domingo, 16 de setembro de 2012

O que hĂ¡ por trĂ¡s do IBOPE e DATAFOLHA



Essa semana IBOPE e DATAFOLHA mostraram o cenĂ¡rio do momento na corrida pela prefeitura de Curitiba. Na pesquisa mais recente, o IBOPE, o candidato a reeleiĂ§Ă£o Luciano Ducci (PSB) aparece na frente, tem um ponto a mais que Ratinho Junior (PSC), ou seja, estĂ£o empatados. Na DATAFOLHA Ratinho aparece seis pontos a frente de Ducci, o que significa o limite da margem de erro. Muito bem. Tirando a matemĂ¡tica bĂ¡sica, essas duas pesquisas trazem informações importantes para os candidatos e para o eleitor e escancaram os grandes erros e acertos nas estratĂ©gias usadas pelos trĂªs candidatos mais bem pontuados. Os dois jĂ¡ citados e Gustavo Fruet do PDT. Vamos entender qual Ă© a principal informaĂ§Ă£o desses Ăºltimos levantamentos, o que hĂ¡ por trĂ¡s dos nĂºmeros.

IBOPE. A pesquisa dĂ¡ um fĂ´lego novo para Luciano Ducci, que pela primeira vez rompeu a casa dos 30 pontos. A passada foi larga porque no Ăºltimo IBOPE ele tinha 23% e Ratinho 28%. Ou seja, Ducci foi o que mais cresceu. Foram 8 pontos, ultrapassou os 30% e o fenĂ´meno dessa eleiĂ§Ă£o, Ratinho JĂºnior. A partir de agora a turma de Ducci vai Acelerar mais a campanha para nĂ£o deixar o candidato perder ritmo e pontos.

DATAFOLHA. Esse levantamento releva sim os grandes erros das campanhas, em especial de Ducci e Fruet. Aqui Ratinho JĂºnior, como em todas as outras pesquisas, aparece bem pontuado, mas mais do que isso, lidera. Ratinho mostrou uma curva de crescimento constante, enquanto Ducci sofria para crescer, mesmo com as mĂ¡quinas municipal e estadual a seu favor e Fruet despencava, abraçado com os ministros Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo. Pois bem. Fica muito evidente que enquanto as turmas de Luciano Ducci e Gustavo Fruet tinham como foco atacar um ao outro o menino da eleiĂ§Ă£o corria pelas berradas e crescia. Tanto Ducci como Fruet acreditavam que Ratinho iria esvaziar, chegaria no teto e decresceria rĂ¡pido. Os dois achavam que iriam para o segundo turno e “protegiam” Ratinho imaginando ganhar o apoio dele na segunda disputa. Bem, nĂ£o deu certo. Foi uma projeĂ§Ă£o arrogante que beneficiou Ratinho, que de bobo nĂ£o tem nada. Agora nas prĂ³ximas 3 semanas podemos esperar uma mudança de estratĂ©gia, principalmente do grupo de Fruet que vai atacar. Ducci tambĂ©m jĂ¡ percebeu que nĂ£o poderĂ¡ simplesmente ficar olhando o fenĂ´meno de votos Ratinho, senĂ£o corre o risco de comer poeira. A partir de agora vale a mĂ¡xima de uma eleiĂ§Ă£o disputada: do pescoço para baixo Ă© tudo canela. (JH)

Ratinho Jr Ă© obrigado a tirar do ar inserções sobre “voto limpo”


Uma liminar do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) determinou que o candidato Ă  prefeitura de Curitiba Ratinho JĂºnior (PSC) retirasse do ar inserções de peças publicitĂ¡rias que estariam plagiando a campanha do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pelo “voto limpo”.
O pedido contra a coligaĂ§Ă£o Curitiba Criativa, de Ratinho JĂºnior, foi feito pela coligaĂ§Ă£o Curitiba Sempre na Frente, do candidato Luciano Ducci (PSB). De acordo com a decisĂ£o proferida pela juĂ­za Renata Estorilho Baganha, na noite de sĂ¡bado (15), as inserções “sĂ£o, em princĂ­pio, plĂ¡gios de propagandas institucionais do Tribunal Superior Eleitoral.” “O que vemos Ă© uma propaganda que nĂ£o condiz com o processo eleitoral, na sua transparĂªncia, veracidade e isonomia, induzindo em erro o eleitor, em princĂ­pio.”
Outro lado
A juĂ­za determinou que uma cĂ³pia dos autos seja enviada Ă  PolĂ­cia Federal para apuraĂ§Ă£o de crime contra a propriedade intelectual. Segundo o advogado que representa a coligaĂ§Ă£o de Ratinho JĂºnior, Guilherme Gonçalves, as inserções nĂ£o sĂ£o plĂ¡gio. “NĂ³s respeitamos a decisĂ£o judicial e jĂ¡ retiramos do ar, mas vamos fazer a nossa defesa dentro do prazo de 48 horas. NĂ³s entendemos que a campanha nĂ£o pretende que o leitor seja induzido ao erro”, disse Gonçalves. (GP)

Presidente da 2ª zonal abandona Fruet e PDT


O jornalista Carlos Bahia, 53 anos, presidente da 2ª Zonal do PDT em Curitiba se desfiliou do partido e abandonou a candidatura de Gustavo Fruet. “Falta consistĂªncia nas propostas, nĂ£o tem trabalho de base, excluĂ­ram a militĂ¢ncia da campanha e blindaram o candidato”, disse Bahia que coordenava o PDT na regiĂ£o do Boa Vista.

         Bahia conta que era filiado ao PDT desde 1984, na Ă©poca do movimento estudantil, e jĂ¡ coordenou comitĂªs de campanha nas eleições anteriores, entre eles, o do senador Osmar Dias na disputa do Governo do Estado em 2011. “Hoje, grupos se deflagram no comando de campanha. HĂ¡ um mĂªs, entregamos uma carta com centenas de assinaturas repudiando da forma que estĂ¡ sendo conduzida a campanha. NĂ£o teve qualquer efeito prĂ¡tico”, disse.

“A maioria dos pedetistas estĂ¡ muito descontente. Eu saio com mais 50 companheiros, lĂ­deres comunitĂ¡rios, professores, estudantes e trabalhadores – a base do partido”, completou Bahia.

         O jornalista passa a integrar o ComitĂª SuprapartidĂ¡rio Luciano Ducci 40, formado por militantes e lideranças do PMDB, PV, PDT e PV. “HĂ¡ uma identificaĂ§Ă£o da base popular do PDT com as propostas do prefeito Luciano que jĂ¡ faz um forte investimento nas Ă¡reas sociais. Sua proposta de acabar com misĂ©ria e a pobreza em Curitiba, devia ser a proposta Ăºnica de todos os partidos nesta campanha”, disse.

"Quem nĂ£o reagiu estĂ¡ vivo"


*MARIA RITA KEHL

"Quem nĂ£o reagiu estĂ¡ vivo", disse o governador de SĂ£o Paulo ao defender a aĂ§Ă£o da Rota na chacina que matou nove supostos bandidos numa chĂ¡cara em VĂ¡rzea Paulista, na Ăºltima quarta-feira, dia 12. Em seguida, tentando aparentar firmeza de estadista, garantiu que a ocorrĂªncia serĂ¡ rigorosamente apurada.
Eu me pergunto se Ă© possĂ­vel confiar na lisura do inquĂ©rito, quando o prĂ³prio governador jĂ¡ se apressou em legitimar o morticĂ­nio praticado pela PM que responde ao comando dele.
"ResistĂªncia seguida de morte": assim agentes das PolĂ­cias Militares, integrantes do ExĂ©rcito e diversos matadores free-lancer justificavam as execuções de supostos inimigos pĂºblicos que militavam pela volta da democracia durante a ditadura civil militar, a qual oprimiu a sociedade e tornou o paĂ­s mais violento, menos civilizado e muito mais injusto entre 1964 e 1985.
Suprimida a liberdade de imprensa, criminalizadas quaisquer manifestações pĂºblicas de protesto, o Estado militarizado teve carta branca para prender sem justificativa, torturar e matar cerca de 400 estudantes, trabalhadores e militantes polĂ­ticos (dos quais 141 permanecem atĂ© hoje desaparecidos e outros 44 nunca tiveram seus corpos devolvidos Ă s famĂ­lias -tema atual de investigaĂ§Ă£o pela ComissĂ£o Nacional da Verdade).
Esse nĂºmero, por si sĂ³ alarmante, nĂ£o inclui os massacres de milhares de camponeses e Ă­ndios, em regiões isoladas e cuja conta ainda nĂ£o conseguimos fechar. Mais cĂ­nicas do que as cenas armadas para aparentar trocas de tiros entre policiais e militantes cujos corpos eram entregues Ă s famĂ­lias totalmente desfigurados, foram os laudos que atestavam os inĂºmeros falsos "suicĂ­dios".
HERZOG A impunidade dos matadores era tĂ£o garantida que eles nĂ£o se preocupavam em justificar as marcas de tiros pelas costas, as pancadas na cabeça e os hematomas em vĂ¡rias partes do corpo de prisioneiros "suicidados" sob sua guarda. Assim como nĂ£o hesitaram em atestar o suicĂ­dio por enforcamento com "suspensĂ£o incompleta", na expressĂ£o do legista Harry Shibata, em depoimento Ă  ComissĂ£o da Verdade, do jornalista Vladimir Herzog numa cela do DOI-Codi, em SĂ£o Paulo.
Quando o Estado, que deveria proteger a sociedade a partir de suas atribuições constitucionais, investe-se do direito de mentir para encobrir seus prĂ³prios crimes, ninguĂ©m mais estĂ¡ seguro. Engana-se a parcela das pessoas de bem que imaginam que a suposta "mĂ£o de ferro" do governador de SĂ£o Paulo seja o melhor recurso para proteger a populaĂ§Ă£o trabalhadora.
Quando o Estado mente, a populaĂ§Ă£o jĂ¡ nĂ£o sabe mais a quem recorrer. A falta de transparĂªncia das instituições democrĂ¡ticas -qualificaĂ§Ă£o que deveria valer para todas as polĂ­cias, mesmo que no Brasil ainda permaneçam como polĂ­cias militares- compromete a segurança de todos os cidadĂ£os.
Vejamos o caso da Ăºltima chacina cometida pela PM paulista, cujos responsĂ¡veis o governador de SĂ£o Paulo se apressou em defender. NĂ£o Ă© preciso comentar a bestialidade da prĂ¡tica, jĂ¡ corriqueira no Brasil, de invariavelmente sĂ³ atirar para matar -frequentemente com mais de um tiro.
AlĂ©m disso, a justificativa apresentada pelo governador tem pelo menos uma Ă³bvia exceĂ§Ă£o. Um dos mortos foi o suposto estuprador de uma menor de idade, que acabava de ser julgado pelo "tribunal do crime" do PCC na chĂ¡cara de VĂ¡rzea Paulista. Ora, nĂ£o faz sentido imaginar que os bandidos tivessem se esquecido de desarmar o rĂ©u Maciel Santana da Silva, que foi assassinado junto com os outros supostos resistentes.
AliĂ¡s, o "tribunal do crime" acabara de inocentar o acusado: o senso de justiça da bandidagem nesse caso estĂ¡ acima do da PM e do prĂ³prio governo do Estado. Maciel Santana morreu desarmado. E apesar da ausĂªncia total de marcas de tiros nos carros da PM, assim como de mortos e feridos do outro lado, o governador nĂ£o se vexa de utilizar a mesma retĂ³rica covarde dos matadores da ditadura -"resistĂªncia seguida de morte", em versĂ£o atualizada: "Quem nĂ£o reagiu estĂ¡ vivo".
CAMORRA Ora, do ponto de vista do cidadĂ£o desprotegido, qual a diferença entre a lĂ³gica do trĂ¡fico, do PCC e da polĂ­tica de Segurança PĂºblica do governo do Estado de SĂ£o Paulo? Sabemos que, depois da onda de assassinatos de policiais a mando do PCC, em maio de 2006, 1.684 jovens foram executados na rua pela polĂ­cia, entre chacinas nĂ£o justificadas e casos de "resistĂªncia seguida de morte", numa aĂ§Ă£o de vendeta que nĂ£o faria vergonha Ă  Camorra. Muitos corpos nĂ£o foram atĂ© hoje entregues Ă s famĂ­lias e jazem insepultos por aĂ­, tal como aconteceu com jovens militantes de direitos humanos assassinados e desaparecidos no perĂ­odo militar.
ResistĂªncia seguida de morte, nĂ£o: tortura seguida de ocultaĂ§Ă£o do cadĂ¡ver. O grupo das MĂ£es de Maio, que hĂ¡ seis anos luta para saber o paradeiro de seus filhos, nĂ£o tem com quem contar para se proteger das ameaças da prĂ³pria polĂ­cia que deveria ajudĂ¡-las a investigar supostos abusos cometidos por uma suposta minoria de maus policiais. No total, a polĂ­cia matou 495 pessoas em 2006.
Desde janeiro deste ano, escreveu RogĂ©rio Gentile na Folha de 13/9, a PM da capital matou 170 pessoas, nĂºmero 33% maior do que os assassinatos da mesma ordem em 2011. O crime organizado, por sua vez, executou 68 policiais. Quem estĂ¡ seguro nessa guerra onde as duas partes agem fora da lei?
ASSASSINATOS A pesquisadora norte-americana Kathry Sikkink revelou que o Brasil foi o Ăºnico paĂ­s da AmĂ©rica Latina em que o nĂºmero de assassinatos cometidos pelas polĂ­cias militares aumentou, em vez de diminuir, depois do fim da ditadura civil-militar.
Mudou o perfil socioeconĂ´mico dos mortos, torturados e desaparecidos; diminuiu o poder das famĂ­lias em mobilizar autoridades para conseguir justiça. Mas a mortandade continua, e a sociedade brasileira descrĂª da democracia.
Hoje os supostos maus policiais talvez sejam minoria, e nĂ£o seria difĂ­cil apurar suas responsabilidades se houvesse vontade polĂ­tica do governo. No caso do terrorismo de Estado praticado no perĂ­odo investigado pela ComissĂ£o da Verdade, mais importante do que revelar os jĂ¡ conhecidos nomes de agentes policiais que se entregaram Ă  barbĂ¡rie de torturar e assassinar prisioneiros indefesos, Ă© fundamental que se consiga nomear toda a cadeia de mando acima deles.
Se a tortura aos oponentes da ditadura foi acobertada, quando nĂ£o consentida ou ordenada por autoridades do governo, o que pensar das chacinas cometidas em plena democracia, quando governadores empenham sua autoridade para justificar assassinatos cometidos pela polĂ­cia sob seu comando?
Como confiar na seriedade da atual investigaĂ§Ă£o, conduzida depois do veredicto do governador Alckmin, desde logo favorĂ¡vel Ă  aĂ§Ă£o da polĂ­cia? Qual Ă© a lisura que se pode esperar das investigações de graves violações de Direitos Humanos cometidas hoje por agentes do Estado, quando a eliminaĂ§Ă£o sumĂ¡ria de supostos criminosos pelas PMs segue os mesmos procedimentos e goza da mesma impunidade das chacinas cometidas por quadrilhas de traficantes?
NĂ£o hĂ¡ grande diferença entre a crueldade praticada pelo trĂ¡fico contra seis meninos inocentes, no Ăºltimo domingo, no Rio, e a execuĂ§Ă£o de nove homens na quarta, em SĂ£o Paulo. O inquietante paralelismo entre as ações da polĂ­cia e dos bandidos põe a nu o desamparo de toda a populaĂ§Ă£o civil diante da violĂªncia que tanto pode vir dos bandidos quanto da polĂ­cia.
"Chame o ladrĂ£o", cantava o samba que Chico Buarque compĂ´s sob o pseudĂ´nimo de Julinho da Adelaide. Hoje "os homens" nĂ£o invadem mais as casas de cantores, professores e advogados, mas continuam a arrastar moradores "suspeitos" das favelas e das periferias para fora dos barracos ou a executar garotos reunidos para fumar um baseado nas esquinas das periferias das grandes cidades.
PELA CULATRA Do ponto de vista da segurança pĂºblica, este tiro sai pela culatra. "Combater a violĂªncia com mais violĂªncia Ă© como tentar emagrecer comendo aĂ§Ăºcar", teria dito o grande psicanalista HĂ©lio Pellegrino, morto em 1987.
E o que Ă© mais grave: hoje, como antes, o Estado deixa de apurar tais crimes e, para evitar aborrecimentos, mente para a populaĂ§Ă£o. O que parece ser decidido em nome da segurança de todos produz o efeito contrĂ¡rio. O Estado, ao mentir, coloca-se acima do direito republicano Ă  informaĂ§Ă£o -portanto, contra os interesses da sociedade que pretende governar.
O Estado, ao mentir, perde legitimidade -quem acredita nas "rigorosas apurações" do governador de SĂ£o Paulo? Quem jĂ¡ viu algum resultado confiĂ¡vel de uma delas? Pensem no abuso da violĂªncia policial durante a aĂ§Ă£o de despejo dos moradores do Pinheirinho... O Estado mente -e desampara os cidadĂ£os, tornando a vida social mais insegura ao desmoralizar a lei. A quem recorrer, entĂ£o?
A lei Ă© simbĂ³lica e deve valer para todos, mas o papel das autoridades deveria ser o de sustentar, com sua transparĂªncia, a validade da lei. O Estado que pratica vendetas como uma Camorra destrĂ³i as condições de sua prĂ³pria autoridade, que em consequĂªncia disso passarĂ¡ a depender de mais e mais violĂªncia para se sustentar.

*Integrante da ComissĂ£o da Verdade, a psicanalista Maria Rita Kehl 

 
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