domingo, 11 de dezembro de 2011

Governador Beto Richa vence as 500 milhas de Londrina

Ferrari do Trio Beto Richa/Lucas Molo/Anderson Faria
O trio Lucas Molo, Anderson Faria e Beto Richa venceu a 20ª edição das 500 Milhas de Londrina 2011, na Geral e no Grupo I, com a Ferrari F430, completando as 262 voltas da prova no tempo de 6h22min18s. A segunda posição na Geral foi da dupla Leandro Totti/Paulo Totaro com o protótipo Spyder, a 12 voltas em terceiro Leonardo Yoshii/Richard Campos à 12 voltas 18s126, em quarto Odone Ranocchi/Gualter Pinheiro à 12 voltas 34s593, em quinto Richard Antony Heidrich/Claudio Simão à 19 voltas, em sexto Leomar Frendich Jr/Leonel Reis à 19 voltas 37s715, em sétimo Diego Pardo/Bruno Pardo/Ademir Pardo à 26 voltas, em oitavo Algacir Sermann/Beto Cazuni à 26 voltas 5s441, em nono Tiago Scarpetta/Marcondes/Ramos a 30 voltas e em décimo Marcio Yamagawa/Arthur Tellis/Maicon Tumiate a 35 voltas. Estas as dez melhores equipes classificadas após a prova.
Largada da prova
As 500 Milhas de Londrina 2011, que há 20 anos é organizada por Daniel Procópio, Beto Borghesi e Aloysio Moreira, contou com supervisão da Federação Paranaense de Automobilismo (FPrA). No Grupo I, domínio total da Ferrari pilotada por Lucas Molo, Anderson Faria e Beto Richa com 262 voltas da prova no tempo de 6h22min18s, é claro que um dos mais felizes da equipe era o Governado Beto Richa que pela primeira vez venceu uma prova das 500 Milhas na Geral. “Este é um evento. muito importante, que sempre arruma tempo para se dedicar a este esporte. Montamos uma boa estratégia e conseguimos a vitória na Geral”, declarou Beto Richa. “Poupamos bem o carro e procuramos fugir dos acidentes, tivemos uma pane mecânica no início da prova, onde perdemos oito voltas nos boxes, mas conseguimos recuperar o tempo perdido e quando assumimos a liderança novamente, tivemos a certeza que poderíamos vencer, graças a Deus”, disse Lucas Molo. Com o resultado, Lucas Molo e Anderson Faria sagraram-se campeões brasileiro de Endurance, no Grupo I, sendo que esta foi a terceira conquista de Locas Molo. Em segundo lugar chegaram os pilotos Richard Antony Heidrich/Claudio Simão à 19 voltas e em terceiro Caco Almeida/Eduardo Merhy Neto/Beto Richa à 39 voltas do líder.

Paraenses rejeitam divisão do Estado

Os eleitores paraenses rejeitaram neste domingo (11) a divisão do Estado. Com 66,52% das urnas apuradas, às 19h48, o resultado mostra que 69,68% disseram não à criação do Tapajós, no sudeste do Pará, e 70,2%% disseram não à criação do Carajás, no oeste. Matematicamente é impossível ter uma virada no resultado, segundo o Datafolha.

O plebiscito realizado hoje aconteceu após o STF (Supremo Tribunal Federal) definir que toda a populacão do Estado deveria ser consultada sobre a divisão, e não só a parcela dos cidadãos que poderá integrar os novos territórios.

A decisão foi considerada um revés para os partidários do sim à separação. A população do que seria o novo Pará, majoritariamente antidivisão, é muito superior à soma dos moradores das áreas separatistas: 4,6 milhões, ante 2,9 milhões.

Mesmo que a divisão fosse aprovada, ainda precisaria ser submetida ao crivo do Congresso, por meio de uma lei complementar, conforme rege a Constituição.

Agora, uma nova proposta de consulta pela divisão do Estado só poderá ser apresentada na próxima legislatura, a partir de 2015.

CAMPANHAS

A campanha que antecedeu ao plebiscito foi marcada pela ampliação do ressentimento nas áreas que desejam emancipar-se, que reclamam do isolamento e da ausência do poder público na região.

Nos últimos dias da campanha, o clima de tensão foi acirrado com o envolvimento direto do governador, Simão Jatene (PSDB), contra a partilha.

DIVISÃO

O movimento separatista no Pará reedita, quase dois séculos depois, a Cabanagem, revolta do século 19 em que índios, negros e mestiços tomaram o poder na então província. Os novos rebeldes querem separar as regiões oeste e sul e fundar os Estados de Carajás e Tapajós.

A insurgência nasceu com o sentimento de abandono político e isolamento territorial e a desigualdade econômica entre a capital, Belém, e regiões remotas do interior.

Mas há diferenças históricas entre os dois projetos, do Carajás e do Tapajós.

O primeiro é capitaneado por uma elite econômica nova e poderosa, que quer gerir os recursos minerais e a forte agropecuária da região.

O segundo tem maior legitimidade, pois nasceu há 150 anos, mas carece do tônus econômico do vizinho.

Contra ambos estão empresários e políticos da região metropolitana de Belém, que não aceitam perder 86% da área e 44% do PIB. (Uol)

Mato Grosso do Sul assumiu “luta anti-indígena” como política de Estado

Na madrugada de 18 de novembro, o Brasil voltou a registrar novos e vergonhosos fatos relativos ao secular genocídio de povos indígenas, desta vez capitaneados pelo agronegócio e pela inoperância do governo federal. O cacique kaiowá guarani Nísio Gomes foi a vítima, executado covardemente dentro do acampamento Tekoha Guayviri, um dos 30 que os guarani mantêm mobilizados em beiras de estradas e portas de fazenda, à espera do sonhado retorno às terras originárias.
O mesmo processo de massacre ocorre com as tribos do Xingu que serão afetadas pela construção de Belo Monte, com quem a presidente Dilma se recusa a qualquer diálogo. Num contexto de radicalização da expansão capitalista no território brasileiro, com apoio e financiamento público, a causa indígena ganha contornos ainda mais dramáticos, uma vez que seus direitos são esmagados de forma escancarada.
Diante do quadro desesperador dos índios guarani, o Correio da Cidadania entrevistou o antropólogo Egon Heck, do Conselho Indigenista Missionário no Estado do Mato Grosso do Sul – local onde o racismo e a intolerância à diversidade se tornaram políticas de Estado, com aparelhamento do judiciário, cooptação da mídia, sempre a serviço do poder econômico, e uso simultâneo e mal disfarçado de forças de segurança públicas e privadas contra os indígenas.
Além de denunciar o mencionado processo de genocídio deliberado dos povos indígenas, Egon cobra ações efetivas do governo federal, único ente capaz de fazer a lei chegar onde a pistola e o dinheiro ainda são os determinantes dos rumos da vida. Com um agronegócio ávido por terras e pelas riquezas do Aquífero Guarani (cada vez mais contaminado), ele afirma que estamos chegando a uma situação limite, na qual, de um lado, os povos indígenas buscam o retorno imediato às terras originárias e, do outro, o agronegócio põe em prática ofensiva para dizimar tais povos, passando por cima de todas as leis e direitos humanos que conhecemos.
A entrevista completa pode ser lida a seguir.
Correio da Cidadania: Como você poderia descrever a situação do povo guarani nos últimos meses no Mato Grosso do Sul, agora agravada com o assassinato do cacique Nísio e o desaparecimento de outros dois índios?
Egon Heck: O que a gente percebe é, na verdade, uma prática articulada pelo poder econômico e político no Mato Grosso do Sul, baseada fundamentalmente na produção exportadora e na monocultura da soja, além da agroindústria da cana, que está se agravando em níveis extremamente perigosos e absurdos, pois há em curso uma possibilidade mais ou menos próxima de definição das terras indígenas. E o MS é o Estado que menos demarcou terras indígenas, que conseguiu impedir por mais tempo esse cumprimento constitucional, haja vista que 90% delas ainda terão de ser homologadas. E as restantes ainda estão em processos de regularização, na maioria dos casos, paralisados por ações judiciais.
Portanto, temos uma situação muito preocupante do ponto de vista da regularização das terras indígenas, um poder econômico e político muito articulado contra os direitos dos povos indígenas, com opções claras colocadas em prática em sua atuação contra os povos indígenas e os movimentos sociais.
No caso concreto, existe uma avaliação dos setores anti-indígenas de que não se deve mais esperar pela justiça. Qualquer movimentação dos índios deve ser rechaçada imediatamente, por intermédio de paramilitares, milícias armadas, pistoleiros dos fazendeiros e todo o poder econômico. Isto por um lado. Como dizem, a justiça demora muito, porque, se se entra com ação de reintegração de posse, esta poderá ser questionada, depois terá de ser acatada ou não pela justiça, e, se acatada, pode ter a execução demorada… Diante disso, eles parecem colocar em prática a estratégia dos caminhos do poder bruto, da violência e da força, passando ao largo de qualquer legalidade.
De outro lado, temos as comunidades indígenas que estão no limite mesmo de espera de promessas, enganações, prazos, que já foram inúmeros, mas nunca cumpridos em favor das comunidades indígenas. Recentemente, foi assinado um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), uma tentativa extrema de obrigar o governo brasileiro a cumprir sua obrigação de demarcar as terras. Mas já era para terem publicado os relatórios antropológicos das terras e ainda não o fizeram.
Assim, os índios se perguntam: “vamos aguardar o que, até quando, de que forma?”. Praticamente, como última alternativa, viabilizada pelos mais de 30 acampamentos indígenas no Estado, resta a pressão sobre o governo federal para demarcar as terras indígenas. E a única forma de pressão que tem surtido algum efeito em favor dos índios é o retorno às terras. E aí vemos armados os conflitos, em proporções que exigem uma atitude, pois poderão ceifar inúmeras vidas. De um lado, está o fim da paciência; de outro, está a firme decisão de impedir os índios de retornar às suas terras.
Correio da Cidadania: O que esta situação revela das políticas de governo, do poder judiciário, da sociedade e da mídia do Estado do Mato Grosso do Sul e sua relação com os povos originários?
Egon Heck: Lamentavelmente, vivemos uma situação que vem historicamente se aprofundando, de negação de direitos ao diferente, à alteridade, principalmente aqui no MS, e isso vem se tornando evidente, vem sendo reforçado pelos meios de comunicação regionais.
Para se ter ideia, desde 2008, quando se assinou o TAC, vimos uma enorme campanha anti-indígena durante os anos que passaram, veiculada e financiada até pelo governo do Estado. Repassava recursos aos municípios para ter assessorias jurídicas contra a demarcação de terras. Fez grandes campanhas de imprensa, em outdoors, veiculando intencionalmente mentiras muito óbvias, do tipo que o “Estado seria inviabilizado se as terras fossem demarcadas”, “os povos estariam reivindicando 12 milhões de hectares das terras mais férteis do Estado” (no cone sul do MS), “estariam inviabilizando 26 municípios”, “ocupando municípios”. Um conhecido nosso dessas cidades disse expressamente que comprou armas para se defender porque o sindicato rural havia avisado que os índios iam invadir tudo…
Por aí vemos o absurdo de tantas informações e mentiras no sentido de criar grande animosidade contra os índios, com vistas a impedir de ser efetivado seu direito sagrado à terra.
Essa realidade se acentuou muito nos últimos anos, creio que seja hoje uma das que mais geram violência aos povos indígenas, em função do não cumprimento da determinação constitucional, chegando a esse quadro lamentável de violências, mortes, ameaças, fome, desintegração social, tudo aquilo que se pode imaginar como consequência da negação de direitos básicos de sobrevivência de um povo ou comunidade. Um processo de negação da vida, genocida, como dizem claramente os estudiosos do tema.
Correio da Cidadania: E a polícia, pode ser acusada de atuar em perversa parceria com os latifundiários e os donos do poder econômico?
Egon Heck: As mais recentes demonstrações de violência têm mostrado características típicas de ações muito bem articuladas em nível estadual. Por exemplo: a repressão com balas de borracha.
Esta é uma prática comum nos meios urbanos, agora utilizada por milícias, organizadas no interior para reprimir índios. Outra estratégia é dificultar ao máximo a identificação dos agressores, consequentemente garantindo sua impunidade. E há ainda a ocultação de cadáver, coisa que aconteceu três vezes desde 2009, com corpos deixados tanto do lado brasileiro quanto do lado paraguaio da fronteira.
Existem indícios de que os fazendeiros têm atuado com essas forças particulares, nas quais evidentemente existem presença e atuação de policiais aposentados, etc.
Correio da Cidadania: E quanto ao governo federal, como avalia a sua postura, atualmente, diante deste episódio, após anos de lutas pela demarcação de terras já homologadas e inúmeras mortes de indígenas, sempre seguidas de impunidade?
Egon Heck: Eu tenho impressão de que o governo federal infelizmente só dá respostas com o mínimo de retorno nesses momentos extremos, em situações de grande violência e morte. Mas a questão indígena é responsabilidade total do governo federal, no sentido de garantir a vida e o acesso aos recursos e patrimônios da natureza.
Infelizmente, não se tem avançado no sentido, diversas vezes sugerido, de contar, ao menos num primeiro momento, com a ajuda da polícia e da Força Nacional de Segurança, equipes com preparação específica para atuar com grupos étnicos diferentes, de culturas diversas.
Infelizmente, a própria atuação da PF, em vários casos, tem deixado a desejar, talvez até pela falta de um preparo específico para atuar em tais áreas. E, por outro lado, notamos que, quanto mais próxima a PF está das áreas e regiões de conflito, mais suscetível ela fica a pressões do poder econômico e político regional. Portanto, as ações acabam não tendo a esperada imparcialidade, que seria o mais justo para se chegar a punições e prevenção a violências – ou seja, a atuação que deveria haver para oferecer segurança às comunidades indígenas.
Correio da Cidadania: Fica evidente que a PF está a serviço do poder econômico do latifúndio no Estado.
Egon Heck: Na semana passada, saiu na mídia regional uma notícia da ação do Ministério Público Federal com relação ao assassinato dos senhores Rolindo Vera e Genivaldo Vera, informando que o inquérito da PF recomendava arquivamento, “por falta de provas objetivas” contra os implicados no assassinato. Claro que causou grande estranheza ao Ministério Público, pois existem muitas provas e indícios de vários nomes de participantes do crime.
O procurador Tiago da Luz, em entrevista, disse que viu “vários depoimentos dos índios, únicas testemunhas oculares, inclusive identificando nomes. Por que tais depoimentos não foram levados em conta pela Polícia Federal? Por acaso a palavra dos índios não vale nada?”.
Infelizmente, são esses os atores que têm ditado as regras. Precisamos de uma instância diferente, diversa, para tratar da segurança nas comunidades indígenas, com preparação prévia para se lidar com a cultura indígena, especificamente na agroecologia. Além de uma isenção maior em relação à realidade política e econômica local, porque, queira ou não, isto interfere concretamente contra os direitos indígenas.
Correio da Cidadania: E a Funai? Tem estado a serviço dos interesses e direitos indígenas ou vem sendo também varrida por essas mesmas pressões?
Egon Heck: A Funai é um pouco isso. Sofreu forte e recente sucateamento, está em processo de tentativa de recuperação, com atuação em favor dos povos indígenas por meio de contratações e concursos públicos, além de alguns funcionários mais comprometidos com a realidade dos povos indígenas.
Por outro lado, no entanto, sempre vemos a atuação ambígua e contraditória que no fundo marca a Funai. Às vezes, tem gente, mas não tem recursos para colocar, de fato, 500 pessoas a serviço dos povos indígenas; às vezes, tem que defender direitos constitucionais indígenas, mas não pode ofender os “direitos” econômicos e políticos hegemônicos. Quer dizer, tem de fazer de conta que defende o índio, pois não pode afetar o grande capital.
É dentro desse clima de contradições que a Funai tem tido na região atuações mais expressivas em favor dos índios, atitudes até corajosas de alguns funcionários – o que até tem feito com que, diante dos povos indígenas, a Funai regional tenha recuperado sua credibilidade.
Correio da Cidadania: Como avaliar, ademais, esta evolução dos acontecimentos, tendo em vista a tão comemorada demarcação contínua de Raposa Serra do Sol? Esta demarcação colaborou, de algum modo, no que toca um maior reconhecimento e respeito aos direitos dos índios brasileiros? As 19 condicionantes impostas pelo STF têm resultado em reveses?
Egon Heck: De fato, e é incontestável, a demarcação contínua das terras de Raposa Serra do Sol tem sido uma vitória para os wapichana, macuxi, ingarikó, patamona e taurepang. Porém, o preço para os povos indígenas, especialmente no MS, tem sido muito alto, ou seja, onde existe poder econômico e político, faz-se uma leitura das condicionantes que inviabiliza qualquer outra demarcação de Terra Indígena. A questão da temporalidade é uma delas. Só teria direito às terras tradicionais os índios que em 1988 estivessem nas terras. Acontece que, evidentemente, o processo de expulsão violenta, seja pela ocupação econômica da região, seja pelos próprios órgãos oficiais da época, como o SPI e a Funai, que antes se prestavam a tirá-los da terra e colocá-los em áreas de confinamento, é simplesmente desconsiderado.
Em todos os momentos, dizem que os índios não estavam lá em 1988 e, portanto, não têm direito às suas terras tradicionais. O que é um absurdo, pois, dentro da própria leitura das condicionantes no Supremo, fica claro que os índios deveriam estar nas terras até em 1988, tendo também direito a elas em caso de expulsão anterior. Essa tem sido uma das teclas em que se tem batido. A outra condicionante usada é a da não ampliação das terras indígenas. Usam também a afirmação, falsa, de que as demarcações não são válidas para antigos aldeamentos, quando na verdade esse processo guarani só teve um aldeamento, no Século 18, por parte dos jesuítas…
Enfim, procuram-se todos os meios de distorcer as próprias leis em favor do poder econômico e político regional.
Correio da Cidadania: Pode-se dizer que essa demarcação representou o início da imposição de retrocessos?
Egon Heck: Ela dificultou, digamos. Ou deu munição aos interesses contrários para tentar fazer aquilo que já vinham fazendo, mas munidos de argumentos jurídicos. Com isso, tentam barrar todo e qualquer processo de identificação e demarcação de terras.
Temos quase 20 processos de demarcação em andamento, quase todos parados por ações judiciais. Outros, em processo praticamente conclusivo, como no caso da terra dos nhanderu marangatu, homologada pelo presidente Lula, mas cassada liminarmente pelo ministro Nelson Jobim, em 2005. Dizia-se que logo no retorno das atividades do Supremo essa ação seria julgada. Passaram-se seis anos e a ação não foi julgada. E temos vários outros exemplos.
Podemos ver claramente que existe uma justiça ágil quando se trata de interesses contrários aos indígenas, e uma justiça extremamente morosa quando se trata de garantir os direitos indígenas.
Correio da Cidadania: O que você teria a responder aos argumentos que veem nas demarcações de terras indígenas, especialmente se feitas de forma contínua, uma ameaça de internacionalização de nosso território, a partir de uma suposta susceptibilidade dos povos indígenas à ingerência externa?
Egon Heck: Responderia que teríamos que nacionalizar nosso país outra vez, já que ele foi entregue ao capital multinacional, às grandes corporações, que fazem o que querem.
Com os indígenas, as terras ficam ainda mais protegidas, pois, sendo terras da União, podem contar com dupla defesa. Além do mais, poderíamos conservar condições mais dignas de sobrevivência, onde ainda não se destruiu totalmente o meio ambiente e os recursos naturais, garantindo ao país as reservas necessárias ao equilíbrio ambiental.
Aqui no MS temos terras totalmente devastadas em relação à mata originária. Alguns municípios têm menos de 10% da mata original. Alguns deles, apesar de toda a pressão e confinamento sobre as terras indígenas, têm um pouco mais de árvores, com maior diversidade de vida preservada.
Creio que os povos indígenas, junto com os movimentos sociais e populares, têm muito a contribuir com um projeto realmente nacional, no lugar de um projeto de multinacionais. Um projeto que, principalmente, tenha como prioridade a vida, não um desenvolvimento desigual que beneficia somente pequenos grupos.
Correio da Cidadania: Qual a capacidade dos guarani de continuar resistindo, em meio a cerco tão violento dos pistoleiros e paramilitares, e quais as expectativas indígenas após essa nova onda de crimes contra suas lideranças, com grande repercussão internacional? Tempos mais sombrios continuam se anunciando?
Egon Heck: Entendemos que os guarani só atravessaram esses mais de 500 anos de turbulências, agressões, extermínios, doenças e tudo mais porque têm uma raiz de sabedoria milenar muito forte, sustentada principalmente em sua forte relação com o sobrenatural, com a espiritualidade, e ao mesmo tempo com a terra, sua mãe, espaço de vida e cura. E isto também lhes permitiu desenvolver uma estratégia de sobrevivência em meio a toda adversidade. Apesar dessa violência toda, vemos um protagonismo dos guarani, no sentido de se mobilizar contra a violência, muito grande.
Também vemos uma grande mobilização, nacional e internacional, oferecendo recursos e solidariedade, o que é um dos fatores que podem contribuir muito, já que a solidariedade internacional tem um peso muito grande hoje em dia em relação aos direitos humanos e às minorias.
Tanto os movimentos de resistência quanto de solidariedade dão sinais muito fortes de que vão atravessar, não sem sofrimento, dor e sangue, esse difícil momento de recuperação da terra.
Correio da Cidadania: Que tipo de impacto poderá ter a aprovação do Código Florestal em discussão em Brasília sobre a situação dos povos indígenas, a seu ver? Os conflitos de interesses entre os povos indígenas e o capital poderão, por exemplo, acirrar-se, vulnerabilizando ainda mais as riquezas do Aquífero Guarani?
Egon Heck: Creio que sim, que a aprovação dessa proposta de Código Florestal tende a acentuar os conflitos com os guarani pela questão da água e da agricultura, sem dúvida. O que mais causa devastação, além de toda a carga pesada dos agrotóxicos, é a instalação maciça de indústria da cana, com vários projetos de usina, o que terá consequências muito fortes aos guarani. Em algumas usinas, como a de Rio Brilhante, já se usam as águas do Aquífero para lavar a cana. Com isso, fragilizam a proteção da vida dos guarani que utilizam água dos rios, poluindo essa água, inviabilizando seu uso por parte dos guarani, afetando matas virgens… A indústria da cana é altamente rentável para os empresários e, infelizmente, utiliza a mão de obra indígena, que, por sua vez, tem sido cada vez mais dispensada com o processo de mecanização de tais usinas na região. Isto cria um novo problema social, pois grandes contingentes de indígenas que trabalhavam no corte da cana são dispensados e condenados à miséria.
O que colocamos como perspectivas, que os guarani esperam do governo, da sociedade, do mundo, não é apenas o reconhecimento formal do direito à vida e das legislações, inclusive a Constituição, mas ações efetivas de construção de projetos que respeitem a diversidade de vida, de produção, de sociabilidade. E, principalmente, quanto àqueles que tanto mal fizeram à mãe terra, que tanta destruição causaram, que o governo federal assuma com determinação e clareza seu papel. Que não fique só na demarcação de terras, mas possibilite de fato a recuperação de sua economia, subsistência, seus meios de vida, promovendo uma recuperação básica do meio ambiente, rios e matas, que de alguma forma terão de ser recompostos. Que ajude a se começar uma virada histórica nessa situação de violência e miséria a que os índios foram submetidos, com convivência, paz e respeito na diversidade. É isso que esperamos. Os guarani e todo mundo. É um momento crucial, de encruzilhada, de busca de caminhos e alternativas. (Correio da Cidadania)

O século 21 é a nova época da América Latina, diz Correa

Somos um continente, uma região, um povo de povos que aponta para o porvir com decisão, afirmou o presidente equatoriano, Rafael Correa, depois de advertir que ninguém detém esta integração latino-americana e a mudança de época. A afirmação foi feita em discurso comemorativo do 477º aniversário da cidade de Quito, transcorrido na terça-feira passada (6).

Agora que assinamos a ata de nascimento da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), ratificamos que somos um povo gigante, povos diversos, que nunca mais estarão sós e traçamos nosso destino unitário, ressaltou. Ao concluir na terça-feira passada (6) a sessão solene da Prefeitura Metropolitana de Quito pelo 477º aniversário de sua fundação, o mandatário disse que a Revolução Cidadã investiu cerca de dois bilhões de dólares em obras de benefício social na capital. Oxalá, disse, nas próximas sessões solenes possamos falar sem ter que recorrer a cifras para rebater os que pretendem semear ideias regionalistas com o propósito de causar dano ao governo e ao país. Este é o novo tempo da Pátria, enfatizou Correa, necessitamos avançar com sentido de urgência, não podemos dar-nos o luxo de perder tempo nem avançar ao ritmo do m ais lento, temos que construir um novo Equador e já perdemos muito tempo. Estamos construiendo esta Pátria Grande que busca seu verdadeiro crescimento apontando para o Sul, afirmou. Necessitamos, precisou, hoje mais do que nunca, da unidade integral; da criação de espaços regionais soberanos; de uma nova estrutura financeira que não indique a criação de consumidores globais; precisamos de cidadãos com solidariedade, entrega, compromisso e paixão pela Pátria. Jamais vamos celebrar os conquistadores. Não celebramos a morte e a desolação, mas junto aos mais remotos habitantes da região de Quito celebramos os que souberam levantar-se contra o despotismo e as pessoas gente rebeldes capazes de desterrar déspotas e corruptos, disse. Celebramos esta cidade dos conventos, anarquista, ateia, crédula, rebelde, maçônica, cristã, tudo ao mesmo tempo, e nos orgulha viver aqui rodeados de afeto, conhecimentos, fogo de vulcões, vento de montanhas, trinado de beija-flores e ventos de liberdade. Temos sangue sábio, milenar, de inga, de mandinga, de mouros e cristãos, de árabes, caboclos, longos, camponeses da costa, interioranos, caipiras, de todas as regiões, todas as vertentes do carinho, as forças e as ganas de levantar este país, sublinhou mandatário equatoriano. Quito, mestiça no coração ardente da Pátria, celebra a memória de suas raízes, reivindicando ao mesmo tempo aqueles que vieram de longe, mas não os que vieram para matar e roubar, celebramos a memória dos que chegaram para semear um novo abecedário, afirmou Correa. Estamos construindo um futuro de liberdade, segurança, confiança, um futuro do Bem Viver, solidariedade e alegria compartilhada, levantando sobre nossa memória esta cidade ideal que não existe ainda mas que já está prefigurada nos sonhos d etodos os seus habitantes. Finalmente, o presidente recordou Simón Bolívar, "esse extraordinário latino-americano que pensava em séculos e mirava em continentes", em cujos sonhos vislumbrava nossa Pátria Grande, de paz e solidariedade, com um só coração imenso em forma de continente. (Prensa Latina)

Solução brasileira 'salva' reunião do clima de fracasso

Passava de 1h da madrugada e o cansaço de três noites em claro pesava, quando o negociador-chefe do Brasil, Luiz Alberto Figueiredo, se deparou com o ministro britânico de Energia e Clima, Chris Huhne, na plenária.

Já era domingo, segundo dia de prorrogação da reunião das Nações Unidas sobre mudanças climáticas na África do Sul, ainda sem conclusão à vista, e o clima pesou.

Huhne, ex-jornalista e atual deputado liberal-democrata, e Figueiredo, ex-comunista e atual diplomata, trocavam acusações polidas e mútuas de estarem pondo em risco todo o trabalho de mais de duas semanas em Durban.

O pomo da discórdia era uma nova versão do texto final a ser adotado pela convenção do clima, mais precisamente a descrição do valor legal dele.

Metas de redução

Pela primeira vez na história das negociações sobre o clima, países em desenvolvimento estavam prestes a se comprometer legalmente com metas de redução de emissão de gases do efeito estufa.

Desde a década de 90, a legislação climática separava o mundo entre países desenvolvidos, com obrigações de redução, e países em desenvolvimento, livres de compromissos com força de lei.

No século 21, com a disparada de crescimento da China, seguida por Índia e Brasil, essa divisão ficou cada vez mais incômoda para os Estados Unidos (que embora nunca tenha assumido metas de redução, continuou participando do processo internacional da ONU) e para a União Europeia.

A solução para eles era fechar um acordo que igualasse todos os participantes perante à lei, ainda que com compromissos diferentes.

China e Índia, entretanto, embora tivessem aceitado negociar um acordo assim para o futuro, não estavam satisfeitos com o que lhe caberia nessa barganha: uma nova etapa do Protocolo de Kyoto (que vence em 2012) e um acordo que finalmente incluísse os Estados Unidos, entre outros.

Não era de se estranhar, portanto, que estes países quisessem enfraquecer ao máximo este novo futuro vínculo legal.

'Momento histórico'

Na plenária, já cercado por uma pequena multidão, o inglês reclamava da nova versão que continha a expressão "resultado legal" no lugar de "instrumento legal" - como aparecera em versões anteriores.

Negociadores europeus, no burburinho que se formou em torno dos dois, diziam que não podiam simplesmente aparecer com um texto e querer jogar fora o que fora negociado anteriormente e ameaçavam abandonar navio.

Figueiredo, que durante as duas semanas de COP-17 não raro fez o papel de intermediário entre os chamados BASIC (Brasil, África do Sul, Índia e China) e os Estados Unidos e UE, tratou de defender a mudança.

"Eu estava tentando fazer ver a todos que por uma palavra não se perde um momento histórico", disse Figueiredo depois do final feliz.

Na hora, visivelmente irritado, respondeu em inglês a Huhne: "Não me venha com essa, isso você pode dizer fora daqui, mas não me venha com essa", dando a entender que não aceitaria qualquer "jogo de cena" em uma hora tão crucial para as negociações.

Afastou-se e de longe, conversava com outro representante brasileiro, ainda abalado, enquanto Huhne articulava.

"Então, temos nós que falar com a Índia", dizia. Negociadores europeus lhe responderam que não faria diferença - a Índia não mudaria de posição.

"Temos que tentar", respondeu Huhne, enquanto a presidência da COP-17 pedia aos delegados que tomassem seus assentos para a retomada dos procedimentos.

A sessão foi reaberta, mas não por muito tempo. Novamente, a UE pediu tempo para conversar. Dessa vez, os dez minutos se transformaram em quase uma hora de intensas conversas.

Solução intermediária

Figueiredo desapareceu em uma nuvem de negociadores da Índia e da UE.

De volta à plenária, item a item, a agenda foi aprovada, sem sinal das tensões presenciadas havia pouco.

A explicação? Na dúvida entre "resultado legal" e "instrumento legal", o embaixador Figueiredo saiu-se com "instrumento com força legal".

Em entrevista coletiva após a aprovação do novo período de compromisso sob Kyoto, do Fundo Verde do Clima, do texto sobre REDD e outros, além, é claro, principalmente o novo instrumento legalmente vinculante, Huhne era só elogios.

"Luiz é um advogado criativo e imaginativo e um grande parceiro de negociações, e o Brasil tem um histórico de conquistas incrível que está cada vez mais sendo projetado no âmbito internacional", disse o ministro.

Para a comissária europeia, Connie Hedegaard, foi o momento definitivo das longas duas semanas de negociação.

"E acho que se não tivéssemos encontrado aquela solução com a Índia naquele momento, estaríamos naquela sala até agora ou nada teria saído daqui." (BBC)

Ratos libertam companheiros em uma demonstração de empatia

Ratos que aprenderam a libertar seus companheiros da prisão.

Ou, ao menos, de gaiolinhas de acrílico onde tinham sido colocados, num experimento do Departamento de Psicologia, coordenado pela pesquisadora israelense Inbal Ben-Ami Bartal.

A pesquisa foi descrita na revista "Science" desta semana. O espírito libertador dos ratinhos surpreende porque, para os cientistas, ele pressupõe uma forma de empatia --a capacidade de se colocar na posição de outro indivíduo e tentar ajudá-lo.

Os cientistas usaram cerca de 30 bichos no experimento. Cada par de "participantes" era colocado no mesmo recinto durante duas semanas. Depois, um dos bichos era colocado na gaiolinha, enquanto o outro podia interagir com a "cela".

Após cerca de uma semana, quase todos os bichos aprendiam que dava para abrir a portinhola e permitir que o parceiro escapasse.

Ao que tudo indica, eles não fuçavam na gaiola por pura curiosidade, já que jaulas vazias ou com brinquedos dentro não despertavam o mesmo interesse nos bichos.

O mais surpreendente veio quando a comparação entre uma gaiola com o companheiro e outra com uma barra de chocolate.

Nesse segundo caso, os roedores não só abriam ambas as gaiolas com igual rapidez como também comiam só parte da guloseima, deixando o resto para o ratinho recém-libertado.

Os pesquisadores também verificaram que o rato prisioneiro "pedia socorro", usando chamados ultrassônicos de alerta que são típicos da comunicação da espécie. (Uol)

Na Líbia, desgovernada e dividida em conflitos tribais, grupos armados entram em conflito no aeroporto de Trípoli

Um comboio transportando um dos mais importantes líderes militares da Líbia esteve envolvido em um tiroteio entre grupos armados rivais durante a noite, próximo ao Aeroporto Internacional de Trípoli, disseram comandantes de milícias locais neste domingo.

Foi o mais recente de uma série de confrontos entre milícias rivais que, na ausência de um governo central efetivo, exercem poder nas ruas da Líbia desde que uma revolta derrubou o ex-líder Muammar Gaddafi.

Dois comandantes disseram que os confrontos começaram quando um veículo transportando Khalifa Haftar, que ajudou a liderar a luta pelo fim do governo de Gaddafi, se aproximou de um posto de controle a cerca de 3 km do aeroporto, onde milicianos de fora de Trípoli estavam mantendo guarda.

"Khalifa Haftar e seu comboio chegaram ao posto de controle e não responderam ao pedido para parar", disse à Reuters o coronel Mukhtar Fernana, afirmando que sua milícia estava no local dos confrontos.

"Quando eles (os homens que estavam no posto de controle) tentaram parar o comboio, os guardas de Haftar abriram fogo e feriram duas pessoas", afirmou.

Ele disse que o grupo de Haftar então foi perseguido até o acampamento militar próximo de Hamza, usado pelas suas forças como base, e um segundo tiroteio irrompeu no local. Um segundo comandante da milícia, Abdullah Mohammed Attroudi, confirmou o relato.

Haftar integrou um grupo de oficiais militares da Líbia responsável pelo golpe de 1969 que levou Gaddafi ao poder. Posteriormente, ele entrou em desacordo com o líder líbio, e passou os últimos 20 anos morando nos Estados Unidos.

Haftar retornou à sua cidade natal, Benghazi, no leste da Líbia, quando a revolta começou em fevereiro deste ano, e foi um dos comandantes das forças contrárias a Gaddafi no leste do país. (Reuters)

Primeira juíza negra do Brasil será nomeada desembargadora

Em sessão ordinária na última terça-feira (06), o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiu, por unanimidade, a nomeação da juíza baiana Luislinda Valois para o cargo de desembargadora do Tribunal de Justiça da Bahia. O CNJ levou em conta o critério de antiguidade no cargo. Luislinda, negra e de origem pobre, é a primeira juíza negra do Brasil.n“É o reconhecimento da luta de uma mulher negra, rastafári, que conseguiu sair vitoriosa desse processo”, afirmou ela. Ela ocupava o cargo de desembargadora substituta no Tribunal de Justiça desde agosto de 2010. Com a proximidade da aposentadoria compulsória, a nomeação poderia não acontecer. O movimento negro baiano se mobilizou pela nomeação de Luislinda e comemorou a decisão do CNJ.

Luislinda foi a primeira juíza negra a proferir uma sentença contra o racismo no país. Atua no Tribunal de Justiça de Salvador desde 1993, e trabalhou na reativação de diversos juizados especiais no estado da Bahia. (CB)

Intelectuais se dobraram à alienação do trabalho, diz Marilena Chauí

Na chamada sociedade da informação, os intelectuais se dobraram à alienação do trabalho: não têm mais controle sobre o que produzem, e sua obra é uma mercadoria que não revela a subjetividade do autor.

O misto de acusação e lamento foi feito pela filósofa Marilena Chauí na noite de quarta-feira (17) no Rio, na terceira conferência da série sobre o "elogio à preguiça" que acontece também em São Paulo e Belo Horizonte. "A maneira pela qual os acadêmicos se renderam à ideia de produtividade, de controle de qualidade e de ranking é um escárnio. É a destruição da vida do pensamento", disse a professora da USP.

Segundo Chauí, nas formas anteriores do capitalismo o intelectual era um "trabalhador improdutivo" porque a ciência e os conhecimentos eram aplicados indiretamente na produção por intermédio da tecnologia.

"Hoje todas as ciências deixaram de ser um conhecimento que passa ao largo do capital para depois serem aplicadas. Elas se tornaram uma força produtiva. É isso que significa a afirmação de que todo poder está na informação. A subordinação do intelectual à lógica do capital se fará com a mesma ferocidade em que ela se fez sobre o proletariado."

Na sua conferência de mais de uma hora para um auditório de 300 lugares lotado, na Academia Brasileira de Letras, Chauí deu uma espécie de aula sobre "O Direito à Preguiça", de Paul Lafargue (1842-1911), publicado em Paris em 1880. O genro de Karl Marx, nascido em Cuba de uma família que misturava mulatos e indígenas caribenhos com um judeu francês, escreveu o livro-panfleto em reação à derrota da Comuna de Paris, em 1871.

Ele questionava por que os trabalhadores haviam aderido ao "dogma do trabalho" assalariado, considerando-o uma conquista revolucionária. Propunha a redução da jornada de 12 para três horas diárias. "Ao apertar o cinto, a classe operária desenvolveu para além do normal o ventre da burguesia", dizia.

No tempo livre, os trabalhadores iriam desfrutar da "boa vida" e perceberiam a "virtude da preguiça". Na sua origem latina, virtude quer dizer força e vigor, disse Chauí. Portanto, a preguiça iria, segundo Lafargue, fortalecer o "espírito" dos trabalhadores.

Já naquela época, o socialista revolucionário apontava a criação de necessidades fictícias de consumo e a produção de supérfluos para garantir a reprodução do sistema, em que a parcela do trabalho não remunerada (a mais valia) garante o lucro.

Numa referência à ofensiva religiosa que se seguiu à derrota da Comuna --na época foi construída a basílica de Sacre Coeur, em Montmartre, e incentivado no campo o culto a santa Bernadete--, ele escreveu o livro como paródia de um sermão, em que até o descanso de Deus no sétimo dia era citado como exemplo do direito ao ócio. "Não é a irreverência de um ateu, mas a crítica ao trabalho assalariado como trabalho alienado", disse Chauí.

Antes de discutir o panfleto de Lafargue, a filósofa fez um breve histórico da visão paradoxal que a tradição ocidental tinha do trabalho até os calvinistas lançaram a máxima de que "mãos desocupadas são a oficina do diabo" --na famosa conjunção entre a "Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo" identificada por Max Weber.

No Gênesis da Bíblia, por exemplo, o trabalho é imposto como pena eterna a Adão e Eva, que não mereceram o paraíso. A preguiça, portanto, é um pecado capital. Ao mesmo tempo, a ideia do trabalho como "desonra e degradação" faz com que ele não seja visto como opção de quem tem livre arbítrio.

"Essa ideia aparece nas sociedades escravistas como a grega e a romana, cujos poetas não se cansavam de proclamar o ócio como um valor indispensável para a vida livre e feliz", disse Chauí. A palavra trabalho não existia em grego e em latim, lembrou ela. "Os vocábulos ergon (em grego) e opus (latim) se referem às obras produzidas e não à atividade de produzi-las."

A palavra latina que deu origem a trabalho é "tripalium", um instrumento de tortura. O latim "labor", que originou o inglês "labor", significa esforço penoso. "Não é significativo que em muitas línguas modernas recuperem a maldição divina contra Eva usando a expressão trabalho de parto?", perguntou a professora. (Uol)

Turquia pronta para invadir a Síria

A Turquia e seus aliados ocidentais estão transferindo, para a Síria, os mercenários líbios que treinaram e armaram para depor Muammar Gaddafi. Cerca de 600 ‘voluntários’ líbios já entraram na Síria. O jornal Daily Telegraph noticia que houve encontros secretos na 6ª-feira em Istanbul, entre oficiais turcos, representantes da oposição síria e mercenários líbios. Infiltração de armas em grande escala, da Turquia e da Jordânia, já ocorre há meses, para criar condições para uma guerra civil na Síria, mas, até agora, não havia notícia de infiltração também de grande número de mercenários ‘voluntários’.

O movimento tornou-se necessário, porque o projeto de induzir grande número de deserções nas forças armadas sírias não produziu o resultado esperado (houve pouquíssimas deserções). A Turquia e as potências ocidentais precisam desesperadamente construir o mito de uma força síria ‘de resistência’ contra o regime de Asad, sem o qual qualquer movimento contra a Síria estará exposto como o que realmente é, agressão nua e crua.

Moscou reagiu hoje: sugeriu firmemente que pode fornecer armas ao regime sírio, para sua autodefesa. O ministro de Relações Exteriores da Rússia, Lavrov, parou um a um milímetro de dizê-lo claramente. Disse que qualquer embargo de armas para a Síria seria “injusto”. Moscou confirmou que uma esquadra de combate russa navega para a base russa no porto sírio de Tartus, no Mediterrâneo oriental, bem próxima da fronteira entre Turquia e Síria. Lavrov criticou a interferência estrangeira na Síria, mas sem citar Turquia, Jordânia, etc.

As coisas parecem estar andando céleres para a invasão. Sinal claro disso é que o vice-presidente Biden dos EUA, estará em Ancara no fim-de-semana. Com toda a certeza, lá estará para dar aos turcos o ‘sinal verde’ dos EUA, para que ataquem a Síria, sem medo. E o rei Abdullah da Jordânia viajou outra vez para Israel. É o ‘canal oculto’ direto entre Arábia Saudita e Israel e aliado regional chave da inteligência ocidental.

Verdade é que a Turquia está tendo de engolir o medo do desconhecido, e se exporá muito abertamente, com a intervenção armada na Síria. Hoje, pela primeira vez, o ministro das Relações Exteriores da Turquia Ahmet Davotoglu sugeriu que a Turquia esteja em preparação para invadir a Síria; à espera, apenas, do ‘sinal verde’ dos aliados ocidentais. Foi o que quase disse, pouco antes de uma reunião de ministros de Relações Exteriores da União Europeia e representantes da Liga Árabe (leia-se: Arábia Saudita e Qatar).

O dia dessa fala de Davutoglu, 29 de novembro, ficará marcado na crônica da República Turca que Kemal Ataturk fundou. A ‘linha vermelha’ que Ataturk fixou determinava que em nenhum caso a Turquia se deixaria envolver nas questões do Oriente Médio muçulmano e que, em vez disso, se dedicaria à ‘modernização’ do país. Evidentemente, o governo islâmico hoje no poder entende que a Turquia já é suficientemente ‘moderna’ e já pode voltar atrás e ir à guerra para reclamar seu legado otomano.

Haver exército turco em ataque a país árabe – isso é virada histórica. Faz um século que os turcos foram vencidos pela ‘revolta árabe’. A coincidência pinga de ironia. A revolta árabe contra os turcos foi instigada pela Grã-Bretanha. E a Grã-Bretanha, embora seja hoje poder muito enfraquecido, ainda desempenha papel seminal, com a diferença que, hoje, está empurrando os turcos de volta ao mundo árabe. Há cem anos, a Grã-Bretanha conseguiu empurrar os árabes contra os turcos. Hoje, os turcos dão as mãos a alguns árabes, contra outros árabes. (M. K. Bhadrakumar/Indian Puchline)

Vestibular de Verão da UEM começa neste domingo


O Vestibular de Verão 2011 da Universidade Estadual de Maringá (UEM) começa neste domingo (11). No total, 16,6 mil candidatos estão habilitados para realizar, no primeiro dia, a prova de conhecimentos gerais. Para não perder a chance de garantir uma das 1,5 mil vagas em mais de 60 cursos ofertadas neste concurso, os estudantes não podem se atrasar: devem chegar antes do início da prova, agendado para as 8h50.

Além disso, a Central do Vestibular Unificado (CVU) alerta para que os candidatos não esqueçam de levar um documento original com foto. É necessário levar caneta de cor azul ou preta, para o preenchimento da folha de resposta. Não será permitido o uso de relógio de pulso e de aparelhos eletrônicos. O uso de lápis e borracha para o rascunho é autorizado.

Na segunda-feira (12), os candidatos realizarão a prova de língua portuguesa, literaturas em língua portuguesa, língua estrangeira e redação. Na terça (13), último dia do vestibular, é a vez da prova de conhecimentos específicos, cujas disciplinas e conteúdos exigidos variam de acordo com o curso escolhido pelo estudante.

Do total de inscritos, 3,2 mil se inscreveram pelo sistema de cotas sociais, que reserva 20% das vagas para vestibulandos com menor poder aquisitivo. Os três cursos com maior procura foram: medicina, com 1.789 inscritos (137,6 por vaga); arquitetura e urbanismo com 684 candidatos (52,6 por vaga); e engenharia civil em Maringá com 1.027 inscritos (38 por vaga).

Além de Maringá, as provas também serão aplicadas em Apucarana, Campo Mourão, Cianorte, Cidade Gaúcha, Goioerê, Ivaiporã, Paranavaí e Umuarama. (GP)


Domingo é dia de música no Parque São Lourenço

Neste domingo o Parque São Lourenço recebe o batuque dos músicos Estrela (Ruiz) Leminski e Téo Ruiz. O show vai unir música e poesia ao samba com influências africanas e contemporâneas.

A apresentação faz parte da sexta edição da série Música nos Parques, programa que prestigia grupos musicais locais para apresentações gratuitas nos parques da cidade. O projeto é desenvolvido pela Fundação Cultural de Curitiba e financiado pelo Fundo Municipal da Cultura.


Ingresso: gratuito

Data(s): 11/12/2011

Horários: 15h30

Local:
Parque São Lourenço
Rua Mateus Leme, 4700


Vereadores desagradam a 66% dos eleitores. Maioria dos paranaenses está insatisfeita.

A maioria dos paranaenses está insatisfeita com os vereadores de sua cidade e com as leis propostas por eles. Os legislativos municipais também deixam a desejar na fiscalização dos gastos das prefeituras. O resultado disso é que os cidadãos não se sentem bem representados. Esse cenário, que coincide com um ano cheio de denúncias contra vereadores de Curitiba e do interior, consta de um levantamento exclusivo feito pelo Instituto Paraná Pesquisas para a Gazeta do Povo. Um dos principais problemas que levam ao descrédito das câmaras municipais, segundo especialistas, é a submissão ao prefeito local. Além disso, o custo das câmaras e a baixa produtividade também causam descontentamento.

Para 54% dos paranaenses, as leis municipais – que versam sobre temas locais como transporte coletivo, coleta de lixo e manutenção de vias públicas, entre outras – são insatisfatórias. Um porcentual ainda maior (71%) diz que os gastos da prefeitura não são fiscalizados pelos vereadores como se deveria. E 66% dos paranaenses dizem que, de uma maneira geral, não estão satisfeitos com o trabalho do Legislativo.

Os números são ainda mais negativos se for considerado apenas a Mesorregião Metropolitana de Curitiba, que engloba também todo o Litoral. Nos municípios dessa região, 69% dizem que não estão satisfeitos com os vereadores. Na capital, a Câmara dos Vereadores atravessa um dos momentos mais difíceis da sua história, que teve início com denúncias de irregularidades cometidas pelo presidente João Cláudio Derosso (PSDB) nos contratos de publicidade da Casa. No mês passado, após o MP ingressar na Justiça com uma ação judicial, ele decidiu se licenciar do cargo por iniciativa própria.

“Apêndice”

Um dos principais problemas que levam ao descrédito das câmaras municipais, segundo especialistas, é a submissão ao prefeito local. “Os vereadores tratam o Legislativo como um apêndice do Executivo. Isso gera um descontentamento e um descrédito que são péssimos para a democracia, pois as câmaras são muito importantes”, avalia Emerson Cervi, cientista político da UFPR. Ele ressalta que, sem uma Câmara forte, o prefeito pode agir como quiser.

“É inacreditável que em Curitiba, por exemplo, não se consiga fazer uma CPI sobre os radares eletrônicos. Não faz sentido. Instalar uma CPI não significa que o prefeito é culpado de alguma coisa”, afirma ele. Para Cervi, os vereadores preferem se aliar ao prefeito para aparecerem nas fotos e ser reconhecidos como coautores das obras municipais. “Se não for da base, a prefeitura nem dá bola para os pedidos do Legislativo.”

A proximidade entre o vereador e a população tem uma influên­cia grande nos resultados da pesquisa, avalia François Bre­maeker, gestor da organização Observatório de Informações Municipais (OIM). “Essa boa relação dos parlamentares com o chefe do Executivo é a mesma que ocorre em nível estadual e federal. Mas a população se escandaliza mais com os vereadores, pois estão mais próximos, dá para ver, acompanhar o trabalho deles. O mesmo não ocorre com os deputados estaduais, muito menos com os deputados federais”, diz Bremaeker.

Para Moises Farah Jr., professor do mestrado de Políticas Públicas da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), a produtividade dos vereadores é, de maneira geral, muito baixa. “Mui­tos estudos mostram que mais de 85% do tempo deles é gasto em atividades de pouco retorno à sociedade, como leis para nomear ruas e homenagens. O trabalho que deveriam fazer mesmo, que é fiscalizar os gastos da cidade e propor leis relevantes, não é feito.”

Denúncias em série

Nos últimos meses o Ministério Público Estadual (MP) tomou uma série de medidas para investigar irregularidades cometidas por vereadores. Relembre alguns dos casos:

Curitiba

Em novembro, o MP propôs uma ação civil pública por ato de improbidade administrativa contra o presidente licenciado da Câmara de Curitiba, João Cláudio Derosso (PSDB). A investigação mostra que houve licitação e contratação irregulares de uma agência de publicidade que era de propriedade da mulher de Derosso, Cláudia Queiroz Guedes. Na época, eles não tinham relacionamento, mas ela era funcionária da Casa.

Guarapuava

Em outubro, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MP, prendeu em flagrante o vereador Ademir Strechar, presidente da Câmara local. Ele estava se apropriando de parte dos salários de seus assessores. Ele foi preso no mo­mento em que recebia dinheiro de um dos servidores. A Justiça suspendeu o pagamento de salários de três pessoas que seriam funcionários fantasmas. Strechar foi solto sexta-feira.

Maringá

No início de outubro, o MP apresentou denúncia criminal contra os vereadores João Alves Corrêa, presidente da Câmara Municipal, e Wellington Andrade Freitas, além do secretário municipal de Obras Públicas, Walter José Progiante. Segundo o MP, os três exigiram vantagens de um empresário para liberar a instalação de um posto de combustíveis na cidade.

Colombo

O Gaeco prendeu em flagrante, em agosto, o vereador Joaquim Gonçalves de Oliveira (PTB), conhecido por Oliveira da Ambulância. Segundo o MP, ele se apropriava de parte dos salários de três dos seus assessores. Os valores rendiam cerca de R$ 9 mil ao vereador, segundo a denúncia.

Fonte: Ministério Público Estadual

Veja nesta tabela a situação de cada um dos 399 municípios do Paraná. Os valores foram informados pelas próprias câmaras municipais ao Tribunal de Contas do Estado (TC) e devem vigorar até o fim de 2012, pois o aumento de salário só é permitido para a legislatura seguinte. (GP)


































 
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