segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Terrorista mercenário veio de Israel para explodir bicheiro


O desdobramento da Operação Guilhotina promete devassar uma série de assassinatos de grande repercussão ocorridos nos últimos anos no Rio de Janeiro. São casos em que há evidências da participação de policiais civis e militares, que tinham acesso livre à cúpula da Polícia Civil, em mais de 15 homicídios. A informação sobre o envolvimento dos agentes foi encaminhada na terça-feira pelo Ministério Público Estadual e pela Polícia Federal à Secretaria Estadual de Segurança.

Entre os crimes, está o atentado ao bicheiro Rogério Andrade, em abril, na Barra da Tijuca, que liga bicheiros e policiais na contratação de um israelense para instalar e detonar a bomba no carro do contraventor, que escapou com ferimentos. Na explosão, morreu o filho de Rogério.

O relatório — com a descrição dos crimes, a forma de agir do grupo e o pedido de nova análise nas investigações — foi feito com base nas informações passadas pelos ex-informantes que ajudaram a Polícia Federal na Operação Guilhotina.

O atentado a Rogério ganha seis páginas de detalhes. Revela que o acerto final do crime foi num encontro em Duque de Caxias, onde um israelense procurado pela polícia dos Estados Unidos fechou a contratação de um amigo que veio de Israel especialmente para executar o ataque.

O crime, de acordo com o relatório, foi encomendado por dois bicheiros do Rio e contou com o auxílio de um PM, que tinha trânsito livre ao esquema de segurança de Rogério Andrade. O material para confeccionar o explosivo teria sido fornecido pelo sargento do Exército Volber Roberto da Silva Filho, morto ano passado por agentes da Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (Drae).

A bomba teria sido colocada no carro do bicheiro quando ele ficou parado em um estacionamento na Zona Oeste. O ‘homem-bomba’ teria parado seu carro perto e rastejado até o veículo do contraventor. É citado no relatório que o israelense enviou mensagens via MSN para o contato no Brasil com a promessa de retornar e ‘completar o serviço’.

O documento com os crimes cometidos pelos agentes investigados na Operação Guilhotina revela ainda bastidores da pistolagem no Rio de Janeiro, que inclui até um consórcio de mais de 20 homens para atuar em empreitadas. ‘Mão-de-obra’ empregada, segundo as investigações, na morte de quatro empresários e uma funcionária ligados à venda de títulos de clubes de turismo no Rio. Uma das vítimas do grupo teria sido o ex-deputado Ary Ribeiro Brum, assassinado a tiros de fuzil, na Linha Vermelha, em 2007.

Outros casos suspeitos

CAMELÓDROMO
Alexandre Frais Pereira foi morto em Caxias, em maio de 2007, e o crime estaria relacionado a disputa pelas propinas no Camelódromo, onde a vítima presidia a associação dos ambulantes. Um grupo de policiais planejava ‘tomar conta’ dos negócios e esbarrou em Alexandre. Uma semana após o crime, um almoço realizado num restaurante no Centro do Rio celebrava a criação da nova associação e a ‘parceria’ com um grupo de policiais. O encontro foi comandado por um delegado .

BRIGA NA SEGURANÇA
O relatório aponta alguns crimes na disputa pela segurança do contraventor Rogério Andrade. Um deles seria o atentado a bomba sofrido pelo sargento Ronnie Lessa, que é atribuído ao ex-sargento do Exército Volber Roberto da Silva Filho. O militar foi morto numa ação da Polícia Civil, no ano passado, durante uma troca de tiros num motel em Jacarepaguá. O tiroteio, segundo o relato dos informantes, teria sido uma farsa para encobrir o assassinato de ex-sargento.

BICHEIRO SUSPEITO
Outra série de assassinatos teria sido cometida, segundo o documento, a mando do bicheiro José Luiz Barros Lopes, o Zé Personal, que administra um pedaço do espólio do contraventor Valdomiro Paes Garcia, o Maninho. São cinco inquéritos citados no levantamento e, entre eles, o desaparecimento de quatro rapazes, a morte de um ex-colaborador e personalidades do samba. Alguns crimes teriam ocorrido durante a briga com o irmão de Maninho, Alcebyades Garcia, que reivindicava a administração dos negócios do irmão e do pai, Valdomiro Garcia.

SUMIÇO DA CHINESA
O documento aponta que entre os crimes atribuídos ao grupo de policiais civis e militares está o desaparecimento da chinesa Ye Goue, em junho de 2008, depois que ela trocou R$ 220 mil em U$ 130 mil dólares numa casa de câmbio, na Barra da Tijuca. O crime teria ocorrido durante uma extorsão à família da vítima.

MILÍCIA NA BAIXADA
A morte de Carlos Davi, em julho do ano passado, aparece no relatório como causa de uma crise interna em uma milícia de Nova Iguaçu, Baixada Fluminense. O assassinato ocorreu um dia antes de Carlos ser ouvido no Fórum da cidade para acusar dois policiais civis e dois militares — um deles, PM emprestado à Polícia Civil e lotado na Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (Drae).

DISPUTA FATAL
A morte de dois policiais militares também está na lista dos crimes que devem ser investigados. Eles teriam sido mortos durante a divisão de 100 quilos de cocaína, apreendida durante uma extorsão a um traficante em Vitória, no Espírito Santo. Os suspeitos seriam dois PMs que durante anos foram lotados em delegacias do Rio.

Ex-PM acaba morto depois de assassinar delegado

Na lista de homicídios que sugere nova apuração, estão os que vitimaram o delegado Alcides Iantorno e o seu matador, o ex-PM Alexandre Lins de Medeiros. Conforme o documento, o policial teria sido morto depois de discutir com contraventor da Zona Norte. Um dos seguranças do bicheiro faria parte do consórcio e teria chamado um amigo para cometer o crime: o ex-PM, com quem trabalhara numa delegacia especializada e que era inimigo de Iantorno.

No plano, só ocorreu um problema: o ex-PM foi reconhecido e houve a necessidade, no dia seguinte, de ‘limpar a sujeira’. O agente ligou e combinou encontro com Alexandre, em Rocha Miranda, onde ele foi assassinado.
As armas encontradas na casa do ex-policial, detalham os informantes, pertenceriam à milícia da Favela da Praia de Ramos.

Outra forma de operar dos policiais investigados pela Operação Guilhotina, traçada na apuração da Polícia Federal, seria a de se valer das amizades na cúpula da Chefia da Polícia Civil para designar os ‘parceiros’ como responsáveis pela investigação dos assassinatos. Assim, alguns inquéritos teriam deixado a Delegacia de Homicídios do Centro para ser apurados por agentes da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense, onde o efetivo de funcionários é bem menor.

Fonte: O Dia

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