sexta-feira, 23 de novembro de 2012

De 2000 para cĂ¡, leishmaniose visceral matou mais que a dengue em nove Estados

Desde que a epidemia de dengue se intensificou no paĂ­s, hĂ¡ alguns anos, todo mundo ouve o MinistĂ©rio da SaĂºde anunciar medidas de combate ao mosquito Aedes aegypti. Mas pouca gente sabe o que tem sido feito para combater o Lutzomyia longipalpis, espĂ©cie de mosquito-palha responsĂ¡vel por uma doença que, de 2000 a 2011, causou mais mortes que a dengue em nove Estados – a leishmaniose visceral.
TambĂ©m conhecida como calazar, a doença, que antes era limitada a Ă¡reas rurais e Ă  RegiĂ£o Nordeste, hoje encontra-se em todo o territĂ³rio e, segundo especialistas ouvidos pelo UOL, estĂ¡ fora de controle. Levantamento feito com base em nĂºmeros do MinistĂ©rio da SaĂºde mostra que, nos Ăºltimos 11 anos, a leishmaniose provocou 2.609 mortes em todo o paĂ­s, enquanto a dengue foi responsĂ¡vel por aproximadamente 2.847 mortes (veja quadro abaixo).
O mĂ©dico Carlos Henrique Costa, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, professor da Universidade Federal do PiauĂ­ e autor de vĂ¡rios estudos sobre a leishmaniose visceral, conta que doença era considerada tipicamente rural atĂ© 1980. A partir de entĂ£o, a enfermidade começou a invadir algumas cidades grandes, como Teresina (PI) e SĂ£o LuĂ­s (MA). Em pouco tempo, passou a afetar Ă¡reas urbanas de outras regiões, como Belo Horizonte (MG), Campo Grande (MS), Araçatuba e Bauru (SP), entre outras.
Sudeste
A expansĂ£o da doença no Sudeste, regiĂ£o mais populosa do paĂ­s, preocupa ­ ­- os dados indicam que o total de casos quase dobrou de 2000 para 2011 (foram 314 e 592, respectivamente). E, o que Ă© mais alarmante, o nĂºmero de mortes foi quase seis vezes maior: saltou de 9 para 52.  

2000 a 2011: mortes por dengue x mortes por leishmaniose visceral

Unidades da FederaĂ§Ă£o
Mortes por dengue*
Mortes por leishmaniose visceral**
RondĂ´nia
46
1
Acre
20
0
Amazonas
42
0
Roraima
17
6
ParĂ¡
116
153
AmapĂ¡
13
0
Tocantins
22
173
MaranhĂ£o
114
334
PiauĂ­
35
178
CearĂ¡
258
268
Rio Grande do Norte
85
55
ParaĂ­ba
21
31
Pernambuco
136
117
Alagoas
73
58
Sergipe
64
53
Bahia
156
280
Minas Gerais
177
445
EspĂ­rito Santo
108
6
Rio de Janeiro
566
3
SĂ£o Paulo
258
168
ParanĂ¡
44
5
Santa Catarina
-
0
Rio Grande do Sul
-
0
Mato Grosso do Sul
65
194
Mato Grosso
132
45
GoiĂ¡s
262
28
Distrito Federal
17
8
  • Fonte: Sinan/MinistĂ©rio da SaĂºde
  • *Atualizado em 31/01/2012 - dados sujeitos a alteraĂ§Ă£o
  • **AtĂ© 2006 as mortes referem-se a UF de residĂªncia; a partir de 2007 foram consideradas mortes segundo UF fonte de infecĂ§Ă£o
A situaĂ§Ă£o mais preocupante Ă© a de Minas, que de 2000 a 2011 registrou 445 mortes pela doença - o nĂºmero de vĂ­timas da dengue nĂ£o chega a metade disso.
O vetor jĂ¡ se instalou na periferia de Belo Horizonte, segundo especialistas. “Houve um ‘boom’ de condomĂ­nios com grandes jardins e essa terra provavelmente foi trazida de locais com presença do L. longipalpis”, afirma o pesquisador Reginaldo Brazil, do Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro.
Estudos sugerem que a leishmaniose visceral canina precede casos da doença em humanos no Brasil. Se a hipĂ³tese for verdadeira, a periferia de SĂ£o Paulo tambĂ©m corre risco de virar foco, jĂ¡ que hĂ¡ registros de animais contaminados em cidades vizinhas como Campinas e Embu das Artes. Cidades um pouco mais distantes, como Araçatuba, sĂ£o consideradas endĂªmicas (casos ocorrem frequentemente na regiĂ£o) hĂ¡ bastante tempo.
Recentemente, um foco importante da leishmaniose tambĂ©m foi encontrado em um canil no cemitĂ©rio do Caju, na zona norte do Rio de Janeiro. Segundo a Secretaria Municipal de SaĂºde, todos os animais – ao todo 26 cachorros – foram sacrificados e o ambiente foi dedetizado. “O local vem sendo monitorado constantemente e nenhum outro caso foi notificado atĂ© o momento”, informou a pasta.
AdaptaĂ§Ă£o
Uma vez que a espĂ©cie de mosquito-palha causadora da leishmaniose visceral acompanhou a migraĂ§Ă£o populacional para o Sudeste, como um mosquito do campo foi capaz de se adaptar tĂ£o bem ao ambiente urbano?
Existem vĂ¡rias hipĂ³teses, nenhuma delas comprovada. “Alguns pesquisadores acreditam que se trata de uma populaĂ§Ă£o de vetores geneticamente distinta”, diz Costa.
Mas tambĂ©m pode ser que o L. longipalpis seja simplesmente um inseto de fĂ¡cil adaptaĂ§Ă£o. “É um vetor robusto, que teve capacidade de se adaptar Ă s mudanças do homem”, sugere Brazil.
Inseticida
Os famosos “fumacĂªs” promovidos para combater a dengue nĂ£o ajudam a combater o mosquito-palha? Infelizmente, nĂ£o. O pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz explica que o  L. longipalpis Ă© mais noturno - aparece depois que o fumacĂª jĂ¡ passou, e os inseticidas usados para controlar o Aedes nĂ£o tĂªm efeito residual. “O vetor percebe o cheiro e se esconde”, descreve. Ou seja: o fumacĂª pode atĂ© desalojar o vetor da leishmaniose temporariamente, mas nĂ£o o elimina.
A substĂ¢ncia mais eficaz para o controle do L. longipalpis Ă© o DDT, que tambĂ©m jĂ¡ ajudou muito o Brasil no combate Ă  malĂ¡ria, mas o composto foi banido por causar riscos Ă  saĂºde e ao meio ambiente.
“Os piretroides, usados atualmente, tambĂ©m sĂ£o tĂ³xicos para humanos. (Uol)

 
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