segunda-feira, 30 de maio de 2011

Mino Carta: O PT esqueceu os trabalhadores

A posição da mídia nativa em relação ao Caso Palocci intriga os meus inquietos botões. Há quem claramente pretenda criar confusão. Outros tomam o partido do chefe da Casa Civil. Deste ponto de vista a Veja chega aos píncaros: Palocci em Brasília é o paladino da razão e se puxar seus cadarços vai levitar.

Ocorre que Antonio Palocci tornou-se um caso à parte ao ocupar um cargo determinante como a chefia da Casa Civil, mas com perfil diferente daqueles que o precederam na Presidência de Lula. José Dirceu acabou pregado na cruz. Dilma foi criticada com extrema aspereza inúmeras vezes e sofreu insinuações e acusações descabidas sem conta. A bem da sacrossanta verdade factual, ainda no Ministério da Fazenda o ex-prefeito de Ribeirão Preto deu para ser apreciado pelo chamado establishment e seu instrumento, a mídia nativa.

As ações de Palocci despencaram quando surgiu em cena o caseiro Francenildo, e talvez nada disso ocorresse em outra circunstância, porque aquele entrecho era lenha no fogo da campanha feroz contra a reeleição de Lula. Sabe-se, e não faltam provas a respeito, de que uma contenda surda desenrolava-se dentro do governo entre Palocci e José Dirceu. Consta que o atual chefe da Casa Civil e Dilma não se bicavam durante o segundo mandato de Lula, o qual seria enfim patrocinador do seu retorno à ribalta.

E com poderes largos, como grande conselheiro, negociador junto à turma graúda, interlocutor privilegiado do mercado financeiro e do empresariado, a contar com a simpatia de amplos setores da mídia nativa. Um ex-trotskista virou figura querida do establishment, vale dizer com todas as letras. Ele trafega com a devida solenidade pelas páginas impressas e nos vídeos, mas é convenientemente escondido quando é preciso, como se envergasse um uniforme mimético a disfarçá-lo na selva da política.

Murmuram os botões, em tom sinistro e ao mesmo tempo conformado: pois é, a política… Está claro que se Lula volta à cena para orquestrar a defesa de Palocci com a colaboração de figuras imponentes como José Sarney, o propósito é interferir no jogo do poder ameaçado e garantir a estabilidade do governo de Dilma Rousseff, fragilizado nesta circunstância.

A explicação basta? Os botões negam. CartaCapital sempre se postou contra a busca do poder pelo poder por entender que a política também há de ser pautada pela moral e pela ética, igual a toda atividade humana. Fatti non foste a viver come bruti, disse Dante Alighieri. Traduzo livremente: vocês não foram criados para praticar, embrutecidos, a lei do mais forte. Nós de CartaCapital poderemos ser tachados de ingênuos, ou iludidos nesta nossa crença, mas a consideramos inerente à prática do jornalismo.

No tempo de FHC, cumprimos a tarefa ao denunciar as mazelas daqueles que Palocci diz imitar, na aparente certeza de que, por causa disso, merece a indulgência plenária. Luiz Carlos Mendonça de Barros, André Lara Rezende, e outros fortemente enriquecidos ao deixarem o governo graças ao uso desabrido da inside information, foram alvo de CartaCapital, e condenados sem apelação. Somos de coerência solar ao mirar agora em Antonio Palocci.

Em outra época, os vilões foram tucanos. Chegou a hora do PT, um partido que, alcançado o poder, se portou como os demais, clubes armados para o deleite dos representantes da minoria privilegiada. Devo dizer que conheço muito bem a história do Partido dos Trabalhadores. A primeira reportagem de capa publicada por uma semanal sobre a liderança nascente de Luiz Inácio da Silva, dito o Lula, remonta a começos de fevereiro de 1978. IstoÉ foi a revista, eu a dirigia. Escrevi a reportagem e em parceria com Bernardo Lerer entrevistei o então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, na vanguarda de um sindicalismo oposto ao dos pelegos.

Dizia a chamada de capa, estampada sobre o rosto volitivo do jovem líder: Lula e os Trabalhadores do Brasil. Já então sabia do seu projeto, criar um partido para defender pobres e miseráveis do País. Acompanhei a trajetória petista passo a passo e ao fundar o Jornal da República, que nasceu e morreu comigo depois de menos de cinco meses de vida, fracasso esculpido por Michelangelo em dia de desbordante inspiração, passei a publicar diariamente uma página dedicada ao trabalho, onde escreviam os novos representantes do sindicalismo brasileiro. Ao longo do caminho, o partido soube retocar seu ideário conforme tempos diferentes, mas permaneceu fiel aos propósitos iniciais e como agremiação distinta das demais surgidas da reforma partidária de 1979, marcado por um senso de honestidade e responsabilidade insólito no nosso cenário.

Antonio Palocci é apenas um exemplo de uma pretensa e lamentável modernidade, transformação que nega o passado digno para mergulhar em um presente que iguala o PT a todos os demais. Parece não haver no Brasil outro exemplo aplicável de partido do poder, é a conclusão inescapável. Perguntam os botões desolados: onde sobraram os trabalhadores? Uma agremiação surgida para fazer do trabalho a sua razão de ser, passa a cuidar dos interesses do lado oposto. Não se trataria, aliás, de fomentar o conflito, pelo contrário, de achar o ponto de encontro, como o próprio Lula conseguiu como atilado negociador na presidência do sindicato.

Há muito tempo, confesso, tenho dúvidas a respeito da realidade de uma esquerda brasileira, ao longo da chamada redemocratização e esgotadas outras épocas em que certos confrontos em andamento no mundo ecoavam por aqui. Tendo a crer, no momento, que a esquerda nativa é uma criação de fantasia, como a marca da Coca-Cola, que, aliás, o mítico Che Guevara bebia ironicamente às talagadas na Conferência da OEA, em 1961, em Punta del Este. Quanto à ideologia, contento-me com a tese de Norberto Bobbio: esquerdista hoje em dia é quem, aspirante à igualdade certo da insuficiência da simples liberdade exposta ao assalto do poderoso, luta a favor dos desvalidos. Incrível: até por razões práticas, a bem de um capitalismo necessitado de consumidores.

Nem a tanto se inclina a atual esquerda verde-amarela, na qual milita, digamos, o ultracomunista Aldo Rebelo, disposto a anistiar os vândalos do desmatamento. E como não anistiar o ex-camarada Palocci? Lula fez um bom governo, talvez o melhor da história da República, graças a uma política exterior pela primeira vez independente e ao empenho a favor dos pobres e dos miseráveis, fartamente demonstrado. CartaCapital não regateou louvores a estes desempenhos, embora notasse as divergências que dividem o PT em nome de hipócritas interpretações de uma ideologia primária.

Na opinião de CartaCapital, e dos meus botões, não é tarefa de Lula defender o indefensável Antonio Palocci, e sim de ajudar a presidenta Dilma a repor as coisas em ordem, pelos mesmos caminhos que em 2002 o levaram à Presidência com todos os méritos. (Adital)

Em greve há 27 dias, trabalhadores da Volkswagen fazem assembleia na terça-feira


Os trabalhadores da fábrica da Volkswagen em São José dos Pinhais, em greve há 27 dias, vão realizar uma nova assembleia na tarde de terça-feira (31) para definir os rumos da mobilização. O Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba (SMC) e a montadora ainda não chegaram a um acordo sobre o valor a ser pago como Participação nos Lucros e Resultados (PLR). Uma reunião entre as partes estava marcada para ocorrer nesta segunda-feira (30), mas até as 19h30, a assessoria de imprensa do sindicato não confirmava o encontro. Já a Volkswagen, também por meio da assessoria, informou que não iria se manifestar sobre o assunto.

Durante os 27 dias de paralisação, a fábrica já deixou de produzir 14.580 veículos dos modelos Golf, Fox, Crossfox e Fox Europa, de acordo com o sindicato. A entidade estima que o prejuízo da montadora já chega a R$ 583,2 milhões, já que o preço líquido médio dos carros é de R$ 40 mil. Segundo o sindicato, menos de 1% desse valor, o equivalente a R$ 4,34 milhões, seria suficiente para pagar a diferença ed PLR entre o valor oferecido pela empresa e o reivindicado pelos trabalhadores.

Os metalúrgicos querem uma PLR de R$ 12 mil, com pagamento mínimo para a primeira parcela de R$ 6 mil. Já a empresa ofereceu uma primeira parcela de R$ 4,6 mil, sendo que a segunda parcela seria discutida posteriormente. (GP)

Estudantes convocam paralisação nacional para esta quarta-feira


A paralisação nacional dos estudantes do Chile, convocada para esta quarta-feira (1), será a última medida para que suas demandas sejam escutadas. Os manifestantes, organizados na Confederação de Estudantes do Chile (Confech), afirmam que, no caso de não terem respostas do governo, a paralisação poderá se estender por tempo indeterminado. O Colégio de Professores já anunciou que apóia a mobilização.

As manifestações ocorrem há semanas. No último dia 26, por exemplo, oito mil estudantes marcharam pelas ruas de Santiago até o Ministério da Educação. Eles conseguiram entregar uma carta ao Ministro Joaquim Lavín, que somente respondeu dizendo estar aberto ao diálogo. Até o momento, não deu respostas às reivindicações dos estudantes.

O movimento reúne estudantes secundaristas e universitários. As demandas estão centradas, principalmente, no estabelecimento de uma transformação no sistema educativo, em um novo mecanismo de acesso à universidade com equidade, o fortalecimento da educação superior pública e mudanças no sistema de bolsas.

No Chile, inclusive as universidade públicas são pagas. Camila Vallejo, presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile (Fech), afirmou a Telesul que "o sistema educativo é injusto, perverso e uma fraude. Não queremos mais negociação na educação superior, não queremos mais vendedores da educação”.

Os estudantes reivindicam a estatização da educação em todos os níveis. Nesse país, 10% dos estudantes estão em colégios privados, 40% em escolas municipais e o restante em colégios mistos, nos quais os pais e o Estado pagam juntos.

O pagamento de matrículas pode ser feito através de bolsas, na menor parte dos casos, ou com crédito com o aval do Estado. Com isso, os estudantes ficam endividados. "Essa é a educação neoliberal”, afirmam na convocatória os estudantes.

Os estudantes rechaçam as medidas anunciadas pelo presidente Sebastián Piñera, que apontam uma maior privatização da educação. Como a outorga de mais responsabilidades para a gestão das Universidades e o aperfeiçoamento dos mecanismos de financiamento.

Londrina: Oscips agiam de forma independente em esquema de desvio de verbas

Os institutos Atlântico e Gálatas, suspeitos de desviarem recursos públicos da saúde de Londrina, agiram separadamente. Esta é uma das conclusões do inquérito criminal concluído pelo pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) na Operação Antissepsia. O delegado Alan Flore encaminhou o relatório final para o Ministério Público (MP) que definirá se apresentará denúncia.

Em entrevista coletiva, na tarde desta segunda-feira (30), Flore disse que ao contrário do que os investigadores acreditavam, os institutos atuaram apenas algumas vezes juntos para defender os interesses das Oscips. Pelo menos 23 pessoas serão indiciadas pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva e estelionato.

Contudo, o delegado preferiu não divulgar se haverá mais envolvidos e as medidas adotadas alegando que ainda é necessária “uma avaliação do Judiciário”. “Não seria uma medida específica, seria o reconhecimento da Justiça quanto à procedência delas [medidas]”, declarou.

Lobby e corrupção

Segundo o delegado, as investigações comprovaram que os ex-conselheiros municipais de Saúde Marcos Ratto e Joel Tadeu (que continua preso), que foram presos fizeram lobby para a contratação dos institutos Atlântico e Gálatas. Para isso, eles teriam recebido R$ 4.500 e R$ 15 mil, respectivamente.

Flore afirmou que o ex-procurador Fidélis Canguçu teria recebido pelo menos R$ 115 mil em propina. Seriam R$ 65 mil do Atlântico (um Ford Fusion, de R$ 45 mil, um Golf, de R$ 17 mil e R$ 3 mil em depósito na conta da esposa dele) e R$ 50 mil do Gálatas.

Parte do dinheiro desviado foi usada para o pagamento dessas propinas. O restante, de acordo com o delegado, foi usado “para o benefício dos diretores das Oscips”.

Os seis envolvidos que tiveram a prisão preventiva decretada: Fidélis Canguçu, Joel Tadeu, os contadores Flávio e Antonio Martins, Alessandro Martins e Juan Monastério, deverão continuar detidos. “Diante do respeito ao prazo, as prisões permanecem e a somente uma decisão da Justiça para libertá-los, mas acreditamos que ela deve perdurar”, afirmou Flore.

HC negado

O Tribunal de Justiça do Paraná negou um pedido de Habeas Corpus pedido pela defesa do empresário Juan Monatério, preso desde do dia 16 de maio, na Operação Antissepsia, que investiga a suspeita de um esquema de desvio de recursos da saúde por duas Oscips contratadas pela Prefeitura de Londrina. A decisão foi do desembargador José Rotoli de Macedo, no último dia 25.

No despacho, o magistrado também indeferiu um pedido de assistência judiciária gratuita. Para justificar a decisão, o juiz afirmou que “não há nos autos prova da hipossuficiência financeira do paciente, ao contrário, evidencia-se na qualificação, ser empresário, além de ter sido juntada às fls. 36, comprovante de pagamento de sua conta telefônica referente ao mês de março, no valor de R$ 201,85 (duzentos e um reais e oitenta e cinco centavos) e às fls. 46, comprovante de uma viagem que realizou com sua esposa, no dia 10/05/2011, ida e volta, no mesmo dia, à cidade de Brasília, pela companhia aérea Gol, sendo pago por estas passagens o valor de R$ 863,36 (oitocentos e sessenta e três reais e trinta e seis centavos)”. (GP)

Maringá: A permuta dos terrenos que teria sido lesiva ao erário foi feita no final de 2000

A permuta dos terrenos que teria sido lesiva ao erário foi feita no final de 2000, quando era prefeito de Maringá o vereador João Alves Correa (PMDB), que assumiu o Executivo com o afastamento de Jairo Gianoto, acusado de desvio de dinheiro público. Pela Argus, negociou com o município o hoje deputado estadual e presidente estadual do PT, Enio Verri, que seis dias depois assumiu a Secretaria de Fazenda, na gestão José Cláudio Pereira Neto, e, nesta condição, fez o pagamento à empresa que representava.

O negócio serviu para reforçar a ligação entre o petista e o peemedebista, que, assim como fez para deputado estadual, apoiará Verri a prefeito em 2012.


Ação dos terrenos: sentença próxima

O juiz Alberto Luis Marques dos Santos, da 4ª Vara Cível da Comarca de Maringá, deve decidir nas próximas semanas a ação civil pública ajuizada em 2005 pela Associação de Estudos e de Defesa do Contribuinte (Aedec) que apontou subavaliação de imóveis permutados pelo município no final de 2000 com a Argus Empreendimentos Imobiliários Ltda., ligada ao presidente do Sebrae-PR, Jefferson Nogaroli. Em dezembro do ano passado foi realizada a audiência de instrução e julgamento. De acordo com a Aedec, a Prefeitura de Maringá, em permuta com um imóvel da Argus, localizado na divisa com Paiçandu, alienou dezenas de terrenos ao preço médio de R$ 4 mil, embora na mesma época o município houvesse pago em desapropriação no mesmo local em torno de R$ 10 mil cada imóvel.

A ação pede a complementação do preço por entender que os imóveis dados pelo município foram alienados por preço irrisório. A empresa anexou perícia alegando que não houve supervalorização ou subavaliação dos imóveis permutados.(Blog do Rigon)

Alemanha renunciará à energia nuclear a partir de 2022


A Alemanha, a primeira grande potência industrial que renuncia à energia nuclear, decidiu nesta segunda-feira fechar os últimos reatores do país em 2022 após a catástrofe da central nuclear japonesa de Fukushima.
"Após longas consultas, a coalizão chegou a um acordo para dar fim ao recurso à energia elétrica", declarou o ministro do Meio Ambiente, Norbert Rottgen, após sete horas de negociações no escritório da chanceler Angela Merkel.
Quatorze dos 17 reatores alemães não estarão mais em serviço no fim de 2021 e os três últimos - os mais novos - serão utilizados até 2022 no mais tardar, explicou o ministro, que chamou a decisão de "irreversível".
Os sete reatores alemães mais antigos já haviam sido desconectados da rede de produção de energia elétrica, à espera de uma auditoria solicitada em março por Angela Merkel após a catástrofe da central nuclear de Fukushima.
Os sete - além de um oitavo, que registra falhas reiteradas - não serão mais reativados, segundo o ministro.
O governo formalizará a decisão em 6 de junho.
A Alemanha terá que encontrar até 2022 uma forma de produzir 22% de sua energia elétrica, atualmente assegurados pelas centrais atômicas.
"Nosso sistema de energia deve e pode ser fundamentalmente modificado", afirmou Angela Merkel nesta segunda-feira.
Os Verdes, que viram sua popularidade disparar após o acidente de Fukushima, insistem na necessidade de recorrer às energias renováveis, ao invés das centrais de carvão.
"Não se trata apenas de saber como sairemos da energia nuclear, mas também a que velocidade, e com que ambição, ingressamos nas energias renováveis", destacou Claudia Roth, uma das líderes dos Verdes.
Ao decretar o fim da era nuclear civil em 2022, Merkel retoma uma das promessas mais importantes do início de seu segundo mandato, que foi também uma das principais de sua campanha para as legislativas de 2009.
No fim de 2010, a chanceler alemã conseguiu aprovar uma prorrogação de 12 anos em média para a duração legal da exploração dos reatores do país, contra a opinião pública do país, o que provocou uma explosão do sentimento antinuclear na Alemanha.
O governo precedente de social-democratas e Verdes prometera deter o programa nuclear.
Com a decisão do fim do ano passado, Merkel provocou um aumento dos sentimentos antinucleares na Alemanha, que se traduziram em grandes manifestações, a última delas no sábado, com 160.000 pessoas em 20 cidades do país.
Mas o momento decisivo foi a catástrofe da central nuclear de Fukushima em março. Merkel paralisou imediatamente as centrais mais antigas e iniciou um debate sobre o abandono do programa nuclear civil.
A mudança foi considerada uma manobra oportunista e não impediu a derrota em 27 de março nas eleições regionais de Bade-Wurtemberg (sudoeste), reduto eleitoral dos conservadores, que governavam a região há 50 anos.
Os conservadores perderam o governo local para os Verdes, que pela primeira vez assumiram o controle de uma região.
O governo de Merkel terá agora que enfrentar a previsível irritação do poderoso lobby nuclear alemão, que não hesita em mencionar o fantasma de apagões no país, especialmente no inverno. (AFP)

Governo estuda proteção policial a ambientalistas

Entre as medidas anunciadas nesta segunda-feira (30) para conter os conflitos agrários na Região Norte do país, está a análise de uma lista com 125 nomes feita pela Comissão Pastoral da Terra de ambientalistas e trabalhadores rurais ameaçados de morte, de acordo com o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Luiz Paulo Barreto.

Em menos de uma semana, quatro pessoas morerram na Região Norte, três delas no Pará e uma em Rondônia. No Pará, a morte de um agricultor, segundo a Polícia local, não tem relação com a morte de ambientalistas na mesma região. Há possibilidade de elo do agricultor com tráfico de drogas. No entanto, a Delegacia de Conflitos Agrários ainda investiga o caso antes de descatar que o assassinato tenha ocorrido por questão agrária.


De acordo com Barreto, a avaliação da lista tem como objetivo verificar a necessidade de fornecer proteção policial a essas pessoas.

"O governo pretende, junto ao governo do estado, avaliar os casos mais críticos. Vamos estudar caso a caso e intensificar a proteção para aquelas pessoas que estão sendo mais ameaçadas", disse.

De acordo com a Pastoral da Terra, o casal de ambientalistas assassinado no Pará estava na lista das pessoas ameaçadas de morte. Eles eram conhecidos por denunciar a ação ilegal de madeireiros na região. Nesta terça (31), representantes da Comissão Pastoral da Terra se reúnem com a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário. O objetivo, segundo a assessoria da CPT, é discutir medidas de proteção aos trabalhadores rurais que já receberam ameaças de morte.

Liberação de verba
Outra medida anunciada foi a liberação até dezembro de R$ 1 milhão para as superintendências do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Pará e no Amazonas. Com a liberação da verba, o governo quer aumentar a fiscalização em áreas de assentamento. Os recursos fazem parte do Orçamento do Ministério do Desenvolvimento Agrário.

A liberação foi publicada nesta segunda no "Diário Oficial da União". Metade do valor destinado às duas superintendências será transferido até junho. "Está no 'Diário Oficial' de hoje a liberação de recursos do Orçamento na parte de diárias e providências no âmbito do Incra para deslocamentos e fiscalização. Os fiscais vão fiscalizar a vigência da lei nesses estados", afirmou Afonso Florence, ministro do Desenvolvimento Agrário.

Grupo interministerial

O governo federal anunciou ainda a criação de um grupo interministerial para discutir quais ações serão tomadas para conter a violência no campo. A reunião foi comandada pelo presidente da República em exercício, Michel Temer, e representantes de alguns ministérios.

O grupo interministerial será formado pelos ministérios da Justiça, Meio Ambiente, Desenvolvimento Agrário, Secretaria de Direitos Humanos, Secretaria Geral da Presidência e Gabinete de Segurança Institucional.

“Nós tomamos a decisão de um grupo interministerial que se reunirá diariamente nos vários níveis de governo, identificando as providências para implantação imediata nos assentamentos no Amazônia, assentamento florestal”, disse o ministro do Desenvolvimento Agrário.

Governadores convocados

O Planalto convocou ainda para esta terça (31) uma reunião de emergência com os governadores de Roraima, Rondônia, Amazonas e Pará para discutir o aumento da violência fundiária nos quatro estados. Luiz Paulo Barreto, do Ministério da Justiça, afirmou que Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Força Nacional estão à disposição dos governos estaduais para o combate ao crime nessas regiões.

“O objetivo [da reunião com governadores] é aliarmos essas ações para que se possa potencializar. No caso da segurança, é importante trabalharmos em equipe. Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Força Nacional de Segurança Pública, Polícia Civil e Militar do estado, assim como o Ministério Público, a fim de punir esse tipo de crime e cortar a principal causa desse tipo de crime, que é a extração ilegal de madeira” afirmou o secretário-executivo do Ministério da Justiça.

Segundo Barreto, o ministério da Justiça vai determinar ainda a intensificação da operação Arco de Fogo, da Polícia Federal, voltada para combate ao desmatamento na região amazônica.

Alap

Em entrevista ao G1 na noite deste domingo (29), o ministro interino do Meio Ambiente, Roberto Vizentin - que estava no cargo em razão de uma viagem internacional da ministra Izabella Teixeira -, afirmou que apresentaria como proposta a decretação de uma Área sob Limitação Administrativa Provisória (Alap) na região chamada de Tríplice Divisa, que inclui os estados do Amazonas, Acre e Rondônia. A ideia é reduzir os conflitos e regularizar as terras.

"O quadro é complicado naquela região, que apresenta alto índice de desmatamento, violência e assassinatos. Vamos sugerir uma ação coordenada entre o governo federal e o estadual. (...) Temos que embasar melhor a proposta [de criação da Alap], mas mesmo que os crimes sejam esclarecidos, isso não vai resolver o problema. Será preciso uma ação mais enérgica e a decretação de uma Alap pode ser a opção", afirmou Vizentin.

O ministro interino disse que a Alap não é uma intervenção federal, quando a União passa a administrar diretamente a área, mas sim a aplicação de medidas integradas entre a União e o governo do estado. "É um ato do governo federal para ampliar a participação do Estado. Não é uma intervenção. Isso ocorre em áreas de domínio da União, áreas não destinadas ainda. Não se utiliza Alap onde não exista situação de conflito agrário."

A criação da Alap dependeria da assinatura de um decreto por parte da presidente Dilma Rousseff. Após a reunião desta segunda, ministros disseram que a proposta de criação de uma Alap será debatida no âmbito do grupo interministerial.

Dilma

A presidente não participou da reunião pois está em viagem para o Uruguai nesta segunda. Antes de embarcar para o Uruguai na manhã desta segunda, ela encontrou com o seu vice, Michel Temer, na base aérea de Brasília. O encontro seria uma tentativa de Dilma para recompor a relação política entre seu partido, o PT, e o partido do vice, o PMDB. A aliança ficou estremecida por conta das discussões em torno do novo Código Florestal na Câmara dos Deputados.

OAB sugere afastamento de Palocci até o fim das apurações sobre a evolução do patrimônio do ministro


O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante, defendeu hoje (30) o imediato afastamento de Antonio Palocci da Casa Civil até que as denúncias sobre a evolução de seu patrimônio sejam apuradas e esclarecidas.

“O pedido de afastamento é algo que soaria muito bem no âmbito da sociedade. É algo que deixaria o governo Dilma muito mais tranquilo”, disse Cavalcante. Ele também criticou a demora na explicação dos fatos. “Obviamente, isso respinga em toda a credibilidade do governo”.

Cavalcante criticou o fato de a Controladoria-Geral da União (CGU) não ter aberto processo de investigação sobre as denúncias de que o patrimônio do ministro-chefe da Casa Civil aumentou 20 vezes nos últimos quatro anos. Um decreto presidencial de 2005 determina que a autoridade competente deve abrir sindicância ao tomar conhecimento de notícia ou de indícios de enriquecimento ilícito, inclusive evolução patrimonial incompatível com os recursos e disponibilidades do agente público.

O presidente da OAB acredita que as controladorias são rígidas com funcionários subalternos e mais flexíveis com relação a ministros e secretários de Estado. “Com isso, essas controladorias mostram que têm uma autonomia parcial e limitada”. Ele defende ainda que o próprio governo deveria tomar a atitude de mostrar que um de seus principais ministros tem conduta ilibada e que o fato de haver um certo tipo de blindagem aumenta suspeitas.

“Quando o governo blinda o ministro e diz que não vai investigar, obviamente, que todos nós brasileiros passamos a pensar que tem alguma coisa de podre em tudo isso”. Cavalcante defendeu, ainda, a abertura de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) como forma alternativa de apurar os fatos. “Não tenho qualquer dúvida de que a CPI seria algo que poderia ser utilizado”, completou. (AB)

Código Florestal: Desmatadores não podem ser anistiados, diz Sarney

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), afirmou hoje (30) que o novo Código Florestal, em tramitação na Casa, não pode anistiar proprietários que promoveram desmatamento. A Emenda 164, incluída no texto durante análise na Câmara dos Deputados, anistiou os proprietários rurais que plantaram ou fizeram pastos em áreas de proteção permanente (APPs) até julho de 2008. De acordo com o novo código, essa medida terá validade até que o governo crie um programa de regularização.
“Pessoalmente, acho que os desmatadores não podem ser anistiados. Temos que preservar cada vez mais nossas florestas que são hoje muito importantes para o país”, argumentou Sarney. O presidente do Senado ressaltou que os senadores devem ter mais tempo para discutir o tema, sem a pressa para a votação, como ocorreu na Câmara.
Na semana passada, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), disse que os líderes da base pediriam à presidenta Dilma Rousseff que prorrogasse o Decreto 70/29, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O decreto, que vence no dia 11 de junho, adia a aplicação de multas para os agricultores que desrespeitaram a legislação ambiental.
Em relação aos assassinatos de agricultores e ambientalistas em assentamentos da reforma agrária na última semana, três no Pará e um em Rondônia, Sarney disse ainda que a União e os estados devem agir de forma enérgica para coibir novas mortes.
“É estranho que isso ocorra [logo após a aprovação do Código Florestal pela Câmara] e a ação dos governos estadual e federal deve ser conjunta e enérgica, uma vez que isso representa uma crueldade, e de conotação política contra aqueles que estão defendendo seus pontos de vista”, destacou. (AB)

Antissemitismo?


Néstor Kohan

Conheci pessoalmente Néstor Kohan, em Caracas, há dois meses, quando ambos participamos de duas mesas em eventos promovidos pelo Movimento Continental Bolivariano: um seminário sobre Marx e um ato público pelo Dia do Direito à Rebelião dos Povos.
Convivemos alguns dias e surgiu logo uma grande empatia. Conversamos muito, numa mistura de espanhol e português. Mas nos entendemos bem e descobrimos muitas identidades em nossa visão do mundo. Jamais perceberia sua origem familiar e étnica, se ele não me autorizasse a traduzir e publicar o seu texto abaixo. Mandou-me em solidariedade ao PCB, acusado recentemente de antissemita. Sabia apenas do detalhe de que o marxista Néstor é argentino, como podia ser brasileiro, afegão, angolano: afinal, ele é um internacionalista. Mas conhecer mais este detalhe sobre o camarada Nestor me faz ficar mais orgulhoso de o ter conhecido.
Ivan Pinheiro


Os fatos

O que se sabe: saiu publicado na capa do Clarín e foi exibido em vários canais de televisão. Na Argentina, ocorreu um pequeníssimo ato – algumas poucas centenas de pessoas, não chegavam a quinhentas –, em comemoração ao estado Israel, organizado pela embaixada desse país junto com o governo portenho da direita neoliberal clássica, vinculada ao empresário Maurício Macri. Um grupo muito pequeno de manifestantes – menos de duas dezenas – tentavam divergir do sionismo, distribuindo panfletos no ato. Armou-se um alvoroço. Repressão policial. Os manifestantes, críticos do sionismo, foram golpeados e presos. Uma brutal campanha midiática para ilegalizar a esquerda. A acusação central: “anti-semitismo”. Perseguições, invasões, prisões, julgamentos. Tentativa de eliminar projetos sociais e os questionamentos de todo movimento piqueteiro não-oficial.
Sob pressão da embaixada do estado de Israel e da embaixada dos Estados Unidos na Argentina, o governo de Cristina Kirchner e os juízes invadiram um local piqueteiro, na cidade de Buenos Aires, prenderam outros dez militantes, mais os que já estavam presos pelo ato. Histeria midiática acusa toda a esquerda não institucional – principalmente de origem marxista – de... “anti-semita”.

Quem escreve e quem opina?

Alguns anti-semitas dissimulam e escondem seus preconceitos com o confuso e manipulado “tenho um amigo judeu”. Eu não tenho um amigo judeu. Simplesmente, parte de minha família foi torturada e massacrada pelos genocidas nazistas (genocídio que não teve nada de “holocausto”. Não foi “um castigo de Deus”, mas sim um empreendimento político bem mundano e terreno, planejado e executado de forma burocrática, a partir de um projeto de reordenamento e contra-revolução capitalista, de cobrança europeia ocidental, cujas pretensões imperialistas apontavam para todo o planeta). Mesmo se minha família não tivesse sofrido esse genocídio na própria carne, teria, igualmente, o direito de opinar.

Nosso vínculo com os presos


Conhecemos muitos deles e delas. Com alguns, compartilhamos militância, formação política e estudo durante anos e décadas, nos bairros da periferia, da cidade de Buenos Aires, na Argentina. Da mesma forma, nas escolas de formação política do Movimento Sem Terra (MST), no Brasil. Assim como em atividades conjuntas com povos originários e indígenas da Bolívia. Todos nos conhecemos bem, principalmente, os companheiros do Movimento Teresa Rodríguez (MTR).
Assistiram nossa Cátedra Che Guevara durante anos: primeiro, na Universidade Popular Madres de Plaza de Mayo, depois, no Hotel Bauen.
Precisamente no local invadido pela polícia, conhecido no bairro Florencio Varela (um dos mais humildes da cidade de Buenos Aires) como Conselho de Castelli, criamos uma escola de formação política para moradores com estes companheiros que hoje estão na prisão, acusados de “anti-semitas”. A escola foi feita de maneira totalmente gratuita, absolutamente voluntária, sem cobrar, jamais, um só peso.
Com as pessoas das comunidades, líamos e estudávamos Antonio Gramsci e Che Guevara. Gravíssimo! Terrível! Também discutíamos sobre história argentina. Assistíamos a filmes com os moradores dos bairros, donas de casa, trabalhadores empregados, trabalhadores desempregados, rapazes e moças humildes, da classe trabalhadora. Por exemplo, vimos e discutimos “Os traidores”, de Raymundo Gleyzer (o que terão sentido com relação ao filme aqueles que hoje prendem estes companheiros?). Fizemos com estes companheiros, algumas vezes, oficinas de filosofia nos bairros, onde, juntos com trabalhadores e trabalhadoras, donas de casa e muitos jovens, analisamos o capítulo sete do livro Cosmos, do pesquisador, professor e astrônomo da NASA (instituição norte-americana, senhor embaixador dos Estados Unidos... Sim, norte-americana... Que horror!), Carl Sagan: “O espinhaço da noite”. Gravíssimo! Perigo! Turmas de filosofia nas periferias? No meio da rua das comunidades? Em meio a crianças correndo e com cachorros latindo ao redor? Inconcebível! Gravíssimo! A filosofia é para as crianças da elite, não para gente humilde e para trabalhadores de comunidades. Terroristas! Inadaptados! Autoritários! Como ousam socializar o saber? Subversivos! Deveríamos voltar a falar latim para que a cultura seja para poucos! Loucos-varridos!
A demonização midiática é tremenda. Apresentam estes companheiros como se fossem os obscuros e monstruosos “terroristas” dos filmes mais baratos de Hollywood. Conhecemos bem esses companheiros. Se não fosse trágico, daríamos boas risadas. Certamente, riremos juntos quando estes companheiros saírem do cárcere...

O estado de Israel defende o povo judeu?


Os acusam de “anti-semitas”? Israel protege o povo judeu? A embaixada de Israel e a embaixada ianque da Argentina são os «pais» do povo judeu?
O estado de Israel fala hoje em nome das vítimas do genocídio nazista, dos sobreviventes e de suas famílias. Para legitimar-se, se auto-intitula “protetor” dos judeus, além de representante dos familiares e vítimas do nazismo.
Pensemos um pouco. Façamos memória.
Se Israel nos protege, não entendo porque o estado de Israel foi um aliado estreito e fiel de Videla e Massera, ditadores simpatizantes de Adolf Hitler (como todas as Forças Armadas argentinas, segundo demonstra o documentário «Panteón militar», do historiador e jornalista periodista Osvaldo Bayer). O general Videla era um católico ultraconservador, que preconizava a guerra contra-insurgente como se fosse uma guerra santa contra os ateus marxistas. Todos os manuais de ensino médio daquela época comprovam isso. Por sua vez, almirante Massera era integrante da organização neonazista P2. Por que o estado de Israel tinha uma aliança tão estreita com esta ditadura militar?
Nessa época, o Movimento Judeu pelos Direitos Humanos (MJDH) havia calculado que, dos 30.000 desaparecidos e desaparecidas na Argentina, aproximadamente entre 1.500 e 2.000, eram de origem judia. Uma proporção bastante maior (na realidade, corresponde a 16 vezes mais) se comparar a relação quantitativa da comunidade judia com o conjunto da população total de nosso país. Não foi casual.
Isso é explicado, ao menos, por duas razões. Em primeiro lugar, pela ativa militância do judaísmo progressista e de esquerda nas organizações revolucionárias argentinas (incluindo as político-militares PRT-ERP, FAR, Montoneros e outras similares). Em segundo lugar, pelo caráter brutalmente anti-semita dos militares argentinos. Existem numerosos testemunhos, por exemplo, no Nunca mais (um livro que não possui posições de “ultra-esquerda” precisamente, já que o prólogo de Ernesto Sábato tristemente fortaleceu a célebre “teoria dos dois demônios”), sobre a ira especial dos torturadores militares com os prisioneiros e sequestrados de origem judia, as torturas “especiais”, as marchas nazistas que eles faziam escutar nas câmaras de torturas, etc. O general Camps, chefe policial que se responsabilizou pelo desaparecimento e assassinato de 5.000 prisioneiros, era um confesso anti-semita. Sempre que podia, expressava seu ódio aos judeus. Não era o único, apenas um dos mais conhecidos e cínicos.
O que fez o estado de Israel para proteger não os 30.000 desaparecidos e desaparecidas em geral, mas, especialmente, os 1.500 ou 2.000 desaparecidos judeus?
Segundo reconhece Pinjas Avivi, o então cônsul da embaixada do estado de Israel na Argentina (entre 1978 e 1981), quando acompanhou o jornalista Jacobo Timerman (um dos poucos, talvez o único, que conseguiu se salvar) ao aeroporto de Ezeiza, pediu que não denunciasse a ditadura e as tremendas torturas sofridas... Mas o contrário! “Pedi-lhe que não atacasse o governo militar porque nosso trabalho corria perigo” (Página 12, 8/9/2001). O funcionário israelense reconhece que este tipo de atitude correspondia a: “não queríamos prejudicar as relações diplomáticas entre Israel e Argentina”. O mesmo funcionário diz que “houve detidos que recusaram nossa ajuda. Eles nos acusaram: vocês são colonialistas, genocidas e conquistadores. Não queremos a ajuda de vocês. São piores que os generais»” (http://www.hagshama.org.il [1/2/2000]). Iosi Sarid, um dos deputados de Israel da Frente de Esquerda Meretz, revelou que nos arquivos da chancelaria israelense e no ministério de Defesa de Israel, existem provas que negam a versão acerca da suposta “ignorância” do estado de Israel a respeito dos massivos desaparecimentos, sequestros e torturas de judeus na Argentina, “provas que trataram de ocultar para não incomodar as «boas relações» e, entre elas, a venda de armas” (18/11/2003, www.wzo.org.il).
A colaboração do estado de Israel – venda de armas, votos da ditadura a favor de Israel nas Nações Unidas, etc. – com a ditadura militar, genocida e anti-semita do general Videla não foi uma exceção. O mesmo aconteceu com outros regimes fascistas ou de extrema direita, como os de Augusto Pinochet (que usava o uniforme nazista) no Chile, Anastasio Somoza, na Nicarágua, ou o regime neonazista do apartheid, na África do Sul. Todos estreitos aliados, como Israel, da cabeça da serpente mãe extremista, o estado norte-americano: USA. Uma casualidade?
O apoio entusiasta à Somoza tinha a ver com “a defesa do judaísmo”? Os comandos israelenses hoje combatem a insurgência marxista das FARC-EP ou assessoram os narco-militares de Uribe nas selvas e montanhas da Colômbia para “defender os judeus”? Quais são os judeus que vivem nas montanhas ou selvas da Colômbia? Queremos conhecê-los para compartilhar algumas comidas ou assistirmos juntos alguns filmes de Woody Allen!
Quando o famoso intelectual norte-americano Noam Chomsky (de origem judia, que viveu vários anos em Israel e que de lá saiu sumamente decepcionado e amargurado) afirmou que as FARC-EP da Colômbia não são terroristas e que, em contrapartida, a política oficial do estado de Israel é de extrema direita, não somente no Oriente, mas em todo mundo, será ele, por acaso, um “terrorista anti-semita”?
Longe da tradição humanista de Sigmund Freud, Albert Einstein e Karl Marx, que soube defender o querido escritor judeu Isaac Deutscher, hoje Israel faz culto à limpeza étnica e à discriminação, constrói um muro de intolerância (pelo qual ninguém se “ofende”, como ocorreu hipocritamente com o muro de Berlim...), legaliza a monstruosidade da tortura (chamando-a com o mesmo eufemismo utilizado pelos “democratas” norte-americanos: “interrogatórios fortes”) e pratica sobre os demais o mesmo que o povo judeu sofreu na própria carne. Como bem alertou em sua época o pensador judeu Martín Buber: “Deveremos enfrentar a realidade de que Israel não está inocente nem redentora. E que em toda sua criação e expansão, nós judeus temos causado o que sofremos historicamente: uma população de refugiados na diáspora”.
Como escreveu em seu livro Ser judeu o filósofo judeu e marxista argentino, León Rozitchner: “Que estranha inversão se produziu nas entranhas desse povo humilhado, perseguido, assassinado, para humilhar, perseguir e assassinar aqueles que reclamam o mesmo que os judeus reclamavam antes para si mesmos? Que estranha vitória póstuma do nazismo, que estranha destruição inseminou a barbárie nazista no espírito judeu? Que estranha capacidade volta a despertar neste apoderar dos territórios distantes, onde a segurança que se reclama é, no fundo, a destruição e dominação do outro pela força e pelo terror? Se vê, então, que quando o estado de Israel enviava suas armas aos regimes da América Latina e da África, já ali era visível a nova e estúpida coerência dos que se identificam com seus próprios perseguidores. Não esqueceremos os judeus latino-americanos. Tampouco esqueceremos Chatila e Sabra”.

Quem é o inimigo?

Permitem-nos um conselho? Aos jovens do MOSSAD e das Forças Armadas de Israel, humildemente, sugerimos que se o que buscam é adrenalina e vingança pelos ferozes assassinatos nazistas do passado contra o povo judeu, pois bem, então, por que não planificar e preparar-se para atacar, de forma mortífera e demolidora, as grandes empresas europeias e norte-americanas que se enriqueceram com o genocídio nazista? Como bem explica o formidável livro Negócios são negócios. Os empresários que financiaram a ascensão de Hitler ao poder, do escritor judeu Daniel Muchnik, o nazismo não foi uma “anomalia”.
As hierarquias políticas, militares e ideológicas do nazismo são conhecidas: Hermann Göring, Joseph Goebbels, Ernst Röhm, Alfred Rosemberg, Ulrich F.J.von Ribbentrop, Heinrich Himmler, Rudolf Hess, Gottfried Feder, Josef Mengele, entre outros. No entanto, muito menos o são os empresários beneficiários-cúmplices, sócios de interesses, aliados ou colaboracionistas do nazismo na Alemanha.
A lista é longa e Muchnik a percorre minuciosamente. Entre outros, inclui as empresas Siemens (elétrica), a BMW e a Volkswagen (automotivas), Fritz Thyssen (industrial siderúrgico que morreu em Buenos Aires, em 1951), Gustav Krupp (dono da gigante do aço alemão), Ernst Heinkel (“führer econômico-militar” desde 1938) e Emil Kirdorf (empresário do carvão). Estes empresários, recorda amargamente Muchnik, que utilizavam mão de obra escrava dos prisioneiros judeus, comunistas ou ciganos, saíram ilesos dos julgamentos de Nuremberg... Uma mera casualidade?
Por acaso, hoje em dia – volta a perguntar-se Muchnik – não continuam operando com total impunidade empresas de origem nazista (derivadas da IG Farben, que fabricava o raticida das câmaras de gás) como a Bayer, a Hoesch ou a BASF, acusadas por sobreviventes do genocídio nazista?
Muchnik apresenta, então, uma quantidade enorme de dados sobre a colaboração sistemática, os negócios ou, inclusive, a simpatia ideológica que mantiveram com Hitler – ainda durante a segunda guerra mundial – empresas como a General Motors (associada com IG Farben), a General Electric, a Brown Boveri (filial de Westing House), a britânica Unilever, a Shell, a United Steel, o Chase Manhattan Bank de Rockefeller, a Standard Oil, a TEXACO, a ITT (a mesma do golpe de estado de 1973, no Chile), o National City Bank, o grupo editorial Bertelsman, dono da RCA e acionista majoritário do American On Line (o principal provedor de Internet dos EUA) e a Ford. Todos eles se encheram de dinheiro com o nazismo e, hoje, em pleno século XXI, continuam engordando suas contas bancárias e suas ações com total impunidade!
Aí, os jovens do MOSSAD e das Forças Armadas de Israel teriam que atacar e dirigir sua violência mortal, não aos refugiados palestinos, não às escolas palestinas, não aos hospitais palestinos, não às famílias palestinas... O inimigo tampouco são os piqueteiros da Argentina, a insurgência da Colômbia, os negros da África do Sul. O inimigo são as grandes empresas que ganharam fortunas com o nazismo.
Jovens, confundiram-se de inimigos ou vocês são amigos e cúmplices desse inimigo? Leiam esse livro, “desinformados” jovens do MOSSAD...

Os revolucionários são “terroristas anti-semitas”?

A literatura sionista, a grande imprensa do poder (monopólico), a embaixada dos Estados Unidos e a embaixada de Israel estão construindo um grande sofisma. Todo revolucionário é... “um terrorista”. Quando se questiona a política de estado de Israel ou dos Estados Unidos é, além disso, um “terrorista anti-semita”.
Como os dirigentes sionistas e os monopólios de (in)comunicação chamariam um dos principais fundadores das FAR (Forças Armadas Revolucionárias) da Argentina dos anos 70, o militante de origem judia e comunista Marcos Osatinsky? Marcos Osatinsky não só era guevarista, como promovia uma opção político-militar, era aliado de Cuba e defendia a causa palestina. Esteve preso pela ditadura militar no cárcere de Rawson, escapou do “massacre de Trelew”, passou pelo Chile de Salvador Allende e chegou a Cuba, onde desenvolveu trabalhos voluntários e foi fotografado com Mario Robi Santucho e outros revolucionários antiimperialistas daquela época. Este grande revolucionário de origem judia está desaparecido. Marcos era um “terrorista anti-semita”?
Como os dirigentes sionistas e os monopólios de (in)comunicação chamariam o jovem trabalhador judeu libertário Simón Radowitzky? Radowitzky, em começos do século, justiçou com um explosivo o feroz coronel da polícia, Ramón Falcón, quando este último massacrou trabalhadores indefesos durante um ato pelo primeiro de maio, numa praça portenha. Simón Radowitzky foi castigado com mais de duas décadas de torturas, vexames e reclusão nas piores prisões do sul argentino. Depois da deportação para Montevidéu, marchou para combater, com as armas em punho, junto aos batalhões internacionalistas da guerra civil espanhola. Simón era um “terrorista anti-semitista”?
Como os dirigentes sionistas e os monopólios de (in)comunicação chamariam Teresa Israel, jovem advogada de guerrilheiros e militantes populares? Esta jovem judia comunista, advogada de presos políticos, foi uma das mais audazes que incursionou no tenebroso quartel militar de Campo de Mayo, denunciando as torturas dos detidos. Nos anos 70, se metia nos quartéis para tentar salvar a vida dos revolucionários sequestrados e torturados pelos militares argentinos (aliados do estado de Israel). Hoje está desaparecida. Muitos centros culturais e comunitários levam o nome de Teresa, jovem judia revolucionária. Teresa era uma “terrorista anti-semita”?
Como os dirigentes sionistas e os monopólios de (in)comunicação chamariam Raymundo Gleyzer? Era um jovem militante judeu, comunista e combatente do guevarista Partido Revolucionário dos Trabalhadores-Exército Revolucionário do Povo (PRT-ERP). Na casa de Raymundo, fundou-se o teatro IFT, um dos baluartes culturais do judaísmo progressista argentino, hoje situado no bairro de Once. Raymundo, brilhante e apaixonado, dirigiu o grupo Cine da Base e foi o grande cineasta da insurgência argentina, amiga da causa palestina. Raymundo era um “terrorista anti-semita”?
A lista de exemplos segue e é incontável. Não só da Argentina, mas de toda a América Latina e do mundo.
O jovem dirigente uruguaio Jorge Zabalza, que começou militando no agrupamento judeu Hashomer Hatzair, visitou Israel, viveu num kibbutz e, ao regressar, se converteu num dos comandantes e num dos nove reféns históricos do Uruguai, pertencentes ao Movimento de Libertação Nacional – Tupamaros, organização amiga da causa palestina. O «tambero», como o chamam no Uruguai, é um “terrorista anti-semita”?
E Mauricio Rozencof, igualmente judeu, outro dos fundadores dos Tupamaros do Uruguai? Era um “terrorista anti-semita”?
E Enrique Oltusky, jovem militante judeu cubano, que se converteu em estreito colaborador do comandante Ernesto Che Guevara (Oltusky, junto com seu amigo Orlando Borrego, foi o organizador das Obras Completas do Che, conhecidas pelo título O Che na revolução cubana. Os três, Oltusky, Borrego e Guevara, estudaram juntos O Capital, em Cuba). Como seu chefe Guevara, Oltusky era amigo da causa palestina. Era Enrique um “terrorista anti-semita”?
E se formos ainda mais para trás... O jovem guerrilheiro socialista Mordejai Anielevich que, enquanto os grandes papas do sionismo negociavam com os nazistas, organizava no gueto de Varsóvia o único caminho para enfrentar os fascistas, isto é, com luta armada... Era um “terrorista anti-semita”?
A criminalização macarthista dos revolucionários – especialmente daqueles que possuem ou assumem posições radicalizadas – e a falácia de identificá-los com o brutal e monstruoso anti-semitismo de origem nazista, não possui como base a menor análise histórica. Visa, unicamente, a condição de apagar, não só a heróica resistência palestina, mas, inclusive, a própria história de honra e valentia do judaísmo revolucionário e socialista – impulsionador da luta armada. Como se pode aceitar a propaganda oficial do MOSSAD, o estado de Israel e a embaixada dos Estados Unidos?

A esquerda piqueteira é “anti-semita”?

Todavia, hoje permanece sem solução o atentado à AMIA. Enquanto a direção oficial do sionismo se abraçava com os políticos do sistema e aplaudia o presidente Carlos Saúl Menem, todo mundo sabia que estava em processo um atentado. Atentado que não se fez nos bairros onde viviam os judeus ricos e milionários, mas no bairro Onde, um dos mais populares da cidade de Buenos Aires (precisamente o mesmo bairro onde, em princípios do século XX, teve lugar a “semana trágica”, quando os “bons filhos” dos empresários e as tropas para-policiais reprimiram trabalhadores insurretos e caçaram “judeus bolcheviques”, humilhando mulheres e crianças, assassinando, à sangue frio, em nome da “pátria”). No local do atentado à AMIA, todo mundo suspeitava que a polícia da cidade de Buenos Aires, conhecida popularmente como “a bonaerense”, havia posto sua garra suja e corrupta ali. Também se suspeitou que os militares caras-pintadas – ex-instrutores de contra-insurgência nas escolas ianques do canal do Panamá – tinham colaborado.
Porém, a ninguém, absolutamente a ninguém, nem sequer aos mais delirantes, ocorreu que o movimento piqueteiro esteve misturado com o atentado à AMIA.
Então, por que agora esse ódio e essa histeria que vemos em todos os monopólios da (in)comunicação contra a esquerda piqueteira?
Pedimos permissão para contar uma história. Há alguns anos, uma das organizações de vítimas do atentado à AMIA, os companheiros da APEMIA, organizaram um ato nas ruas Corrientes e Pasteur, no bairro de Once, Capital Federal da Argentina. O ato teve bastante concorrência. Quando um trabalhador morocho e muito humilde do Pólo Obrero tentou subir no palanque para solidarizar-se com as famílias das vítimas, alguns sionistas que estavam na plateia começaram a insultá-lo, vaiá-lo e tentaram tirá-lo. Quase nos agarramos a golpes.
Por que esse ódio de classe? Ao sionismo interessa o povo judeu ou, na realidade, defende seus próprios interesses, inclusive contra os próprios judeus? Se, de verdade, interessa o bem-estar dos judeus, NUNCA, repito, NUNCA deveriam ter apoiado uma ditadura anti-semita como a de Videla e Massera.

O sionismo nos protege?

Peço permissão para contar outra história pessoal, esta da adolescência. Ocorreu numa escola secundária, onde militávamos no grêmio estudantil. Alguns de nossos amigos eram judeus, outros católicos e um companheiro de origem árabe, ainda que de fé católica. Sem renegar nossa origem, nós éramos (e somos) ateus. No entanto, aproveitando o “dia do perdão”, faltamos à aula, como grande parte dos adolescentes, tentando escapar da disciplina escolar. Junto com os de sobrenome judeu, também faltaram nosso amigos de origem católica e o de origem árabe. O que esse grupo de amigos encontrou no dia seguinte, ao regressar à aula? Em cada uma de nossas cadeiras de madeira haviam pintado uma imensa cruz suástica (nazista), de cor vermelha, com cada um de nossos nomes. A primeira reação, instintiva, foi irmos fechando os punhos. Porém, rapidamente, pensando politicamente, como militantes do grêmio estudantil. Fizemos uma denúncia pública contra este gravíssimo ato antissemita. Como dirigentes do grêmio estudantil, recorremos a inúmeros jornais. Ninguém publicou nada. O único jornal que publicou a denúncia foi Nueva Presencia, órgão jornalístico que havia sido, nos tempos ditatoriais, baluarte cultural da resistência popular. Dirigido pelo jornalista Herman Schiller (conheci Herman pessoalmente muitos anos depois, já militando com as madres de plaza de mayo), Nueva presencia deu lugar em suas páginas à colorida família da esquerda argentina, judia e não judia.
Imediatamente depois da denúncia, vieram à escola alguns dirigentes sionistas. Não recordo agora se eram da OSA ou da DAIA. Porém, era um dirigente de peso e renome. Veio averiguar e pedir explicações pelo feito anti-semita. O reitor da escola, fascista disfarçado de liberal, jurista legitimador dos golpes de estado e colunista do jornal de extrema-direita La Prensa, chamou os estudantes agredidos e também o agressor (que veio junto com seu pai), que tinha pintado as cruzes nazistas. Em meio à discussão, o reitor disse ao dirigente sionista, apontando-me com o braço estendido: “Porque este estudante é marxista e milita no fascismo vermelho”. Automaticamente, seus olhos se cruzaram com os do dirigente sionista. Nesse instante, esqueceram-se do jovem neonazista, das cruzes suásticas, da agressão anti-semita e começaram a me insultar. Eu não entendia nada. Não vinha nos defender dos nazistas? Nós não éramos os atacados? Não! Para o dirigente sionista, que não era um jovem ignorante, mas um alto dirigente do sionismo argentino, era mais perigoso um estudante marxista judeu que um nazista que pintava suásticas... Incrível!!! Naquela época eu era muito garoto. Não entendi nada. A situação me parecia um absurdo e absolutamente ridícula. De agredido e denunciante, eu tinha terminado sendo acusado... Nada menos que por outro judeu! Anos depois, o compreendi muito bem...

Os palestinos nos odeiam?

Os palestinos nos odeiam? Não é certo. Gravíssimo erro confundir judaísmo com sionismo. Confusão claramente falsa, exercida em defesa do estado de Israel ou contra Israel. A resistência palestina – ao menos em suas vertentes e organizações mais lúcidas, as oriundas de um tronco antiimperialista laico e socialista – luta contra a política de estado de Israel, não contra os judeus em geral.
Se me permite, gostaria de contar uma terceira história para ilustrar este pensamento.
Quando se inaugurou a Escola Nacional «Florestan Fernandes», em São Paulo, por iniciativa do Movimento Sem Terra (MST) do Brasil, encontramos militantes de muitas partes do mundo, todos unidos pelas mesmas bandeiras e os mesmos ideais, os mais nobres conhecidos pela humanidade até o momento. Existiam, entre inúmeras pessoas, judeus não israelenses. Também estavam presentes alguns marxistas israelenses e, igualmente, mães palestinas. Estas últimas, vestidas com seus lenços e túnicas tradicionais. Todavia, recordo com uma emoção indescritível o imenso abraço internacionalista e fraterno que estas mães nos deram, a todos e todas por igual, incluindo os judeus não israelenses e os marxistas de Israel, sabendo perfeitamente quem era cada um. Ninguém me contou. Não li em nenhum livro. Não vi em nenhum filme. Esse abraço íntimo, afetuoso e fraternal de palestinas e judeus, palestinos e judias, simbolizou para nós um avanço, de como poderíamos viver e conviver se, neste mundo cruel e mesquinho não governassem o imperialismo e as burguesias, com todo seu primitivismo político, ódio racial, opressão nacional e fanatismo religioso, mas como povos organizados sobre um projeto socialista de alcance mundial. Não é um sonho delirante. É algo possível e ao alcance das mãos, com a condição de tirarmos de cima os donos do poder burguês, do mercado, do capital e da guerra fratricida.
Por isto tudo, pedimos aos senhores defensores do sionismo que façam toda a propaganda que queiram, mas, por favor...

Já basta! Não façam em nosso nome!

Não usem a memória dos nossos avós e bisavós torturados, perseguidos e massacrados pelo nazismo, para fins mesquinhos, egoístas e indefensáveis!

Viva a causa dos irmãos e irmãs palestinas!

Viva o socialismo!

Liberdade a todos as presas e presos políticos!

23 de maio de 2009
Autor: Néstor Kohan

Dilma fala em cultura do ciclismo e cobra de prefeitos a construção de ciclovias

Ao comentar a entrega de 30 mil bicicletas para alunos de escolas públicas na semana passada, a presidenta Dilma Rousseff citou hoje (30) a possibilidade de criação do que chamou de cultura do ciclismo no país. Em seu programa semanal de rádio Café com a Presidenta, ela cobrou de prefeitos a construção de ciclovias que deem segurança aos estudantes.

As bicicletas foram doadas a prefeituras de 81 municípios brasileiros, para crianças que moram longe das escolas, como parte do programa Caminho da Escola. Até o final de 2011, a distribuição deverá chegar a 100 mil bicicletas e 100 mil capacetes para 300 municípios do país. (AB)

“É um meio de transporte que não polui e ainda permite a prática de uma atividade física. Ir para a escola de bicicleta é uma atividade saudável. Agora, tem que ter segurança”, disse. “Se as prefeituras adotarem essa prática, construindo ciclovias, eu tenho certeza que veremos muitas outras bicicletas circulando pelas ruas, e não apenas as do governo”, completou.

Sobre o compromisso de construir 138 creches e 454 quadras esportivas escolares ainda este ano, Dilma avaliou que, para que o país dê um salto de qualidade na educação, é preciso melhorar a estrutura dos colégios. “Isso inclui oferecermos boas condições para os nossos alunos frequentarem as escolas”, explicou.

A construção das creches em 83 municípios totaliza investimentos de R$ 154,3 milhões. Já as quadras esportivas beneficiarão 249 municípios e estão orçadas em R$ 216,9 milhões. As estruturas serão construídas com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento 2 (PAC 2) e a iniciativa faz parte do Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil (Proinfância). (AB)

Emissões batem recorde em 2010 e ameaçam meta de combate a aquecimento


As emissões internacionais de gases responsáveis pelo efeito estufa bateram um recorde histórico no ano passado, colocando em dúvida o cumprimento da meta de limitar o aquecimento global em menos de 2 graus, segundo informações divulgadas hoje (30) pela Agência Internacional de Energia (AIE).

Segundo a agência, as emissões de dióxido de carbono, o principal gás do efeito estufa, cresceram 5% no ano passado em relação ao recorde anterior, em 2008. Em 2009, as emissões haviam caído graças à crise financeira global, que reduziu a atividade econômica internacional.

A agência estimou ainda que 80% das emissões projetadas para 2020 no setor de energia já estão comprometidas, por virem de usinas elétricas atualmente instaladas ou em construção.

A meta de limitar o aumento global das temperaturas médias em 2 graus foi estabelecida durante a conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças climáticas realizada no ano passado em Cancún. O limite teve como base um relatório técnico que indicava que se a temperatura global aumentar mais de 2 graus, as consequências podem ser irreversíveis e devastadoras.

Segundo os cálculos da AIE, a quantidade de dióxido de carbono emitida no mundo atingiu 30,6 gigatoneladas no ano passado, um aumento de 1,6 gigatoneladas em relação ao ano anterior. A agência estimou que, para limitar o aquecimento dentro dos limites aceitáveis, as emissões globais não devem ultrapassar 32 gigatoneladas até 2020.

Se o crescimento das emissões neste ano igualar o do ano passado, o limite estabelecido será ultrapassado nove anos antes do prazo.

Segundo a AIE, os países considerados desenvolvidos foram responsáveis por 40% das emissões totais em 2010, mas responderam por apenas 25% do crescimento global das emissões.

Países em desenvolvimento, principalmente China e Índia, registraram um aumento muito maior de suas emissões, acompanhando seu crescimento econômico acelerado.

Quando consideradas as emissões per capita, porém, os países desenvolvidos tiveram uma emissão média de 10 toneladas por pessoa, enquanto na China foram 5,8 toneladas per capita e, na Índia, 1,5 tonelada. (BBC)

Beatriz Abagge é condenada a mais de 21 anos

Juros do crédito sobem para famílias e caem para empresas em abril

A taxa de juros média cobrada das famílias subiu 1,8 ponto percentual de março para abril, segundo dados do Banco Central (BC), divulgados hoje (30). No mês passado, a taxa ficou em 46,8% ao ano. No caso das empresas, a taxa média anual recuou 0,3 ponto percentual, para 31%.

A inadimplência (como são considerados os atrasos superiores a 90 dias) tanto de empresas quanto de pessoas físicas subiu 0,1 ponto percentual, para 3,7% e 6,1%, respectivamente.
O spread (diferença entre taxa de captação dos recursos pelos bancos e a cobrada dos clientes) caiu 0,2 ponto percentual para as empresas e ficou em 19,4 pontos percentuais, em abril. No caso das pessoas físicas, houve alta de 1,8 ponto percentual, para 34,2 pontos percentuais. (AB)

Suspeito de assassinar agricultor é preso em Rondônia

Adelino Ramos é apenas mais uma das vítimas do Faroeste dos Madeireiros

O principal suspeito de assassinar o agricultor e líder do Movimento Camponês Corumbiara, Adelino Ramos, foi preso hoje (30) em Extrema Rondônia, próximo à capital Porto Velho. Ozeas Vicente estava sendo procurado pela polícia desde o último sábado (28) e acabou se entregando na manhã desta segunda-feira.

De acordo com o diretor executivo da Polícia Civil de Rondônia, delegado Pedro Mancebo, o suspeito está sendo levado para o distrito de Nova Califórnia, em Porto Velho, para prestar depoimento. “Ele estava sendo procurado, mas para surpresa de todos, ele apareceu e se apresentou [à polícia]”.

Mancebo ainda não sabe se houve a participação de outras pessoas no assassinato do agricultor. “Vamos ouvi-lo. Ele deve chegar ainda nesta tarde. Ainda não sabemos que medida será tomada [após o interrogatório]”.

Caso Vicente se declare culpado do crime, ele pode ser transferido para a Casa de Detenção José Mário Alves, conhecida como Urso Branco. Segundo o diretor executivo da Polícia Civil, já foi feita uma investigação preliminar e um inquérito foi instaurado. “Possivelmente [o inquérito] será alocado pela delegacia de homicídio”.

O crime ocorreu na sexta-feira (27) no distrito de Vista Alegre do Abunã, em Porto Velho. De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), Adelino estava vendendo verduras que produzia no acampamento onde vive quando foi assassinado a tiros.

O agricultor vinha sendo ameaçado de morte por denunciar a ação de madeireiros na divisa entre os estados do Acre, Amazonas e Rondônia. Junto com outros trabalhadores sem terra, ele reivindicava a criação de um assentamento da reforma agrária na região.

Além de Adelino, outro três ambientalistas foram assassinados em apenas uma semana. No último dia 24, os líderes extrativistas José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva foram executados em Nova Ipixuna, no Pará. Dias depois, o corpo do agricultor Eremilton Pereira dos Santos, de 25 anos, foi achado no mesmo assentamento. (AB)

Direitos de servidor em união estável do mesmo sexo volta à pauta da CCJ

O projeto do líder da bancada do PMDB, deputado Caito Quintana, que garante aos servidores públicos estaduais do mesmo sexo que vivem em união estável os mesmos direitos previdenciários dos demais funcionários volta à pauta da Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia pela quarta vez amanhã. Na semana passada, parecer contrário à proposta do relator Pedro Lupion (DEM), foi derrubado, e Hermas Brandão Júnior (PSB) foi indicado como novo relator.

Também estão na pauta da comissão três projetos do Tribunal de Justiça, um deles reajustando os salários básicos dos aposentados do foro extra-judicial. (Política em Debate)

Marcello Richa eleito presidente nacional da Juventude do PSDB


A partir do consenso das 25 delegações estaduais da Juventude do PSDB (JPSDB), o secretário de Esporte Lazer e Juventude de Curitiba, Marcello Richa foi conduzido à presidência nacional do segmento, no último sábado (28), na XII Convenção e Congresso do Secretariado Nacional da Juventude, em Brasília. O novo secretariado composto por jovens líderes de 15 estados brasileiros tem como metas principais: a qualificação da militância a partir de cursos de formação política em parceria com o Instituto Teotônio Vilela (ITV) e promover a aproximação de jovens ao Movimento Estudantil (ME).

Também está na pauta das novas ações da JPSDB Nacional, a realização de reuniões mensais pelas cinco regiões do país, para serem elaboradas diretrizes para os jovens a partir da realidade encontrada em cada estado. “É a partir das experiências exitosas das juventudes estaduais que pretendemos trabalhar em conjunto com o presidente Sérgio Guerra e seu secretariado, para assim formar novos quadros de líderes pensando em 2012 e visando o sucesso em 2014”, disse Richa.


Para conduzir a JPSDB Nacional, o jovem conta com a experiência frente à presidência da Juventude Tucana de Curitiba e com a coordenação da executiva estadual, onde foi o idealizador da Caravana da Juventude Tucana do Paraná, projeto que tem como objetivo estimular a participação e a conscientização do jovem em torno do processo político. Em 2010, a Caravana percorreu trezentos municípios paranaenses.

Paraná

É a primeira vez desde a fundação do PSDB, em 1988, que o secretariado da Juventude da sigla é presidido por um paranaense. Marcello Richa estava acompanhado em Brasília pelos presidentes Esdon Lau Filho (JPSDB Paraná) e Felipe Nasser Daher (JPSDB Curitiba). Na Convenção, estima-se a participação de 150 militantes do Paraná e mais de mil jovens de todas as regiões do país. (Blog do Fábio Campana)

O Satânico Doutor Go: A Ideologia Bonapartista de Golbery do Couto e Silva

Ernesto Geisel, Hugo Abreu, Azeredo da Silveira (de costas) e Golbery do Couto e Silva, Brasília, 1975
Vânia Noeli Ferreira de Assunção

O Satânico Dr. Go:
Golbery e um Projeto de Desenvolvimento e Dependência para o Brasil


Resumo: Este artigo aborda aspectos da biografia e do pensamento do general Golbery do Couto e Silva (1927-1911), personagem-chave em eventos da história do País desde os anos 1950. Mostramos como sua atuação prática é coerente com seu pensamento, exposto principalmente em Planejamento estratégico, de 1955, e Geopolítica do Brasil, de 1981. Suas idéias baseiam-se, de um lado, numa concepção instrumental da liberdade (a manutenção de um nível mínimo de liberdade é importante para a ordem) e de negociações com a oposição; e, de outro, numa articulação subordinada com os Estados Unidos para levar o Brasil à condição de grande potência. Segurança e desenvolvimento, ou ordem e progresso, não por coincidência também eram o lema da ditadura militar. Entender o pensamento de Golbery é fundamental para compreender as características e conseqüências desta.


Interlocutor respeitado por líderes como D. Paulo Arns, Júlio de Mesquita Neto e Ulysses Guimarães. Odiado pela linha-dura e radicalmente anticomunista e antidemocrático. Nacionalista e defensor da industrialização subordinada ao estrangeiro. Pensador autodidata, eclético, de estilo rocambolesco e árido, que não dispensava consultas a pais-de-santo. Em uma palavra: controvertido. Este é o perfil de Golbery do Couto e Silva, homem do poder, mas que preferia os subterrâneos aos holofotes.

Nascido em agosto de 1911, sua participação ativa na história se iniciou em 1952, quando ingressou na ESG, dando início a uma relação estreita e profícua. Em 1954 redigiu o Memorial dos Coronéis, estímulo à demissão do ministro do Trabalho, Jango, e o Manifesto dos Generais, contra o próprio presidente Vargas. Em 1955, foi um dos articuladores da “novembrada”, movimento que visava a impedir a posse do presidente eleito JK e seu vice, Jango, o que o levou à prisão.

Nomeado para o Conselho de Segurança Nacional do governo Jânio Quadros, foi surpreendido pela renúncia do presidente e movimentou-se amplamente pelo impedimento da posse do vice Jango. Foi dele a idéia de oferecer a Goulart a Presidência sob regime parlamentarista, solução de compromisso finalmente aceita. Já na reserva, passou a liderar o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes), e ligou-se ao Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad) e ao Movimento Anticomunista na intensa conspiração contra o governo.

Com o sucesso do golpe de 1964, foi nomeado por Castelo Branco chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), com status de ministro. Juntamente com Geisel, tinha grande influência sobre o presidente, mas caiu no ostracismo durante o predomínio da linha-dura, que chegou ao poder com Costa e Silva, e foi trabalhar na filial brasileira da multinacional Dow Chemical em 1969.

Retornou ao poder em 1974, na Chefia do Gabinete Civil de Geisel. Na condução da transição transada, cujo ritmo queria aumentar, realizou muitos contatos com membros da Igreja Católica e outras lideranças. Para ele, a “distensão política” deveria ter ocorrido ainda no momento de auge do autoproclamado “milagre brasileiro”, diminuindo as resistências da direita e agradando controladamente à esquerda.

Mesmo com as promessas de distensão, o governo Geisel foi palco de graves violações aos direitos humanos, censura e arbitrariedades. Era, em parte, obra da linha-dura, que resistia a qualquer proposta de abertura e criava artificialmente um clima de conspirações comunistas. Mas o grupo no poder não tinha muita convicção na democracia: em 1977, diante da rejeição do anteprojeto do governo, de reforma do Poder Judiciário, o Congresso foi fechado por 14 dias e baixado o célebre Pacote de Abril, mudando no meio do jogo as regras eleitorais e buscando garantir o controle do processo de auto-reforma.

Golbery aconselhava a “distribuir pauladas à esquerda e à direita”, mas também a demonstrar boa vontade para com ambos, como em 1978, quando ocorreu a revogação do AI-5, o restabelecimento do habeas-corpus para crimes políticos, a anistia aos cassados 10 anos antes. Acreditava que inimigos deveriam ser enfraquecidos e monitorados, nunca aniquilados, para não fortalecer demais um outro lado nem criar mártires. Guiou-se por essa visão ao conduzir a distensão.

Em 1979, foi reconfirmado no Gabinete Civil pelo novo presidente, João Figueiredo. Sua permanência seria curta: em 1981, divergindo da atuação em relação ao recrudescimento do terrorismo de direita, saiu do governo e ingressou na diretoria do Banco Cidade. Até sua morte, em 1987, aos 76 anos, manteve-se afastado da vida pública. Se bem que “pública” não é o melhor termo para definir sua atuação prática e sua ideologia. Estava a serviço da burguesia brasileira, devotado à busca de uma ideologia voltada a responder conservadoramente aos problemas da realidade nacional.

A quase integralidade da sua teoria baseava-se na questão primária do medo advindo da insegurança da vida humana. Preso a uma angústia existencial, não surpreende que o homem que retrava buscasse a todo custo a segurança que o mundo não lhe oferecia. Assim, explicação hobbesiana, acabou por engendrar uma entidade à qual, em troca de proteção, alienou parte de sua autonomia e de sua liberdade individuais, o Estado.

Para Golbery, nas esferas interna e externa, os intérpretes e paladinos dos interesses nacionais eram os Estados. Este seria um árbitro imparcial, capacitado a decidir com sabedoria salomônica as perigosas divergências que ocorressem no interior do grupo. Também no nível internacional, acreditava, cada um dos Estados criados pelo “raciocínio lógico e escorreito” dos homens busca atingir determinadas aspirações, por vezes contrapostas ou idênticas às de outros povos, o que os leva à luta para fazer valer seus próprios interesses.

Naquela conjuntura de guerra total – a sufocante guerra fria volta e meia se materializava –, os perigos haviam crescido exponencialmente. Falhara a busca de segurança pela criação do Estado e o responsável por isso era o liberalismo, ultrapassado e nocivo, que pregava o Estado abúlico e indefeso. Por isso, para Golbery, tendia a se repetir o escambo liberdade/segurança, agora em condições muito mais perigosas, em face do “antagonismo vital” entre comunismo e capitalismo. Nascia o superleviatã, o organismo político multinacional exigido pelo panorama de guerra total.

Note-se que Golbery buscava transferir a guerra hobbesiana de todos contra todos do âmbito individual para o do Estado – criado justamente para trazer a harmonia. Ao mesmo tempo, apontar essa origem queria transmitir a idéia de que o Estado eliminara os conflitos e diferenças sociais mais graves e representava os interesses de toda uma sociedade – em vez de classes antagônicas, o povo ou, como ele preferia, a nação. O general estava ideologicamente impedido de trabalhar com a idéia de nação dividida, elidindo as divisões sociais em função de uma visão homogeneizante. Por isso o Estado aparecia em seus escritos como um ente abstrato, a-histórico, a quem toda a sociedade serviria.

O nacionalismo também era conceito-base no seu pensamento. Muitas vezes confundida com o Estado, a nação só podia existir em segurança, integrada e em função de aspirações comuns. A segurança nacional estaria garantida quando se barrassem os antagonismos a estes objetivos nacionais. Fortemente influenciado pelo organicismo, Golbery percebia a sociedade como um organismo regido por leis análogas às da natureza, do que decorria que tudo que a fortalecesse era visto como positivo e natural, enquanto perturbações à ordem seriam patológicas. Aperfeiçoar, não transformar, tinha como corolário a radical desconsideração de qualquer forma alternativa de organização social e a abertura para tachar de inimigos internos todos os que abraçassem causas diferenciadas.

Odiava o comunismo materialista, oriental e internacionalista, que se valia traiçoeiramente do nacionalismo das massas para promover os interesses soviéticos. Ao nacionalismo da esquerda ele contrapunha o nacionalismo verdadeiro, maduro, realista e crítico, distanciado da “corruptora histeria demagógica” e cujo campo promissor era a América Latina.

Por outro lado, mesmo repudiando o liberalismo Golbery não defendia o “totalitarismo” de tipo soviético, que teria avançado para além do recomendável na condução da vida de cada indivíduo. A oposição entre liberalismo e “totalitarismo” (ou seja, o comunismo) não se dava, pois, em termos de amplitude da ação estatal, mas de método de controle social.

Para ele, rejeitar o liberalismo não significava abdicar também da essencial liberdade humana, valor inestimável para o Ocidente. No fundamental, contudo, a liberdade não podia ser anulada porque é essencial para a manutenção da ordem e do progresso. Segundo a lei dos rendimentos decrescentes, segurança, liberdade e desenvolvimento mantêm entre si relações estreitas e interdependentes. Os três têm de ser minimamente garantidos, do que depende o equilíbrio do todo e o desenvolvimento de cada um. Por isso o sistema totalitário soviético estaria fadado ao fracasso: o sacrifício da liberdade em nome da segurança, abaixo de certo nível mínimo, tornava-se contraproducente.

Ainda nos anos 50, pondo-se entre o liberalismo inativo e o totalitarismo opressor, propunha como “terceira via” a democracia participativa e o planejamento democrático, instrumentos para transformar o potencial nacional em poder efetivo. Comparava um possível processo de industrialização autônomo à história do Barão de Münchhausen, que teria alçado da areia movediça a si mesmo e ao cavalo que montava puxando-se por um fio de cabelo. A saída: industrialização pelo empuxo externo.

Reputava inevitável o recurso à poupança externa para levar adiante o processo de desenvolvimento nacional num prazo razoável e com maior probabilidade de sucesso. Sua ilusão necessária era empregar capitais externos para tornar o Brasil uma grande potência.

Entendia que o nacionalismo sadio existente em toda a América Latina abolira antigos receios quanto aos Estados Unidos, gerando ressentimentos contrários: o reclamo por ajuda. Entristecia-o opelo fato de os EUA não lerem nas imutáveis massas continentais o destino grandioso do Brasil, que deveriam ajudar a construir. Afinal, o País tinha toda uma série de trunfos, dos quais ressaltava o promontório nordestino, de valor estratégico inestimável para a defesa continental. Além do mais, a soberania brasileira seria ameaçada por ambições colonizadoras, mas pela sua importância geopolítica para o mundo comunista, que pretenderia daqui armar um ataque fulminante contra os EUA, o que mais nos aproximava deles.

O general reiterava a disposição do País de utilizar essa vantagem em prol dos interesses americanos e da defesa do ocidente contra o imperialismo comunista. Desta forma, a soberania nacional poderia ser objeto de escambo, desde que fosse uma barganha leal: por exemplo, em troca de um subimperialismo regional.

Convocava as nações centrais do mundo capitalista: subtrair os países subdesenvolvidos do âmbito de influência do comunismo insidioso seria oferecer-lhes uma alternativa à estagnação, de um lado, e ao totalitarismo, de outro. Era preciso, dizia, mostrar a vitalidade e a criatividade da democracia na resolução do drama da miséria.

Uma experiência deste tipo só poderia alcançar a devida repercussão se realizada na América Latina – e como a profundidade da intervenção deveria ser proporcional às responsabilidades e compromissos assumidos, no Brasil, representante desta América Latina e dos subdesenvolvidos. Forte, poderoso, estratégico, o País teria importância ímpar para as “imperiosas necessidades de defesa do Ocidente” e poderia se tornar locus de uma sorte de Plano Marshall latino-americano, em cujo espelho as nações subdesenvolvidas de todo o mundo pudessem se mirar e que redundasse em um aumento do desenvolvimento continental.

Não deixa de ser ingênua a pregação pelo controle político do capital e a crença no desenvolvimento subordinado como o caminho para o Brasil-potência. Mas estas foram, grosso modo, as bases sobre as quais se assentou a política econômica da ditadura, não obstante as diferenças específicas com o pensamento de Golbery. As conseqüências desta opção marcaram definitivamente a história brasileira.



Referências bibliográficas:

ASSUNCÃO, Vânia Noeli Ferreira de. O satânico Dr. Go: a ideologia bonapartista de Golbery do Couto e Silva. (1999) Dissertação (mestrado) apresentada à PUC-SP. Disponível em: < http://www.verinotio.org/dissertacoes_cienciassociais.htm >.

COUTO E SILVA, Golbery. Conjuntura política nacional: o poder executivo & Geopolítica do Brasil. Rio de Janeiro, José Olympio, 1981.

GASPARI, Elio. A ditadura derrotada. O Sacerdote e o Feiticeiro. São Paulo, Cia das Letras, 2003.

MELLO, Leonel I. A. “Golbery revisitado: da democracia tutelada à abertura controlada”. In: MOISÉS; ALBUQUERQUE. Dilemas da consolidação da democracia. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1989.

SCHILLING, Paulo. O expansionismo brasileiro: a geopolítica do general Golbery e a diplomacia do Itamaraty. São Paulo, Global, 1981.


Tese completa:

http://download.tales.com.br/marxismo/Verinotio/V%C3%A2nia%20Noeli%20Ferreira%20de%20Assun%C3%A7%C3%A3o%20-%20O%20sat%C3%A2nico%20Doutor%20Go%20-%20A%20ideologia%20bonapartista%20de%20Golbery%20do%20Couto%20e%20Silva.pdf

 
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