quarta-feira, 23 de março de 2011

Risco de contaminação faz japoneses se abrigarem em estádio

Os moradores da vila japonesa de Futaba, que até pouco tempo atrás era uma pacata localidade próxima ao complexo nuclear de Fukushima, vivem hoje abrigados em um estádio devido ao perigo da radioatividade que escapou da usina após o terremoto do dia 11, obrigando-os a deixar suas casas por tempo indeterminado.

"Um dia depois do terremoto, os alto-falantes começaram a soar. Eram 7h da manhã e nos mandavam evacuar a vila. Recolhemos somente o mais importante pensando que seriam dois ou três dias", relata à Agência Efe Hiromi Kikuchi, um dos 2.136 refugiados que ocupam o estádio Saitama Super Arena, na província de Saitama, próximo a Tóquio.

Passados 11 dias desde que soaram os alarmes nucleares, Kikuchi está cada vez mais incerto sobre quando poderá voltar para casa, localizada a pouco mais de 2 quilômetros da usina nuclear que despertou temores pelo mundo.

"De qualquer forma, quando voltar não poderei fazer nada. Eu cultivava arroz e verduras e já não poderei vendê-los", diz com resignação este agricultor de 50 anos, cujas terras provavelmente serão relegadas ao nada por causa da tragédia nuclear de Fukushima, decorrente do terremoto do último dia 11.

Após a primeira explosão na usina, no último dia 12, a radiação em Futaba disparou acima do limite considerado seguro e, embora depois tenha diminuído, a vila foi transformada em uma esvaziada cidade-fantasma, como a Agência Efe comprovou na semana passada.

Por enquanto reina o silêncio, a ordem e a resignação no estádio Saitama Arena, onde cerca de mil de voluntários empilham caixas com alimentos, roupas e cobertores, prestam assistência aos idosos e crianças, distribuem jornais e organizam turnos para o banho.

Um idoso segura uma caixa de papelão nos braços e leva às mesas onde se distribui comida, recolhe bananas, um bolo, duas garrafas d'água e se afasta silenciosamente, em tom de reverência aos voluntários.

Os mais velhos preferem não falar com os jornalistas, enquanto as mães se dedicam a cuidar das crianças que correm ou jogam pelo corredor dos vestuários, reconvertido em uma espécie de praça do povo.

Enquanto isso, famílias dormem em cobertores sobre o chão, com paredes improvisadas de papelão que buscam dar um mínimo de intimidade, e alguns utensílios espalhados pelo chão.

Em um canto, várias crianças usam um dos seis computadores com acesso à internet colocados ao lado de uma mesa com uma fila de telefones e um mural de anúncios onde se penduram recados de familiares ou conhecidos.

"Chegaram muito cansados, agora estão melhor. Mas o espaço que eles têm aqui é muito reduzido, serve apenas para dormir", diz à Agência Efe Minoru Tanaka, encarregado de Assuntos Sociais da província de Saitama.

Nem todos os que estão no moderno estádio de Saitama vêm de Futaba. Outros procedem de localidades situadas um pouco além do perímetro de segurança em torno da usina de Fukushima, como a cidade de Iwaki.

"Fomos embora porque não tínhamos gás, gasolina ou comida. No início hesitamos, mas depois vimos que restava cada vez menos gente e decidimos partir", explica à Efe Yasuhiro Moue, dono de uma empresa de construção que fugiu de Iwaki com os pais, a esposa e a filha adolescente.

Moue, de 38 anos, acha que sua cidade está com os dias contados. "As áreas do norte devastadas pelo terremoto serão reconstruídas, mas na nossa ninguém quer entrar por causa da radioatividade", explica.

Os desalojados devem permanecer no estádio Arena até o próximo dia 31, quando serão transferidos por tempo indeterminado às instalações de um colégio vazio no norte da província de Saitama.

Embora a radiação tenha transformado a população de Futaba em um povo nômade, a vila teve mais sorte que outras localidades como Minamisanriku, totalmente devastada pelo grande tsunami que atingiu o nordeste do Japão após o terremoto no dia 11, responsável por mais de 9,4 mil mortos e 14,6 mil desaparecidos já contabilizados.

Além disso, dezenas de milhares de desalojados seguem vivendo em condições precárias em áreas remotas do nordeste do Japão, sem eletricidade e com temperaturas que chegam a ser abaixo de zero. (EFE)

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