terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Soldados líbios desertam em Tobruk; moradores controlam a cidade

Cidade de Tobruk

O lado líbio da fronteira egípcia estava nesta terça-feira sob controle de rebeldes armados com cassetetes e fuzis Kalashnikov, que saudaram visitantes vindos do Egito, relatou um correspondente da Reuters que atravessou a fronteira, entrando na Líbia.

Soldados líbios na cidade de Tobruk disseram que eles não apoiam mais o líder líbio, Muammar Gaddafi, e confirmaram que o leste do país está fora do controle do governo. Moradores afirmaram que a cidade está agora em mãos do povo e vem sendo assim há três dias.

"Todas as regiões do leste estão agora fora do controle de Gaddafi... O povo e o Exército estão lado a lado aqui", disse o agora ex-major do Exército Hany Saad Marjaa.

O correspondente relatou que, quando passava pela cidade de Musaid, no lado líbio da fronteira, um dos rebeldes ergueu de ponta-cabeça uma foto de Gaddafi sobre a qual estava rabiscado "tirano açougueiro, assassino de líbios". Os rebeldes davam as boas-vindas aos carros e permitiam sua passagem pela fronteira.

O Exército do Egito disse que os guardas líbios da fronteira partiram e que o lado líbio da fronteira estava sob o controle de "comitês populares", sem dar detalhes sobre a fidelidade dos comitês.

Testemunhas disseram na terça-feira que Gaddafi usou tanques, helicópteros e aviões de guerra para combater a revolta crescente. O líder veterano zombou de relatos segundo os quais estaria fugindo, depois de quatro décadas no poder.

As manifestações se espalharam para Trípoli, partindo de Benghazi, a segunda maior cidade do país e berço da revolta, que já chegou a várias cidades. Moradores de Benghazi dizem que a cidade agora está sob controle dos manifestantes.

Um líbio que não pôde ser identificado disse ao correspondente da Reuters em território líbio que Benghazi foi "libertada" no sábado de um batalhão pertencente a um dos filhos de Gaddafi.
Cemitério Militar em Tobruk

Enquanto o correspondente passava de carro por um trecho de estrada no deserto, com ocasionais rebanhos de cabras e casinhas de tijolos, grupos de rebeldes com fuzis de assalto e espingardas nas mãos acenavam alegremente para os carros que passavam.

"Foto! Foto!", eles diziam, fazendo o sinal de V de vitória com os dedos e posando com suas armas. Um dos líbios, zombando do culto à personalidade cultivado por Gaddafi, apontou para uma pichação que dizia "nenhum Deus senão Alá".

As forças de segurança vêm reprimindo manifestantes com ferocidade em todo o país. Os combates explodiram no leste produtor de petróleo da Líbia na semana passada, em uma reação a décadas de repressão e após levantes que derrubaram líderes na Tunísia e no Egito, e depois chegaram a Trípoli.

"ISTO É GENOCÍDIO"

Falando à Reuters pelo telefone desde a cidade líbia de Al Bayda, um líbio descreveu nesta terça-feira como forças usando aviões e tanques mataram 26 pessoas durante a noite, incluindo seu próprio irmão.

Neste momento os líbios "estão com medo das próprias sombras," disse Marai Al Mahry, da tribo Ashraf, que identificou seu irmão morto como Ahmed Al Mahry.

"Isto é pior do que qualquer pessoa pode imaginar, é algo que nenhum humano pode compreender. Estão nos bombardeando com aviões, estão nos matando com tanques", disse Mahry, chorando incontrolavelmente enquanto apelava por ajuda.

Mahry acusou forças leais a Gaddafi de cometer matança indiscriminada nas ruas da cidade costeira situada a leste de Benghazi. "Eles atiram contra pessoas simplesmente por estarem andando na rua."

Não foi possível obter confirmação independente de seu relato.

"A única coisa que nos resta fazer agora é não desistir, não nos rendermos, não voltar atrás. Vamos morrer de qualquer maneira, querendo ou não. Está claro que eles não se importam se vivemos ou não. Isto é genocídio", disse Mahry, de 42 anos.
A ocupação militar de Tobruk durante a II Guerra

Descrevendo o clima de medo criado pela repressão, ele disse: "Os líbios estão com medo das próprias sombras. As crianças não conseguem dormir. É como se estivéssemos em outro planeta."

Ansioso por transmitir sua mensagem para o vizinho Egito e mais além, ele disse: "Peço às pessoas do mundo - peço aos egípcios - que rezem por nós, que se manifestem por nós."

Os novos governantes militares do Egito - que assumiram o poder após a derrubada do presidente Hosni Mubarak, em 11 de fevereiro - disseram que o principal ponto de travessia da fronteira ficará aberto 24 horas por dia para permitir a entrada de feridos e doentes.

Fonte: Reuters


História de Tobruk na II Guerra

Antes da guerra contra os aliados capitaneados pelos ingleses, para os quais perderam a batalha, os italianos, que controlavam junto com as demais força do eixo a região, tinham convertido Tobruk em uma poderosa fortaleza, rodeando-a com um potente cinturão defensivo. Em torno do porto e de frente para o deserto, construíram uma cadeia de 170 redutos fortificados, de cimento armado, totalmente enterrados na areia.

No dia 20 de junho de 1942, as tropas alemãs na África iniciaram o ataque decisivo de reconquista o porto líbio de Tobruk. Desde 1941 dominada pelos ingleses, a cidade tinha importância estratégica para o avanço do Afrika Korps de Hitler. A batalha durou 25 horas e foi o ponto alto da carreira do marechal-de-campo Erwin Rommel.

Às 5:20h da manhã de 20 de junho de 1942, o Afrika Korps alemão atacou a cidade portuária de Tobruk, na Líbia. Sob o comando do general Erwin Rommel, uma infantaria e duas divisões de tanques, apoiadas pela força aérea e pelo 20º exército italiano, abriram fogo.

Por volta das 9 horas, os agressores atingiram o cruzamento da rua Via Balbia com a estrada para El Adem, chamada King’s Cross pelos ingleses. A contra-ofensiva da 32ª brigada de tanques britânicos chegou tarde demais. Com a tomada do King’s Cross, às 13h30min, a queda de Tobruk nas mãos dos alemães estava praticamente selada.

A resistência ainda continuou até o dia seguinte. Vinte e quatro horas depois do primeiro tiro, os alemães chegaram ao porto. Um correspondente de guerra narrou assim os acontecimentos: “São 5:10h da manhã. Começou o segundo dia da batalha por Tobruk e, na verdade, ele prenuncia o fim da operação. A noite passada foi iluminada pelos lança-chamas. Agora, aqui no porto de Tobruk, ergue-se uma enorme coluna de fumaça, uma parede que se estende de leste a oeste. A nuvem de fumaça sobe de um depósito de petróleo, incendiado por soldados em fuga. Ela paira como um sinal de infortúnio sobre a fortaleza”.

Valor estratégico para abastecimento

Às vésperas da guerra, a cidade foi defendida por cerca de 25.000 soldados. Covas, buracos e pequenos túneis abrigam a guarnição britânica, que resiste ao assédio das forcas do Eixo.

Dentro do contingente de Tobruk houve, entre eles, uma divisão australiana, um esquadrão da Guarda de Dragões do Rei, um batalhão de Fuzileiros Reais de Northumberland, destacamentos da Real Armada, da RAF, dos regimentos de tanques, um esquadrão da Cavalaria hindu e uma brigada de infantaria polonesa.

Tobruk, que em tempos de paz tinha só uma população de 4 mil habitantes, situa-se na costa da Líbia, junto a uma ampla baía de águas profundas. Era, portanto, um dos melhores portos naturais da costa norte-africana, o que lhe dava um imenso valor estratégico como centro de abastecimento. Foi disputadíssima durante toda a Segunda Guerra Mundial. Utilizada primeiramente pelos italianos como base para seus ataques à Cirenaica, em janeiro de 1941 passou ao controle dos ingleses.

Rommel já havia tentado ocupar Tubruk um ano antes. Na ocasião, as tropas inglesas no norte da África, enfraquecidas por perdas sofridas na Grécia, tiveram de recuar até a fronteira do Egito, mas conseguiram defender Tobruk. Rommel fracassou devido a excessivas perdas no flanco sul e porque Tobruk era abastecida constantemente pelo mar. Além disso, foi surpreendido pela resistência de unidades neozelandesas, que se destacaram por sua bravura na defesa do porto, como lembra o historiador Barton Maughan. Depois de sitiar a cidade durante 242 dias, Rommel viu-se obrigado a interromper a campanha.

Esse fracasso, porém, não deveria se repetir em junho de 1942. A Operação Veneza, destinada a expulsar os ingleses da África do Norte, tinha sido melhor preparada. Subestimando o significado estratégico de Tobruk, os ingleses haviam deixado ali apenas a inexperiente segunda divisão sul-africana. Desta vez, as tropas alemãs levaram apenas um dia para conquistar a cidade. Às 6:30h, o comandante da fortaleza, general Klopper, entregou-se aos nazistas, fato que a rádio oficial alemã registrou com a seguinte notícia:

“Do quartel geral do Führer, 21 de junho de 1942. O comando superior da Wehrmacht (Forças Armadas) informa: tropas alemãs e italianas, comandadas pelo general Rommel, tomaram a maior parte da cidade de Tobruk. Em conseqüência, um parlamentar inglês propôs a comandantes do exército italiano a entrega da fortaleza. A cidade e o porto estão ocupados. Até agora, foram presos mais 25 militares, entre eles vários generais, e apreendido um volume inestimável de armas.”

0 comentários :

Postar um comentário

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | belt buckles