quinta-feira, 4 de abril de 2013

Antes da guerra: Curitiba integralista, Praça Tiradentes, 1937


 
Milton Ribeiro

Um tanto irresponsavelmente, fiz algumas pesquisas no Google que envolviam Curitiba. Procurei um texto de um morador arejado que descrevesse a cidade. Abrindo o texto, procurei a palavra “conservador”. Havia (há) 7 ocorrências da palavra. O Cristóvão Tezza insiste e insiste na palavra. Talvez fosse casual.

Outro teste. Por associação, achei natural que houvesse grandes manifestações integralistas realizadas pelo avós dos atuais curitibanos. Procurei fotos em Porto Alegre e Curitiba. A superioridade de registros fotográficos deste gênero tupiniquim de extrema-direita na capital paranaense era flagrante sobre Porto Alegre. Fui ver se Plínio Salgado não tinha nascido na cidade. Não, ele era paulista. Até, certa vez, elegeu-se deputado federal pelo Paraná porque seria mais fácil…

Segui navegando e encontrei este registro integralista de 2011 em Curitiba. Nada em Porto Alegre.

Agora, vejam esta foto de 1937:

É muita gente, meus sete leitores. Não encontrei nada deste tamanho em outra cidade brasileira.

E, para completar, encontrei este recentíssimo registro no Facebook, escrito pelo curitibano André Feiges e que ornamenta e completa de forma muito coerente a mesma foto acima.
Não é à toa que somos como somos, vejam nosso passado (quase) recente… a quantidade de simpatizantes fascistas em Curitiba é absurda. A foto é duma demonstração integralista, realizando saudação nazista na Praça Tiradentes em 1937. 
– Comentário: Muita gente interpretou mal a descrição que coloquei na foto, pois bem, cabe-me explicar. Não se trata de legitimar nenhum movimento repressor e totalitário, pelo contrário, acredito é preciso compreender nosso passado para lidar com um problema presente, que é a existência de grupos neonazistas. Quando coloco “nós”, quero dizer “nós curitibanos”, e portanto trato de algo inegável, pois “entre nós curitibanos” há diversos simpatizantes fascistas, e sabemos todos disto.
Há exatamente uma semana atrás um destes grupos perseguiu e assassinou um jovem a facadas na região do Centro Histórico de Curitiba. Não foi um fato isolado, estes grupos há poucos meses assassinaram outro rapaz, por motivação homofóbica. E anteriormente já o fizeram por motivações racistas e xenofóbicas.
Reconhecer a existência de fascistas, nazistas, racistas, homofóbicos entre nós é uma necessidade para dimensionarmos o tamanho do problema e elaborar estratégias de enfrentamento.
Negar os fatos é impedir sua mudança.
Apesar do gestual, os integralistas costumam negar suas relações com o fascismo.  OK, Anauê!

Curitiba, antes da guerra


Corria o ano de 1937, as notícias fervilhavam com informações vindas da Europa, onde Hitler, Mussolini, Franco e Salazar governavam seus países sob o tacão das ditaduras. No Brasil, o ditador Getúlio Vargas instituía o Estado Novo arrochando o regime. No Paraná, o interventor Manoel Ribas dirigia o estado e Curitiba teria três prefeitos.
Até o mês de junho de 1937 governou Curitiba o prefeito João Lothário Meissner que foi empossado no cargo em 1932 pelo interventor Manoel Ribas. De junho a setembro de 1937, a prefeitura ficou sob o comando de Aluizio França e que, neste curto período, ordenou a demolição do Teatro Guayra, que ficava na Rua Dr. Murici, fato que somente ocorreria mais tarde, por volta de 1942.
Ainda em 1937, em setembro, assumiu a prefeitura da capital o médico gaúcho Carlos Heller, que exerceria o cargo até 1938. Em 1937, no mês de dezembro, nasceu Jaime Lerner que também chegou à Prefeitura de Curitiba durante a ditadura militar instalada em 1964.
Entre os movimentos políticos que abalaram a cidade no período pré-guerra, nada foi mais forte que os participantes do Integralismo cujo líder era Plínio Salgado. Movimento fascista espelhado tanto em Mussolini como no nacional socialismo de Hitler, encontrou apoio principalmente entre os descendentes de alemães e italianos, que residiam em Curitiba, tendo também como adeptos seguidores das religiões católicas e luteranas.
Eram comum os desfiles dos simpatizantes do integralismo pelas ruas da cidade, todos vestindo camisas verdes, uma cópia tupiniquim dos camisas negras do fascismo italiano e dos camisas marrons, do nazismo alemão. Ficou famosa a reunião realizada no Teatro Guayra, à noite, após um desfile pela cidade com os participantes portando archotes. Uma verdadeira marcha au flambeau.
A não ser por essas agitações esporádicas de tais extremistas, Curitiba ia levando sua vida de cidade pacata, divertindo-se nos cinemas do centro da cidade. Participando das retretas que as bandas militares proporcionavam no coreto da Praça Osório ou então no coreto Mourisco do Passeio Público.
As ruas dos bairros ainda, em sua maioria, eram de terra o que infernizava a vida dos moradores com a lama na época das chuvas e a poeira no tempo de seca. Tais vias muitas vezes não passavam de caminhos marcados pelos rodados das carroças que por ali transitavam. Um dos exemplos que mostravam como as ruas eram descuidadas pela prefeitura ficava por conta da Avenida República Argentina que possuía um trânsito intenso dos veículos com tração animal. O leito da rua era coberto de saibro cuja poeira levantada era depositada nas fachadas das casas e nos jardins dando uma coloração única de tom ocre em ambos os lados e em toda extensão da via. (GP)

Vale a pena ler:

O integralismo vivia aqui

O jornalista sênior, Milton Ivan Heller, publica pelo Instituto Memória o livro Conspiração Nazista nos Céus da América, minucioso relato sobre o que considera evidência dos sonhos de Hitler de implantar aqui uma Alemanha Antártica, desde o sul do Brasil até a Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile, e porções do Peru e da Bolívia.

Militante de esquerda democrática, Milton Ivan escreve sobre núcleos pró-nazistas no cenário político da Curitiba dos anos 30 e 40 do século passado. Aí inclui as manifestações da Ação Integralista Brasileira, partido fundado em 1932 e proscrito em 1938. Era chefiada por Plínio Salgado, que chegou a vencer eleições no Paraná.

Nas ilustrações, a capa do livro, com a letra grega Sigma, ou Integral, símbolo das hostes integralistas, vestidas em camisas verdes e gravatas pretas, que se saudavam com o gritoAnauê, levantando os braços.

Na foto histórica, comício realizado em Curitiba, antes que o presidente Getúlio Vargas declarasse os integralistas brasileiros fora da lei. No nosso cemitério Municipal, há lápides de mármore com o símbolo partidário Sigma, ao invés da cruz cristã. (MS)

Mais sobre o Milton:

1 comentários :

Professor Kico CEBRAPAZ-PR disse...

Lembro que meu pai Luiz Ferreira França me falava que passou na praça Tiradentes neste dia com seu primo quando eram pequenos e ela estava lotada de pessoas.

Postar um comentário

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | belt buckles