terça-feira, 18 de maio de 2010

O falso moralismo dos meios de comunicação a serviço da alienação e da manutenção do “status quo”


O falso moralismo dos meios de comunicação a serviço da alienação e da manutenção do “status quo”


Tivemos como herança imperial portuguesa a tradição do Estado ser dirigido por um sistema oligárquico patrimonialista. Até o Império este só se formatava enquanto poder dentro da aristocracia da terra e após a falsa República este critério perdeu a significância e assim os médios grupos políticos econômicos micro de caráter micro regional ganharam maior espaço de ação. Está liberalização de poder acabou fortalecendo o coronelismo e as suas vertentes. Por não ter sido via ruptura o processo de instalação da Republica gerou está pequena abertura para a ascensão social na estrutura de poder, mas este continuou a ser calcado nos antigos valores de organização social imperial, já que a maior parte dos protagonistas era quase que os mesmos representantes das oligarquias rurais oriundos da aristocracia da terra.

Com o tempo a questão de ter origem aristocrática ou não perde o seu valor e o que importa é o poder econômico político de ação na luta pelos espaços de poder, mas os valores patrimonialistas herdados da aristocracia continuam os mesmos e o compadrio se faz presente em cada ato que deveria que deferia ser público, mas que de fato é privado.

Nenhum dos que atualmente ocupam, salvo raras e honrosas exceções, os poderes públicos estão imunes a este tipo de relação de poder. Este “monstro social”, que não foram eles que inventaram, faz parte da nossa forma de ser, pois as relações dos clãs e destes com seus agregados ainda é o eixo central de nossa organização social, já que é assim que as famílias, por tradição integrista católica, se organizam desde o Brasil colônia.

Fazendo uma corruptela com o foi dito por Hermes Trimegisto em sua obra a “Tábua de Esmeralda”:

“Verdadeiramente certo e absoluto, sem mentiras.
O que está acima é como o que está abaixo, e o que está abaixo é como o que está acima, para que se realize o mistério da coisa única. Assim como todas as coisas vieram do UM, através do UM, todas as coisas para o UM retornam”

Chego à conclusão de que se o poder que gere a sociedade é oligárquico e patrimonialista é por que nós da base da pirâmide social também ideologicamente o somos.

Está nossa forma de sermos reflete nas nossas atitudes diárias, onde para uma grande maioria o que vale é o “se dar bem” e a “lei de Gerson” e assim o politicamente correto não se faz presente como uma constante para a “sobrevivência das famílias”.

Quem usando do tristemente famoso “jeitinho brasileiro” não perguntou: “Mas não tem um jeito especial?”, ou disse “Tenho de pensar primeiro em minha família”?

Da frase “tenho um amigo que pode quebrar este galho” ou “eu sou amigo do fulano de tal” e sem esquecer-se do “vou falar com o compadre para resolver isto” é usada todos os dias por um enorme contingente e este tipo de discurso é o que alimenta o nosso secular “monstro social”, assim impedindo que a meritocracia se faça presente e o que “quem me indicou” vá para a lata do lixo da nossa história.

Qualquer sociedade onde o humanismo que nos coloca como iguais e a meritocracia pelo que foi feito em relação ao bem comum como forma de ascensão social não se faz presente estará fadada ao fracasso por não fortalecer o sentimento nacional em relação ao que é publico.

Nesta nossa ansiedade para que as coisas mudem, embora ao mesmo tempo façamos muito pouco do ponto de vista individual para que a realidade mude, acabamos por cair no engodo do discurso falso moralista tanto nas nossas relações pessoais como do ponto de vista do que é imposto pelo aparato midiático, ao qual não questionamos a serviço de quem o do que está.

Será que quando os meios de comunicação privados formatam os seus discursos eles estão querendo de fato promover mudanças estruturais para melhorar o que é público ou somente usam de meros bordões apropriados para uma determinada ocasião onde os seus interesses de clãs, já que estes são propriedades de famílias, não foi econômica oligárquica e patrimonialisticamente atendidos? Outra pergunta é sobre quem está financiando a determinadas campanhas das emissoras e quais são os interesses que existem para que as mesmas sejam feitas?

Já que nada neste sistema é de graça fica claro que quando uma emissora ou meio de comunicação divulga uma determinada campanha alguém está pagando por ela, pois o objetivo das empresas de comunicações é o lucro e este para elas está acima da ética em sociedade.

Ao fazerem as denúncias estes meios nunca vão a fundo, pois para que ajam os acertos eles atacam somente base, a periferia, da questão alvo, assim deixando o espaço de negociação com a cúpula em aberto. Eles criam as dificuldades para depois venderem as facilidades, e está são os elogios ou até mesmo o silêncio sobre os fatos.

Quando estão a serviço de um lado em disputa os venais meios de comunicação usam de um escândalo para abafar um outro, pois em um país com tantos descaminhos matérias para se fazer denúncias é o que não falta, mas um problema menor se for bem divulgado com amplitude se torna muito maior e assim abafa o gigantesco escândalo anterior.

Faz-se a denúncia de forma isolada, já que o motivo desta não é trazer a análise crítica contra a forma com que se estrutura o poder e sim destruir um determinado grupo para que o outro com iguais intenções, mas que os financia, ascendam ao poder. O que importa é o lucro atual e futuro e não o compromisso com a mudança social.

A função da grande mídia é a manutenção do atual sistema imperial neocolonial e não as transformações que o Brasil e o mundo tanto necessitam e para que isto ocorra estes meios reproduzem a excludente ideologia vigente.

Aqui no estado a pouco estourou a denúncia sobre a máfia CIAP e, está que já acabou em várias prisões, envolve o desvio de 300.000.000 milhões, ou mais, em um total de um bilhão em verbas do governo federal destinadas ao social, mas o que importa para a RPC e seus amigos é a denúncia sobre a ALEP e seus ex-diretores. Não acham no mínimo estranho tal prioridade?

O governo do PT, partido que um dia disse que "vinha para fazer a diferença", hoje financia a programação da rede Globo, como também banca outros mais de quatro mil e quinhentos meios de comunicação, caiu no lugar comum, pois em busca da tal "governavilidade". Isto implica em acordos o grande capital internacionaol e com as oligarquias regionais e micro regionais locais. Assim o governo encabeçado pelo PT abriu mão dos projetos estratégicos para o desenvolvimento soberano do país para se tornar o "consenso" do ponto de vista dos interesses destas elites. Estes são ou entreguistas do ponto de vista da inviabilização do nosso desenvolvimento industrial nacional ou se perdem nas pequenas reinvidicações microregionais em benefício das elites agrárias, que com o grande capital internacional mantém a séculos uma relação dependente e promiscua co ponto de vista dos interesses nacionais. Assim todo dia explode um escândalo envolvendo o governo federal, mas a venal mídia negociando gordas verbas publicitárias abafa os mesmos.

Contra a ALEP o noticiário diário de TV e a capa do jornal e para o escândalo envolvendo a OSCIP poucas linhas e sobre o que está por trás desta triste realidade histórica da qual fazemos parte e também indiretamente somos protagonistas não se publica uma única linha, pois o que interessa são os lucros oriundos da divulgação do escândalo e não a nossa transformação cultural pelo entendimento da realidade. O que será que está demonização da ALEP está abafando? Será que o "centro do mal" é a ALEP?

Para o observador mais atento o que está implícito neste jogo de interesses é a lógica do "Aos amigos, tudo; aos inimigos a lei?” ou a dos "Dois pesos para uma mesma medida?".

Emocionalmente envolvidos pela saraivada de novos escândalos abafando os antigos esquecemos de questionar as nossas práticas diárias e muito menos tentar entender a origem dos nossos problemas coletivos e tentar mudar o que deve ser mudado, pois anestesiados somos induzidos a pensar que as coisas são assim e que nada pode ser mudado.


Vale à pena ler este texto do *professor Laurindo Lalo Leal Filho:


De Bonner para Homer


Um grupo de professores da USP está reunido em torno da mesa onde o apresentador de tevê William Bonner realiza a reunião de pauta matutina do Jornal Nacional, na quarta-feira, 23 de novembro.

Alguns custam a acreditar no que vêem e ouvem. A escolha dos principais assuntos a ser transmitido para milhões de pessoas em todo o Brasil, dali a algumas horas, é feita superficialmente, quase sem discussão.

Os professores estão lá a convite da Rede Globo para conhecer um pouco do funcionamento do Jornal Nacional e algumas das instalações da empresa no Rio de Janeiro. São nove, de diferentes faculdades e foram convidados por terem dado palestras num curso de telejornalismo promovido pela emissora juntamente com a Escola de Comunicações e Artes da USP. Eles chegaram ao Rio no meio da manhã e do Santos Dumont uma van os levou ao Jardim Botânico.

A conversa com o apresentador, que é também editor-chefe do jornal, começa um pouco antes da reunião de pauta, ainda de pé numa ante-sala bem suprida de doces, salgados, sucos e café. E sua primeira informação viria a se tornar referência para todas as conversas seguintes. Depois de um simpático bom-dia, Bonner informa sobre uma pesquisa realizada pela Globo que identificou o perfil do telespectador médio do Jornal Nacional. Constatou-se que ele tem muita dificuldade para entender notícias complexas e pouca familiaridade com siglas como BNDES, por exemplo. Na redação, foi apelidado de Homer Simpson. Trata-se do simpático, mas obtuso personagem dos Simpsons, uma das séries estadunidenses de maior sucesso na televisão em todo o mundo. Pai da família Simpson, Homer adora ficar no sofá, comendo rosquinhas e bebendo cerveja. É preguiçoso e tem o raciocínio lento.

A explicação inicial seria mais do que necessária. Daí para frente o nome mais citado pelo editor-chefe do Jornal Nacional é o do senhor Simpson. Essa o Homer não vai entender, diz Bonner, com convicção, antes de rifar uma reportagem que, segundo ele, o telespectador brasileiro médio não compreenderia.

Mal estar entre alguns professores. Dada a linha condutora dos trabalhos atender ao Homer, passa-se à reunião para discutir a pauta do dia. Na cabeceira, o editor-chefe; nas laterais, alguns jornalistas responsáveis por determinadas editorias e pela produção do jornal; e na tela instalada numa das paredes, imagens das redações de Nova York, Brasília, São Paulo e Belo Horizonte, com os seus representantes. Outras cidades também suprem o JN de notícias (Pequim, Porto Alegre, Roma), mas elas não entram nessa conversa eletrônica. E, num círculo maior, ainda ao redor da mesa, os professores convidados. É a teleconferência diária, acompanhada de perto pelos visitantes.

Todos recebem, por escrito, uma breve descrição dos temas oferecidos pelas praças (cidades onde se produzem reportagens para o jornal) que são analisados pelo editor-chefe. Esse resumo é transmitido logo cedo para o Rio e depois, na reunião, cada editor tenta explicar e defender as ofertas, mas eles não vão muito além do que está no papel. Ninguém contraria o chefe.

A primeira reportagem oferecida pela praça de Nova York trata da venda de óleo para calefação a baixo custo feita por uma empresa de petróleo da Venezuela para famílias pobres do estado de Massachusetts. O resumo da oferta jornalística informa que a empresa venezuelana, que tem 14 mil postos de gasolina nos Estados Unidos, separou 45 milhões de litros de combustível para serem vendidos em parcerias com ONGs locais a preços 40% mais baixos do que os praticados no mercado americano”. Uma notícia de impacto social e político.

O editor-chefe do Jornal Nacional apenas pergunta se os jornalistas têm a posição do governo dos Estados Unidos antes de, rapidamente, dizer que considera a notícia imprópria para o jornal. E segue em frente.

Na seqüência, entre uma imitação do presidente Lula e da fala de um argentino, passa a defender com grande empolgação uma matéria oferecida pela praça de Belo Horizonte. Em Contagem, um juiz estava determinando a soltura de presos por falta de condições carcerárias. A argumentação do editor-chefe é sobre o perigo de criminosos voltarem às ruas. Esse juiz é um louco, chega a dizer indignado. Nenhuma palavra sobre os motivos que levaram o magistrado a tomar essa medida e, muito menos, sobre a situação dos presídios no Brasil. A defesa da matéria é em cima do medo, sentimento que se espalha pelo País e rende preciosos pontos de audiência.

Sobre a greve dos peritos do INSS, que completava um mês matéria oferecida por São Paulo, o comentário gira em torno dos prejuízos causados ao órgão. Quantos segurados já poderiam ter voltado ao trabalho e, sem perícia, continuam onerando o INSS ouve-se. E sobre os grevistas? Nada.

De Brasília é oferecida uma reportagem sobre a importância do superávit fiscal para reduzir a dívida pública. Um dos visitantes, o professor Gilson Schwartz, observou como a argumentação da proponente obedecia aos cânones econômicos ortodoxos e ressaltou a falta de visões alternativas no noticiário global.

Encerrada a reunião segue-se um tour pelas áreas técnica e jornalística, com a inevitável parada em torno da bancada onde o editor-chefe senta-se diariamente ao lado da esposa para falar ao Brasil. A visita inclui a passagem diante da tela do computador em que os índices de audiência chegam a tempo real. Líder eterna, a Globo pela manhã é assediada pelo Chaves mexicano, transmitido pelo SBT. Pelo menos é o que dizem os números do Ibope.

E no almoço, antes da sobremesa, chega o espelho do Jornal Nacional daquela noite (no jargão, espelho é a previsão das reportagens a serem transmitidas, relacionadas pela ordem de entrada e com a respectiva duração). Nenhuma grande novidade. A matéria dos presos libertados pelo juiz de Contagem abriria o jornal. E o óleo barato do Chávez venezuelano foi para o limbo.

Diante de saborosas tortas e antes de seguirem para o Projac o centro de produções de novelas, seriados e programas de auditório da Globo em Jacarepaguá os professores continuam ouvindo inúmeras referências ao Homer. A mesa é comprida e em torno dela notam-se alguns olhares constrangidos.

* Ele é sociólogo e jornalista. Professor do Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e Artes da USP, é professor do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Fundou e presidiu a ONG Tver, voltada para o acompanhamento da qualidade da televisão brasileira. Integra a Comissão de Acompanhamento da Programação de TV da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e é membro da ONG Midiativa. Apresenta o VerTV, primeiro programa de análise de televisão brasileira, transmitido pela TV Câmara e pela TV Nacional de Brasília. Assinou por cinco anos a coluna de televisão da revista Educação. É autor de Atrás das câmeras – Relações entre cultura, Estado e televisão, A melhor TV do mundo e A TV sob controle, todos publicados pela Summus.

 
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