quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A vida após o Capitalismo

Londres – Em 1995 publiquei um livro chamado O Mundo Após o Comunismo ( The World After Communism ). Hoje eu penso se haverá um mundo após o capitalismo.

A questão não é conseqüência da pior crise econômica desde 1930. O Capitalismo sempre viveu crises, e sempre viverá enfrentando-as. Contudo, ele vem do sentimento de que a Civilização Ocidental está crescentemente insatisfeita amparada em um sistema de incentivos que são essenciais para a acumulação da riqueza, mais mina a capacidade de desfruta-la. O Capitalismo pode estar próximo de exaurir sua capacidade de criar uma vida melhor – pelo menos nos paises mais ricos.
Por “melhor”, quero dizer eticamente, não materialmente. Ganhos materiais continuarão, não obstante evidências mostrarem que elas não satisfazem mais as pessoas. Minha insatisfação é com a qualidade da civilização na qual a produção e o consumo de bens desnecessários tornou-se a principal ocupação das pessoas.
Isto não é para denegrir o capitalismo. Isto foi, e é, um sistema soberbo para superar a escassez. Em organizar a produção com eficiência, e dirigi-la no objetivo do bem estar ao contrario do poder, ele tirou uma grande parcela da população do mundo para fora da linha de pobreza.
O que aconteceu a este sistema quando a escassez evolui para a fartura? Ele deve continuar em produzir mais do mesmo, estimulando alegrias, excitação e apetites com novas quinquilharias. Quanto tempo isto poderá durar? Passaremos o século vindouro chafurdando em trivialidades?
A maior parte do século passado, a alternativa ao capitalismo foi o socialismo. Mas o socialismo na sua forma clássica fracassou – como tinha que fracassar. A produção estatal é inferior a produção privada por diversas razões, não apenas por destruir a oportunidade de escolha e variedade. E, desde o colapso do comunismo, não há uma alternativa valida ao capitalismo. Alem do capitalismo, parece, alongar-se a visão do..... capitalismo.
Sempre houve uma grande questão moral acerca do capitalismo, a qual pode ser deixada de lado visto o capitalismo ser tão bem sucedido em gerar riqueza. Hoje, quando já quase temos toda a riqueza de que necessitamos, estamos certos em pensar se custo do capitalismo vale o que ele impôs.
Adam Smith, por exemplo, reconheceu que a divisão do trabalho imporia as pessoas o embrutecimento visto tirar-lhes fora de suas especializações. Embora, reconhecesse que era um preço a pagar – possivelmente compensado pela educação – que valha pagar, visto a expansão do mercado aumentaria o crescimento da riqueza. Isto o tornou um defensor fervoroso do livre comércio.
Os apostolos do comércio livre hoje apresentam o caso como quase da mesma forma como Adam Smith, ignorando o fato de que a riqueza expandiu-se enormemente desde os dias de Adam Smith.Tipicamente, eles admitem que os custos do trabalho livre, mais alegam que os programas de retreinamento e recapacitação prepararão os trabalhadores em novos empregos“de maior valor “.
Isto significa afirmar que mesmo em paises ricos ( ou regiões ) não necessitam mais os benefícios do comércio livre, eles devem continuar a sofrer seus custos.
Defensores do atual sistema alegam: nós deixamos estas decisões para os indivíduos fazerem por eles mesmos. Caso as pessoas desejem sair deste ciclo cruel, elas estão livres para faze-lo. E um número crescente o faz de fato. A democracia, também, significa a liberdade em colocar o capitalismo para fora do escritório.
A resposta é poderosa, porém é ingênua. As pessoas não optam pelo isolamento. Suas escolhas são moldadas pela cultura dominante em suas sociedades. Realmente uma pressão constante ao consumo não leva a nenhum reflexo em preferências? Nós banimos a pornografia e restringimos a violência na TV, acreditando que elas influenciavam negativamente as pessoas, embora acreditemos que a publicidade ao consumo de produtos afeta apenas a demanda e sua distribuição, mas o total?
Defensores do capitalismo algumas vezes argúem que o espírito de adquirir é tão profundamente arraigado na natureza que nada pode elimina-lo. Contudo, a natureza humana é cheia de paixões conflitantes bem como de possibilidades. Sempre foi função da cultura ( inclusive da religião ) encorajar algumas e desestimular outras.
Não obstante, o “ espírito do capitalismo “ adentrou os negócios humanos bem mais tarde na história. Antes dele, os mercados de compra e venda eram balizados por restrições de ordem legal e moral. Uma pessoa que devotasse sua vida a ganhar dinheiro não era tida como um modelo de moralidade. Ganância, avareza e inveja estavam entre os pecados capitais a usura ( ganhar dinheiro pelo dinheiro ) era uma ofensa a Deus.
Somente no século dezoito foi que a ganância tornou-se moralmente respeitável. Atualmente é oconsiderada um Prometeu saudável transformar a riqueza em dinheiro e coloca-lo para fazer mais dinheiro, pois ao faze-lo o individuo esta beneficiando a humanidade.
Isto inspirou o modo de vida americano ( American way of life ), onde o dinheiro fala mais alto. O fim do capitalismo significa simplesmente o fim da urgência em prestar atenção a ele. As pessoas começarão a desfrutar aquilo que elas possuem, ao invés de sempre quererem mais. Pode-se imaginar uma sociedade de proprietários privados da riqueza, cujo objetivo principal é desfrutar vidas saudável, ao invés de transformar sua riqueza em “capital”.
Serviços financeiros encolherão, porque os ricos nem sempre quererão tornar-se mais ricos. Quanto mais e mais pessoas sentirem-se satisfeitas, devemos esperar que o espírito do lucro perca sua aprovação social. O Capitalismo já terá concluído seu trabalho, e a motivação do lucro estará na galeria das coisas passadas.
O descrédito da ganância ocorre somente naqueles paises cujos cidadões têm mais do que necessitam. E mesmo lá, muitas pessoas ainda tem menos do que necessitam. As evidências sugerem que as economias estarão mais estáveis e os cidadões mais felizes se a riqueza e os ganhos forem melhor distribuídos. As justificativas econômicas para maiores desigualdades de ganhos – a necessidade a estimular as pessoas a serem mais produtivas – colapsem quando o crescimento cessar de ser tão importante.
Talvez o socialismo não seja uma alternativa ao capitalismo, mais seu herdeiro. Ele herdará a terra não por retirar dos ricos suas propriedades, mas prover motivos e incentivos por comportamentos que estão desconectados com futura acumulação de riqueza.

Robert Skidelsky é membro da Casa dos Lordes, é Professor Eméritus of Political Economy at Warwick University, autor de uma biografia premiada do economista John Maynard Keynes e membro da Moscow School of Political Studies.

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