sexta-feira, 30 de julho de 2010

RECORDANDO A ELEIÇÃO DE 2006:



ENTREVISTA COM OSMAR DIAS:

PEDETISTA SUSTENTA QUE GOVERNOS ANTERIORES DEIXARAM 280 MUNICÍPIOS DO PARANÁ COM IDH ABAIXO DA MÉDIA NACIONAL

Senador diz que faz oposição, mas tem diálogo com governo

MARI TORTATO

DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

Osmar Dias defende seu vice, rebate acusações de enriquecimento ilícito e diz que pagou propriedade no Tocantins com seu dinheiro

O candidato do PDT ao governo do Paraná, Osmar Dias, 54, critica governos anteriores dos quais fez parte -de Alvaro Dias (PSDB), seu irmão, do próprio rival, Roberto Requião (PMDB), e de quem o apóia agora, Jaime Lerner (ex-PFL, hoje PSB)- para justificar a necessidade de ampliação de programas assistencialistas. Osmar diz que as políticas públicas dos governadores dos últimos 20 anos fracassaram e que o estilo precisa mudar. Na gestão do irmão, o senador reeleito Alvaro Dias, ele foi presidente de uma empresa estadual de fomento. No primeiro governo Requião, foi secretário da Agricultura. Osmar diz que modernizou a agricultura do Paraná quando foi secretário de Requião, mas que não era o governador para colocar em prática programas sociais.

Leia os principais trechos da entrevista:

FOLHA - Seu rival diz que o sr. não tem programa de governo. Que marca pretende deixar, se vencer?
OSMAR DIAS - Quem fala que não tenho projeto deixou o Estado sofrer uma queda de 3% na indústria em 12 meses. Proponho um projeto claro de desenvolvimento para a agricultura, a agroindústria e para atrair investimentos. O Estado tem que abrir o diálogo com os investidores, ser parceiro, e não espantar investidores.

FOLHA - Quanto vale hoje sua fazenda de 8.335 hectares em Formoso do Araguaia, no Tocantins, que o sr. declarou por R$ 2,5 milhões?
OSMAR - Comprei por R$ 2,5 milhões, em 2003. Não sei, não fiz avaliação, mas é só pegar as áreas que estão sendo vendidas perto dela. Tem uma oferta de área de 25 mil alqueires, perto dela, por R$ 40 mil. Fiz um bom negócio, paguei com meu dinheiro, limpo.

FOLHA - Como o sr. pretende se relacionar com o MST, se eleito governador? Pelas terras que herdou e comprou, o sr. é um latifundiário.
OSMAR - Depende do conceito. Para o Tocantins, a fazenda é uma propriedade média. Meu relacionamento com os movimentos sociais será de acordo com a Constituição e a lei e o que elas preceituam: propriedade improdutiva deve ser desapropriada; a que tem projeto em execução é produtiva e a que esteja produzindo não pode ser invadida.

FOLHA - O sr. diz que não sabia das ações por suspeita de improbidade administrativa e fraude em licitações que seu vice [ex-prefeito de Toledo Derli Donin] responde na Justiça e que pediu levantamento à assessoria jurídica. Pensa em trocá-lo?
OSMAR - Não. Isso seria a atitude extrema. Os processos do vice foram impetrados por adversários políticos. Confio que todas as respostas dele serão positivas para a falta de fundamento das denúncias. São processos não julgados e que o candidato à reeleição [Requião] tem mais de 200 iguais.

FOLHA - Caso Lula se reeleja e o sr. se eleja, como será a relação com o presidente que não apoiou?
OSMAR - Em janeiro de 2003, o [Leonel] Brizola avisou que estávamos nos afastando porque ele não concordava com a linha que o governo adotava. Então o PDT foi oposição do primeiro mês até hoje. Votamos matérias a favor quando achamos que era importante. Mas foi um partido de oposição. Nem por isso deixei de ter entendimento com o presidente. Fui chamado várias vezes para opinar sobre agricultura, ajudei a fazer o projeto do biodiesel. Pretendo enriquecer esse diálogo juntando a bancada do Estado.

FOLHA - Se eleito, pretende manter algum programa do atual governo?
OSMAR - O de [isenção] de micro e pequenas empresas, vamos melhorar e ampliar faixas. Esses assistencialistas [de distribuição de leite para crianças e subsídio nas contas de luz e água a famílias pobres], vamos ampliar. Essa é a maior prova de que o Paraná precisa mudar o estilo de governo. De 1990 a 2006, lá se foram 16 anos, e só teve dois governadores [Lerner e Requião]. E esses dois governadores deixaram 280 municípios com IDH abaixo da média nacional. Todos os indicadores são piores que dos Estados vizinhos. Isso revela o fracasso das políticas públicas dos últimos governos. E, se voltarmos a 1986, serão três, em 20 anos: do Alvaro, do Lerner e do Requião.

Folha - O sr. integrou as equipes de Alvaro e Requião. É co-responsável...
OSMAR - Não. Se você voltar no passado, vai ver que a agricultura do Paraná foi a mais moderna do país. Foi com ela que o Paraná pôde se manter até hoje. Os governos fracassaram com as políticas sociais. Fui um secretário da Agricultura, não um governador para colocar em prática projetos de educação, saneamento e segurança.

Folha - O sr. define Requião como um governante autoritário. Mas há quem aponte semelhança no perfil do senhor. O sr. é autoritário?
OSMAR- De jeito nenhum, eu dialogo muito. A minha convivência com ele por oito anos no Senado fez com que eu aprendesse a fazer o contrário do que ele faz. Foi bom exemplo para que eu não seguisse. Eu não censuro jornalista.



Requião é oportunista ao apoiar Lula, afirma Osmar Dias

Larissa Morais
Da Redação, em São Paulo

O senador Osmar Fernandes Dias (PDT), 54, já foi secretário de Agricultura no primeiro governo de Roberto Requião (PMDB). Hoje o governador e candidato à reeleição é o maior adversário do pedetista.

Na entrevista para o UOL, Osmar critica duramente o governador, e chega a comparar a ambição de governar o Paraná por 12 anos (Requião já está no segundo mandato; o primeiro foi de 1991 a 1994) à longevidade dos ditadores no poder.

Para Osmar, a atração de empresas para o Estado foi débil nos últimos anos em razão da "postura agressiva" do governo, que trataria empresários como adversários.

Sobre a dificuldade do adversário em declarar apoio explícito ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o senador diz que esse comportamento é oportunismo. "Se Lula passar Alckmin no Paraná, ele passa a apoiar o presidente", diz Osmar. Pesquisa recente do Datafolha mostrou empate técnico entre os presidenciáveis no Estado.

No início da campanha, o candidato do PDT oscilava ao redor de 20% das intenções de voto nas pesquisas. O governador manteve-se estável - na pesquisa Ibope divulgada no dia 7 de agosto, tinha 39%. Em três meses, Osmar cresceu e obteve 38,6% dos votos válidos, contra 42,81% de Requião.

A carreira voltada para a agricultura é um dos trunfos de Osmar para conseguir votos no interior. Na capital, o candidato tem a seu lado um dos maiores cabos eleitorais do Estado, o prefeito Beto Richa (PSDB).

Ex-tucano, Osmar Dias é irmão do também senador Álvaro Dias (PSDB). Engenheiro agrônomo, está no Senado desde 1995. Antes, foi professor de agronomia, presidiu a Companhia Agropecuária de Fomento Econômico do Paraná (1983-1986) e foi secretário da Agricultura (1987-1994).

Leia a seguir os principais trechos da entrevista:


UOL - A última pesquisa Datafolha indica uma diferença de 6 pontos entre Requião e sua candidatura, algo próximo ao resultado do 1º turno, o que indica que a disputa segue acirrada. Que estratégias o sr. tem utilizado neste segundo turno para vencer?


Osmar - Primeiro, a estratégia de não levar as pesquisas a sério. No primeiro turno, o Datafolha dava 45% para Requião e 31% para mim, o que significa que não haveria segundo turno. E eu estou disputando o segundo turno. O resultado da eleição foi 42% a 38%, quatro pontos de diferença, e não 14 - eles erraram por 10. O Datafolha não acertou em nenhum Estado. É uma questão de desconsiderar as pesquisas e considerar o que sentimos nas ruas, no crescimento da candidatura, nas pesquisas internas. E trabalhar mostrando que temos um projeto de governar o Paraná de forma diferente, com diálogo e parceria, com a reconstrução da credibilidade que o governo perdeu, afastando investidores. O Paraná não teve nestes três anos e meio nenhuma grande empresa instalada aqui em razão da postura agressiva do governo, tratando investidores e empresários como adversários. E com uma gestão absolutamente temerária no Porto Paranaguá feita pelo irmão do governador, que também é responsável pela insegurança em investir no Estado.


UOL - O sr. conseguiu um leque mais amplo de alianças do que Requião no segundo turno?


Osmar - As alianças que fizemos no primeiro turno foram suficientes para nos trazer ao segundo praticamente empatados com Requião, que não teve nenhum pudor em usar a máquina pública em sua campanha de reeleição. No segundo turno recebemos apoio do PSDB, do senador Álvaro Dias, do prefeito de Curitiba, Beto Richa, do ex-candidato Rubens Bueno (PPS), do PL. Temos também apoio dos três deputados federais mais votados, entre eles Gustavo Fruet (PSDB) e Ratinho Jr. (PPS).


UOL - O sr. tem o apoio do prefeito Beto Richa na capital. O que tem feito para ganhar votos no interior?


Osmar - Como tenho uma ligação muito estreita com a agricultura por ter sido secretário em dois governos, e ter feito o projeto Paraná Rural, que é considerado modelo, estamos obtendo uma vantagem no interior. Tenho trabalhado propondo uma parceria permanente com os municípios para desenvolver um projeto de agroindustrialização, uma necessidade para que a economia do Paraná volte a crescer. Hoje ela não está nem estagnada, ela está de cabeça para baixo, decresceu 3%. Isso significa que o atual governo tem fracassado, e isso é uma forma de conquistarmos apoio não só do interior, mas também da capital, porque as pessoas querem emprego e renda, o que o atual governo não tem proporcionado.


UOL - O sr. acredita que um possível desgaste do governo de Requião tenha sido o responsável pelo seu crescimento nas pesquisas?


Osmar - Meu crescimento no primeiro turno já era esperado porque a população votou em sua maioria pela mudança. Senão não haveria segundo turno. Como eu já tinha obtido 2,7 milhões de votos para senador, existia esse patrimônio eleitoral que não pode ser desprezado. As pessoas estão cansadas do atual estilo de governo. Quem já governa o Estado há oito anos e quer governar por 12, só é comparável a países em que a ditadura governa.


UOL - O sr. foi secretário da Agricultura do governo Requião. O que mudou na sua avaliação sobre o governador desde então?


Osmar - Fui secretário continuando um projeto que tínhamos iniciado no governo anterior, de Álvaro Dias. Aliás, Requião anunciou meu nome no primeiro turno como ex-secretário de seu governo para ganhar votos, pelo trabalho que vínhamos realizando. E faço uma avaliação diferente do que fizemos na agricultura em relação às demais áreas do governo, principalmente do atual, porque este é bem pior do que o primeiro governo.


UOL - O seu candidato a vice, Derli Donin, tem oito ações por improbidade administrativa e dois processos por suspeita de licitação fraudulenta em tramitação contra ele. As denúncias têm sido amplamente utilizadas por seu adversário. O sr. acredita que isso pode prejudicar sua candidatura?


Osmar - Não. Meu vice tem realmente as oito ações, mas ainda não foi ouvido em seis. Nas duas em que foi ouvido, foi absolvido. Acredito que nas outras também será, porque são ações sem consistência, movidas por seus adversários. Tanto é que ele teve a aprovação de Toledo, quando foi prefeito, reelegendo-se e elegendo seu sucessor. Já o adversário, que acusa meu vice, tem 141 ações judiciais e inquéritos, dos quais 60 criminais. E ações que não são apenas por injúria, calúnia e difamação. São por improbidade administrativa, em que ele foi condenado e teve de devolver dinheiro aos cofres públicos. Ele tem ações por uso da máquina pública para promoção pessoal, abuso de poder, recebimento ilegal de verbas públicas, crime eleitoral e prevaricação. Além de pagar uma dívida R$ 180 mil ao desembargador Sérgio Arenhart, que o processou por calúnia, com dinheiro do partido que não havia sido contabilizado, o que configura caixa dois. Portanto, se tivermos de comparar as ações, meu adversário ganha de longe.


UOL - Caso seja comprovada culpa e o sr. seja eleito, que medidas pretende tomar?


Osmar - Acredito que ele perde o cargo. Confio que as ações que meu vice enfrenta na Justiça não têm consistência para condená-lo. É uma hipótese improvável.


UOL - Por que Geraldo Alckmin teve mais votos que Lula no Paraná no primeiro turno, ao contrário do resultado nacional?


Osmar - Porque o Paraná tem sua base econômica na agricultura. E os agricultores estão muito insatisfeitos com o desempenho do governo Lula. Os paranaenses estão insatisfeitos com a parceria de Requião com o governo federal, que não trouxe nenhum benefício ao Estado. Ou o governador não soube fazer a parceria, ou o presidente Lula não correspondeu a ela.


UOL - O sr. acha que o apoio tímido e não declarado de Requião a Lula tem a ver com o fato de o presidente estar atrás de Alckmin no Estado?


Osmar - Requião é oportunista. Ele surfou na "onda" Lula em 2002 e se elegeu com ela. Agora ele esperou Lula crescer um pouco para timidamente apoiá-lo. Mas ele não tem certeza. Se Lula passar Alckmin, ele passa a apoiar o presidente. Ele faz isso porque pensa só nele, tanto no governo quanto na política.


UOL - O sr. apóia Geraldo Alckmin, que aparece bem atrás de Lula nas pesquisas. Se o presidente e o sr. forem eleitos, como será a relação com o governo federal?


Osmar - Sempre tive uma relação de respeito com Lula, tanto que ele me chamou para conversar várias vezes. Continuarei com a essa relação se ele for eleito. Ela tem de ser também institucional, de Estado para governo federal, e é até um dever que essa parceria seja feita através de projetos e ações práticas, que o atual governador não tem procurado realizar, usando a velha desculpa de apenas culpar o governo federal. Quando na verdade ele não fez nenhuma reunião com deputados federais para fazer essa ponte política, nem com os senadores - e também os culpa pelo seu fracasso na busca por verbas federais. Quem perde com isso é o povo do Paraná.


Reportagem publicada em 26.out.2006


ENTREVISTA COM O REQUIÃO EM 2006:

REQUIÃO SE DIZ VÍTIMA DA IMPRENSA E DA INCOMPREENSÃO DAS COOPERATIVAS E ACUSA ADVERSÁRIO DE FAZER CAMPANHA "NAZISTA'
Governador condena privatizações do PSDB e sinaliza apoio a Lula
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MARINGÁ

"Não podemos permitir que o Brasil seja uma reserva estratégica de ração para gado dos europeus", diz Requião sobre transgênicos

Candidato à reeleição, o governador licenciado do Paraná, Roberto Requião (PMDB), 65, acenou uma reaproximação, nesta reta final do segundo turno, com o governo Lula, de quem disse ter tido "algumas decepções" e de quem foi crítico nos últimos dois anos. Ele atacou o tucano Geraldo Alckmin, a quem atribuiu um perfil "privatista", e chamou de "nazista" a campanha de seu rival, Osmar Dias (PDT), antigo aliado na política paranaense. Requião disse ser vítima de armações de setores da imprensa do Paraná. Crítico do plantio de soja transgênica, culpou o "imediatismo" de lideranças cooperativistas (que apóiam Osmar Dias) pelo que chama de não-compreensão da dimensão "geopolítica" de sua luta pelo plantio de soja convencional. Leia trechos da entrevista concedida na sexta:

FOLHA - O sr. foi envolvido na história do policial civil Rasera e grampos telefônicos [Délcio Augusto Rasera estava lotado na Casa Civil e foi preso sob acusação de chefiar quadrilha de arapongas]. Houve ainda o pedido da quebra de sigilo telefônico de jornalistas que noticiaram o caso. Como o sr. explica isso?
ROBERTO REQUIÃO - Não tenho qualquer relação com o Rasera. Houve má-fé da "Gazeta do Povo" [jornal paranaense] nessa história. Os repórteres defendem o sigilo da fonte, mas é preciso chegar a essa fonte para se mostrar que houve armação. Não teve pedido de quebra de sigilo de jornalista. Eu não tinha como saber, em campanha, o que os advogados estavam fazendo. Mas essa história de me ligar a grampos é armação.

FOLHA - O sr. entrou na disputa do primeiro turno como virtual eleito, mas haverá segundo turno. O que houve de errado na campanha?
REQUIÃO - Tínhamos só dois minutos e meio de TV. E teve uma campanha da RPC [Rede Paranaense de Comunicação, afiliada da Globo] e "Gazeta do Povo" [do mesmo grupo RPC] contra meu governo. Sem contar que todos batiam no candidato majoritário. Neste segundo turno tudo mudou e estamos firmes de volta à liderança.

FOLHA - O senador Osmar Dias [PDT] afirma que o sr. o procurou seis vezes para pedir que ele não fosse candidato. Isso é verdade?
REQUIÃO - Não é verdade. Osmar estava doente e queria falar comigo. Fui até ele três vezes para conversar. Ele disse que queria ser candidato em 2010 e que me apoiaria agora com a condição de eu não apoiar seu irmão, Alvaro [Dias, reeleito senador pelo PSDB]. Mas até aí eu não sabia de sua megafazenda no Tocantins. Ele disse que tinha uma chácara lá. Ele não conseguiu explicar seu enriquecimento. Temos uma vida parecida, de classe média, e até cargos iguais. Então, como explicar duas fazendas no Paraná e essa megafazenda no Tocantins?

FOLHA - Sobre o modelo agropecuário, o sr. é contra os transgênicos e a favor do MST, e Osmar é favorável ao agronegócio exportador. O sr. concorda com essa tese?
REQUIÃO - Eu não fui eleito pelas multinacionais. É bom frisar que o transgênico é permitido no Brasil. O que existe é uma visão geopolítica. Não podemos permitir que o Brasil seja uma reserva estratégica de ração para gado dos europeus. Se o Brasil só plantar transgênicos, perderá competitividade logística para os EUA. Precisamos ter essa visão da geopolítica mundial. As cooperativas possuem uma visão de curtíssimo prazo e não pensam estrategicamente. Já o MST é um movimento social, e não vou atacar movimentos sociais legítimos.

FOLHA - O sr. ficou em cima do muro no primeiro turno em relação à Presidência. Vai se decidir agora?
REQUIÃO - Eu tive algumas decepções com o governo Lula. Acredito que até o próprio Lula teve. Neste segundo turno, o PT está comigo, e o PMDB do Paraná, com Lula. Meu vice [Orlando Pessutti, do PMDB] sobe no palanque do Lula. Já o Alckmin privatizou linhas de transmissão em São Paulo e não deixou a Copel participar do leilão porque era uma estatal. Vejo isso como uma continuação privatista do que foi o governo FHC. Vejo isso [privatizações] como conseqüência necessária do tipo de coligação que embala o Alckmin. Mas logo irei me definir e anunciar minha posição.

FOLHA - A campanha abalou sua amizade com Osmar Dias?
REQUIÃO - Não dá para negar isso. Meu adversário faz uma campanha nazista, repetindo mil vezes um mentira. E tem a história do seu vice, o Donin. Uma chapa com o Donin como vice não é uma chapa, é formação de quadrilha. E quem diz formação de quadrilha não sou eu, é o Ministério Público.

Fox Business: Os mercados, quem diria, “precificam” Serra

Reuters

By Raymond Colitt

BRASILIA (Reuters) – José Serra começou sua campanha para presidente do Brasil como claro favorito dos mercados financeiros, mas sua recente mão pesada na política econômica está levantando dúvidas de muitos investidores.

Vários investidores e experts políticos disseram à Reuters que estão mais preocupados com Serra do que com sua principal rival, a candidata do partido governista Dilma Rousseff. Serra, um político veterano de 68 anos do partido de oposição PSDB, tem preocupado muitos com a conversa de controlar o Banco Central, cortar as taxas de juros e aumentar o papel do estado na economia.

A aparente mudança no sentimento dos investidores coloca a avaliação da campanha presidencial no Brasil de cabeça para baixo, e poderia mexer com os mercados do câmbio e da dívida se Serra continuar forte nas pesquisas quando a eleição de outubro se aproximar, disseram os investidores.

“O sistema financeiro secretaramente prefere Rousseff”, disse Tony Volpon, chefe de mercados emergentes das Américas da empresa Nomura Securities em Nova York.

Pela maior parte dos critérios, Serra deveria ser o favorito dos investidores. Ele tem um doutorado em economia da Universidade de Cornell, uma longa lista de experiência executiva e é de um partido que defendeu a privatização e as reformas durante o governo do predecessor de Lula, presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

Rousseff, uma servidora pública de carreira, por contraste, foi um dia uma guerrilheira urbana e nunca se elegeu antes.

No entanto, Rousseff tem feito de tudo para conquistar apoio de investidores, distanciando-se de algumas propostas mais esquerdistas de seu partido. Ela também promete continuar as políticas amigáveis com o mercado do presidente Luiz Inacio Lula da Silva que ajudaram a impulsionar a economia brasileira em anos recentes.

“Nenhum dos candidatos é o dos sonhos de Wall Street mas Serra é um risco maior. Ele traz mais incerteza e chance de mudanças”, diz Alexandre Barros, um analista político que segue Serra desde que os dois foram ativistas estudantis em São Paulo em 1962.

Xico Graziano, um assessor senior de Serra, tentou acabar com as preocupações dos investidores dizendo à Reuters: “Os investidores conhecem as qualidades de Serra e como ele vê a economia. Não é surpresa para ninguém”.

Arrepios no mercado?

Até agora, poucos investidores tem demonstrado preocupação com a eleição de 3 de outubro, contentes que nenhum dos principais candidatos é um populista que ameaça a estabilidade econômica.

Mas a sensação de calma corre risco no momento em que a eleição se aproxima e os candidatos articulam mais claramente suas plataformas.

Serra esta semana disse que as taxas de juros precisam ser cortadas e que o real está “mega sobrevalorizado”.

“Sobre Serra há preocupação sobre taxa de juros e a moeda, embora eu não acredite que ele seja mais duro que Dilma em disciplina fiscal”, diz Reginaldo Alexandre, chefe da Associação dos Analistas do Mercado de Capitais em São Paulo.

Rousseff tem continuamente subido nas pesquisas de opinião tirando proveito do boom da economia e do apoio do popularíssimo Lula, embora ela ainda não tenha estabelecido uma clara liderança.

“O mercado ainda não precificou o risco Serra porque acha que Rousseff vai vencer”, disse Rafael Cortez, um analista político da Tendencias, uma das maiores empresas de consultoria do país.

Se Rousseff não estabelecer uma clara vantagem sobre Serra até agosto, Volpon disse “você poderá ver algumas variações violentas no mercado, especialmente no câmbio”.

Papel do estado

Serra tem dados sinais contraditórios a respeito do papel do estado na economia. Ele criticou a criação de uma nova estatal de petróleo, o uso de fundos públicos para a construção do trem-bala e prometeu restabelecer o poder dos regulamentadores da indústria.

Mas ele também aplaudiu as medidas de estímulo da economia de Lula e propôs um desenvolvimento econômico liderado pelo estado.

“Eu defendo um projeto de desenvolvimento nacional para o Brasil com ativismo governamental”, Serra disse.

Enquanto Serra quer cortar gordura governamental, ele também promete dobrar o principal programa de bem estar de Lula, o Bolsa Família, que muitos de seus apoiadores vem criticando há anos.

Alguns analistas dizem que as políticas de Serra refletem estratégia de campanha. Ele quer ser visto como alguém que propõe mudanças mas não abandonando aquelas que construiram a popularidade de Lula.

“Dilma diz o que o mercado quer ouvir. A mensagem de Serra é mais política porque ele precisa ganhar votos”, diz Dany Rappaport, sócio da consultoria financeira InvestPort.

Mas Serra tem uma história de intervenção governamental e é ligado a uma escola de pensamento que advoga planejamento econômico, um estado forte, controle dos capitais e substituição das importações.

Como ministro do Planejamento, ele entrou em confronto com a ala pró-mercado do governado Cardoso e foi transferido rapidamente para o Ministério da Saúde. Lá ele forçou a gigante farmacêutica Roche a cortar os preços sob a ameaça de quebra de patentes.

“Suas propostas refletem crenças — não é marketing. Mas de qualquer forma elas geram incerteza”, disse Barros.

No Paraná os candidatos já atingiram o teto máximo de crescimento eleitoral? Ou o quadro político ainda não está definido?

Coligação Novo Paraná

Coligação A União Faz Um Novo Amanhã


DISPUTA PARA O GOVERNO:

Ao analisarmos os atuais números apresentados pelas pesquisas e analisarmos do ponto de vista histórico como se deram as alianças no passado, como elas se dão no presente e o desempenho individual de cada candidato aos cargos principais em disputa nesta campanha eleitoral veremos que grande parte destes já atingiram os seus tetos máximos de crescimento. Ou eles conseguem manterem os atuais patamares de tendência de votos e a partir deste tentar avançar um pouco mais ou tenderão a perderem o que já possuem, pois na política até a eleição nada permanece estático.

Atualmente o Osmar atingiu os mesmos índices atingidos no primeiro turno da campanha para o governo do Paraná em 2006, quando ainda não contava com o apoio do PSDB. Ele só atingiu os mais de 49% quando o Beto Richa (PSDB) entrou em sua campanha, o que na época quase o elegeu. Os atuais apoiadores são os que foram seus inimigos na campanha passada, no caso o PT e o PMDB, com o agravante do PT ser seu ex-inimigo histórico, o que irrita e não gera confiança perante a opinião dos eleitores, e impede que os votos destes nas proporcionais migrem para a majoritária.

No interior o Osmar, apenas ligeiramente na frente em algumas regiões, é mais do que conhecido, assim ao mesmo tempo em que possui uma grande aceitação também têm uma grande rejeição. Com o avanço do Beto, filho do já falecido José Richa, ex-prefeito de Londrina, ex-senador e ex-governador do Paraná, que foi uma figura muito querida por todo o interior, somado ao fato dele ter sido considerado por mais de 77% da população de Curitiba como um grande prefeito, imagem está que foi divulgada por todo o Estado.

Com o avanço da candidatura Beto o Osmar deve perder centenas de milhares de votos por todo o interior, pois neste o Beto, que embora seja um político consolidado, é a novidade na política, assim, portanto, carregando uma menor taxa de rejeição.

Com o Beto como candidato em conjunto com o anacrônico palanque eleitoreiro, já que ideologicamente nada os une, o crescimento da campanha do Osmar além dos históricos 38% pode se tornar impossível e ao contrário ele pode até perder votos, já que a sua antiga base eleitoral baseada no agronegócio vê com suspeição a sua aliança com o PT e o Requião, sendo que o agravante é que este último, que um dia o chamou de corrupto, é o grande desagregador em seu já naturalmente confuso palanque.

Para tentar ampliar a sua votação o Osmar tenta avançar com a sua candidatura pela região metropolitana de Curitiba, onde o Beto é a liderança máxima, sendo que nela este tem uma esmagadora popularidade e baixa rejeição, o que torna a sua caminhada pela mesma um tanto difícil e a ocupação de espaço uma tarefa quase que impossível.


DISPUTA PARA O SENADO:

O Requião, hoje isolado perante a cúpula petista e pelo Governo do Estado, já atingiu e muito cedo o ápice dentro da perspectiva de votos e a tendência, tais quais as pesquisas demonstram, é a de perder votos, já que a sua rejeição aumenta em conjunto com a perda de eleitores.

A Gleisi, que teve uma grande votação na disputa passada ao senado graças ao apoio do Requião, sendo que este foi o seu cabo eleitoral mor, hoje se torna um obstáculo para as pretensões do mesmo, o que o levou como estratégia contra a pretensão da candidata petista, hoje sua principal adversária, a realizar a denúncia contra o ministro Paulo Bernardo, o que o afastou do PT, controlado pelo mesmo.

O que apavora o Requião é o fato da Gleisi ter ocupado grande parte de seu espaço na região metropolitana de Curitiba, como também por o governo federal estar despejando dezenas de milhões nas prefeituras dos pequenos municípios, que hoje constituem a principal base eleitoral do ex-governador e candidato ao senado.

O choque entre as duas candidaturas, PT e PMDB, que é inevitável, poderá acabar reproduzindo o mesmo quadro ocorrido na disputa ao senado que envolveu o Flávio Arns, o Paulo Pimentel e o Tony Garcia, quando pela guerra entre os dois últimos o Flávio, que no início tinha a menor densidade eleitoral pelo choque da onda de denuncias entre os adversários acabou se elegendo por ter o melhor perfil ético.

O Gustavo Fruet, que herdou a herança política de seu pai Maurício Fruet, ex-prefeito de Curitiba, que também hoje por si só é um dos maiores quadros do PSDB no Sul do país, embora tenha se colocado na disputa a menos de um mês e a sal candidatura ainda ser desconhecida pela maior parte dos eleitores já atinge o patamar dos 16%, sendo que a maior parte destes votos provém da região metropolitana de Curitiba. Com a maior divulgação de seu nome no meio dos eleitores tradicionais, seus e de seu falecido pai, o que somado ao fato de ser o candidato do PSDB ao senado, como por estar percorrendo todo o Estado junto com o Beto, o seu coeficiente eleitoral em muito deve aumentar.

O Ricardo Barros, que a mais de um ano já está em campanha, assim tendo percorrido todos os municípios do Paraná está forte no pleito. Conjugado com os fatos de ser o presidente do PP, ser irmão do atual prefeito de Maringá e seu ex-prefeito, aliado ao fato de ter o irmão do Beto como seu suplente e de poder aumentar o seu espaço na região metropolitana de Curitiba por estar com a imagem casada com a do Beto com certeza ainda não atingiu o seu teto de crescimento eleitoral, o que o torna um candidato extremamente viável nesta disputa ao senado. Um adendo, também não podemos esquecer de que ele foi o principal coordenador da vitoriosa campanha do Barbosa Neto a prefeito, o que naturalmente o torna forte dentro de Londrina, que é o segundo colégio eleitoral do Estado.

Nesta disputa eleitoral para o senado nada está definido!

Herança do desgoverno Requião: Diária de viagem da Secretaria da Educação pagou até babá

GAZETA DO POVO- Tatiana Duarte

Relatório da sindicância interna da pasta, a que a Gazeta do Povo obteve com exclusividade, expõe descontrole com o uso do dinheiro público

A fraude com cartões corporativos da Secretaria Estadual da Educação do Paraná (Seed) expõe um descontrole do uso do dinheiro público originalmente destinado a viagens de trabalho de servidores da Superintendência de Desenvol­­­vimento Educacional (Sude), antiga Fundepar – órgão responsável pelas obras e compras da pasta. Sindicância interna, cujo relatório final a Gazeta do Povo teve acesso com exclusividade, mostra que R$ 800 mil que deveriam se destinar ao pagamento de gastos com viagens, entre janeiro de 2009 e maio de 2010, foram desviados para outros fins, tais como o pagamento de babás e consertos de computadores e automóveis particulares. Parte desse desvio era feito por servidores que usavam o cartão corporativo de colegas para fazer sa­­ques de diárias de viagens.

A reportagem ainda apurou, no relatório de despesas de viagens da Seed de janeiro a junho de 2009, que 53% das diárias pagas a servidores em suposto deslocamento não indicaram o custo de transporte – o que é autorizado pelo Decreto 3.498, assinado em 2004 pelo então governador Roberto Requião, mas que abre a possibilidade de que o servidor não precise prestar contas das despesas.



Entrevista com Yvelise Arco-Verde, secretária estadual da Educação:

Nunca lhe chamou a atenção o grande número de viagens sem custo de transporte para o estado?

Não tenho o dado para responder exatamente esta questão de viagens sem custo para o estado, mas foi um dos fatores que nos deixava sem a possibilidade de um controle maior. Recebo os relatórios, mas não dou conta, como secretária, de fiscalizar detalhes.

Mudou alguma coisa na solicitação de viagens da secretaria?

No formato, não. Estamos com os recursos mais controlados, por conta da Lei Eleitoral. Diminuímos o gasto em geral, mas não tem nada a ver com a fraude que ocorreu. Houve uma diminuição em função das férias também. O fato da Sude foi pontual e lastimável. A secretaria precisa da Central de Viagens para que os trabalhos sejam realizados sem prejuízo.

Um dos servidores apontado pela sindicância afirma que recebeu um e-mail seu em agosto de 2009 questionando o gasto com diárias. Já havia alguma desconfiança?

Na Sude o número de diárias era alto. Mas estávamos em época de crise econômica e o governador pediu controle de gastos. O mesmo questionamento eu fiz a outros chefes de departamento. Mas não havia desconfiança de fraude.

Dois servidores dizem que é prática que as despesas de viagens sejam retiradas em nome de outros funcionários. Isso ocorre mesmo?

No meu gabinete, não. Mas, nos núcleos e em outros departamentos da secretaria, nem todos os servidores possuem cartões corporativos. Com isso, pode ocorrer de um viajar em nome de outro.

Este fato em si não é uma irregularidade?

É uma limitação do sistema da Central de Viagens. Preferiria que cada um dos servidores tivesse seu próprio cartão. Mas não foi distribuído cartão corporativo para todos.

Entre janeiro e junho de 2009, a Seed gastou R$ 1,211 milhão com diárias de viagem. Desses, R$ 645,93 mil foram de diárias pagas sem indicação do meio de transporte usado no deslocamento.

A fraude ocorreu justamente em viagens realizadas com meio de transporte sem custo declarado para o estado, conforme ressalta a promotora do Patrimônio Público Adriana Vanessa Rabelo, do Ministério Estadual do Paraná (MP), responsável pelas investigações sobre o caso. “As viagens não solicitavam custo de locomoção e eram esticadas para o prazo máximo permitido, que é de seis dias”, diz Adriana.

Quatro servidores efetivos da secretaria, suspeitos de envolvimento no desvio, estão afastados. Eles respondem a procedimento administrativo interno da Seed. Outros dois ex-funcionários tinham cargo em comissão e já haviam sidos exonerados antes da realização da sindicância.

Embora os nomes dos envolvidos conste do relatório interno da secretaria, obtido pela reportagem, o MP informa que não finalizou as investigações. “Ainda não há como dizer quem irá responder [pelo desvio]”, afirma Adriana. A partir disso, a Gazeta do Povo optou por não divulgar os nomes.

A promotora solicitou ainda a quebra de sigilo bancário dos servidores para a Justiça. Mas, até o fechamento desta edição, ainda não havia uma resposta do Judiciário a respeito do pedido.

Sem mudanças

Apesar das denúncias em torno do uso indevido das diárias, até o momento não houve nenhuma mudança no trâmite das solicitações de viagens dentro da Seed ou em outras secretarias e autarquias do governo estadual.

A Secretaria Estadual da Administração, responsável pela Central de Viagens do governo, emitiu nota oficial informando que cada órgão é responsável pela fiscalização das viagens de seus servidores. O texto ainda ressalta que “não é possível solicitar uma viagem através do sistema Central de Viagens sem que seja definido o meio de transporte no qual o servidor irá se deslocar da sede do órgão até o destino solicitado e que cada viagem depende da autorização de cinco pessoas dentro de cada órgão” – embora o decreto estadual permita o contrário.

De acordo com a promotora Adriana, após a instauração da sindicância interna na Seed, em maio, houve uma queda de cerca de 80% nas solicitações de viagens em toda a secretaria. A secretária da Educação, Yvelise Arco-Verde, afirma que a queda tem relação com o período pré-eleitoral e de férias escolares.

PAC da Segurança tem efeito nulo sobre homicídios e isto reflete sobre o Paraná

BRASIL:
FOLHA DE SÃO PAULO

Lançado em agosto de 2007 pelo presidente Lula com a meta de reduzir os índices de homicídio pela metade, o PAC da Segurança teve efeito quase nulo na contenção de mortes do tipo. Na maioria dos Estados (15) e no DF, o número de assassinatos aumentou, informa a reportagem de José Ernesto Credendio, publicada neste domingo na Folha (íntegra disponível para assinantes do jornal e do UOL).

O programa tinha como objetivo chegar a 12 homicídios por 100 mil habitantes em 2010. O número ainda está em 25 por 100 mil, mesmo índice de quando o PAC foi lançado, segundo estima o próprio governo. Para a Organização Mundial da Saúde, mais que 10 por 100 mil é violência epidêmica.

Prevê-se que, no período 2007-2012, sejam gastos R$ 6,1 bilhões com o programa, cuja face mais visível são as unidades pacificadoras que atuam em favelas do Rio.
Mais homicídios em 14 das 22 regiões do Paraná

Áreas de Ponta Grossa e Laranjeiras do Sul tiveram os maiores crescimentos. Em todo o estado, foi registrado um aumento de 20,4%


PARANÁ:

GAZETA DO POVO - Adriano Ribeiro

O crescimento no número de homicídios não é um problema enfrentado apenas por Curitiba, região metropolitana e litoral do Paraná. Os dados relativos ao pe­­ríodo entre janeiro e junho deste ano mostram que o índice cresceu em 14 das 22 áreas integradas do estado. A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) divide o Paraná em 22 re­­giões para contabilizar o número de homicídios. No primeiro semestre deste ano foram registradas 1.795 ocorrências, número 20,4% maior do que o contabilizado no mesmo período do ano passado. A média é de dez pessoas assassinadas por dia no estado.

Para o sociólogo e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Lindomar Bonetti, a violência está ligada ao desenvolvimento econômico e social das cidades. “Essa dinâmica de movimento e desenvolvimento traz algumas consequências ruins, como o crescimento do conflito de interesses e a violência”, analisa. Na análise da socióloga Ana Luisa Sallas, falta controle por parte do Estado. “O narcotráfico está estabelecido e as drogas se difundiram para diversas regiões. É um problema de segurança e saúde pública em que há certo descontrole. Qualquer problema acaba resolvido por meio do crime, da violência”, opina.


Homicídios em Curitiba e região sobem 50% em 2010

Mapa do Crime, divulgado ontem, mostra aumento nos crimes de morte também na região metropolitana e em todo o estado. Furtos e roubos tiveram queda leve

Diego Ribeiro e Adriano Ribeiro

Os três primeiros meses de 2010, cresceram 53,8% em relação ao mesmo período de 2009, revelando um cenário alarmante de crescimento da violência na cidade e no estado. São 80 homicídios por mês na capital do Paraná. O Mapa do Crime, com as estatísticas sobre a criminalidade no primeiro trimestre do ano no estado, foi divulgado ontem pela Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp).

“Isso significa uma epidemia de violência e uma incapacidade do poder público, incluindo polícia e Justiça, de fazer frente a essa realidade”, afirma Luis Flávio Sapori, coordenador do curso de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. O aumento não foi registrado apenas na capital. A região metropolitana de Curitiba e o Paraná tiveram um aumento de 48,4% e 30,34% respectivamente.

Para Sapori, o nível de conflitos de todos os tipos – incluindo passionais, brigas entre vizinhos e crimes com relação ao tráfico de drogas – deve estar aumentando. “O único lugar onde ocorre um au­­mento assim, com esta velocidade, é Salvador”, compara o especialista. De acordo com Sapori, se Curi­­tiba mantiver este ritmo, poderá se confirmar entre as três capitais mais violentas do Brasil. Na semana passada, a Gazeta do Povo in­­formou que o índice de homicídios por 100 mil habitantes em Curitiba já é maior que o de São Paulo e praticamente igual ao do Rio de Ja­­neiro.

Sapori acredita na necessidade de um real “choque de ordem” para frear a aceleração dos homicídios. Na opinião dele, a impunidade e a falta de solução de crimes dessa natureza estão entre os fatores que colaboram para o crescimento das mortes. O professor sugere ações em bloco, com au­­mento de investigadores e peritos para crimes de homicídios, compra de material e mais varas criminais na Justiça. “A sociedade não pode ficar com essa sensação de impunidade”, acrescenta. O nú­­mero de furtos e roubos no Paraná teve uma queda de 4,3% en­­tre o primeiro trimestre de 2009 e o de 2010. Em Curitiba, a redução foi de 4,5%. Já os furtos e roubos de veículos cresceram em Curitiba (11,9%) e no Paraná (5,7%). No en­­tanto, quando o dado é separado, destacando apenas roubos (quando há violência por parte do bandido) de veículos, segundo a Sesp, há uma queda de 10% em todo o estado.

Sistema prisional do Paraná possui situação caótica, segundo OAB

JORNALE- Daiane Rosa

Em visitas foram encontrados presos com bolor e bernes na pele

Cadeias superlotadas e interditadas, presos em situação desumana, cruel e degradante, esta é a conclusão a que chegaram representantes da Comissão de Defesa de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Os dados foram obtidos em visitas a unidades prisionais do Paraná que resultaram em um relatório sobre a situação de presos provisórios e condenados no estado que revela uma realidade assustadora. “Encontramos presos com bolor e até bernes na pele por causa das péssimas situações das delegacias”, conta a presidente da comissão de direitos humanos da OAB/PR, Priscilla Placha Sa.

Outros problemas nas carceragens são a ausência de ventilação, luminosidade e até de água. “Nas celas onde não bate sol a temperatura é 10º acima da temperatura do lado de fora. Registramos casos de celas onde a temperatura chegou a 55º”, revela. No 12º Distrito Policial, em Curitiba, que foi considerado a pior delegacia visitada pelos representantes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) um buraco conhecido como “boi” é utilizado como vaso sanitário por mais de 50 encarcerados. Em casos extremos, a situação precária não resultou em apenas lesões corporais, mas até na morte do detento. “Para a OAB é inaceitável que presos sejam tratados dessa maneira”, disse.

“Temos como urgências a delegacia da Lapa, Pinhais, Ponta Grossa, Arapongas, o 9º e o 12º distrito”, afirma. No Paraná, a subdivisão de Londrina, a delegacia de Paranaguá, Pinhais, Lapa e o 9º, 11º e 12º distrito já foram interditados, alguns mais de uma vez, e muitos ainda continuam funcionando. A delegacia de Paranaguá tem capacidade para 27 pessoas, mas comporta atualmente cerca de 270 presos. “Esta cadeia pública exemplifica o que não se deve fazer nunca. Infelizmente, esta não é uma exceção mas uma regra geral em todo o estado”, lamenta o presidente da OAB/PR, José Lucio Glomb.

O governador do estado, Orlando Pessuti, já assinou a ordem de construção da nova instalação da delegacia que vem sendo prometida há bastante tempo. “Há 20 anos denunciamos a situação precária de Paranaguá, os representantes até compraram um terreno, ficamos aguardando a construção, que não saiu até hoje por razões de rivalidade política”, acredita a presidente da subseção da OAB em Paranaguá, Dora Maria Chüller, que diz que a delegacia não tem ratos e baratas porque não cabe. Esta unidade prisional está sofrendo a terceira interdição. “Se a construção das novas instalações ficar só na promessa vamos fechar Paranaguá com a parceria de sindicatos da região. Daí ninguém vai entrar e ninguém vai sair da cidade até que se tome uma providencia de verdade”, ameaçou.

A situação é caótica em todo o estado, inclusive no interior, segundo a presidente da comissão de direitos humanos da OAB/PR. Entre as urgências está a retirada de presos provisórios de penitenciárias e de presos definitivos de delegacias. O Paraná possui a maior população de presos provisórios do Brasil. “As autoridades só pensam em intensificar as penas, mas não se preocupam com a condição em que se encontra o preso”, reclama o membro da comissão de diretos humanos do conselho federal da OAB Dálio Zippin Filho. Para Priscilla, nenhuma delegacia ou DP do estado cumpre o que determina a legislação e a única unidade do sistema prisional que “ensaia” uma boa situação é o minipresídio de Ponta Grossa.

Entre as medidas apontadas como alternativas, para minimizar problema, estão a atuação efetiva do poder executivo e da defensoria pública, com um corpo técnico trabalhando para a melhoria do sistema carcerário, um canal de comunicação aberto entre as secretarias de segurança pública e da justiça e cidadania e a atuação conjunta do poder judiciário e do Ministério Público.

O número da população carcerária não é exato e há conflitos de estatísticas por parte do relatório do Mutirão Carcerário que afirma que existem cerca de 29.577 presos no estado contra 37.440 presos registrados no banco de dados do Infopen. 75% dos detentos têm de 18 a 34 anos, 50% trabalhava na construção civil ou prestação de serviços, 6,5% é analfabeto e apenas 0,57% têm o ensino superior completo, o correspondente a 75 presos. “Ou seja, a população carcerária é bastante jovem e pobre”, conclui Priscilla.

 
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