domingo, 3 de março de 2013

‘MĂ¡fia cristĂ£’ dos EUA teve relações com ditadura no Brasil, diz pesquisador americano



Um poderoso grupo formado por fundamentalistas norte-americanos, conhecido como “A FamĂ­lia”, foi responsĂ¡vel pela mediaĂ§Ă£o de acordos entre o governo dos Estados Unidos e a ditadura militar estabelecida no Brasil entre 1964 e 1985. A informaĂ§Ă£o foi divulgada pelo pesquisador norte-americano Jeff Sharlet, autor do livro “The Family”, um best-seller sobre o grupo tambĂ©m conhecido como ‘a irmandade’, ou ‘mĂ¡fia cristĂ£’. Segundo ele, o grupo inclui membros do Congresso, lĂ­deres de grandes corporações, militares e polĂ­ticos estrangeiros.
Conversei com Sharlet sobre sua pesquisa e o livro, logo que foi lançado. Ele disse que a “FamĂ­lia” viu os militares brasileiros como “pessoas-chave” no que consideravam luta contra o comunismo ateu no Brasil. Segundo ele, os brasileiros, por sua vez, viram nos “irmĂ£os” a possibilidade de acesso ao poder dos EUA. “Chegou a haver discussões sobre o estabelecimento de um escritĂ³rio formal da ‘FamĂ­lia’ na embaixada brasileira nos Estados Unidos, o que eles achavam que ajudaria a imagem do movimento”, disse Sharlet. “Eu sei que hĂ¡ relações entre a ‘FamĂ­lia’ e o Brasil atĂ© hoje, mas nĂ£o posso entrar em detalhes porque nĂ£o investiguei aprofundadamente”, completou.
Ele argumenta ter encontrado registros dessas relações, ocorridas nos anos 1960 e 70. “Na Ă©poca dos governos de Costa e Silva e MĂ©dici, os EUA ajudavam financeiramente os militares que estavam no poder no Brasil, e a FamĂ­lia era o principal intermediĂ¡rio desses acordos.” Segundo ele, os fundamentalistas se aproximaram dos militares, jĂ¡ que achavam que o modelo proposto pelos ditadores do Brasil era parecido com o que eles queriam incorporar.
Artur da Costa e Silva e EmĂ­lio Garrastazu MĂ©dici foram dois militares que governaram o Brasil apĂ³s o golpe militar que derrubou o presidente JoĂ£o Goulart em 1964. Costa e Silva foi presidente do Brasil entre 1967 1969, e MĂ©dici administrou o paĂ­s entre 1969 e 1974, perĂ­odo apĂ³s o Ato Institucional nĂºmero 5, apontado com frequĂªncia como o mais repressivo da ditadura. A sucessĂ£o de governos militares iniciada em 1964 chegou ao fim quando JosĂ© Sarney assumiu o poder em 1985. 
Apesar de formado especialmente por fundamentalistas cristĂ£os protestantes, o grupo, segundo Sharlet, nĂ£o assume abertamente o tom religioso, se dizendo formado por “believers” (crentes). “Foi um momento em que viram que havia lideranças no mundo com quem valia manter relações independentemente da religiĂ£o, jĂ¡ que havia um acordo em torno da influĂªncia norte-americana, no livre mercado e fundamentalismo.”
Segundo ele, hĂ¡ registro de que um lĂ­der da “irmandade” teria agradecido ao saber que a CĂ¢mara dos Deputados do Brasil havia estabelecido uma sala permanente para encontros de brasileiros afiliados ao grupo fundamentalista dos EUA. Um dos norte-americanos teria alegado que o Brasil seria a base de operações da “FamĂ­lia” em toda a AmĂ©rica Latina. 
Império
Em “The Family: The Secret Fundamentalism at the Heart of American Power” (A FamĂ­lia: O fundamentalismo secreto no coraĂ§Ă£o do poder norte-americano), Sharlet, que Ă© pesquisador de religiões e mĂ­dia na Universidade de Nova York, descreve o funcionamento e a estrutura deste grupo e analisa a presença do fundamentalismo e da direita cristĂ£ na polĂ­tica dos Estados Unidos. Segundo ele, hĂ¡ uma certa complicaĂ§Ă£o nas bases ideolĂ³gicas do grupo, que tem forte influĂªncia religiosa e pretensões imperiais. Atuante no paĂ­s hĂ¡ sete dĂ©cadas, o grupo Ă© apontado como jĂ¡ tendo uma força considerĂ¡vel.
“Eles nĂ£o estĂ£o buscando conquistar o paĂ­s, nem vĂ£o conseguir, mas Ă© importante ver onde eles estĂ£o agora. Eles estĂ£o envolvidos com o poder e sĂ£o a razĂ£o pelo qual os Estados Unidos nĂ£o conseguem ter um movimento trabalhista forte, ou ter um sistema de saĂºde mais abrangente. Eles tĂªm o objetivo final de reunir 200 lĂ­deres mundiais em torno de um laço invisĂ­vel e fundamentalista, mas na verdade, a ‘FamĂ­lia’ Ă© um grupo que acredita na religiĂ£o do status quo, da influĂªncia norte-americana, do capitalismo tĂ­pico, fundamentalista e de mercado”, explicou.
Segundo ele, entretanto, isso parece estar trabalhando contra os interesses do paĂ­s, mesmo sob o governo Obama, que Ă© progressista. “Trata-se da diferença entre democracia e impĂ©rio, e a ‘FamĂ­lia’ Ă© uma famĂ­lia que busca o impĂ©rio.”
MĂ¡fia
Sharlet nĂ£o faz acusações diretas sobre ilegalidade na atuaĂ§Ă£o do grupo fundamentalista, mesmo quando o compara Ă  atuaĂ§Ă£o da mĂ¡fia. “Alguns congressistas e membros da ‘FamĂ­lia’ se deram o tĂ­tulo de ‘mĂ¡fia cristĂ£’”, disse. Segundo ele, Ă© um termo usado por eles mesmos de forma simpĂ¡tica. “É um grupo que diz abertamente que Ă© como a mĂ¡fia, uma organizaĂ§Ă£o bem estruturada, em busca de poder, e eles gostam dessa ideia.”
“É mais de que uma figura de linguagem, especialmente quando se vĂª a forma como sĂ£o controladas as finanças do grupo. Assim como a mĂ¡fia, hĂ¡ empresas de fachada, a maior parte sem fins lucrativos, usadas para movimentar o dinheiro deste forte grupo econĂ´mico e polĂ­tico pelo mundo.” Segundo ele, nĂ£o se pode falar nada sobre este grupo porque nĂ£o houve uma investigaĂ§Ă£o mais profunda sobre isso, mas “se fosse algo organizado pela mĂ¡fia, isso seria chamado de lavagem de dinheiro.”

 
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