A preocupação do papa argentino em tentar cativar a
população brasileira é evidente, a cada hora surge com uma frase de efeito para
tentar demonstrar o apreço, e são muitas, as o mesmo o marketing do Vaticano deve
estar fazendo em outros países. Para consolar o católico povo brasileiro, que
foi envolvido pela mídia com a possibilidade do novo papa ser brasileiro, coisa
que foi provocada de dentro dos muros do Vaticano para envolver os adeptos locais
com a sucessão papal, o papa Francisco disse: “Ele (o brasileiro cardeal Hummes)
então me abraçou e me beijou. E disse: Não se esqueça dos pobres. Enquanto o
escrutínio prosseguia, enquanto os votos eram contados, veio em meu coração o
nome de Francisco de Assis”, um homem pobre", que impulsionou o espírito
de paz. Gostaria de uma igreja pobre e para os pobres."
A escolha do novo papa, em um verdadeiro jogo de xadrez para
profissionais, já que em um colégio eleitoral tão pequeno é difícil mudar
tendências, já deve ter ocorrido há muito tempo, tanto que preservaram o seu
nome desde o início do embate das ideias dentro do Conclave.
O africano logo de cara foi queimado, até cartazes com o
rosto dele foram espalhados, coisa que os discretos cardeais não toleram,
depois chegou à vez do brasileiro, do canadense, etc., cujos nomes até em
bolsas de apostas foram parar.
Sobre Bergoglio, fora da Argentina, não saia nenhuma linha
publicada em lugar algum, mesmo este tendo sido o segundo mais votado no
Conclave que em 2005 elegeu Bento XVI. Uma organização onde o confessionário é
uma Instituição, portanto a confissão auricular é um “dogma”, não iria expor o
seu futuro comandante aos desgastes na “mídia profana”.
Para amaciar o desgaste no eurocêntrico amor próprio dos católicos
do velho continente, já que é um papa, mesmo que seja de origem italiana, argentino
de nacionalidade, ele, que deve ser bem assessorado, disse: "Cardeais
foram me buscar no fim do mundo", assim abrandando o fato de que é o
primeiro papa não europeu de nascimento.
Por que ser um papa da América Latina? Com certeza por causa
do motivo de que aqui estão concentrados dois quintos dos fiéis católicos do
mundo (41%), mas aqui a Igreja a cada dia mais perde fiéis, sendo o Brasil, que
é o maior pais católico do mundo, um grande
exemplo deste desgaste, aqui o número de fiéis caiu de 96% da população
para 65%. O mesmo acontece de forma mais grave na Europa, lá entre 1970 e 2012
a proporção de católicos na população caiu de 38,5% para 23,7%, assim sendo os
católicos uma minoria, e pelo velho continente está tendência é irreversível.
Ao fortalecer o foco na América Latina, onde está concentrado
o maior “rebanho de fiéis”, e nos demais países pobres ao sul do Equador, como
na África, onde o catolicismo avança, o número de católicos passou de 6,8% para
15,2%, a igreja demonstra que adota a política de “preservar as joias da coroa”,
no caso os seus fiéis. Na Europa, onde a população é mais culta, bem informada,
fica a cada dia difícil manter o rebanho mantendo as velhas tradições, tal qual
a do celibato, com se fossem dogmas. Lá os escândalos sexuais e financeiros também
contribuem para aumentar o descrédito da Instituição.
Outro ponto importante é a aliança da ICAR com os EUA,
ambos preocupados com o avanço da esquerda latino americana, que historicamente
é antimperialista e anticlerical. Neste sentido a escolha de um conservador cardeal
latino americano para o papado levanta preocupações, pois ainda está na memória
destes povos o papel que a Igreja teve nos genocidas golpes de Estado ocorridos
pro toda a América Latina em um passado recente.
Os Estados Unidos, que até a pouco, pobre em reservas de combustíveis
fósseis, voltava a sua atenção estratégica político militar para o Oriente
Médio, local das grandes jazidas de hidrocarbonetos, logo, com as novas
tecnologias vão superar a Arábia Saudita e se tornarão até aproximadamente 2017
os maiores produtores de hidrocarbonetos, e exportadores líquidos até 2030,
informa a AIE - Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).
Este aumento da produção, associado a novas políticas
destinadas a melhorar a eficiência na área energética, tornará os EUA autossuficiente para atender às suas
necessidades de energia em cerca de duas décadas, mostra novo relatório
divulgado pela AIE.
"Os alicerces dos sistemas globais de produção de
energia estão mudando", afirmou Fatih Birol, o mais forte economista da
organização com sede em Paris que elabora a publicação anual "Perspectiva
Mundial de Energia”.
Outra coisa importante é que o relatório previu que a
demanda global de energia crescerá de 35% a 46% de 2010 a 2035. A
maior parte desse crescimento virá da China, Índia e Oriente Médio, onde os
consumidores estão aumentando rapidamente. As consequências têm "enorme
potencial" para os mercados globais de energia e comércio, informa o
relatório.
O petróleo do Oriente Médio, outrora destinado aos EUA,
provavelmente será enviado para a China. O carvão mineral nos EUA, cuja demanda
está em declínio no mercado interno, já caminha rumo à Europa e o Oriente.
Neste novo quadro de reequilíbrio global energético, centro
da capacidade de produção, os EUA e seus aliados diminuirão os gastos com os investimentos
militares no Oriente Médio e assim retomam os investimentos políticos, econômicos
militares no velho foco, aquele expresso na Doutrina Monroe, o da “América para
os americanos”, no caso eles. Com certeza a Igreja, cada vez mais conservadora
com a destruição internamente causada no segmento ligado a Teologia da Libertação
Latino Americana, faz parte deste “novo” velho olhar.
A escolha do argentino se deu pelo fato de que na Argentina,
onde a igreja Católica, embora tenha tido um amplo segmento progressista, cerca
de 9% dos sacerdotes filados ao MSTM (Movimento dos Sacerdotes do Terceiro
Mundo), embrião da Teologia da Libertação que em parte se aliou a esquerda
peronista e outra foi mais além, ganhando um caráter internacionalista. Desde a
década de 60, com golpe após golpe de Estado, e a com a consequente perseguição
a estes católicos renovadores, fez com que a quase hegemônica direita católica argentina, aliada aos ditadores, ficasse super
conservadora e perseguidora, e hoje lá a força Teologia da Libertação é quase que nenhuma.
Quando, por exemplo, nos tempos da ditadura brasileira, com
o tempo a maioria dos bispos se voltaram contra os golpistas e ficaram ao lado do
Povo, defendendo-o da perseguição militar e produzindo diversos fortes
documentos contra a ditadura, e se empenhando a fundo na opção preferencial
pelos pobres e pela pastoral capilar das CEBs, no espírito do Vaticano II, de
Medellin e de Puebla, os bispos argentinos, na sua maioria, deixou, calada, os
generais e seus comandados, assassinar, torturar e fazer desaparecer milhares
de pessoas, inclusive crianças. E davam a comunhão aos generais, tidos como “salvadores
da pátria argentina contra o comunismo”. Muitos sacerdotes de extrema direita
chegaram a participar das torturas e dos sequestros de crianças filhas de
presos políticos nascidos em cativeiro, entre estes o principal exemplo foi o
do padre Von Wernich :
“Von Wernich era um dos principais homens do
general Ramón Camps, o poderoso chefe da Polícia da Província de
Buenos Aires, a maior da Argentina. Camps defendia a tese de que era necessário
eliminar não só os “subversivos”, como também seus filhos. Sua tese era a de
que até os bebês carregavam uma “subversão hereditária”.
As testemunhas também indicam que Von Wernich participou
dos chamados “vôos da morte”, nos quais os presos políticos eram lançados vivos
de aviões no Rio da Prata. O padre abençoava os oficiais que empurravam os
prisioneiros do avião.
Após o fim da ditadura, Von Wernich, para
esquivar-se da ação dos organismos de defesa dos direitos humanos, refugiou-se
num vilarejo do interior. Mas, em 1989, foi designado para a paróquia da cidade
de Bragado, onde - apesar da oposição dos habitantes - se manteve como o padre
local com apoio da cúpula da Igreja. Oito anos depois, fugiu para o Chile, onde
mudou de nome e permaneceu incógnito, trabalhando numa paróquia. Em 2003, foi
descoberto pela revista argentina TXT e extraditado para a
Argentina.
Poucos anos após o fim da ditadura, Velasco - unido a Von
Wernich por um parentesco distante - encontrou o padre, a quem
perguntou: “O que você sentia quando assistia às torturas?” Von Wernich
respondeu, sem titubear: “Nada! Absolutamente nada!””
As exceções foram Dom Enrique Angelelli, bispo de Rioja,
Dom Jeronimo Podestà, bispo de Avellaneda, que, para não ser preso ou
assassinado, teve de fugir do país. E os bispos Carlos Horacio Ponce de León,
Jorge Novak, Jaime de Nevares y Miguel Hesayne, que lutavam pela aplicação na
Argentina, do Concílio Vaticano II e das Conferências de Medellin e Puebla e
pelos direitos humanos negados aos mais humildes.
Dom Henrique Angelelli, bispo de Rioja, foi assassinado a
mando dos militares, num estranho acidente de carro. O Episcopado argentino,
inclusive o cardeal Bergoglio , muito amigo do presidente general Massera, e
que quis presidir as homenagens a Dom Angelelli, na comemoração dos 30 anos da
sua morte, até hoje, ainda não teve a coragem de aceitar a morte dele como
assassinato. Mesmo depois em junho de 1986, quando a justiça de Rioja deu por
provado o assassinato de Dom Angelelli. (dados do IHU)
O atual papa, que é um dos que perseguiram os membros da Teologia da Libertação, agora afirma que seu papado trará com centro a "prioridade pelos pobres". Como?
Na Argentina e em toda a América Latina, existem duas Igrejas: a que luta junto ao povo e aos setores mais pobres, e aquela aristocrática, dirigida pela direita católica, que estabelece alianças criminosas com os ditadores da vez."
Hebe de Bonafini, dirigente da Associação das Mães da Praça de Maio