quarta-feira, 23 de março de 2011

Livro de Sarney ‘maquia’ escândalos

Entre o livro do Sarney com a sua biografia autorizada e o "Honoráveis Bandidos - Um retrato do Brasil na era Sarney", do jornalista Palmério Dória, fico com o segundo

A biografia autorizada do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), lançada nessa terça-feira, 22, em Brasília, contém erros de informação e omite dados sobre a crise que atingiu a Casa e o próprio senador em 2009. Escrito pela jornalista Regina Echeverria, Sarney, a Biografia aborda o escândalo sob a ótica do parlamentar, que na obra se diz vítima de perseguição política.

O livro exalta a contratação da Fundação Getúlio Vargas, a pedido de Sarney, para fazer uma reforma administrativa no Senado. Mas deixa de informar o valor pago - R$ 500 mil em dois anos - e o fato de que a reforma não saiu do papel. Em outro trecho, a autora escreve que Sarney "determinou" a demissão de todos os 136 diretores da Casa, sem citar que elas não se efetivaram.

A biografia também menciona uma decisão do senador de anular todos os atos secretos, revelados pelo Estado em 10 de junho de 2009, sem citar que, logo depois, a diretoria-geral revalidou esses boletins, inclusive os que tratavam de apadrinhados de Sarney. Ainda sobre esse episódio, ao elencar os pedidos de processo contra o senador, a obra afirma que "o Conselho de Ética estava politizado e não era isento". Quando comenta a censura imposta pela Justiça ao Estado, há 600 dias proibido de noticiar investigação da Polícia Federal sobre o empresário Fernando Sarney, a biografia diz que o senador nunca defendeu esse tipo de iniciativa. "José Sarney, que é contra a censura e nunca a exerceu em sua vida pública, credita a ação contra o jornal aos advogados do filho Fernando."

No livro, Sarney acusa o ex-senador e hoje governador Tião Viana (PT-AC) de entregar ao Estado um dossiê com informações contra ele. Esse dossiê nunca foi entregue ao jornal. Nas reportagens sobre o período, o Estado também revelou, como desdobramento das investigações, que Viana usou dinheiro público para quitar uma conta de R$ 14 mil de telefone celular da Casa em poder de sua filha. As reportagens sobre Sarney e outros senadores foram feitas com base em documentos sigilosos e públicos obtidos por meio de investigações próprias dos repórteres.

Provocadores ligados ao Sarney tumultuam o lançamento do livro "Honoráveis Bandidos":



A confusão começou quando um grupo de estudantes ligado ao PMDB arremessou ovos e uma torta em direção a Palmério, na sede do Sindicato dos Bancários do Maranhão, em protesto contra o livro, que aborda a trajetória e escândalos envolvendo a família Sarney.

Os estudantes se voltaram contra os ex-governadores José Reinaldo Tavares (PTB) e Jackson Lago (PDT), inimigos políticos do presidente do Senado, que participavam da sessão de lançamento do livro. Gritos de “Jackson ladrão, envergonha o Maranhão”, “mentira” e “viva Sarney” soavam de um lado. “Fora, Sarney”, de outro. Cadeiras foram arremessadas e pessoas empurradas de lado a lado. Uma das manifestantes deixou cair a bolsa. Ela foi identificada, posteriormente, como assessora de um secretário da governadora Roseana Sarney.

Lei da força bruta

Em nota divulgada à imprensa, o Sindicato dos Bancários condenou a violência e disse que o episódio relembra o tempo em que prevalecia no estado “a lei da força bruta, da intolerância, em que as diferenças eram resolvidas pela pancadaria".

Os autores do livro relataram o episódio em nota enviada à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e à Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Segundo Mylton e Palmério, nenhuma livraria da capital maranhense aceitou promover o evento. Na antevéspera do lançamento da obra, a empresa responsável pelos outdoors que anunciavam a cerimônia devolveu o dinheiro à editora (Geração) e mandou “raspar” as peças. Segundo os autores, apesar da confusão, mais de 500 livros foram autografados na mesma noite.

Veja a íntegra da carta assinada pelos dois jornalistas autores do livro:

“Os jornalistas abaixo-assinados, Palmério Dória e Mylton Severiano, denunciam aqui a ação fascistoide de um grupo de jovens, a mando do grupo ligado a José Sarney, em São Luís do Maranhão.

1. Antecedentes. Palmério, autor do livro Honoráveis Bandidos, da Geração Editorial, e Mylton, co-autor, a convite de jornalistas de São Luís, aceitaram lançar o livro na capital maranhense, ontem, dia 4 de novembro de 2009, às 19 horas. Para começar, nenhuma grande livraria local, ou entidade, aceitou promover o evento, além do que nem sequer aceitam o livro em suas prateleiras. Até que, lembrado o Sindicato dos Bancários, suas portas se nos abriram e para ali ficou marcado o lanç amento. Na antevéspera, mais um ato que lembra métodos fascistas: a empresa responsável pelos outdoors que anunciavam o evento devolveu o dinheiro aos promotores e mandou “raspar” as peças.

2. O clima à nossa chegada, na terça, véspera do ato, começou a ficar “esquisito”, quando na coletiva à imprensa, numa sala do Sindicato, alguns colegas nos perguntaram se a gente não tinha “medo”. Falou-se em “corte de energia” durante o evento, brincou-se com a possibilidade de cada um levar uma vela, e alguns dos colegas não descartaram até atos de violência. À noite, em programa ao vivo na rádio Capital, vários ouvintes nos alertaram para aquelas possibilidades – “ele são capazes de tudo”, “cuidado”.

3. Ontem, quarta, no fim da manhã, uma colega, Jane Lobo, mais realista, aconselhou – e acatamos – a pedir proteção.

4. Veio a noite. O auditório do Sindicato dos Bancários, na Rua do Sol, estava superlotado, havia muita gente em pé Um ambiente familiar – gestantes, gente idosa, crianças pequenas e grandes, estudantes. Por ali passaram mil pessoas.

5. Iniciada a sessão pelo coordenador Marcos Nogueira, quando Palmerio passa a falar sobre o conteúdo do livro, eis que do nosso lado direito uma vintena de jovens, na maioria rapazes e umas poucas moças, prorrompem em berros, aos poucos distinguimos “Jackson ladrão, envergonha o Maranhão”, “mentira”, “viva Sarney”. As pessoas mais próximas se levantam e se afastam, abrindo um claro. Os baderneiros abriram suas camisas, pondo à mostra uma camiseta em que se lia Navalhada de Bandidos e atrás de grades Jackson Lago, o governador que a família Sarney derrubou num golpe do judiciário. Dentre os baderneiros, um rapaz, possesso, ergueu uma das pesadas cadeiras e a arremessou na direção do palco onde estávamos. Imediatamente uma chuva de objetos voou sobre a mesa – bolas de papel molhado, ovos e até pedras – junto com xingamentos e outros impropérios.

6. Seguiu-se um quebra-quebra, pancadaria, promovida pelos baderneiros.

7. Passada a estupefação, os presentes mais os seguranças providenciados pelo Sindicato passaram a expulsar os baderneiros do local aos tapas e empurrões. Boa parte do público se retirou, preocupada, “eles vão voltar”.

8. Reiniciado o ato, os presentes cantaram Oração Latina, puxada ao violão pelo cantor e compositor Cesar Teixeira. A platéia e políticos, das mais diversas extrações, se deram as mãos durante o canto.

9. Felizmente nenhuma criança se feriu. Uma pessoa das relações de Jackson Lago foi buscar seu carro na rua de trás do Sindicato, Rua dos Afogados, e testemunha: ali havia cinco viaturas da PM, esperando o quê, não se sabe E, praticamente no mesmo instante, menos de cinco minutos depois, Décio Sá, jornalista “guerrilheiro” dos Sarney, que se encontrava em Fortaleza, já postava em seu blog notícia em que os baderneiros viraram estudantes que protestavam contra o lançamento do l ivro e “foram atingidos por cadeiras, pedras, socos e pontapés e revidavam como podiam”.

10. Enquanto os autores retomavam a sessão, um grupo foi à delegacia de polícia mais próxima registrar B.O., Boletim de Ocorrência. Dissemos que os baderneiros vieram a mando do grupo ligado a José Sarney e eles próprios, desastrados, se encarregaram de deixar prova cabal: uma moça, Ana Paula Ribeiro, tida nos meios estudantis como “estudante profissional”, ao sair correndo deixou cair a bolsa, com sua identidade dentro. A moça trabalha simples mente com Roberto Costa, secretário de Esporte e Juventude da governadora Roseana Sarney.

11.Toda a confusão armada pelos baderneiros foi fotografada e filmada por profissionais contratados pelo evento.

12. Mesmo com este ataque fascistoide, Palmerio e Mylton assinaram mais de 500 livros, o que demonstra a sede de informação sobre a família que há meio século governa o Maranhão.

Palmerio Dória e Mylton Severiano

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