quinta-feira, 17 de março de 2011

Usina japonesa falsificou dados de segurança, diz jornal

A Tepco (Tokyo Electric Power Company), operadora da usina japonesa de Fukushima Daiichi, que está ao centro de uma grave crise nuclear, falsificou dados de segurança e "desonestamente" tentou esconder problemas na área.

A informação está no documento "Lições aprendidas com o Escândalo da Usina Nuclear da Tepco", divulgado pela própria empresa e ao qual o jornal britânico "The Times" teve acesso.

No documento, a Tepco culpa o que chama de "má conduta" do escândalo de 2002 à superconfiança de seus engenheiros sobre seu conhecimento nuclear. Sua "mentalidade conservadora" os levou a não relatar problemas na área de segurança, o que levou então, ainda seguindo a própria Tepco, a "uma cultura inadequada de segurança".

Neste ano, cinco executivos da Tepco pediram demissão em função da suspeita de falsificação de registros de segurança em usinas nucleares, e cinco reatores foram obrigados a cessar suas operações.

Quatro anos depois, a Tepco voltou a enfrentar problemas. O governo ordenou que a empresa checasse seus dados passados depois de ter sido relatada a falsificação de temperaturas de água de resfriamento na usina Fukushima Daiichi em 1985 e 1988, e de os dados falsificados terem sido usados em inspeções obrigatórias da usina concluídas em outubro de 2005.

Em 2007, o governo pressionou novamente a Tepco por não ter informado corretamente sobre defeitos na usina nuclear Kashiwazaki-Kariwa, danificada após um terremoto de magnitude 6,8. A empresa teria assumido às autoridades, segundo o jornal, que calculou erroneamente a quantidade de vazamento de radiação.

ALERTAS IGNORADOS

Documentos diplomáticos dos Estados Unidos, revelados pelo site WikiLeaks, mostram ainda que o próprio Japão ignorou alertas sobre a capacidade de suas usinas suportarem danos causados por tremores.

Diplomatas norte-americanos criticaram fortemente o japonês Tomihiro Taniguchi, que foi até o ano passado diretor de segurança da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), especialmente em relação ao setor de energia nuclear em seu próprio país.

"Nos últimos dez anos o Departamento tem sido tremendamente prejudicado pela falta de habilidades do (vice-diretor geral) Taniguchi em termos de gestão e liderança", disse um telegrama de 1º de dezembro de 2009, um dos enviados da Embaixada dos EUA em Viena a Washington, obtidos pelo WikiLeaks e vistos pela agência de notícias Reuters.

"Taniguchi vem sendo um administrador e defensor fraco, particularmente com relação ao questionamento das práticas de segurança do Japão, e ele decepciona os Estados Unidos especialmente pelo tratamento de enteado não amado que dá ao Escritório de Segurança Nuclear", diz outro telegrama, enviado em 7 de julho de 2009.

A AIEA não comenta o teor de telegramas vazados.

SEM PODER

As evidências de preocupação com o diretor japonês vieram à tona no momento em que seu país luta para evitar que radiação letal se espalhe a partir de reatores nucleares ao norte de Tóquio que foram danificados no terremoto da sexta-feira passada.

Diplomatas credenciados junto à AIEA disseram que a agência pode exercer um papel muito limitado na segurança nuclear, porque só pode fazer recomendações e fornecer incentivos para que os países adotem melhorias, mas não pode implementar as medidas.

"A agência não é fiscal nesse sentido. Ela encoraja o desenvolvimento e oferece incentivos. Mas a segurança é essencialmente uma questão soberana", disse um diplomata, acrescentando que alguns países membros da AIEA querem que a agência receba mais poderes nesse quesito.

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