terça-feira, 20 de setembro de 2011

Reflexões sobre os Guarani e a Proteção da Natureza no RS

Por Denise Wolf

Na medida que conhecemos as aldeias, as famílias, os(as)Karaí (xamãs, pajés), as lideranças e os ambientes naturais onde vivem muitos guarani, especialmente no RS, percebemos que a cultura guarani vive até então porque ela jamais morreu na maior parte das almas guarani, onde a terra e a natureza tem lugar especial, espiritual.

Quando refletimos sobre a importância da gestão socioambiental para as cidades, estados e países, num momento de crise socioambiental global, percebemos que existem tragédias demais, mas também pesquisas, experiências, ações, políticas e ferramentas bem sucedidas na construção de uma sociedade mais socialmente justa e ambientalmente sustentável.

Considero admirável um povo indígena que teve sua população e território reduzidos e que não é responsável pelos incríveis impactos ambientais produzidos por uma sociedade que, no mínimo, os ignorou ao longo da história, esteja hoje construindo, executando e protagonizando projetos conosco, refletindo e agindo, multiplicando e plantando espécies, manejando e conservando ambientes naturais.

Quando apresentamos na aldeia da Lomba do Pinheiro, em 2004, a proposta de construir um viveiro/estufa para cultivar e depois plantar nas aldeias espécies vegetais nativas para eles importantes, conversamos intensamente durante mais de um ano sobre a iniciativa, inicialmente rejeitada por alguns, com profundas explicações.

Solicitaram então um tempo para pensar, conversar, rezar, sonhar e conversar com os Karaí. As questões do espaço, do uso da terra e especialmente as questões espirituais envolvidas eram significativas. Após cerca de dois anos concluíram que havia chegado a hora de ajudar Nhanderu(Deus, Pai, Criador). Então se partiu para a elaboração conjunta do projeto arquitetônico, para a localização, construção, a "benção” e ações no poarenda (viveiro).

Respeitando o dom e a missão de cada um, como dizem os guarani, os(as) plantadores(as) ou cuidadores(as) vêm assumindo o cultivo, milhares de mudas estão sendo plantadas nas aldeias e o viveiro, em ampliação, transformou-se num importante espaço. Hoje, estamos planejando e construindo novos viveiros com outras aldeias no RS.

Essa experiência, entre muitas outras, demonstra que os guarani são aliados e não inimigos na proteção da biodiversidade. O povo guarani precisa ser ouvido, suas tradições respeitadas, suas terras garantidas e sua participação assegurada na criação, implantação e gestão das unidades de conservação da natureza, criadas ou em criação, visando a promoção de um desenvolvimento socioambiental verdadeiramente sustentável. (EcoAgência).


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