segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O golpe de 64 começou e acabou em Washington


Realidade ou ficção


Entre os anos 1960 e 1970 o governo dos Estados Unidos fez e desfez no continente latino. Ameaçado pela proposta revolucionária de Fidel Castro, em Cuba e, também, pela virada à esquerda do chileno Salvador Allende, Washington patrocinou a derrubada de governos civis e militares com políticas nacionalistas ou progressistas e impôs ditaduras militares conservadoras e sangrentas.


Foi uma orquestração sob a regência dos maestros da Casa Branca.


Nesse mesmo período, além dos golpes no Brasil, na Argentina e no Uruguai, foram derrubados também os governos do Panamá (1968), Chile (1973), Peru (1975), Equador (1976), El Salvador (1979), Bolívia (1980). Formou-se o que os diplomatas chamaram de “dominó da direita”.


No Brasil, logo após a queda de Goulart, o jornalista Edmar Morel escreveu o livro O Golpe Começou em Washington, onde expôs-se pela primeira vez os mentores da ação de 1964.

Agora, no que pode vir a ser uma antecipação aos historiadores, o romance O Punho e a Renda, do escritor e diplomata Edgard Telles Ribeiro, introduz uma hipótese nova. Sugere que a distensão política conduzida pelo general-presidente Geisel de forma “lenta, gradual e segura”, como ele próprio a definiu, também começou em Washington. Impelida por um acordo nuclear Brasil-Alemanha que, entre outros efeitos, interrompeu a compra das usinas nucleares da americana Westinghouse.


Nesse acordo, interessava aos militares brasileiros, oficialmente, o domínio da produção de urânio enriquecido e, clandestinamente, a construção da bomba atômica.


Eis o que conta Eric Friedkin, fictício ex-agente- da CIA na América do Sul, ao narrador, alter ego do experiente diplomata autor do livro:


“Por maiores que fossem nossas convicções sobre a ineficácia da tecnologia alemã nesse campo nuclear, ficamos preocupados. Primeiro, porque não tínhamos cem por cento de certeza de que ela não funcionaria (…) começamos a nos dar conta do perigo em lidar com regimes excessivamente fechados”.


“(…) A tão proclamada distensão política brasileira teve início ali. Mas partiu de Washington, bem antes de surgir nas mentes dos supostos magos de Brasília”.


Certos fatos reais dão sustentação a essa reflexão do ficcionista.


Cuba, sem apoio da União Soviética e sufocada pelo embargo americano, já não oferecia perigo e o golpe no Chile, contra Allende, eliminou o outro foco de subversão antiamericana no continente. Washington mudava a visão geoestratégica.


Em 1978, Jimmy Carter desembarcou por aqui. Geisel o recebeu com uma frieza registrada pela imprensa. O presidente dos EUA respondeu a isso com o desafiador encontro com um grupo de brasileiros influentes onde se destacavam dom Paulo Evaristo Arns, de São Paulo, e Raymundo Faoro, presidente do Conselho Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil.


O cardeal, destemido, denunciava as torturas promovidas pelo regime. O advogado, ator importante na reabertura, mostrava que a ordem jurídica democrática poderia abater o autoritarismo.


No primeiro discurso, Carter botou o dedo na ferida: “Ambas as nações estão recorrendo à energia nuclear (…) e ambos acreditamos que o uso pacífico da energia atômica não é incompatível com a necessidade de evitar a proliferação nuclear”.


A insinuação de Carter foi a picardia que transformou o sigilo do projeto da bomba atômica brasileira em segredo- de polichinelo. (Carta Capital)


Jimmy Carter apóia D. Paulo:

Com vara curta

D. Paulo devotou-se a devassar a repressão política, identificar vítimas, colher narrativas e arrolar torturadores


As 3 mil páginas de documentos sobre o combate à tortura no Brasil durante o regime militar que estavam guardadas no Conselho Mundial de Igrejas, em Genebra, objeto da série publicada neste jornal, são apenas a face legível da ação que teve no cardeal d. Paulo Evaristo Arns a figura aglutinadora e carismática. O arcebispo de São Paulo conseguiu reunir em torno de si uma legião de pessoas que nele confiaram e se devotaram à missão de penetrar nas entranhas da repressão política, identificar vítimas, colher narrativas sobre os procedimentos da barbárie, arrolar torturadores que a ela sucumbiram e por meio dela se desumanizaram e se degradaram. O amplo e grave comprometimento do Estado brasileiro na criação de uma verdadeira indústria de tortura, com dinheiro público e o complemento de doações privadas para remunerar e premiar por tarefa os nela envolvidos, ficou evidente na volumosa coleção de testemunhos e indicadores que resultaram no relatório Tortura, Nunca Mais.

REPRODUÇÃO
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Jimmy Carter foi um dos que apoiaram o cardeal

Fazia tempo que um grupo de lídimos cidadãos, de vários modos ligados à Igreja Católica, o que incluía protestantes como o pastor Jaime Wright, juntamente com religiosos, estava aglutinado por d. Paulo na Comissão de Justiça e Paz e na Comissão de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo, preocupados com violações de direitos por parte do regime político. Um membro da primeira comissão, Helio Bicudo, procurador de Justiça, com o promotor Dirceu de Mello, investigara e denunciara o esquadrão da morte que sequestrava e executava supostos delinquentes. Membros do esquadrão eram policiais, alguns ligados ao Dops e à tortura de presos políticos, que foram recrutados pelo Exército para prestar os mesmos serviços “especializados” na Oban, germe do DOI-Codi, o órgão de tortura instalado junto ao quartel-general do II Exército, da Rua Tutoia, no Ibirapuera.

Investigar a barbárie, identificar-lhe a cara, os procedimentos e as vítimas, como o fez o grupo de pessoas que se reuniu ao redor de d. Paulo, foi ato de resistência cidadã, de pessoas movidas pelo mais alto sentimento de compromisso com a condição humana, acima das convicções religiosas, ainda que movidas por elas. Um gesto decisivo na restauração da dignidade nacional e na restituição do Brasil à verdade de sua consciência e à moralidade de seus anseios históricos.

Mas isso não se deu ao acaso. No âmbito da Igreja, d. Paulo não estava cercado de apoios tão extensos quanto eram necessários. Sempre é bom lembrar que a Igreja Católica, em 1964, com poucas exceções, apoiara o golpe de Estado de maneira decisiva, com as Marchas da Família com Deus pela Liberdade, o suporte de rua de que os militares careciam para atropelar a legalidade e instituir o regime autoritário. Mas aí havia complicados desencontros. A tradição positivista e anticlerical do Exército, que na proclamação da República promovera a emancipação da Igreja, dela separando o Estado, como Estado secular e laico, mantivera-se ao longo da história republicana.

No golpe de Estado, o Exército e as Forças Armadas deixaram imediatamente claro que agiam em nome próprio, embora isso não fosse verdade indiscutível. A sutil ascensão política dos protestantes durante o regime militar é muito indicativa de quanto a caserna estava longe de rever o anticlericalismo da imposição republicana do golpe de 1889. Subsistiam, no entanto, no interior da Igreja grupos que se sentiam mais protegidos em suas convicções religiosas no silêncio sobre o regime e suas práticas do que com as inquietações humanitárias de bispos como d. Paulo e d. Hélder Câmara. Era um tempo de incerteza também para a Igreja, o que mais valoriza o inconformismo de d. Paulo e dos que o seguiram na investigação e denúncia da tortura.

O inconformismo contra a tortura que oficialmente atingia todos os rotulados como subversivos e comunistas, fossem-no ou não, até mesmo religiosos, era, portanto, não se conformar com o crônico e não raro justificado temor da Igreja Católica em relação ao materialismo comunista, com função indevida de religião arreligiosa na ideologia da esquerda. Em Roma difundiam-se as reservas à Teologia da Libertação, indevidamente interpretada como leitura marxista do Evangelho. Quando é na verdade um modo católico de adoção do método dialético na interpretação religiosa, justamente em nome do enfrentamento da crise da mística e da busca do reencontro da dimensão de totalidade num mundo dividido e fracionado pela modernidade, a própria religião reduzida à banalidade do acaso e do descartável. Atitudes como a de d. Paulo, nesse cenário, acabavam interpretadas na pauta dos temores de Roma e de suas restrições anticomunistas em sua resistência a um suposto encontro de catolicismo e marxismo.

Portanto, era alto o preço que d. Paulo sabia ter que pagar por sua opção preferencial pela justiça e pela verdade no que se referia às violências do regime ditatorial. E ele, serenamente, o pagou.


Os EUA usam a mídia para denunciar o campo de teste nuclear, que depois foi fechado por Collor:

Serra do Cachimbo pode ser local de provas nucleares

O governo brasileiro está construindo instalações subterrâneas na serra do Cachimbo, sul do Pará, limite com Mato Grosso, para fins militares. São covas e cisternas que pelas suas características se prestam a testes nucleares de diversos tipos e ao armazenamento de lixo atômico de usinas.

Desde 1981 têm sido realizados levantamento geológicos e hidrológicos na área. No mês passado foi concluída a construção de um poço de 320m de profundidade por um metro de diâmetro. A área de testes deverá ser concluída em 1991.

Ontem à noite, ao ser informado pela Folha que o jornal publicaria esta notícia na edição de hoje, o presidente José Sarney reagiu, segundo o jornalista Fernando Cézar Mesquita, seu secretário de Imprensa, com estas palavras: "Por esta mesa, nunca passou qualquer documento deste tipo". O ministro-chefe do Gabinete Militar, general Rubem Bayma Denys disse _ ainda segundo Mesquita_ que a informação é "absolutamente inverídica". O brigadeiro Hugo de Oliveira Piva, diretor do Centro Técnico Aeroespacial, de São José dos Campos (SP), foi chamado com urgência a Brasília no início da noite de ontem. A região onde estão sendo construídas as cisternas e covas é área militar delimitada por decreto durante o governo Geisel (1974-1979), cortada pela rodovia Cuiabá-Santarém (BR 163), e fica a 720 km de Belém (PA) e a 670 km de Manaus. As três regiões florestais mais próximas mais próximas são as reservas florestais Mundurucânia, a 180 km, a reserva indígena Baú-Mencranotire a 60 km e o Parque Nacional do Xingu, a 300 km.

O projeto da área de teste é do Estado-Maior das Forças Armadas (Emfa) e conta com o apoio de pesquisadores de dois órgãos vinculados ao Centro Técnico Aeroespacial (CTA, do Ministério da Aeronáutica, situado em São José dos Campos, a 97 km a nordeste de São Paulo): o Instituto de Atividades Espaciais (IAE) e Instituto de Estudos Avançados (IEAV). A segurança da área militar é responsabilidade da Força Aérea Brasileira, que já dispunha, na região, de pistas de pouso de 3.200 metros.

A escolha da serra do Cachimbo deveu-se ás condições geológicas da região. Trata-se de um conjunto de platôs com uma altitude máxima de 640 metros acima do nível do mar, cobertos por arenito, com uma espessa camada de rochas ígneas (impermeáveis, portanto) e sem o risco de atingir lençóis freáticos (lençóis d'água). A região militar da serra do Cachimbo está localizada no município de Itaituba, o maior do Brasil, com 700 km de extensão.

As pesquisas geológicas feitas na área são taxativas: não há recursos minerais a serem explorados. As características do subsolo conferem ao local das escavações a solidez necessária para a construção dos depósitos de lixo atômico e das cisternas para testes nucleares. A reserva militar da serra do Cachimbo já vem sendo utilizada pelas Forças Armadas para testes com materiais bélicos como bombas fragmentadoras, foguetes e mísseis convencionais.

O primeiro poço construído ficou pronto em julho deste ano. Ele tem 320 metros de profundidade e um metro de diâmetro. A Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais (CPRM, do Ministério das Minas e Energias) começou a fazer os levantamentos geológicos e hidrológicos da região em 1981, por solicitação do Centro Técnico Aeroespacial (CTA, do Ministério da Aeronáutica). Os primeiros geólogos deslocados para a área foram da Superintendência da CPRM de Minas Gerais. Desde o início, o projeto foi cercado de todas as medidas de segurança e os funcionários que nele trabalharam tinham conhecimento de que era "secreto".

O poço pronto levou um ano para ser perfurado e revestido porque a CPRM não dispunha de tecnologia para perfurá-lo por causa do tamanho do diâmetro e o CTA teve de importar uma coluna de perfuração dos Estados Unidos. Este poço está localizado a 17 km da estrada Cuiabá-Santarém. Até 40 pessoas chegaram a trabalhar, em alguns momentos, na sua construção. Somente a direção da CPRM teve acesso às informações sobre o trabalho, que recebeu a denominação interna de "Projeto Pedra do Índio". Desde que foi contratada para o serviço pelo CTA, a CPRM teve três presidentes: José Raimundo de Andrade Ramos, general Salvador Mandin e José Carlos Boa Nova, o atual.

Pesquisadores do IAE, EEAV e da Marinha continuam a fazer levantamentos no terreno para marcar os locais onde serão construídas as futuras cisternas e covas . Este levantamento tem seu término previsto para o final deste ano. As cisternas terão dimensões semelhantes ao do poço concluído no mês passado. Só que este foi revestido, até agora, de concreto e as cisternas receberão, além do concreto, chumbo e amianto. Já as covas, onde serão guardados os lixos atômicos, terão profundidade entre 100 e 150 metros e seu interior será revestido somente de concreto. A explicação é que devido à profundidade os riscos de vazamento são mínimos.

O Brasil poderá ser até o final de 1991 o primeiro país ao sul do Equador a possuir áreas reservadas para testes nucleares e armazenamento de lixo atômico. O projeto do EMFA tem como objetivo principal o domínio do setor de tecnologia de ponta (estudos avançados ou física pura), ao qual somente as nações desenvolvidas têm acesso e que nunca é repassada. Desde novembro do ano passado o EMFA conta com o apoio de pesquisadores de dois órgãos subordinados ao CTA, o Instituto de Atividades Espaciais (IAE) e o Instituto de Estudos Avançados (IEAV). Estes órgãos, junto com o Centro de Pesquisas da Marinha e com a colaboração do Instituto de Pesquisas Nucleares da Universidade de São Paulo (USP) estão trabalhando há alguns anos para adquirirem domínio sobre as matérias primas essenciais para a fabricação de artefatos nucleares: o plutônio e o urânio enriquecido.

Dois objetivos principais levaram o EMFA a levar adiante o projeto: em breve as usinas nucleares de Angra estarão em funcionamento e o país terá de armazenar lixo atômico (urânio usado no reator, material radioativo, mais produtos e urânio não queimado que recebe grande quantidade de neutrons e vira plutônio), sem causar riscos à população das cidades. O segundo objetivo, é o de construir mísseis atômicos. A segunda fase deste projeto _ a construção de uma ogiva atômica _, considerada a mais importante, também já está em andamento. No ano passado foi firmado um acordo entre os governos do Brasil e da República Popular da China para a troca de tecnologia que permitirá o desenvolvimento de mísseis de ataque com ogivas atômicas de combustível sólido _similares aos usados pelos EUA na década de 60. (Folha)


O delírio acabou

Durante dez anos, o Brasil manejou bilhões de dólares em contas secretas, fez importações clandestinas, envolveu-se com tráfico de tecnologia, subornou estrangeiros, escondeu atentados e enganou até presidentes da República. O único propósito era fabricar a bomba atômica. São capítulos do célebre programa nuclear paralelo, iniciado em meados da década de 70 e desenvolvido na penumbra. Na semana passada, diante do secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, o presidente Fernando Henrique assinou o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, o TNP. Produzido em 1968, o TNP abre o país à fiscalização internacional de suas instalações nucleares e proíbe o uso da energia nuclear para fins bélicos. Na prática, a assinatura tem pouco efeito, pois o Brasil já recebe fiscais internacionais. Mas o gesto do presidente tem enorme significado simbólico. Enterra, definitivamente, a era em que o Brasil quis virar uma potência nuclear bélica.

As manobras clandestinas para fazer a bomba sempre foram misteriosas. E nem poderia ser diferente. Já houve até uma CPI no Congresso para investigar o assunto, porém nunca se soube em detalhes o que ocorria nos subterrâneos do programa nuclear. Mas toda vez que o assunto vem à tona descobrem-se algumas novidades:

Em 1990, quando o presidente Fernando Collor assumiu, fez-se uma devassa na Comissão Nacional de Energia Nuclear, a CNEN, que coordenava os trabalhos clandestinos dos militares. Descobriu-se que seu então presidente, Rex Nazareth Alves, que comandava o órgão desde o regime militar, retirara sete Kombi cheias de documentos. Eles nunca mais apareceram. Nazareth Alves diz que eram documentos pessoais.

Para controlar a pesquisa nuclear, o sucessor de Nazareth Alves na CNEN, o químico nuclear José Luiz Santana, deslocou onze fiscais para as instalações nucleares. Nos primeiros seis meses do governo Collor, Santana sofreu três atentados. Um, na porta da escola do filho, em São Paulo, onde foi alvo de uma rajada de balas. No outro, no Rio, os pneus do seu carro foram desparafusados. O último aconteceu em São Paulo, quando o chão do seu carro desabou. Haviam desconectado o volante do eixo do carro. Santana sempre escapou ileso. Os serviços de inteligência nunca apontaram os culpados.

Para agilizar o programa, os militares subornavam funcionários na Europa e nos Estados Unidos em busca de informações sobre tecnologia nuclear. O alvo predileto era a Euraton, indústria de enriquecimento de urânio com sede na Suíça. "Nos Estados Unidos, a Marinha comprou equipamentos que podiam ser vendidos mas não podiam deixar o país. Uma equipe de técnicos foi para lá, desmontou tudo e copiou peça por peça", diz um militar que trabalhou no coração do programa nuclear.

Pá de cal — A aventura da bomba começou com o acordo nuclear firmado entre Brasil e Alemanha, em 1975, pelo então presidente Ernesto Geisel. Por esse acordo, os dois países desenvolveriam a tecnologia para produzir o combustível nuclear — que inclui o enriquecimento do urânio — e construir no país oito novas usinas nucleares. As usinas gerariam energia elétrica, mas os militares namoravam secretamente a idéia de dominar o processo de enriquecimento do urânio, passo indispensável para fazer a bomba. Sob pressão americana, o acordo fracassou. Das oito usinas programadas, a primeira delas, a Angra II, será inaugurada no final deste ano, duas décadas depois do previsto. Quanto à usina de enriquecimento do urânio, nunca saiu do papel. Desde o fracasso do acordo, os envolvidos no projeto bomba foram para a clandestinidade. Movidos por verbas secretas, os militares trabalharam sozinhos. O Exército tentou desenvolver um reator a grafite, que produz plutônio, elemento usado na construção da bomba. A Aeronáutica fracassou ao querer enriquecer urânio por laser. Tentou ainda desenvolver um "vetor", foguete capaz de carregar o artefato nuclear. A Marinha chegou mais perto do objetivo. Conseguiu enriquecer urânio por meio de ultracentrifugadoras. Em 1987, o presidente Sarney convocou cadeia nacional de rádio e TV para anunciar que a Marinha dera o grande passo.

Cheio de sombras, o programa nuclear começou a ruir no próprio governo Sarney, quando o presidente se aproximou do seu colega argentino, Raúl Alfonsín, e fez um acordo de paz nuclear para sepultar rivalidades. Só no governo Collor se soube que a Aeronáutica tinha até buracos na Serra do Cachimbo, na fronteira de Mato Grosso com o Pará, para fazer testes nucleares. Até esse buraco, no entanto, foi ocultado pelos militares. Collor, ao assumir, recebeu um relatório, com tarja de ultra-secreto, capa vermelha e cinqüenta páginas. Era o mapa da bomba, mas nada falava da Serra do Cachimbo. Quando soube do campo de testes, Collor foi lá e o fechou simbolicamente com uma pá de cal. Na semana passada, usando desta vez uma caneta, FHC acabou com o dispendioso e paranóico sonho da bomba brasileira. Além do TNP, o presidente ratificou outro acordo, endossado por apenas dezesseis países, que proíbe até testes nucleares. Enfim, o delírio acabou. (Veja)

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