sábado, 12 de março de 2011

Chuva isola o litoral do Paraná: Morretes e Paranaguá decretaram estado de emergência

No bairro do Rocio, em Morretes, a água invadiu as casas, surpreendendo os moradores

Casas alagadas, famílias desabrigadas, cidades inteiras sem água e rodovias interditadas por causa de deslizamentos de terra. Esse é o cenário no litoral paranaense depois das fortes chuvas que atingiram a região entre a madrugada e a manhã de ontem. Quatro cidades foram as mais afetadas: Morretes, Paranaguá, Antonina e Guaratuba. Segundo a Defesa Civil Estadual, pelo menos 16 mil pessoas foram afetadas pela chuva e 4.594 tiveram de deixar suas casas. Ao todo, 648 imóveis foram danificados. Em Guaratuba, uma pessoa está desaparecida. Os principais acessos rodoviários à região estão bloqueados, sem previsão de liberação.

A situação mais grave ocorreu em Morretes, que decretou estado de emergência – com isso, o município pode pedir recursos federais para reparar os estragos. A prefeitura informou que cerca de 80% da área urbana foi afetada pelas águas dos rios Marumbi, Nhundia­quara e São João. Até o fechamento desta edição, aproximadamente 10 mil pessoas foram prejudicadas. Cerca de 560 casas ficaram danificadas. No bairro mais afetado, o Rocio, os moradores saíram das casas com a água na altura do peito durante a madrugada. Até o início da noite de ontem, aproximadamente 200 pessoas que perderam suas casas foram encaminhadas para o Colégio Estadual Rocha Pombo.

Em Paranaguá, que também declarou estado de emergência, o bairro de Alexandra, na área rural, estava ilhado até as 19 horas de ontem. Um córrego que transbordou logo na entrada do bairro impedia até mesmo o acesso de veículos pesados da Defesa Civil. Uma mulher, assustada com o de­­sastre, teve um princípio de enfarte e precisou ser resgatada de helicóptero. Quem perdeu a casa foi orientado a se dirigir para a Escola Municipal Tira­dentes. Ao mesnos oito famílias passariam a noite no local. Toda a cidade estava sem água por causa da queda de uma barreira que in­­terrompeu o curso de água de um manancial. A previsão era de que o serviço fosse restabelecido hoje pela manhã. As aulas na rede municipal também foram suspensas.

Menos afetada, a cidade de Gua­ratuba também registrou estragos. O último boletim divulgado pela Defesa Civil do estado, às 18 horas de ontem, contabilizava cerca de 1,5 mil afetados na cidade. O bairro de Limeira, na região rural, permanecia ilhado e cerca de 30 pessoas aguardavam a chegada das equipes de resgate. De acordo com o capitão do Corpo de Bombeiros Emanuel Benghi, por telefone, um morador de Limeira contou que quando a chuva começou, a comunidade estava em um velório e foi surpreendida pela chuva. O sepultamento acabou não ocorrendo. Segundo Benghi, hoje pela manhã um helicóptero deve ir ao local para remover o corpo. “Como eles estão em local seguro, a prioridade é tirar o corpo de lá, por questões sanitárias, já que o cemitério está debaixo d’água”, afirma.

Em Antonina, vários bairros foram afetados e durante a noite de ontem moradores foram para as ruas com medo de que a água invadisse as residências ou de que a estrutura das casas desabasse. Na região central da cidade, faltavam luz e água. Dez desabrigados tiveram de ser levados para hotéis da cidade. De acordo com o Corpo de Bombeiros, em pouco mais de três horas houve mais de 40 chamados de resgate. O próprio quartel da corporação foi afetado: na frente do local a correnteza era grande, o que dificultava a movimentação das equipes.

De acordo com o Instituto Tecnológico Simepar, entre quinta-feira e sexta-feira choveu na região litorânea quase metade do esperado para todo o mês de março. Foram 115 milímetros de chuva na estação de Morretes. A média histórica para o mês é de 268 milímetros.

Luz e água

A Sanepar informou que toda a cidade de Morretes está sem água. Em nota, a empresa informou que o sistema de tratamento foi afetado por danos na rede de energia elétrica. Equipes estão trabalhando para resolver o problema, mas não há previsão para a retomada do abastecimento. Já a Copel informou que 11.066 residências ficaram sem energia em Morretes, An­­tonina e Guaraqueçaba. Segundo a Copel, técnicos da empresa estão tendo dificuldades para chegar até as áreas afetadas e realizar os reparos.

População foi surpreendida pela água

Acostumada com a chuva forte que castiga o litoral nessa época do ano, a população foi pega desprevenida, já que o temporal começou de madrugada, quando a maioria estava dormindo. No bairro Jardim América, em Morretes, a dona de casa Maria de Lourdes Alencar, de 84 anos, lamentava e ao mesmo tempo se conformava com a situação. “Foi chuva que Deus mandou. Na minha casa, nada mais presta”, disse ela, que ficou presa dentro de casa, por ser cadeirante.

A neta Geanira Alencar, que mora em Paranaguá, foi avisada e correu para socorrer a avó. Como Maria de Lurdes é hipertensa, Geanira preferiu levá-la ao hospital, empurrando a cadeira de rodas pelas ruas alagadas.

O motorista Edson Sidval Cardoso, que reside na Rua Olavo Francisco Rebello, no Rocio, salvou apenas o colchão e algumas roupas de dentro de casa. Quando começou a erguer os móveis e eletrodomésticos durante a madrugada, a água chegou próximo da altura da janela, fazendo com que fogão, geladeira, outros eletrodomésticos e até a comida fossem totalmente perdidos. “Saí com água na altura do peito”, contou.

O aposentado Jair Pereira, que reside na mesma rua, perdeu uma quantidade menor de móveis. Mesmo assim, correu para socorrer os dois cachorros. “Esperei até onde deu e deixei eles em cima da mesa. Não perdi alimentos nem a geladeira, mas muita coisa vai direto para o lixo. Estou tentando me consolar”.

Abrigo público

Centenas de famílias desabrigadas foram encaminhadas para o Colé­gio Estadual Rocha Pombo. Uma das primeiras a chegar foi Marga­reta de Lara Rosa, com a filha Érica Cristina da Rosa e os netos João Vitor (3 anos), Letícia (2 anos) e Israel (1 ano). Eles saíram ainda de madrugada, quando foram acordados por volta das 3 horas por vizinhos. “Só deu tempo de sair e pegar as crianças. Em pouco tempo a água ultrapassou as janelas. Nem conseguimos voltar para erguer nada”, diz.

Cansadas, as crianças dormiram em cima da mesa do refeitório da escola. A Defesa Civil municipal informou que solicitou colchões para atender as famílias. (GP)

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