quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Em Curitiba as drogas são responsáveis por 77% dos homicídios

Três em cada quatro assassinatos registrados em Curitiba têm relação direta com as drogas. A constatação é de um levantamento feito pelo serviço de inteligência da Delegacia de Homicídios (DH), com base nos boletins de ocorrência. Das 357 pessoas assassinadas no primeiro semestre deste ano na capital, 274 tinham envolvimento com entorpecentes, seja como usuário ou traficante. Para as autoridades, os números comprovam que as drogas representam o principal problema a ser enfrentado pela segurança pública no estado. As estatísticas apontam que 108 traficantes morreram na guerra pelo tráfico, enquanto 166 usuários foram assassinados: de cada dez homicídios diretamente relacionados às drogas registrados na capital, seis foram de pessoas que apenas faziam uso de entorpecentes. O levantamento aponta que houve pouca oscilação em comparação com o mesmo período do ano passado, quando 74,7% dos homicídios tiveram relação direta com as drogas. O número de usuários assassinados, no entanto, era maior: 71,1%.

“Os números comprovam que as drogas são o principal problema da contemporaneidade e motivador não só de homicídios e de outros tipos de crimes como roubos e furtos, mas responsáveis também por distúrbios sociais, como conflitos familiares e de relacionamentos”, avalia o professor de Sociologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Lindomar Boneti.

Tragédias pessoais

Embora uma parcela significativa dos usuários de drogas tenha sido assassinada por não ter quitado dívidas com traficantes, a questão não se restringe a este aspecto. A delegada Maritza Haisi, chefe da DH, explica que boa parte dos homicídios envolvendo pessoas que faziam uso de drogas ocorreu porque as vítimas se envolveram em situação de risco por causa dos entorpecentes. “Para conseguir manter o vício, alguns usuários partem para os delitos. Essas situações geram desdobramentos. Os usuários acabam sendo mortos em decorrência destes crimes”, aponta.

Em relação à morte de traficantes, a dinâmica é outra. Segundo o delegado Riad Farhat, da Divisão de Narcóticos (Denarc), os homicídios ocorrem por dois motivos básicos: confronto pelo controle de pontos de drogas ou por desacerto entre os criminosos. “Para comprar grandes quantidades de entorpecentes, os traficantes se organizam em uma espécie de consórcio. Na partilha da droga, não é raro ocorrer desentendimentos, que acabam gerando conflitos internos e integrantes de um mesmo grupo acabam se matando”, explica.

Outra característica mencionada pelas autoridades é que os homicídios vinculados aos entorpecentes, em geral, estão relacionados uns aos outros. O delegado Jaime da Luz, responsável por investigar mortes ocorridas em bairros como Uberaba e Cajuru, aponta que os “personagens” dos crimes costumam se repetir com frequência. “Uma pessoa mencionada como testemunha em um inquérito aparece como suspeita de homicídio em outro caso. Há muitos crimes interligados.”

Para o delegado Rubens Recalcatti, responsável pelo grupo Homicídios Não Resolvidos (Honre), que investiga casos anteriores a 2008, o alto índice de mortes relacionadas às drogas não é um fenômeno recente. “Nos antigos, percebemos que o porcentual é muito parecido com os atuais”, avalia. Policial há 31 anos e delegado há 16, Recalcatti observa que os entorpecentes sempre tiveram impacto direto na segurança pública, mas ressalva que o problema se agravou consideravelmente nos últimos dez anos. “O Estado negligenciou seu papel. O resultado é este. Infelizmente”, lamenta. (GP)

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