domingo, 6 de março de 2011

ONDA DE REVOLTAS NO ORIENTE: Economia por si só não explica rebeliões


Tunísia e Egito estão entre os 14 de 135 países em que os indicadores sociais mais evoluíram, na média, nos últimos 40 anos, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano de 2010. A economia da Tunísia cresceu cerca de 4,7% de 2005 a 2009; o Egito, 6% (o Brasil, 3,6%).
Egito e Tunísia foram focos de revoltas contra governos autoritários no Norte da África e no Oriente Médio. Se desempenho econômico e situação social motivaram o tumulto, seus indicadores mais evidentes não parecem ligar causa a efeito, porém.
Ainda assim, algumas características socioeconômicos desses países poderiam explicar por que observadores da revolta egípcia ou tunisiana atribuem a revolta ao protesto de jovens sem trabalho ou à carestia da comida.
Ao contrário do resto de quase todo o mundo, na Tunísia, no Egito e na Jordânia, o desemprego entre pessoas que fizeram o ensino superior (15%) é maior que o da média nacional (12%). Desde 1990, a taxa de matrícula no ensino superior foi de 14% a 28% no Egito, e de 8% a 34% na Tunísia. No Brasil, a taxa comparável é de 34%.
Tunísia e Egito fazem parte de um grupo de países chamado de Mena6, junto de Jordânia, Líbano e Marrocos (há também o Mena dos exportadores de petróleo).

DESEMPREGO
O Mena6, sigla em inglês para Oriente Médio e Norte da África, é o grupo de países com a maior taxa média de desemprego (em torno de 12%) e também entre os jovens (22%), o dobro das taxas de economias desenvolvidas e quase 80% maior que a média latino-americana.
No Egito, cerca de 90% dos desempregados têm menos de 30 anos. Uma causa maior do desemprego é o crescimento rápido da população em idade de trabalhar, de 2,7% ao ano no Mena6, menor apenas que nos países da África subsaariana. As economias do Mena precisariam crescer entre 6% e 7% ao ano a fim de reduzir o desemprego na próxima década.
Apesar da aceleração do crescimento a partir de meados da década passada, os países do Mena6 são retardatários. Desde 1990, cresceram um terço menos que a média dos "emergentes".

INFLAÇÃO
A taxa média de inflação não parece também uma causa comum de deterioração da qualidade de vida nos países do Norte da África e do Oriente Médio. A inflação no Egito é cronicamente alta, e chegou a quase 11% em 2010.
No rico Bahrein, a inflação foi de 1,5%. Na Tunísia, de cerca de 4,5%, assim como na Líbia, ora em guerra civil. O PIB líbio cresceu 10,6% e o PIB per capita é quase o triplo do egípcio, além de o Estado oferecer mais serviços sociais, pagos com petróleo.
Mas o preço dos grãos chegou a subir 30%, e a inflação anual da comida é de 20% no Egito, onde trigo e milho são os alimentos básicos dos 40% da população pobre. Em 2008, já houvera protestos de rua contra a carestia.
A inflação dos alimentos deveu-se ao aumento do consumo global, liderado por China e Índia, e de alguma especulação financeira. Mas não apenas. Na Tunísia e, em particular, no Egito, houve redução da subvenção estatal ao consumo de comida (e de combustíveis), a fim de reduzir o gasto público.

ECONOMIAS DIFERENTES

As economias do Mena6 são diferentes do grupo Mena-exportador de petróleo: a renda per capita é menor, oferecem menos serviços sociais, são menos integradas ao comércio mundial. Mas dentro do Mena6 há diferenças grandes também entre Egito e Tunísia, por exemplo, os focos da revolta.
A economia tunisiana é sincronizada com a da União Europeia. Entre 75% e 90% das receitas de exportação, turismo, de remessas de imigrantes e do investimento estrangeiro (somados, 75% do PIB) vêm da Europa. A recessão de quase 5% na eurozona empobreceu os tunisianos, em particular os dependentes de remessas de parentes trabalhadores na Europa.(Folha)

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