terça-feira, 17 de maio de 2011

Waimiri-Atroari desaparecidos durante ditadura militar



Waimiri-Atroari Desaparecidos na Ditadura

É justo e necessário o país se mobilizar pelos desaparecidos políticos da Ditadura Militar no Brasil (1964-1984). Entretanto, por que não há o mesmo interesse na busca dos índios desaparecidos durante a Ditadura Militar por se oporem a política do governo sobre seus territórios?

Em 1968, o Governo Militar invadiu com a rodovia BR-174, Manaus – Boa-Vista, o território Kiña (Waimiri-Atroari). Em 1975, pelo menos 2000 pessoas já haviam desaparecido, todos pertencentes ao povo Kiña. Isso porque se opunham ao processo de invasão de seu território imposto pelos Militares.

O massacre ocorreu em etapas. Na primeira delas quem esteve a frente da construção da rodovia foi o Departamento de Estradas e Rodagem / Amazonas (DER/AM). Os relatórios mensais dos trabalhos sempre se faziam acompanhar com pedidos de armas e munição como este:

“Vimos pelo presente, solicitar seu especial obséquio no sentido de ser expedida pelo S.F.I.D.T., uma autorização para compra de 6 revólveres “Taurus” calibre 38 duplo (...), 2 espingardas calibre 16, 53 caixas de cartuchos calibre 16, 16 caixas de balas calibre 38 longo, 25 caixas de cartuchos calibre 20, e 2 caixas de balas calibre 32 simples.

Esclarecemos, outrosssim, que referida munição será uttilizada como medida de segurança e de certo modo manutenção (...)”. (Of.DER-AM/DG/No. 170/68 de 04 de abril de 1968. Ass. pelo Eng. Otávio Kopke de Magalhães Cordeiro, Diretor Geral, ao Major Luiz Gonzaga Ramalho de Castro).

Oficialmente a FUNAI era encarregada da política indigenista, mas logo ficou evidente que a a área Waimiri-Atroari ficaria sob o controle militar.

A segunda etapa se inicia no ano seguinte. Em junho de 1968, o Pe. João Calleri, nomeado pela FUNAI para a direção dos trabalhos de atração, fez um plano minucioso para os primeiros contatos e posterior fixação dos índios fora do roterio da BR-174. No entanto, foi obrigado pelo Major Mauro Carijó, Diretor do DER/AM, a mudar o seu plano o que causou a trágica morte do Pe Caleri e seus auxiliares, em outubro de 1968. Isso possibilitou uma intensa campanha de repúdio aos Waimiri-Atroari criando uma situação favorável à intervenção militar brutal.

O Governador do Amazonas, Danilo Areosa, pedia providencias para garantir “a construção da estrada através do território indígena, a qualquer custo”, considerando o índio um inútil, que precisava “ser transformado em ser humano útil à Pátria”. E prosseguia: “os silvícolas ocupam as áreas mais ricas de nosso Estado, impedindo a sua exploração, com prejuízos incalculáveis para a receita nacional, impossibilitando a captação de maiores recursos para a prestação de serviços públicos”. (A Critica / Manaus 27 de novembro de 1968). Seu colega, Governador de Roraima, Fernando Ramos Pereira, completou: “Sou de opinião que uma área rica como essa não pode se dar ao luxo de conservar meia dúzia de tribos indígenas atravancando o seu desenvolvimento”.(Resist. Waimiri-Atroari / Marewa / Itacoatiaria / 1983, pg 6).

No final de 1968 o Comando Militar da Amazônia instalou um quartel no Igarapé Sto. Antonio do Abonari, que passou a controlar a vida e o destino dos índios. A partir daí a FUNAI se tornou apenas um joguete do Governo Militar a serviço do 6º BEC - Batalhão de Engenharia e Construção.

O abastecimento de armas e munição ficou a cargo do Exército, não demandando mais autorização especial. Trabalhadores, soldados e funcionários da FUNAI invadiam a área indígena enpunhando armas e utilizado-as contra os índios. Revólveres, metralhadoras, cercas elétricas, bombas, dinamite e gás letal, foram algumas das armas utilizadas pelo Exécito na guerra contra os índios durante a construção da BR-174.

Entre 1972 e 1975 a população Kiña reduziu de 3.000 (estimativa do P. Calleri em 1968, confirmada por levantamento mais minucioso da FUNAI em 1972) para menos de 1.000 pessoas, sem que a FUNAI e os militares apresentassem as causas dessa depopulação. Esses 2.000 Kiña desapareceram sem que fosse feito um só registro de morte. Durante o processo de alfabetização desenvolvido por nós e continuado pelo lingüista Márcio Silva, os Waimiri-Atroari tiveram, em curto período, uma das raras oportunidades de revalarem o que o seu povo sofreu durante a Ditadura, sofrimento que nenhum outro segmento da sociedade brasileira passou.

Desapareceram nove aldeias na margem esquerda do Médio Rio Alalaú; pelo menos seis aldeias no Vale do Igarapé Sto. Antonio do Abonari; uma na margem direita do Baixo Rio Alalaú; três na margem direita do Médio Alalaú; as aldeias do Rio Branquinho, que não aparecem nos relatórios da FUNAI; e pelo menos cinco aldeias localizadas sobre a Umá, um varadouro que ligava o Baixo Rio Camanau, (proximidades do Rio Negro) ao território dos índios Wai Wai, na fronteira guianense. Pelo menos uma delas foi massacrada por bombardeio de gás letal, com apenas um sobrevivente (Sobreviventes dessas cinco aldeias foram nossos alunos em Yawará / Sul de Roraima).

A partir do 2º semestre de 1974 as estatísticas da FUNAI começaram a referir números entre 600 e 1.000 pessoas e, em 1981, restavam apenas 354.

Em 1987 o Governo Federal passou o comando da política indigenista à responsabilidade da empresa Eletronorte que apenas mudou de estratégia, continuando o contrôle das informações e a política de isolamento dos índios como ao tempo dos militares.

Essa é uma das histórias envolvendo os povos indígenas e a Ditadura Militar no Brasil. Casos semelhantes podem ser observados com os índios Krenhakarore do Peixoto de Azevedo no Mato Grosso, os Kané (tapayuna ou Beiços-de-pau) do rio Arinos no Mato Grosso, os Suruí e os Cinta Larga de Rondônia e Mato Grosso e outros. No entanto, nenhum desses homens, mulheres e crianças é citado nas relações dos desaparecidos da Ditadura.

Casa da Cultura do Urubuí / Pres. Figueiredo / AM - 19 de fevereiro de 2011


Em junho de 1985, sentado na calçada em frente ao prédio da FUNAI, em Brasília, em companhia de dois Waimiri-Atroari ou Kiña, um deles me perguntou à queima-roupa: "O que é que civilizado joga de avião e que queima corpo da gente por dentro?”

Em aula, tão logo tiveram confiança em nós, Doroti e Eu, semelhantes perguntas se sucediam: "Por que kamña (civilizado) matou Kiña(Waimiri-Atroari)?” "O que é que kamña jogou do avião e matou Kiña?” Kamña jogou kawuni (de cima, de avião), igual a pó que queimou garganta e Kiña morreu logo”. "Apiyemeyekî?” (por quê?). Procurávamos, inicialmente, furtar-nos à curiosidade sobre essas questões, sabedores da susceptibilidade dos agentes da FUNAI e das Forças Armadas, únicos responsáveis pelo destino deste povo.

Um texto de Damxiri dizia: "Apapeme yinpa Wanakta yimata” ("Meu pai me abandonou no caminho da aldeia de Wanakta”). A frase, discutida em aula, nos levou à seguinte história: um dia a aldeia de Yanumá, pai de Damxiri, nosso aluno da escola Yawara, foi atacada por kamña (civilizado). Yanumá procurou reter o ataque, enquanto mulheres e crianças fugiam pelo varadouro que conduzia à aldeia de Wanakta, localizada no Alto Rio Camanaú. Mortalmente ferido, Yanumá ainda conseguiu alcançar a mulher e os filhos. Sentindo-se desfalecer, recomendou à mulher que se refugiassem na aldeia de Wanakta, um líder descrito por eles como: "Wanakta karanî, xuiyá, todapra” ("Wanakta, um homem bom, bonito e gordo”). Sua aldeia estava situada numa região bem fora do roteiro da estrada e dos rios navegáveis. Possivelmente nunca foi vista pelos militares, tendo sido uma das poucas que não foi atingida pela violência praticada pelos militares.

As 31 (trinta e uma) pessoas que compunham a comunidade Yawara, onde desenvolvemos o nosso trabalho, eram sobreviventes de quatro aldeias localizadas à margem direita do rio Alalaú, desaparecidas entre 1970 e 1975. A pessoa mais velha tinha em torno de 40 anos. As demais, acima de dez anos, eram órfãs, com exceção de duas irmãs cuja mãe ainda vivia. Seus pais morreram na resistência contra a rodovia BR-174. As crianças de 4 a 10 anos também eram órfãs. Seus pais morreram de sarampo em 1981, abandonados pela FUNAI à beira da BR-174, no Km 292.

Na medida em que a confiança da comunidade crescia já não éramos apenas professores, mas pessoas envolvidas com o seu desejo de viver. Questionaram a razão pela qual kamña matou os seus pais, parentes e amigos. Desenhavam cenas de violência. Avião ou helicóptero sobrevoando a aldeia, soldados atirando escondidos atrás de árvores e na única frase ao lado, muitas vezes se destacava essa pergunta: "apiyemeyekî?” (por quê?).

Algumas vezes relacionaram os mortos. Panaxi, um jovem pai, descreveu o seguinte episódio que vivenciou no início dos anos 70 com seus pais, irmãos, parentes e amigos numa aldeia na proximidade do baixo Alalaú: "Antigamente não tinha doença. Kiña estava com saúde. Olha civilizado aí! Olha civilizado ali! Lá! Acolá! Civilizado escondido atrás do toco-de-pau! Civilizado matou Maxi. Civilizado matou Sere. Civilizado matou Podanî. Civilizado matou Mani. Civilizado matou Akamamî.

Civilizado matou Priwixi. Civilizado matou Txire. Civilizado matou Tarpiya. Com bomba. Escondido atrás do toco-de-pau!” Yaba escreveu: "Kamña mudîtaka notpa, apapa damemohpa” (civilizado desceu de helicóptero na minha casa, aí meu pai morreu). "Ayakînî damemohpa. Apiyemyekî?” (Minha irmã morreu. Por quê?). Abaixo, outra relação de mortos: na Mahña mudî, (aldeia do rio Mahña, Alto Alalaú) Mawé, Xiwya, mãe de Rosa, Mayede, marido de Wada, Eriwixi, Waiba, Samyamî, mãe de Xere e Pikibda. Morreu ainda pequena (pitxenme), filha de Wada. Maderê, mulher de Elsa. Wairá, mulher de Amiko que mora no Jara, Pautxi, marido de Woxkî que mora no Jará.

Arpaxi, marido de Sidé que mora no Alalaú, Wepînî, filho de Elsa. Kixii e seu marido Mayká, Paruwá, pai de Ida. Waheri, irmã de Wome e mais outra irmã de Wome. Suá, pai de Warkaxi e suas duas esposas e um filho. Kwida. Wara’ye – pai de Comprido. Tarahña, pai de Paulinho. Ida, mãe de Mayedê. Morreu ainda uma mulher velha cujo nome não relacionaram. A filha de Sabe que mora no Mrebsna Mudî, dois tios de Mário Paruwé, o pai de Womé e uma filha de Antônio.

Kramna Mudî era uma aldeia Kiña que se localizava na margem Oeste da BR-174, no Baixo rio Alalaú, próximo ao local conhecido como Travessia sobre a Umá, um "varadouro interétnico” que atravessava o território Waimiri-Atroari de Sul a Norte, para interligar com os Wai Wai e outros povos Karib na Guiana e no Suriname. No final de setembro de 1974, Kramna Mudî acolhia o povo Kiña para uma festa tradicional.

Visitantes do Camanaú e do Baixo Alalaú já estavam lá. O pessoal das aldeias do Norte ainda estava a caminho. A festa já estava começando com muita gente reunida. Pelo meio dia um ronco de avião se aproxima. O pessoal sai das malocas para ver. A criançada se concentra no pátio. O avião derramou um pó e todos morreram, menos um. O tuxaua Comprido estava a caminho. Vinha do Norte com a sua gente. Chegando perto estranharam o silêncio. Aldeia em festa sempre está cheia de algazarra. Ao se aproximarem encontraram todos mortos, menos um.

Morreram sem um sinal de violência no corpo. Dentro da maloca, nos girais, grande quantidade de carne moqueada, mostrando que tudo estava preparado para acolher muita gente. O sobrevivente só se recordava do barulho do avião passando por cima da aldeia e do pó que caia. Os Kiña forneceram uma relação de 33 parentes mortos neste massacre. Contaram-nos que Comprido, ao ver os parentes mortos pelo chão, revoltou-se muito. Antes de voltarem para as suas malocas, provavelmente no dia 30 de setembro de 1974 à tarde, um grupo de Kiña atacou três funcionários da FUNAI, João Dionísio do Norte, Paulo Ramos e Luiz Pereira Braga, que subiam o Rio Alalaú para abastecerem o Posto Alalaú II. Mataram os três e jogaram os corpos na altura da Travessia, local onde a Umá (varadouro) atravessa o Alalaú, a aproximadamente seis quilômetros da aldeia chacinada. No dia seguinte, o tuxaua Comprido atacou o Posto Alalaú II, a aproximadamente 500 m da ponte do Rio Alalaú, então, o ponto mais avançado da BR-174.

Casa da Cultura do Urubuí / Presidente Figueiredo / 17 de maio de 2011. (Audital)

Avós da Praça de Maio exigem definição judicial para comprovação de filhos de desaparecidos


Nesta terça-feira (17), completam-se dez anos do início da investigação para estabelecer se Felipe e Marcela Noble Herrera são filhos de desaparecidos da última ditadura cívico-militar ocorrida na Argentina, instaurada em 1976. Para exigir uma posição da justiça sobre o caso, as Avós da Praça de Maio convocam para um ato que se realizará às 18 horas, em frente ao Palácio de Justiça Portenho. "Necessitamos do apoio de todos (...) para que os homens da justiça se comovam”, afirmou Estela de Carlloto, representante do movimento.

Felipe e Marcela Noble Herrera são filhos adotivos da dona do grupo Clarín, Ernestina Herrera de Noble. A denúncia está baseada na supressão de identidade e suspeita falsidade de dados de filiação de Marcela e Felipe. Os irmãos sempre se recusaram a oferecer amostras de material genético para comprovação da filiação.

O ato se realiza em um momento que antecede uma semana chave para o caso. Na próxima quinta-feira (26), a Câmara Nacional de Cassação Penal realizará audiência para escutar as partes antes de resolver se confirma a decisão de obter amostras com ou sem o consentimento dos irmãos. Essa sentença já havia sido proferida em dezembro do ano passado pela juíza federal de San Isidro, Sandra Arroyo, e ratificada pela Câmara Federal de San Martín.

Os Noble Herrera somente aceitaram comparar as amostras com duas famílias querelantes na causa na esfera do Corpo Médico Forense, que depende da Corte Suprema de Justiça. Tais exigências foram rechaçadas pelos juízes que intervieram no caso nas distintas instâncias.

A Associação Civil Avós da Praça de Maio tem como finalidade localizar e restituir a suas legítimas famílias todas as crianças sequestradas desaparecidas pela repressão política. Sequestro de crianças, jovens grávidas, funcionamento de maternidades clandestinas, listas de famílias de militares a espera de um nascimento são apontados como provas de um plano sistemático de apropriação dos filhos dos presos políticos.

As Avós da Praça de Maio já localizaram 95 filhos de desaparecidos. Um deles é Horacio Pietragalla que, em entrevista à Rádio Comunitária Gráfica da Argentina, ressaltou o que considera mais importante como resultado desse movimento. "O que mais tem que sair deste pedido, deste evento, é que para consolidar nossa democracia (...) precisamos de uma justiça igualitária”, declarou.

Gurgel defende 'olhar cuidadoso' sobre patrimônio de Palocci

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou nesta terça-feira que a evolução patrimonial do ministro Antonio Palocci (Casa Civil) merece um "olhar mais cuidadoso".

A Folha revelou no último domingo que, entre 2006 e 2010, seu patrimônio foi multiplicado por 20 vezes, saltando de R$ 375 mil para cerca de R$ 7,5 milhões.

Ele afirmou que iria pedir informações sobre o caso quando foi informado que o PPS entrará com uma representação pedindo exatamente para que a Procuradoria Geral da República investigue o caso.

"Estava me preparando para pedir informações para o próprio ministro-chefe da Casa Civil e para a Comissão de Ética Pública [da Presidência], quando fui informado [que a oposição entrará com representação]. Decidi aguardar para ver os elementos que serão apresentados a mim", afirmou Roberto Gurgel. "Qualquer fato que envolva autoridade pública merece um olhar mais cuidadoso", completou.

De acordo com a reportagem, o ministro adquiriu dois imóveis em área nobre de São Paulo: um apartamento de R$ 6,6 milhões e um escritório de R$ 882 mil. Os dois imóveis foram comprados por Palocci por meio da empresa Projeto, da qual ele é sócio principal, com 99,9% do capital.

O ministro abriu a empresa Projeto com sua mulher, Margareth, no dia 21 de julho de 2006. A empresa foi criada como consultoria e virou administradora de imóveis dois dias antes de Palocci chegar à Casa Civil.

Ex-ministro de Allende pode ter sido assassinado pela ditadura

Relatórios forenses do cadáver exumado de José Tohá, que faleceu em 1974 e foi ministro do ex-presidente Salvador Allende, concluíram que ele pode ter sido assassinado, segundo informou nesta terça-feira o poder judiciário chileno.

Estas conclusões contradizem a versão oficial da ditadura chilena, que na época apontava o suicídio como causa da morte do político.

Os restos mortais de Tohá foram exumados no final do ano passado, sob suspeitas de que ele poderia ter sido assassinado enquanto estava preso no hospital militar de Santiago, onde foi encontrado morto -- enforcado com um cinto no armário do quarto.

A Justiça ordenou que os restos fossem submetidos a dois exames. O primeiro, efetuado pelo Serviço Médico Legal (SML) aponta que 'tratou-se de uma morte violenta, compatível com um homicídio'.

No outro, peritos da Universidade do Chile concluíram que existem lesões que poderiam ter sido causadas tanto por um assassinato quanto por um suicídio.

Preso durante o golpe militar que derrubou o governo de Salvador Allende, Tohá foi internado no Hospital Militar de Santiago após ter sido torturado. Sua família afirma que ele estava tão debilitado que seria impossível que tenha cometido suicídio.

Estas informações estão sendo divulgadas no momento em que autoridades do Chile estão preparando a exumação dos restos mortais do ex-presidente Allende para determinar se ele se suicidou ou se foi executado no dia 11 de setembro de 1973, dia em que o golpe militar instaurou a ditadura de Pinochet no Chile.

Veja como a votação do Código Florestal acabou em baixaria

Após 13 horas de negociação, um acordo feito "na marra" e um flagrante vacilo do governo, a sessão que deveria desfechar a votação do Código Florestal acabou em baixaria.

Os protagonistas da confusão foram o relator do texto, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e a ex-senadora Marina Silva (PV-AC).

Marina causou a fúria de Rebelo ao publicar críticas no Twitter sobre uma suposta fraude cometida pelo deputado na elaboração do relatório. Veja o que ela escreveu:

"Estou no plenário da Câmara. Aldo Rebelo apresentou um novo texto, com novas pegadinhas, minutos antes da votação. Como pode ser votado?!"

Já passada da meia-noite quando Rebelo, que já havia defendido seu relatório, pediu para falar novamente. Ele desabafou contra o líder do PT, Paulo Teixeira, e fez sérias acusações contra Marina.

"A fala infeliz do deputado Paulo Teixeira (de que Aldo havia alterado o texto em relação ao acordo) deu razão para a ex-senadora Marina Silva, que postou em seu Twitter que eu fraudei o texto. Quem fraudou, quem contrabandeou madeira, foi o marido da senadora."

O deputado, na verdade, estava falando sobre reportagens publicadas na campanha eleitoral do ano passado e que citavam um suposto envolvimento do marido de Marina, Fábio Lima, em supostas fraudes no Ibama.

Rebelo foi apoiado pela maioria dos colegas, que entoaram um coro de "Aldo, Aldo, Aldo!"

Já o deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ) interveio e chamou Rebelo de "canalha", "traidor" e "vendido aos ruralistas".

Veja a cena abaixo:

Produtores de alimentos denunciam fumicultores


Produtores de alimentos agroecológicos que atuam na região de São João do Triunfo (Sul pa­­­ranaense) protocolaram de­­­núncia junto ao Ministério Pú­­­blico do Paraná (MP) e ao Mi­­­nistério Público do Trabalho (MPT) contra agricultores que cultivam tabaco. Eles alegam que o uso ilegal de agrotóxico prejudica sua atividade e a saúde pública.

Os agricultores que estão recorrendo ao poder público formaram um bloco batizado de Coletivo Triunfo. Participam sindicatos de produtores rurais de São João do Triunfo, Palmeira, Rio Azul e São Mateus do Sul, além de organizações não-governamentais (ONGs) que promovem o cultivo de alimentos livres de agrotóxicos.

Segundo documento elaborado pelo Coletivo, as propriedades que plantam fumo estão utilizando o herbicida Gamit 500, que tem comercialização proibida no Brasil. Entre outros problemas, essa prática teria causado a morte de pássaros, peixes, plantas nativas e medicinais, além de causar o aborto de frutos nos pomares e a contaminação de hortaliças. Teriam sido verificados também reflexos na saúde das famílias de produtores, como dores de cabeça, tonturas e quadros de depressão.


O Ministério Público do Tra­­balho começa a atuar no caso. A procuradora Margaret Matos de Carvalho programa uma audiência pública, ainda sem data marcada, para discutir o assunto com os produtores. Uma das alternativas seria proibir o uso dos agroquímicos mais tóxicos nas pequenas propriedades, adianta. “A bula de boa parte dos agrotóxicos recomenda que as pessoas fiquem afastadas das áreas de aplicação até sete dias após a pulverização. Isso é impossível em pequenas propriedades”, observa.

Um desses casos é o de Val­­­demar Antunes Leite, de 39 anos. Ele planta milho, feijão e trigo e também fornece alimentos para o programa de merenda escolar do município de São João do Triunfo. Toda a sua propriedade teria sido afetada pelo uso irregular do Gamit na vizinhança. “Perdi toda a minha horta. Só agora (seis meses após a contaminação) consegui me recuperar. Na época, até parei de fornecer os alimentos para a merenda, pois o que não quero para meu filho não quero para os filhos de outros”, relata.

De acordo com o engenheiro agrônomo Luiz Claudio Bona, da ONG AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, algumas formulações do Gamit são permitidas no Paraná, o que não inclui o Gamit 500, que estaria sendo utilizado na região. A Secretaria de Estado da Agricultura e do Abaste­­cimento (Seab) permite apenas o Gamit 360 CS para plantações de fumo; outras duas composições, o Gamit e Gamit Star também são permitidas, mas para outras culturas.

“O Defis (Departamento de Fiscalização) da Seab licenciou o Gamit. No ano passado, atendendo recomendações técnicas, os produtores compraram Gamit 500 com a receita do Gamit 360”, acusa Bona. A reportagem não encontrou embalagens do Gamit 500 em São João do Triunfo.

A distribuição ilegal de herbicida é confirmada pelo próprio secretário de Agricultura do município, Acir Wagner, que também é fumicultor. “Os técnicos das fumageiras receitam o produto”, sustenta. “Eu mesmo utilizei na minha plantação”, confessa. O secretário argumenta que “o problema não é o produto, mas a má utilização do mesmo, sem critérios e equipamento adequado”.

A Universal Leaf, uma das indústrias fumageiras que tem contratos nos municípios do Sul do Paraná confirma que o Gamit 360 CS está no pacote de insumos fornecido aos produtores, mas nega que seus técnicos estejam recomendando outra formulação. Nota emitida pela empresa garante que “(...) os técnicos e agrônomos somente recomendam o Gamit 360 CS, que possui registro no Minis­­tério da Agricultura, Anvisa e Ibama para uso na cultura do tabaco”. “A principal característica da formulação CS é a baixa deriva, não afetando as demais culturas ou vegetação adjacente às lavouras onde é usado”, diz o comunicado.

A Souza Cruz, outra indústria fumageira que trabalha com produtores da região Sul do Paraná, não se ateve aos aspectos da denúncia, mas enviou nota afirmando que busca a ampliação de práticas sustentáveis para o seu modelo de produção de tabaco. “Com uma forte estrutura de Pesquisa e Desenvolvimento e com um corpo técnico de campo altamente qualificado, estas práticas são repassadas para os agricultores que atuam em nosso sistema integrado de produção”. Até o fechamento da edição, a Philip Morris ainda não tinha respondido as questões enviadas pela reportagem.

Fiscalização depende de ajuda do campo

A responsabilidade de fiscalização do uso de agrotóxicos em lavouras é da Divisão de Fisca­­lização de Insumos da Secretaria de Estado da Agricultura e Abas­­tecimento (Seab). O chefe da divisão, Adriano Riesemberg, afirma que o governo tem conhecimento dos problemas que envolvem plantações de fumo na re­­­gião Sul e que os casos estão sen­­­do investigados.

“Participamos de uma reunião com produtores e explicamos como podemos ajudar nesse processo. Precisamos que eles nos digam onde está o problema e a época em que ele acontece para podermos agir. Depois de algum tempo, os efeitos nocivos desaparecem e a fiscalização fica prejudicada”, diz.

A estrutura da Seab não é suficiente para atender toda a demanda. “A fiscalização é por amostragem. São 36 agrônomos para o estado do Paraná inteiro. Temos poucos veículos e às vezes não temos combustível suficiente”, relata Riesemberg.

Outro ponto destacado pelo chefe da fiscalização é a falta de comprometimento de alguns produtores com as leis e técnicas de utilização dos herbicidas. “Os agricultores acabam dando muito pouca importância para as receitas. Usam receitas incorretas ou até mesmo falsas e utilizam de forma errada o produto”, afirma.

Esse problema também é verificado pelas fumageiras. A Universal Leaf diz ter conhecimento de que agricultores da região (mesmo cientes das orientações da empresa) podem ter adquirido no mercado formulação de Gamit 500, mais concentrado que o permitido. A empresa não recomenda o uso desse produto.

Na última safra, o Paraná cultivou 81 mil hectares com fumo e colheu aproximadamente 167 mil toneladas de folhas de tabaco. A participação é de 20% na produção nacional, estima a Seab. O Brasil se sustenta como maior exportador de tabaco do mundo, depois que países como os Estados Unidos reduziram sua participação nesse mercado.

A produção no campo se desenvolveu de forma integrada. As indústrias fornecem tecnologia, insumos e intermediam o financiamento de galpões. Os produtores rurais se comprometem a entregar a produção às indústrias que os orientam e assistem. No último ano, houve reajuste de 10% no preço do fumo. Os melhores fardos valem até R$ 7,80 o quilo. Num hectare, os fumicultores alcançam média de 1,8 mil quilos. (GP)

Irlanda desativa bomba antes da visita de Elizabeth II

Uma bomba foi encontrada na noite de ontem em um ônibus na cidade irlandesa de Maynooth. O explosivo foi desativado nesta madrugada, horas antes da chegada da rainha Elizabeth II a Dublin. Ela realiza a primeira visita de um monarca britânico desde a independência da Irlanda, em 1922. Uma forte operação de segurança foi montada, em meio a ameaças do terrorismo republicano irlandês.

O primeiro-ministro da Irlanda, Enda Kenny, afirmou que não há chances de a visita ser cancelada pela descoberta da bomba. Segundo ele, a polícia e o Exército lidaram com o problema de "maneira eficiente e apropriada". Kenny afirmou que visita é "histórica e simbólica", trazendo "uma mensagem para o futuro". Ontem, a polícia britânica recebeu uma ameaça de bomba para o centro de Londres vinda de dissidentes republicanos irlandeses.

Marina Silva vai pedir ao MPF que investigue acusações contra o marido dela

A ex-ministra e ex-senadora Marina Silva (PV-AC) vai pedir ao Ministério Público Federal que investigue as acusações contra o marido dela, Fábio Vaz de Lima, de envolvimento em negócios irregulares com órgãos federais vinculados ao Ministério do Meio Ambiente. As irregularidades teriam ocorrido no período que ela estava à frente da pasta.

Marina informou que entregará a representação com pedido de abertura de apuração de cada denúncia contra ela e o marido no encontro que terá com o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, nesta segunda-feira (16), às 18h30.

A ex-ministra justifica o pedido de averiguação por ter sido acusada pelo relator do projeto do Código Florestal, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), de agir para proteger o marido para evitar que ele fosse convocado para depor em comissão da Câmara sobre supostas denúncias de participação em fraudes.

Segundo ela, as acusações feitas contra ela e o marido são levianas e têm origem em dossiês apócrifos que circularam nos corredores do Congresso quando ela era ministra. “Os autores dessas falsas informações são aqueles que tiveram seus interesses espúrios contrariados por minha decisão de, à frente do Ministério do Meio Ambiente, combater o comércio ilegal de madeira e o desmatamento criminoso na Amazônia”.

Urbs continuará usando equipamentos e funcionários da Consilux

A prefeitura de Curitiba pagará R$ 6.595.624,59 a Consilux em dez prestações nos próximos 10 meses. A empresa operava radares e lombadas eletrônicas em Curitiba. O valor se refere à continuidade da utilização dos equipamentos e dos funcionários da Consilux. No total, a rescisão do contrato de fiscalização eletrônica de trânsito custará R$ 7,6 milhões aos cofres públicos. De acordo com a prefeitura, na segunda-feira (16) foram pagos à empresa R$ 76.751,80 como indenização por lucro cessante e R$ 988.311,83 por serviços de manutenção remanescentes do contrato.

A procuradora-geral do município, Claudine Bettes Camargo, informou que a Urbanização de Curitiba S/A (Urbs) irá continuar operando o sistema até que a nova licitação seja feita e a nova empresa comece a operar. A Urbs assumiu a operação dos radares em 16 de março - depois das denúncias sobre irregularidades na operação do sistema - e os equipamentos continuaram funcionando. Não foi informado se a Consilux poderá participar da nova licitação.

Processos

Um processo relacionado à Consilux está em andamento e, segundo a procuradora-geral do município. Ele investiga a denúncias apresentadas no programa Fantástico, da Rede Globo, que mostrou a existência de uma “máfia de radares” no país.

Houve um segundo processo, que já foi encerrado. Ele referia-se à rescisão contratual e levou 39 dias úteis para ser finalizado. O Ministério Público, Tribunal de Contas do Estado e Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce) investigam o caso.

Adesivos

A marca da Consilux está sendo substituída por adesivos da Urbs nesta terça-feira (17). Segundo a prefeitura, 119 radares e 22 barreiras estão instalados na capital. (GP)

TEMPLO É DINHEIRO

Reportagem mostra como as novas igrejas se transformaram em eficientes centros de arrecadação de fundos
Foto Rodrigo Félix Leal

“Crédito ou débito?” - Quem pergunta é o pastor da Igreja Internacional da Graça de Deus que recolhe o dízimo e outras doações munido da máquina para registrar operação com cartão de crédito. Pois, pois, as novas pentecostais aderiram rápido à nova tecnologia bancária para não perder uma oportunidade sequer de faturar.

Durante um mês a jornalista Sarah Corazza e o fotógrafo Rodrigo Félix Leal percorreram os templos das neopentecostais em Curitiba para testemunhar o fenômeno de religiosidade que arrasta milhões e transforma as novas igrejas em eficientes centros de arrecadação de fundos, o que ajuda a explicar a rapidez com que proliferam essas instituições e a indiscutível influência que exercem no novo tecido social. Observaram os cultos, entrevistaram pastores e fiéis, consultaram os mestres do assunto e produziram a reportagem que leva no título uma expressão que se tornou comum pelo uso e pela verdade que encerra.

AS NEOPENTECOSTAIS FAZEM SUCESSO DE PÚBLICO E BILHETERIA. Houve um tempo em que Curitiba era conhecida como a cidade que tinha uma farmácia em cada esquina. Isso na época em que o Fernando Pessoa Ferreira escreveu a crônica antológica “Curitiba, a fria, ou onde Jânio comia moscas”, pelos idos da década de 60 do século passado.

Hoje, além das farmácias, Curitiba tem muitos templos em cada esquina. É uma das cidades do Brasil em que as novas igrejas pentecostais mais prosperam. Olhe a sua volta e verá. Onde havia um cinema, agora há uma igreja. Onde havia um supermercado, há um templo. E para coroar essa investida sobre os grandes imóveis urbanos que perderam a utilidade original, a Igreja Universal do Reino de Deus comprou a antiga fábrica do Matte Leão para abrigar o seu rebanho que não para de crescer.

Logo se vê que as neopentecostais fazem sucesso não apenas de público, mas também de bilheteria. É incalculável o que arrecadam diariamente. O suficiente para abrir templos e também para financiar o proselitismo eletrônico que ocupa boa parte do horário televisivo e radiofônico. Isso custa dinheiro. Muito dinheiro. Tanto que a Universal do Reino de Deus, do
financista e bispo Edir Macedo, comprou a sua própria rede de televisão. A antiga Record, mais os restos da Manchete, agora são propriedade do Altíssimo e dedicam boa parte de seu tempo à pregação que oferece, em troca do dízimo e
de outras ofertas pecuniárias, a felicidade imediata na forma do milagre. E felicidade para os novos pentecostalistas significa, além de saúde, dinheiro em caixa. Para o doador, é claro, mas principalmente para a Igreja.

Assim caminha a humanidade. A grande transformação social das últimas décadas, que moveu grandes massas da população do campo para a periferia das cidades, criou o espaço perfeito para a instalação de novas crenças e novas igrejas que oferecem identidade, segurança e uma rede de iguais que comungam os mesmos valores e mesma fé, para gente que procura se encontrar no novo universo urbano e de relações competitivas e degradadas.

Mas essa é apenas uma parte da explicação para esse fenômeno que hoje mobiliza não apenas os fracos e oprimidos da periferia que ainda não conseguiram se integrar na vida urbana e moderna. É necessário perceber outro fenômeno mais amplo e que tem raízes idênticas.

Contrariando todas as previsões erguidas no século XIX, a velocidade e amplitude da produção e distribuição de riquezas, em vez de nos darem asas, proporcionaram o surgimento de sociedades de maioria absoluta de pedestres morais e intelectuais.

Entramos no século XXI angustiados pelo destino sem grandeza que é a marca de nosso tempo. Nem por isso conseguimos escapar facilmente da servidão ideológica que a sociedade industrial nos impôs. Sucumbimos às evidências e às tentações do progresso material e nos recusamos a questionar o empobrecimento da vida intelectual que patina no lamaçal da bricolagem pós-moderna que inclui a religiosidade mais chã.

Ninguém, em sã consciência, põe em dúvida as vantagens que as descobertas científicas nos proporcionam. A medicina avançou em algumas áreas e com ela a expectativa de vida praticamente dobrou. Agora o homem vive mais e dispõe de mais tempo para o ócio criativo, mas prefere gastá-lo no consumo conspícuo da cultura de baixa densidade.

As comunicações tornaram-se virtualmente instantâneas e compulsórias, além de universais, o que ampliou o mercado de ilusões e expectativas. O mundo contemporâneo, com sua classe média emergente, tornou-se ávido pelo besteirol produzido incessantemente pelos meios de comunicação. Besteirol que constitui 99% da programação da mídia de massa e do acervo da internet, fontes mais consultadas para esclarecer dúvidas da manada.

Há um terreno em que as virtudes da moderna tecnologia mostraram-se pouco eficazes e até contraproducentes. É o da criação intelectual, que perdeu em quantidade e até em qualidade. Atrofiou-se.

Ora, pois, a demanda cresceu, a produção encolheu, a solução do século foi mediocrizar para atender as expectativas da maioria. Basta ver as nossas universidades. De centros de produção do saber passaram a produtoras em massa de técnicos de baixa extração.

O que a massa exige não é a grandeza, o gênio criador ou até a incômoda dimensão heróica de outras épocas. E isso carrega hoje ricos, pobres e remediados homogeneizados culturalmente pela mediocridade. Nesse chão, as pentecostais de baixa densidade avançam com extrema facilidade.
Avião do bispo Rodrigues

UM NEGÓCIO MUITO RENTÁVEL. Vamos separar o joio do trigo. Nem todas as igrejas pentecostais ou neopentecostais são apenas balcões de negócios. E nem todas as seitas e correntes do tipo são protestantes. Há réplicas antigas e modernas dentro do catolicismo, que continua a ser majoritária. Ao menos nominalmente, como sabemos.

As antigas igrejas evangélicas e pentecostais passaram a conviver com os novos empreendimentos religiosos que se instalam com a proteção da legislação e os benefícios fiscais que os eximem do pagamento de impostos e da declaração
legal do quanto arrecadam e aplicam. Num país em que a carga tributária beira os 38% sobre os comuns dos mortais, a isenção tributária é um regalo divino que ajuda a explicar o sucesso financeiro das novas seitas.

Para abrir uma Igreja são necessários apenas R$ 418,42 em taxas e emolumentos e cinco dias úteis. Simples. Não existem requisitos teológicos ou doutrinários para criar um culto religioso. Tampouco se exige número mínimo de fiéis. Com o registro da Igreja pode-se abrir uma conta bancária e realizar aplicações financeiras isentas de Imposto de Renda e Imposto de Operações Financeiras.

Esses não são os únicos benefícios fiscais da empreitada. Nos termos do artigo 150 da Constituição, templos de qualquer
culto são imunes a todos os impostos que incidam sobre o patrimônio, a renda ou os serviços relacionados com suas finalidades essenciais, as quais são definidas pelos próprios criadores. Ou seja, todos os bens colocados em nome da Igreja estão livres de IPVA, IPTU, ISS, ITR e vários outros impostos.

Há também vantagens extratributárias. Os templos são livres para se organizarem como bem entenderem, o que inclui escolher seus sacerdotes. Uma vez ungidos, eles adquirem privilégios como a isenção do serviço militar obrigatório e direito a prisão especial.

Sem controles, beneficiadas pelo princípio constitucional da liberdade de crença e de religião, as novas igrejas quando dirigidas por condutores sem escrúpulos podem se transformar em fachadas para um longo rol de crimes e contravenções. Um delegado da Polícia Federal, experimentado e que estuda esse fenômeno há anos, acredita que alguns templos podem servir de lavanderias de dinheiro e esconder redes criminosas. Mas essa é uma investigação policial
que ainda está a caminho. Em sigilo absoluto, porque esse tipo de iniciativa sempre esbarra na forte reação de todas as igrejas em nome de seus direitos constitucionais.

O certo é que as novas igrejas dão rendimentos vultosos que se tornam explícitos quando se materializam em grandes obras ou transferidos para sustentar a vida nababesca de bispos e pastores. Em tudo há um traço de desfaçatez que
insulta a inteligência ao mesmo tempo em que entusiasma milhares de contribuintes.

Um dos exemplos mais gritantes é a do bispo Edir Macedo e a campanha da Igreja Universal do Reino de Deus de coleta de doações para a construção da milionária réplica do Templo de Salomão, do tamanho de um estádio de futebol
e custo em torno de R$ 200 milhões.

Em seu proselitismo arrecadador, Macedo começa ressaltando que o projeto do templo foi “desenhado por Deus”. Segue com um discurso muito usado por ele: “Se você for tocado pelo Espírito Santo a colaborar, então, por favor, use a seguinte conta bancária para fazer sua doação em nome da Igreja Universal do Reino de Deus e entregue o recibo de depósito numa IURD.” Termina citando a Bíblia, “Deus suprirá as necessidades de cada um dos doadores.” Filipenses 4.19. E repete os números das contas bancárias para os depósitos nos bancos do Brasil e Bradesco.

Sucesso absoluto que provoca inveja e dissensões dentro da hierarquia das igrejas, provocando o surgimento de novas, que se multiplicam com a velocidade da cretinice. Um exemplo clássico é o do cunhado de Edir Macedo, o pastor R. R. Soares, que decidiu criar a sua própria Igreja e hoje é o recordista mundial de permanência na telinha. São mais de 16 horas em diversas redes, com horários comprados a preço de bezerro de ouro.

Para que se tenha uma pálida ideia da prosperidade alcançada pela dissidência da Universal, o pastor R. R. Soares, que é fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus e apresenta o programa “Show da Fé”, comprou por US$ 5 milhões (cerca de R$ 8,6 milhões) um avião turboélice King Air 350 com banheiro a bordo e capacidade para oito passageiros. A aeronave abençoada permite ao pastor percorrer o país e fazer shows e apresentações que lhe proporcionam uma arrecadação extra que não é de somenos.

Além de apresentar o “Show da Fé” na Band — que também é exibido pela CNT e pela RIT (Rede Internacional de televisão), o pastor, uma espécie de Silvio Santos evangélico, mantém horários alugados nas madrugadas e fins de tarde
na emissora Rede TV.

Histórias de sucesso financeiro, maiores ou menores que os de Edir Macedo e R. R. Soares, há incontáveis em todo o país. E na esteira desse crescimento uma legião de fanáticos e outra de arrependidos que entregaram o que tinham e
não receberam em troca o que esperavam. Vivem o inferno da desolação e de um sentimento envergonhado de que se deixaram enganar explorados pela cupidez.

A NOVA SEITA DOS ARREPENDIDOS. “Se arrependimento matasse”, confessa o ex-deputado estadual Waldemar Alves Faria Jr. (PL-SP), “eu estaria morto e enterrado há muito tempo.” O desabafo do ex-parlamentar — que foi eleito com o apoio da Igreja Universal do Reino de Deus — deve-se ao fato de ter doado diretamente ao fundador da igreja, bispo Edir Macedo, entre 1997 e 1998, cerca de US$ 3,2 milhões.

O arrependimento se transformou numa Ação de Revogação de Doação por Ingratidão, acolhida pelo juiz Wanderlei Sebastião Fernandes, titular da 39ª Vara Cível de São Paulo, que determinou a imediata citação de Macedo. Faria Jr. disse que, na condição de ex-obreiro e crédulo seguidor dos ensinamentos evangélicos difundidos pela Igreja Universal, ficou totalmente submetido aos interesses pessoais e empresariais de Macedo: “Os US$ 3,2 milhões foram transferidos diretamente a Edir Macedo e não à Igreja Universal, como deveria ser feito. O bispo havia me pedido dinheiro como empréstimo pessoal, que acabou se transformando em “doação” a ele, Macedo, diante do seu irresistível apelo e da promessa de que todas as portas da igreja e da Rede Record me seriam abertas”, desabafa Faria Jr. “Eu destinava
mensalmente dízimos milionários à igreja, chegando inclusive a doar um automóvel BMW 540I, que passou a ser usado por um dos bispos que atuam no Rio de Janeiro.”

Ao se ver totalmente descapitalizado, já que sua empresa, que tinha 400 empregados, hoje só conta com quatro, o ex-deputado tentou de todas as formas contato com o bispo Macedo, que se recusava a recebê-lo. Faria Jr. diz ainda que o fundador da Universal, em diversos eventos religiosos, fez referências a ele, acusando-o de “não estar mais na fé e haver se transformado num perdido, que, por ter pecado tanto, tudo havia perdido”. Nos autos da ação há acusações também contra a Record: “A emissora teria emitido um grande número de duplicatas falsas, entre 1997 e 1999, apoderando-se de mais de R$ 15 milhões de recursos da empresa de telemarketing pertencente a mim e a meu irmão.”

Faria Jr. adiantou que vai procurar o Ministério Público Federal para denunciar Macedo e a Rede Record, que fraudaram segundo afirma, a determinação que proibia a realização de sorteios lotéricos pela televisão, no sistema conhecido como disque 0900. Prestando serviços para a Record, segundo o próprio Faria Jr., sua empresa faturou R$ 125 milhões entre
fevereiro de 1997 e julho de 1998. Nem o bispo Macedo nem a direção da Rede Record quiseram se manifestar sobre as acusações feitas pelo ex-deputado.

Outra história emblemática é a de um empresário paranaense do oeste que entregou sua poupança para a Igreja. De católico fervoroso passou a membro fanático da Igreja Universal do Reino de Deus.

Tudo começou quando a igreja comprou o cinema da cidade para construir seu templo. Toda a população via com curiosidade e desconfiança a nova igreja que se instalava. Assim que o templo iniciou suas atividades, o programa de rádio do bispo Edir Macedo se popularizou.

O empresário, assim como milhares de outros fiéis, começou a ouvir o bispo todas as noites, antes de dormir. Sua curiosidade foi aguçando, afinal muitas graças e milagres eram propagados por Macedo. Interessado em conhecer mais
a igreja, o empresário decidiu ir até o templo e ver como tudo realmente funcionava.

Assim que entrou, começou a observar tudo. Estranhou a piscina infantil instalada em frente ao palco. Neste momento, o pastor responsável por arrebanhar as ovelhas no município, chegou simpático, conversou e convidou o empresário
a participar do culto que começaria em seguida. Ele saiu encantado com a articulação e a oratória do pastor.

No dia seguinte voltou e foi apresentado à família do pastor. A esposa acompanhava o celebrante nos cultos e ajudava nos serviços do templo, o que passou ainda mais credibilidade ao empresário. Em pouco tempo, o empresário passava ao menos uma hora do seu dia na igreja e as outras tentando converter a família e os amigos. Foi assim até que a família descobriu o rombo na conta bancária que essas idas diárias estavam causando.

Em pouco menos de dois anos foram mais de R$ 100 mil. Entre a aquisição de um terreno no céu no valor de R$ 7 mil, doação de geladeira e de um terreno na terra, além de depósitos em dinheiro, os números no patrimônio e na conta bancária foram reduzidos gradativamente. Mas não foi isso que fez com que o empresário largasse a igreja. O que intrigou
o fiel foi a mudança repentina de pastores. Após a saída do primeiro pastor que conheceu, os outros permaneciam menos de dois meses na cidade e já não apresentavam a família. Foi neste momento que ele começou a questionar a credibilidade da igreja e deixou de frequentar a Catedral da Fé.
Liquidação de milagres

TEORIA DA PROSPERIDADE. Das igrejas procuradas, o padre Reginaldo Manzotti foi o único que se dispôs a conversar e permitiu que a celebração fosse fotografada. Disse que não concorda com a “teoria da prosperidade”, amplamente divulgada pelas outras igrejas. Contou que não cobra cachê pelos seus shows e nem permite que os organizadores cobrem bilheteria. “O que permitimos é apenas a doação de alimentos não perecíveis. Entendo que o show é um primeiro
passo para que as pessoas voltem à Igreja e não acho certo que alguém deixe de participar por não ter R$ 3,00 para o ingresso. Sei que muitas vezes ela vai sem dinheiro nem para comprar um cachorro-quente e mesmo assim, passa o
dia esperando a celebração”, conta Manzotti.

O padre explica ainda que o dinheiro da venda dos seus Cds é todo revertido para a sociedade Evangelizar é Preciso, que mantém no centro da capital paranaense, junto a Igreja do Guadalupe. Esse recurso é utilizado na produção dos programas de rádio e TV que são distribuídos gratuitamente pelo Brasil. “Todas as nossas aquisições, equipamentos para a transmissão dos programas estão registradas em cartório em nome da arquidiocese. Nada está no meu nome. Eu sobrevivo com o salário que a Igreja me paga, assim como paga para todos os padres. Tudo isso ficará para os próximos sacerdotes que darão continuidade ao trabalho que iniciei”, explica Manzotti.

A CAMPO. Para verificar como funcionava cada culto e como as pessoas conseguiam as doações virtuosas, resolvemos percorrer anonimamente as principais igrejas neopentecostais de Curitiba. Iniciamos a peregrinação por uma missa do padre Reginaldo Manzotti, na Igreja do Guadalupe.

Na última quarta-feira de março, dia 30, ao meio-dia, cheguei com centenas de fiéis para acompanhar a missa. A igreja estava lotada. Pessoas de diferentes idades, de jovens a idosos. Quando o padre entrou, a música animada começou a tocar. Talvez o que mais diferencie das celebrações católicas tradicionais. A maioria acompanhava os passos e demonstrava adoração ao rito. No meio da celebração, os coroinhas se posicionam em locais estratégicos com as sacolas para receber as doações. Antes disso, no momento do sermão, Manzotti já havia falado da importância de se doar o dízimo, os 10% de tudo o que se recebe para a igreja, como manda a bíblia. Esta outra doação, menor e simbólica, que acontece no momento da comunhão e que semanalmente recebe uma contribuição, por menor que seja, da maioria dos fiéis, ajuda a manter as necessidades básicas da igreja. Olhando ao meu redor, percebo que a maioria dos fiéis deposita valores baixos, moedas ou notas pequenas de R$ 2,00 e R$ 5,00.

A missa durou exatamente uma hora. Quando termina as pessoas se apressam para sair da igreja. A maioria nem olha para o pedinte sentado junto ao portão. Uma senhora, que saía próximo de onde eu estava, comenta com a amiga: “Quer dinheiro para comprar pinga. Eu é que não vou ajudar. Por que não vai trabalhar?”. A amiga apenas ri. Nesta hora entendo quando o padre ressalta que busca a qualidade dos cristãos e não somente a quantidade.

Da Igreja do Guadalupe sigo a minha peregrinação para a Igreja Internacional da Graça de Deus. Lá o culto começa às 14 horas. Como fica a menos de quatro quadras da católica, sigo direto. Chego com meia hora de antecedência. Na entrada, uma espécie de antessala, sou recebida pelo pastor. Simpático, pergunta se preciso de ajuda. Sem jeito digo que quero assistir ao culto. Ele me entrega uma rosa branca, brinca que não preciso pagar nada por ela e posso entrar e esperar. Assim faço. Quando chego somente uns três fiéis já estão no templo. Todos sentados distantes uns dos outros.

Conforme os minutos vão passando, mais fiéis chegam. A maioria são mulheres e com mais de 50 anos. Uma senhora japonesa, sentada três fileiras a minha frente, entra sem a rosa. Acho estranho, mas como não sei qual o significado da flor só observo.

Pouco antes do culto começar, o pastor que me recebeu na porta, passa entre as cadeiras entregando as rosas para quem não pegou na entrada. Ele é simpático com todos. Quando chega na senhora sentada a minha frente pergunta porque ela não pegou a rosa. Ela responde que não trouxe o dinheiro. Meus sentidos ficam aguçados. Ele sorri e brinca que ela pode trazer o dinheiro no dia seguinte, ou ele passa o número da conta para ela. Com certeza se soubesse que sou jornalista e estava ali para escrever esta matéria não brincaria com isso. Se é que era brincadeira.

O culto começa com um menino engravatado no teclado e uma mulher que canta. Conforme ela aumenta o volume da voz e clama pelas graças de Deus, o som do teclado fica mais grave. Estranho porque eles utilizam muito a palavra de Satanás e Diabo. Logo percebo pelas falas e preces que a Igreja parte do princípio de que todos estão cheios e desanimados com tantos problemas. A mulher canta e ora por meia hora. Neste momento estava desconfiada que ela iria realizar toda a celebração. Mas eis que surge outro pastor.

Ele inicia sua celebração com um tom de voz alto, o menino do teclado termina a música e sai do palco. Ele fala muito. Coisas comuns a outras igrejas como que devemos fazer o bem e não podemos julgar os outros. A única pessoa apta para isso, segundo ele, é o Senhor. Aliás, a palavra “Senhor” é usada quase como um vício de linguagem. Assim como as palavras “Diabo” e “Satanás”. Presto atenção ao discurso e vejo que em vários momentos o pastor se contradiz. Diferente do início, agora além “do Senhor” os pastores também estão aptos a julgarem as pessoas. Afinal, são os escolhidos.

Ele lê alguns trechos do Novo Testamento e em seguida utiliza alguns exemplos pessoais, para aproximar mais a palavra dos fiéis. Conta quando ele chegou para cuidar da igreja em Paranavaí e só encontrou pessoas trajadas de maneira simples, a maioria de bermuda e chinelos. Na hora disse que pensou “Senhor, dê prosperidade para essa população senão não poderão ajudar a igreja”. Mais tarde, andando pela cidade, descobriu que aqueles homens de chinelos eram fazendeiros, e, portanto, poderiam contribuir — e muito — com a igreja.

Olho no relógio e vejo que já passou 1h15 de culto, e apesar do pastor falar muito em dinheiro, ainda não pediu a doação. Mas não demorou a vir. Menos de 15 minutos depois, pede aos seus ‘obreiros’ para pegar a contribuição de todos. Duas senhoras surgem com dois tipos de envelopes nas mãos. Ambos com espaço destinado para o nome e o telefone do fiel. Noto que a senhora que no início da celebração não pegou a flor porque disse que não tinha dinheiro, colocou uma nota de R$ 20,00 em um dos envelopes. Em seguida surge outro pastor com uma sacolinha. Nela os fiéis, ao menos os que consigo observar, depositam moedas. Me espanto quando vejo ao longe o pastor que me recebeu na entrada com uma máquina de cartão de crédito. Ele passa em todas as fileiras e para os fiéis que preferem utilizar o cartão para dar sua contribuição pergunta se preferem no débito ou crédito. A senhora atrás de mim doa R$ 513,00. Durante a peregrinação dos obreiros pelas oferendas, o pastor ressalta do palco a importância de se doar. Esta também não permite que se tirem fotos das celebrações ou que os pastores deem entrevista para a imprensa.

Já na semana seguinte (7 de abril, quinta- -feira), inicio a minha peregrinação pela Igreja Universal do Reino de Deus. Chego para o culto do meio-dia. Imaginei que o templo estaria lotado, mas, para minha surpresa, somente umas 20 pessoas participam da celebração. Maioria mulheres e de idade variada. O pastor tem no máximo 25 anos, sotaque carioca e uma oratória irrepreensível. Para meu espanto ele já começa o culto falando do dízimo. A importância em se doar 10% de tudo o que “passar pela nossa mão”, como faz questão de frisar. E ressalta ainda a importância de ser fiel a este
pagamento e a igreja, caso contrário, tudo o que se conquistar será perdido.

O REINO DO CÉU. Na realidade, pelo discurso do pastor dá para perceber claramente que a ‘felicidade’ e o ‘reino do céu’ para eles está ligado ao dinheiro, às conquistas financeiras. O exemplo que ele utiliza, de um mendigo que chegou na
igreja sem nada e que depois conquistou casa, carro, emprego e quando parou de pagar a igreja perdeu tudo, reforça a minha impressão.

Como em todas as outras igrejas que frequentei, o pastor tem a ajuda de uma outra pessoa para recolher as doações. No caso da Universal é um outro pastor. Ele distribui uma sacolinha para as pessoas interessadas em pagar o dízimo. O celebrante reforça a importância de entregar o dinheiro à igreja no dia em que recebe, “para não ser tentado pelo diabo a gastar com outra coisa”. Muitas pegam o envelope. Diferente da Igreja da Graça de Deus, nesta não tem local para colocar os dados pessoais do doador, mas os envelopes entregues são colocados sobre a Bíblia, uma forma de já abençoar.

JEJUM DE INFORMAÇÃO. Outra coisa que chama atenção é o jejum praticado pela igreja. Os fiéis são convidados a ficar 21 dias sem consumir nenhuma espécie de notícia. É o “jejum da informação”. Não assistem a jornais, escutam rádio ou leem revistas. Só podem sair do jejum para escutarem a palavra do bispo Edir Macedo, diariamente às 6, 12 e 23 horas.

Depois ele chama todos os fiéis a pegar o óleo consagrado. Todos fazem uma fila e ele passa o óleo nas mãos de todos, diz que é bom para atrair prosperidade, o que para eles é igual a dinheiro. Na saída, mais um convite para contribuir com a igreja, desta vez com o dinheiro que se tem na carteira, sem ser necessariamente o dízimo. Saio impressionada com a oratória do pastor e com a maneira como aquelas pessoas se deixam ludibriar.

Quando o fotógrafo Rodrigo Felix Leal vai à Universal tirar fotos da igreja é coagido pelos seguranças. Félix pergunta ao pastor se pode fotografar o culto, e é imediatamente proibido. Então atravessa a Avenida 7 de setembro para tirar fotos da fachada e um dos seguranças se aproxima dele e manda que vá embora. Ao responder prontamente que está na rua e que a rua é pública escuta do segurança: “Estou conversando com você na boa, não queira que os outros engrossem”. Coagido, o fotógrafo deixa o local.

O TEMPLO DE EDIR MACEDO

A réplica do templo de Salomão que o Bispo Edir Macedo pretende construir para justificar uma campanha de arrecadação e dar magnitude à sua igreja terá mais de 70 mil metros quadrados de área construída e ocupará um quarteirão na zona
leste de São Paulo.

Haverá lugar para que 10 mil fiéis assistam sentados aos cultos. O estacionamento abrigará 10 mil veículos.

O bispo, mestre desse tipo de pregação, cita três características para a construção:
1. Projeto desenhado por Deus;
2. Construção executada pelos Seus servos e
3. Única em todo o mundo.

Ele recorre à Bíblia para justificar seu pedido de dinheiro. Cita I Crônicas 29.5: “Quem, pois, está disposto, hoje, a trazer ofertas liberalmente ao Senhor?”

Edir informou que aplicará cerca de R$ 70 milhões só na terraplenagem do terreno e que as pedras serão importadas de Israel. O custo total da obra está estimado em R$ 200 milhões.

CURITIBA TEM A MAIOR IGREJA UNIVERSAL DO BRASIL

No início deste mês a Igreja Universal do Reino de Deus começou a demolição da sede histórica da Matte Leão S.A. O terreno de 16,3 mil metros quadrados no bairro Rebouças, dará lugar a uma nova Catedral da Fé – a maior do país.

A igreja do bispo Edir Macedo comprou a indústria por cerca de R$ 32 milhões, R$ 7 milhões a mais do o valor avaliado e com isso adquiriu o terreno e o direito de demolir o prédio histórico de 1901.

Mas algumas questões referentes ao novo templo ainda são confusas. A Igreja não comenta o assunto, nem este e nenhum outro, já que todos estão orientados a não dar nenhum tipo de declaração para a imprensa. A prefeitura de Curitiba
diz que desconhece a construção de uma igreja no local, já que a Secretaria Municipal de Urbanismo expediu até o momento apenas o alvará de demolição. Já os banners mostram a imagem de um templo da Universal. Apesar do projeto final ser uma incógnita, a parte que os técnicos do Ippuc e da Fundação Cultural tiveram acesso, mostram que está previsto a construção de um subsolo gigantesco, heliponto, torres de diferentes alturas, anfiteatro e uma cobertura para as autoridades eclesiásticas. (Revista Idéias)

 
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