©tico da AmazĂ´nia, mas serĂ¡ preciso realizar uma avaliaĂ§Ă£o ambiental estratĂ©gica da regiĂ£o, para nĂ£o se ficar apenas na discussĂ£o dos licenciamentos isolados de cada hidrelĂ©trica", diz a campanha de Serra. "Energia renovĂ¡vel Ă© bem melhor do que termoelĂ©tricas com fontes fĂ³sseis, mas nĂ£o dĂ¡ para enfiar goela abaixo das populações locais os efeitos danosos das obras."

Sobre o licenciamento ambiental de Belo Monte, a campanha afirma que "num governo Serra o processo teria sido bem mais transparente e participativo", e agora sĂ³ resta "exigir o cumprimento das exigĂªncias socioambientais do licenciamento do Ibama".

"Para manter nossa matriz energĂ©tica como uma das mais limpas do planeta nĂ£o podemos abrir mĂ£o de hidrelĂ©tricas", afirma Dilma. Segundo ela, o projeto de Belo Monte - que Ă© uma das peças principais do Plano de AceleraĂ§Ă£o do Crescimento (PAC) - inclui 40 condicionantes ambientais, que custarĂ£o aos investidores R$ 3 bilhões para atendĂª-las. "Queremos energia hidrelĂ©trica, mas tambĂ©m preservar nosso patrimĂ´nio natural."

Clima

No combate Ă s mudanças climĂ¡ticas, os dois candidatos admitem o princĂ­pio de reduzir as emissões de gases-estufa, mas demonstram nĂ£o ter um plano detalhado para colocar em prĂ¡tica.

Dilma considera adequada a meta voluntĂ¡ria estabelecida pelo governo atual – e incluĂ­da na Lei 12.187 de 2009, que instituiu a PolĂ­tica Nacional sobre Mudança do Clima – de reduzir entre 36% e 39% o crescimento projetado das emissões brasileiras de gases do efeito estufa atĂ© 2020. "Trata-se de um compromisso nacional", diz a candidata. "Para efetivar essas metas estĂ£o em elaboraĂ§Ă£o vĂ¡rios planos setoriais."

"Tenho convicĂ§Ă£o de que temos um conjunto de propostas que nos permitirĂ£o alcançar bons resultados e manter o protagonismo brasileiro nesta Ă¡rea", completa Dilma.

JĂ¡ Serra, quando governador de SĂ£o Paulo, aprovou a Lei Paulista de Mudanças ClimĂ¡ticas, estabelecendo uma meta compulsĂ³ria de reduĂ§Ă£o de 20% das emissões de gases do efeito estufa no Estado atĂ© 2020, tomando como base as emissões de 2005. "Serra sempre trabalhou com a ideia de que nĂ£o se deve temer a agenda ambiental, mas sim fazer dela uma oportunidade de transformar a economia, do atual carĂ¡ter predatĂ³rio, para uma economia verde, traçando nova relaĂ§Ă£o da sociedade com a natureza. Avançando, o Brasil pode se tornar uma potĂªncia ambiental", diz sua campanha.

 
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