quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O misterioso sumiço das abelhas

AE

Há cerca de quatro anos, apicultores americanos, canadenses e europeus começaram a ter problemas com suas abelhas melíferas (Apis mellifera): elas estavam desaparecendo das colmeias. O sumiço estava causando prejuízo tanto aos que viviam diretamente da polinização e do beneficiamento dos produtos de origem apiária quanto aos agricultores, que dependiam dos insetos nas lavouras.

"As colmeias tinham muita cria e poucas abelhas adultas. Destas, a maioria era recém-nascida, mas a rainha continuava presente", afirma o professor de genética na Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto, David D. Jong.

O mesmo está acontecendo em Santa Catarina, onde a Federação das Associações de Apicultores e Meliponicultores (Faasc) recebeu tantas reclamações recentemente que criou uma comissão técnico-científica para estudar o assunto.

"As maiores queixas foram de apicultores do litoral sul e da Grande Florianópolis. A média de perda de colmeias relatada gira em torno de 30%", afirma Afonso Inácio Orth, professor do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e membro da comissão. Ele explica que sempre há uma perda no manejo das colmeias, algo entre 5% e 15% - 30% é muito.

Nos EUA, a "doença" do desaparecimento das abelhas foi diagnosticada como Colony Collapse Disorder (CCD). As abelhas deixam para trás cria, mel e tudo o que produzem. O curioso é que nas colmeias atacadas não se veem abelhas mortas; nem dentro, nem ao redor.

Algumas possíveis causas já foram apontadas, como o uso de novos inseticidas, aparição de vírus, problemas com a variabilidade genética, falta de alimentos adequados, fungicidas que afetam a alimentação das abelhas e a intensidade no manejo das colmeias, que são transportadas e alugadas para a polinização de lavouras em todo o País.

Ácaros como o Varroa destructor e protozoários como a Nosema, conhecidos dos pesquisadores, também foram cogitados. Mas a abelha africanizada usada no Brasil, surgida a partir da mistura de uma subespécie europeia e uma africana, é mais resistente a doenças do que as europeias e não precisa de tratamento com fungicidas e, em condições normais, resiste ao ácaro.

"Não podemos afirmar que seja o mesmo problema que ocorre nos EUA, mas os sintomas são bem parecidos", diz Orth.

Polinização e mel. De acordo com David D. Jong, o desaparecimento de abelhas já é um fenômeno mundial e pode causar danos à agricultura.

"Nos EUA, no auge dos relatos, o aluguel de uma colmeia para polinização passou de US$ 40 por mês para algo entre US$ 150 e US$ 200." Ele lembra que o Estado da Califórnia é totalmente dependente da polinização dirigida na produção de frutas e que só as plantações de amêndoa da Califórnia mobilizam 1,4 milhão de colmeias na florada.

Em Santa Catarina, os preços também dispararam na safra do ano passado. "Quem contratou de última hora pagou R$ 75 por uma colmeia que até ontem era alugada a R$ 45 por florada", afirma Orth.

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