terça-feira, 30 de agosto de 2011

Chimpanzés falam, mentem e recitam poesia usando sinais


O casal formado pelos pesquisadores Deborah e Roger S. Fouts dedicou toda sua vida a combater a ideia de que a linguagem é o "último reduto" da singularidade humana, com o resultado de mais de 40 anos de trabalho com chimpanzés que não só aprenderam a se comunicar por sinais, mas a mentir e recitar poesia.

Este casal de psicólogos do Instituto de Comunicação entre Humanos e Chimpanzés da Washington University, se aposentará dentro de poucos meses sabendo que cumpriram sua missão e que puderam desmentir muitos cientistas - entre eles o linguista Noam Chomsky -, que durante décadas negavam esta possibilidade comunicativa, explicam em entrevista à Agência Efe.

Os Fouts deram seqüência aos trabalhos iniciados nos anos 60 por outra parceria - os também psicólogos Allen e Beatrice Gardner - que a Nasa cedeu a chimpanzé Washoe depois que a agência espacial abandonasse sua pesquisa com "chimponautas".

Washoe foi introduzida em um ambiente humano onde só se falava a linguagem dos surdos-mudos, um cenário muito diferente comparado com os das equipes que, décadas antes, tentaram ensinar linguagem oral a uma chimpanzé que em seis anos só pôde pronunciar, e não claramente, quatro palavras: "mamãe", "papai", "xícara" e "em cima", explica Roger simulando os sons que saíram da boca da primata.

Os Gardner e sua equipe, no qual Roger era estagiário, acreditavam que a vocalização dos chimpanzés era involuntária, como o som que um humano faz ao bater o dedo com um martelo.

Então apostaram no movimento natural de suas mãos (como utilizam os exemplares selvagens, com dialetos próprios) e decidiram criar Washoe como uma menina surda, com a linguagem de sinais dos Estados Unidos.

A primata aprendeu mais de uma centena de sinais vendo como a equipe se comunicava e assim podia pedir comida ou que lhe coçassem, ou expressar conceitos complicados como "estou triste" ou pedir perdão.

Mas a vida com Washoe se tornou complicada. E logo quando os Gardner decidiram cedê-la a um centro de Oklahoma, Roger não quis deixá-la sozinha naquele laboratório - onde provavelmente passaria mal entre as jaulas junto a outros animais - e conseguiu convencer o casal para que a transferissem com ele a Washington para continuar com a pesquisa, até a morte da chimpanzé em 2007.

Em todos estes anos, o casal de pesquisadores pôde ver como Washoe ensinou a linguagem a sua "família", Tatu, Dar e Loulis - uma criação adotada que aprendeu os sinais sem intervenção humana - até níveis surpreendentes: os chimpanzés chegavam a falar sozinhos enquanto "liam" uma revista, pois são capazes a nomear o que veem nas fotografias (bebida, comida, sorvete, sapatos...).

"Falam como uma família; se uns discutiam, tentava apaziguar; quando Loulis tirava uma revista de Washoe, ela chamava a atenção dele e lhe dizia 'sujo'", explica Deborah, que indica que os primatas também sabem utilizar os sinais para mentir.

Assim é possível identificar em uma gravação na qual Dar convenceu Washoe que Loulis tinha o agredido e se atirou no chão encenando e pedindo com sinais a sua mãe um "abraço".

Por sua vez, a mãe repreendeu o suposto agressor, uma infantil malícia típica de Bart Simpson ou de um atacante de futebol para provocar um pênalti.

Mais surpreendente foi registrado em outra gravação na qual um dos chimpanzés repetia "chorar, chorar; vermelho, vermelho; silêncio, silêncio; divertido, divertido", um enigma para a equipe até que um amigo poeta do casal apontou que os sinais destas palavras eram similares e que se tratava de uma aliteração da língua de sinais, ou seja, uma composição poética.

"Há evidências que os chimpanzés são capazes de aprender os signos, de ordená-los e conversar, com sintaxes, inclusive são capazes de inventar e ensinar", explica Roger Fouts.

Apesar de anunciarem que vão se aposentar da universidade para se dedicar a seus cinco netos que veem pouco, os pesquisadores reconhecem que seguirão visitando seus outros "netos" chimpanzés.

"Não podemos explicar que temos 68 anos e nos aposentamos, então vamos continuar visitando-os, mas não todos os dias", antecipam.

O casal lamenta que a difusão de suas surpreendentes pesquisas não tenham servido para deter o maus-tratos a estes primatas, mas acreditam que estas cheguem às escolas e provoquem uma mudança de atitude nas novas gerações. (Efe)


Chimpanzés usam o dobro de gestos do que se conhecia, diz estudo

Chimpanzés selvagens usam pelo menos 66 gestos diferentes para se comunicar entre si, o dobro do que se conhecia anteriormente, de acordo com cientistas. Uma equipe de pesquisadores da Universidade de St. Andrews, na Escócia, gravou em vídeo um grupo de animais com o objetivo de decifrar seu "repertório gestual".

O time estudou 120 horas de gravações dos chimpanzés interagindo, investigando sinais de que os macacos estavam intencionalmente sinalizando uns para os outros. A descobertas foram publicadas na revista científica Animal Cognition.

Estudos anteriores com chimpanzés em cativeiro indicavam que os animais tinham cerca de 30 gestos diferentes.

"Isto mostra um repertório bastante grande", disse à BBC a chefe da pesquisa, Catherine Hobaiter.

"Achamos que as pessoas anteriormente estavam vendo somente frações disto, porque, quando você estuda os animais em cativeiro, você não vê todo o seu comportamento", diz a cientista.

"Você não os vê caçando, levando as fêmeas embora durante a 'corte' ou encontrando grupos vizinhos de chimpanzés".

Hobaiter passou 266 dias observando e filmando um grupo de chimpanzés em uma estação de conservação em Budongo (Uganda).

"Passei dois anos estudando estes animais, então eles me conhecem", afirma. "Eu os segui pela floresta e eles simplesmente me ignoraram por completo, levando suas vidas cotidianas".

Ela e seu colega Richard Byrne escrutinaram as gravações e separaram cada gesto distinto em categorias.

Eles procuraram sinais claros de que os animais estavam fazendo movimentos deliberados que pretendiam gerar uma resposta do outro animal.

"Nós tentamos ver se o animal que fazia o gesto estava olhando para o seu público", disse Byrne. "E nós prestamos atenção na persistência; se a sua ação não produzia um resultado, ele então a repetia".

A equipe ainda está estudando os vídeos para a próxima etapa de seu projeto - tentar descobrir o que cada gesto significa.

Para alguns destes gestos, o significado parece óbvio, talvez porque, como grandes primatas, nós fazemos movimentos parecidos. Um chimpanzé acena para outro membro do grupo, ou um jovem macaco cumprimenta o outro para convencê-lo a brincar.

Dicionário de gestos Em um trecho dos vídeos feitos por Hobaiter, uma mãe estende seu braço esquerdo na direção de sua filha.

"A mãe quer sair dali e faz o gesto para pedir que sua filha 'monte' nela", explica Hobaiter. "Ela poderia somente agarrar a sua filha, mas ela não o faz. Ela estende o braço e mantém o gesto enquanto espera uma resposta."

Quando a jovem começa a se aproximar, a mãe repete o gesto e acrescenta uma expressão facial - um "sorriso" bem aberto, a partir do que a filha "monta" e elas então deixam o local.

"Mas as ações muitas vezes têm efeitos que o seu autor não pretende", diz Byrne.

"Assim, para entender o significado pretendido, não adianta somente descobrir o efeito típico de um gesto. Nós temos que investigar que efeito faz o agente parar de gesticular e parecer satisfeito e contente com o resultado, para estar certo de que era aquilo que ele pretendia."

Os resultados forneceram dicas sobre as origens dos gestos dos chimpanzés, indicando que eles são um sistema comum de comunicação que permeia a espécie, em vez de cada movimento ser um hábito adquirido ou um ritual dentro de um grupo social.

Na verdade, ao comparar estas observações com as feitas com o gestos dos gorilas ou dos orangotangos, os pesquisadores mostraram que havia uma sobreposição significativa dos sinais usados pela família dos grandes primatas.

"Isto sustenta a nossa crença de que os gestos usados pelos macacos (e talvez alguns gestos humanos também) são derivados da antiga linhagem compartilhada por todas as espécies de grandes primatas existentes hoje", diz Hobaiter. (BBC)


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