sexta-feira, 8 de abril de 2011

O império dos banksters (BANQUEIROS BANDIDOS)


Banqueiros bandidos (bankster), assim chamou Ferdinand Pecora, chefe da comissão do Congresso que investigou a grande crise da década de 30, os usurários que se aproveitaram daquela debacle. Assim nomeiam agora alguns críticos os donos dos impérios financeiros norte-americanos, que campearam como máfias na economia desse país.

Responsáveis parciais pelo desastre que comoveu as finanças e a economia internacionais nos últimos três anos (a crise é, em última instância, sistémica, e não depende só de banqueiros irresponsáveis), os titãs da indústria financeira fizeram gala durante muito tempo da desfachatez empresarial, da codícia desmedida, da imoralidade sem límites.

A sociedade os condenou, mas o Governo os premiou. Enormes quantidades de dinheiro fluíram das arcas estatais para resgatar as entidades financeiras que são símbolos do sistema. Investigações do Real Economy Project do Center for Media and Democracy calculam que o montante do salva-vidas bancário, somando o entregado no pacote de resgate, os empréstimos da Reserva Federal e outros aportes indiretos, ascendeu a 4.6 trilhões de dólares, o que equivale a um terço do PIB dos Estados Unidos e a cerca de 130% do orçamento federal de 2009. O imperialismo financeiro chupou os recursos provenientes dos impostos que os norte-americanos comuns pagam.

Políticos e jornalistas, cidadãos e analistas reclamam há meses maiores controles sobre os desmandos dos banqueiros. Mas a avareza não tem fronteiras e a moral não é coisa de usurários.

Recompensa para os desonestos
Exceto Bernie Madoff, nenhum dos culpados do desastre financeiro foi para o cárcere, apesar de que seus desmandos custaram aos cidadãos norte-americanos 14 bilhões de dólares pela perda de poupanças, moradias, pensões e outras propriedades. Pelo contrário, muitos se retiraram com compensações douradas e outros voltaram às andanças de antanho amparados nos lucros dos últimos meses.

Os 19 maiores bancos do mundo ganharam em 2009 cerca de 70 bilhões de euros. No ano anterior haviam perdido 36.500 milhões. O dinheiro que dadivosamente lhes concederam Bush, Paulson, Obama, Geithner e o Congresso, serviu-lhes para ressarcir a perda e convertê-la em abundante lucro.

No penúltimo trimestre de 2009, o sector financeiro ficou com 34% do total dos lucros privados dos Estados Unidos, uma porcentagem inclusive muito maior que o do auge da borbulha imobiliária.

O festim monetário serviu para repartir prebendas entre os bancários. The Wall Street Journal calculou que os bancos norte-americanos pagaram prêmios a seus executivos da ordem de 145.900 milhões de dólares no ano passado.

O JP Morgan Chase premiou seu Conselheiro Delegado James Dimon, cujo soldo base é de um milhão de dólares, com prêmios num montante de 16,1 milhões de dólares repartidos em títulos e ações.

O empório financeiro Goldman Sachs entregou a seus empregados em 2009 sobre-soldos de 13 bilhões de dólares, quase o triplo do que os que lhes pagou em 2008. Goldman recebeu diretamente 10 bilhões de dólares do Plano de Resgate bancário e outros 12 900 milhões indiretamente através dos pagamentos por dívidas que lhe fizera a falida gigante do seguro AIG, que saldou o débito com parte das enormes somas que recebeu como ajuda do governo para evitar sua bancarrota.

Os prêmios ou bonos vinculados ao lucro foram identificados como um dos fatores que animaram os banqueiros a assumir os riscos que levaram ao colapso financeiro e econômico.

O pior é que os bancos voltaram a fazer os mesmos truques da pré-crise e investiram o dinheiro público grátis que receberam para especular com divisas e investir na bolsa e na renda fixa.

Para que uns festejem...
Enquanto os bankster festejam com whisky ou champagne os seus enormes lucros e dividendos erigidos sobre o desastre que eles mesmos impulsionaram, outros estão com água pelo pescoço na ressaca da crise.

O Diretor Executivo de Estabilidade Financeira do Banco da Inglaterra prognosticou que as perdas da produção econômica global devido à crise oscilarão entre 60 e 200 trilhões de dólares, quase 100 vezes o montante do PIB de uma grande economia como o Brasil.

Nos Estados Unidos, a dívida das famílias e das empresas não financeiras fechou 2009 na astronômica cifra de 34,7 bilhões de dólares, segundo o jornal The Economist (11/3/2010).

Em março se rompeu o recorde de quebras pessoais para um mês no país do norte. A empresa de estatísticas Aacer revelou que durante esse período foram feitas 158 mil petições de quebra, o que representou 35% a mais do que em fevereiro.

Sem restrições para o lucro
Morgan Stanley, Goldman Sachs, Wells Fargo, Citigroup, JP Morgan Chase e Bank of America controlam 6% do PIB dos Estados Unidos; mas seu poder real vai mais além dessa fatia do bolo econômico: numerosos executivos de tais empórios financeiros fizeram temporadas no leme econômico dos governos norte-americanos. A título de exemplo, os casos de Robert Rubin, Secretário do Tesouro no governo de Clinton, impulsionador da desregulamentação do setor financeiro que conduziu à debacle atual, e Henry Paulson, Secretário do Tesouro de Bush e criador do multimilionário plano de resgate bancário, ambos saídos das fileiras de Goldman Sachs. Rubin, após sua passagem pelo governo, se alistou na nominata do Citigroup, na qual numa década entesourou em sua conta pessoal mais de 100 milhões de dólares.

Acossado por um mal-estar popular crescente, o Presidente Barack Obama pretende assinar em maio uma lei de reforma financeira que propõe dar à Reserva Federal (FED) mais poderes para regular o desempenho das maiores empresas financeiras do país, e criar um escritório de proteção dos consumidores.

Esse escritório, que operará dentro da Reserva Federal, terá autoridade para assegurar que os usuários recebam "informação clara e precisa" quando solicitem empréstimos hipotecários, carteiras de crédito e outros produtos financeiros.

A proposta também inclui um Conselho de Supervisão para a Estabilidade Financeira, composto de nove membros, que submeterá as grandes instituições, como a seguradora American International Group (AIG), à supervisão da Reserva Federal.

O plano inclui limites para a quantia dos bonos para os executivos e a cobrança de novos impostos das entidades financeiras para sufragar prováveis crises futuras.

O porta-voz da Casa Branca Robert Gibss disse que há urgência na reforma para evitar que ressurjam as condições que permitiram o colapso de Wall Street há dois anos e para combater os excessos nesse setor.

Mas os bankster andam enfurecidos. Não desejam nenhum limite à sua avareza. As pressões chovem sobre o Secretário do Tesouro Timothy Gaithner. Ameaçam de que o crédito nunca voltará a fluir se se endurecem as exigências, porque não terão dinheiro suficiente para emtesourar e emprestar.

Os lobistas do capital financeiro que pululam pela rua K de Washington D.C. assaltam com promessas e exigências os membros do Capitólio e seus assessores. Confiam em que os congressistas ávidos de aportes de campanha demorem e alterem o processo legislativo. O dinheiro do setor para a contenda eleitoral para o Congresso se incrementam ostensivamente para o campo republicano.

Os primeiros resultados da aposta política já estão à vista. O projeto de Lei da Reforma Financeira está emperrado no Senado. Os republicanos abriram a porteira usando o irônico argumento de que o que se quer é gastar mais dinheiro e que os contribuintes estadunidenses não deveriam mais ser utilizados para resgatar as grandes instituições financeiras. Ssqueceram-se do pacote de resgate Bush-Paulson para Wall Street?

Também lançam suas dúvidas sobre o alcance das regulamentações ao comércio de derivados a sobre a autoridade da nova agência de consumidores. A Câmara de Comércio dos Estados Unidos gastou 3 bilhões de dólares numa ampla campanha publicitária contra a reforma.

O império dos bankster esperneia para prevalecer. Não importa como nem a que custo. Isso se refletiu recentemente nas declarações de David Stockmon, diretor do Escritório de Gestão e Orçamento na presidência de Ronald Reagan: "a triste realidade é que os grandes bancos, que são os filhos caprichosos do dinheiro fácil da FED (Reserva Federal), são instituições perigosas, muito arraigadas numa cultura de privilégios e ganância".

A roleta do cassino da economia norte-americana segue girando, Os ganhadores continuam sendo os mesmos; os perdedores, também os de sempre, e cada vez mais.

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