domingo, 24 de junho de 2012

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MARCHA VIRTUAL CONTRA O GOLPE NO PARAGUAY

Pedro PorfĂ­rio: Lugo caiu porque nĂ£o era do ramo


Caiu porque nĂ£o era do ramo

Mesmo sendo tudo muito rĂ¡pido, o ex-bispo paraguaio nĂ£o precisava entregar os pontos sem espernear


Fernando Lugo, depois de eleito em 2008, contemporiza em relaĂ§Ă£o a presença dos militares norte americanos no solo paraguaio:


"O que existe, sim, Ă© parte do exĂ©rcito norte-americano que faz ações humanitĂ¡rias, e tambĂ©m exercĂ­cios militares, mas nĂ³s, paraguaios, negamos que haja uma base militar que possa operar a partir do Paraguai e agir nos paĂ­ses vizinhos do continente".



O ex-bispo Fernando Lugo foi deposto pela mesma sĂºcia com que partilhava coquetĂ©is e quitutes, numa jogada de mestre de efeitos colaterais ameaçadores. Depois do xeque-mate paraguaio, a especulaĂ§Ă£o polĂ­tica jĂ¡ quer saber quem serĂ¡ o prĂ³ximo nesse tabuleiro de torpezas mil.

Porque a fĂ³rmula do golpe parlamentar deu certo, deixando os militares no chinelo. Ao prelado nĂ£o lhe ocorreu que os inimigos nĂ£o mandam flores. E que nessas horas nĂ£o adianta pedir ajuda a Deus.

Ou se faz o jogo das vontades insaciĂ¡veis dos canalhas ou se recorre Ă  turba. E ele nĂ£o fez nenhuma coisa, nem outra. DaĂ­ servir o prato cheio para a trama tĂ£o bem montada, que grileiros e traficantes celebrados em palĂ¡cios usaram como pretexto logo o massacre de sem-terras, coisa a que se dedicam secularmente, como se de repente eles, titulares de uma indomĂ¡vel capangada, estivessem indignados com as mortes dos pobres coitados.

Tudo foi milimetricamente planejado e aconteceu no Paraguai porque lĂ¡ Ă© o Paraguai dos produtos falsificados. NĂ£o adianta xingar os personagens do golpe, nem lembrar que, para variar, estava por trĂ¡s o falso brilhante do Obama e seus miquinhos amestrados.

NĂ£o adianta porque o ex-bispo Ă© antes de tudo um fraco. Talvez, quem sabe, sua anemia crĂ´nica fizesse dele um trapo. Faltou-lhe a garra do Francisco Solano Lopez, faltou a coragem necessĂ¡ria para se trancar no PalĂ¡cio e pedir ajuda ao seu povo, que, salvo uma minoria de 5 mil inconformados, nĂ£o se deu conta do pĂ©ssimo exemplo que seus valhacoutos ofereciam ao mundo, em especial ao Continente, numa alusiva insinuaĂ§Ă£o de que certos sociais-democratas sĂ£o bolhas de sabĂ£o.

Pelo resultado arrasador das votações na CĂ¢mara e no Senado, viu-se que Fernando Lugo jĂ¡ estava na corda bamba no antro fĂ©tido dos podres poderes da Nossa Senhora Santa Maria de AssunĂ§Ă£o, a capital de 520 mil habitantes controlados por mafiosos de carteirinha.

Ele sabia que dormia com o inimigo, mas esperou em Deus que respeitassem seu mandato
, conquistado numa surpreendente metamorfose da dicotomia guarani, onde nĂ£o existe essa de direita e esquerda: os polĂ­ticos daquelas bandas sĂ£o bandos de malfeitores muito menos recatados do que os militares, apesar da base norte-americana no povoado General Estigarribia, provĂ­ncia de BoquerĂ³n, no noroeste do Paraguai, cuja existĂªncia Lugo sempre negou, alegando que operava ali apenas parte do ExĂ©rcito dos EUA dedicada a "ações humanitĂ¡rias".

Esperou por um Deus que continua sendo usado na maior pelas classes dominantes. Pois o pretenso representante do Senhor, o come-e-dorme cognominado "nĂºncio apostĂ³lico" foi o primeiro a ir apertar a mĂ£o do Judas que tomou o seu lugar, num apressado ato pecaminoso que faz lembrar o Vaticano de Cesar BĂ³rgia.

Ao que parece, e tudo indica, Lugo foi preferido pelos golpistas por seu estilo de padre bondoso. Tanto que nem estrebuchava com o Estado paralelo que o contrabando e o narcotrĂ¡fico montou por lĂ¡ com a ajuda das multinacionais que descarregavam na Cidade do Leste e outras mais os produtos rejeitados pelo controle de qualidade das matrizes.

TambĂ©m foi omisso ante a conivĂªncia de uma tropa que estĂ¡ associada ao crime, dando-lhe a cobertura armada e assegurando o fluxo de drogas e quinquilharias para a vizinhança de sacoleiros e mulas num entreposto montado a cĂ©u aberto.

Sua atuaĂ§Ă£o nĂ£o era de um lĂ­der, mas de um pretenso messias forjado nos pĂºlpitos da santa madre igreja. Enquanto ChĂ¡vez, Evo e Rafael Correa disparam seus talentos quixotescos no fomento de uma auto-estima patriĂ³tica, enquanto Dilma e Cristina mordem e assopram, mas tĂªm o apoio incondicional do populacho, ele se deixou abater pelas baixarias a respeito de suas peraltices extra-clericais e se aceitou refĂ©m de um jogo de interesses que o suprimiu quando jĂ¡ estava mal das pernas.



É besteira comparar esse golpe consentido com o de Honduras, onde o fazendeiro Manuel Zelaia foi deposto pelo ExĂ©rcito com a chancela do JudiciĂ¡rio e do Congresso.Zelaia caiu, Ă© verdade, mas caiu de pĂ©, com aquele chapĂ©u e aquele bigode trançados com a resistĂªncia que deu muito trabalho aos golpistas.


Pode atĂ© ser que a mĂ¡ notĂ­cia dada enquanto fieiras de chefes de Estado passeavam pelo Rio de Janeiro, por conta da suposta preocupaĂ§Ă£o com o meio ambiente, encontre seu antagonismo do lado de fora da fronteira.


Seus vizinhos sabem que em cada salĂ£o iluminado hĂ¡ sempre um golpista de plantĂ£o, a serviço do crime econĂ´mico, com dĂ³lares doados para manter seus paĂ­ses como quintais da velha potĂªncia hoje abatida pela impotĂªncia senil.


Mas e daĂ­? Os vizinhos vĂ£o pegar o ex-bispo no colo para levĂ¡-lo de volta ao poder que entregou na maior passividade, num rito sumĂ¡rio inusitado e sob pretextos indecentes?


O que tenho a dizer, gostem ou nĂ£o os de um lado e de outro, Ă© que Fernando Lugo caiu porque nĂ£o era do ramo. Ali, onde os polĂ­ticos viram casaca por qualquer meia pataca (os nossos cobram mais), o exercĂ­cio institucional do poder Ă© uma deplorĂ¡vel obra de ficĂ§Ă£o.


Quem decide mesmo Ă© a mĂ¡fia que Lugo tolerou porque nĂ£o tem o sangue dos guerreiros do passado. Essa mĂ¡fia, para variar, Ă© multinacional e tem muito mais dotes do que os quartĂ©is de pĂ©s descalços, que, tanto como os polĂ­ticos, estĂ£o nas folhas da jogatina, do contrabando e do trĂ¡fico de drogas.


Resta saber sĂ³ se esse estrago serĂ¡ restrito como coisa do Paraguai ou se vai animar os canalhas de outras plagas.


*Pedro PorfĂ­rio Ă© Jornalista desde 1961, em 62 trabalhou na RĂ¡dio Havana em Cuba, foi militante e jornalista das Ligas Camponesas no Brasil. foi  preso e torturado na ditadura, quando era chefe de redaĂ§Ă£o da TRIBUNA DA IMPRENSA, hoje Pedro Ă© um blogueiro atuante no Rio de Janeiro.

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