quinta-feira, 7 de abril de 2011

No 1º discurso, Aécio diz que PT prioriza mais partido do que país


O senador Aécio Neves (PSDB-MG) escolheu o “horário nobre” do plenário para fazer seu primeiro discurso nesta legislatura (leia a íntegra). Por volta das 16h, quando começa a ordem do dia, e em plena quarta-feira (6), dia da semana em que são tradicionalmente concentradas as votações prioritárias, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), concedeu os 10 minutos regimentais para o pronunciamento de Aécio – tempo extrapolado em 12 minutos e que, graças ao clamor geral por apartes, foi estendido indefinidamente, deixando-se de lado a pauta legislativa.

Com o plenário mais lotado desde o início do ano legislativo, o ex-governador de Minas Gerais desferiu críticas firmes a determinadas características dos governos Lula (2003-2010) e Dilma Rousseff, mas sem a contundência verificada na disputa eleitoral de 2010 entre petistas e tucanos. O candidato oposicionista derrotado no pleito, José Serra, e outros nomes da cúpula do PSDB assistiram ao discurso de Aécio, que lançou a crítica mais incisiva ao petismo depois de cerca de cinco minutos de fala.

“Sempre que precisou escolher entre os interesses do Brasil e a conveniência do partido, o PT escolheu o PT. Por isso, não é estranho a nós que setores do partido tentem, agora, convencer a todos de que os seus interesses são, na verdade, os interesses da nação”, provocou o senador, que havia iniciado o discurso dizendo-se disposto a “examinar, de forma mais profunda, a conjuntura e os grandes desafios do país” em seu “reencontro” com o Parlamento (ex-presidente da Câmara, Aécio exerceu 16 anos de mandato no Congresso).

“Não confundo agressividade com firmeza, não confundo adversário com inimigo. Os que ainda não me conhecem bem e acham que vão encontrar em mim tolerância diante dos erros praticados pelo governo também vão se decepcionar. Não confundo o direito à defesa e ao contraditório com complacência e compadrio”, avisou o senador. No transcorrer do discurso, Sarney teve de acionar por diversas vezes a campainha do plenário na tentativa de conter aplausos das galerias e alguns colegas, o que é vetado pelo regimento interno.

Na primeira estocada no governo petista, Aécio contestou a versão de que o Brasil iniciou os avanços sócio-econômicos a partir da gestão Lula. “O Brasil de hoje é o resultado de uma vigorosa construção coletiva (...). Ao contrário do que alguns nos querem fazer crer, o país não nasceu ontem; ele é fruto dos erros e acertos de várias gerações de brasileiros, de diferentes governos e líderes, e também de diversas circunstâncias históricas e econômicas”, fustigou.

“Em 1985, quando o Brasil se via diante da oportunidade histórica de sepultar o autoritarismo e reingressar no mundo democrático, nós estávamos ao lado do povo brasileiro e do presidente Tancredo Neves. Os nossos adversários, não! Permanecemos ao lado do presidente José Sarney, naqueles primeiros e difíceis anos de consolidação da nova ordem democrática. Os nossos adversários, não!”, bradou o tucano, lembrando a criação do Plano Real concebido no governo Itamar Franco (1992-1994), quando foi iniciado o processo que pôs fim à hiperinflação.

Citando o Manifesto em Defesa da Democracia – lançado por personalidade de vários setores em setembro de 2010, o documento virtual já reúne (108.575 assinaturas), Aécio fez um resgate das ações do governo FHC, como a Lei de Responsabilidade Fiscal e a estruturação do Proer. Em seguida, criticou o “precedente” aberto pelo governo federal em relação à demissão de Roger Agnelli, orquestrada pelo Bradesco com a anuência do ministro Guido Mantega (Fazenda), do comando da Vale. “Não posso crer que seja interesse do país que o governismo avance sobre empresas privadas, com o objetivo de atrelá-las às suas conveniências – como se faz, agora, sem nenhum constrangimento, com a maior empresa privada do Brasil, criando perigosíssimo precedente”, discursou.

Pela ordem

Um princípio de bate-boca foi iniciado tão logo Aécio encerrou o discurso. Sarney recorreu ao regimento para dizer que os apartes deveriam ser feitos durante a fala, e que a negativa implicaria extensão da prerrogativa a outros parlamentares. Marinor Brito (Psol-PA) era a primeira senadora inscrita, para falar como líder partidária. Mas, como Gleisi Hoffmann (PT-PR), quem primeiro solicitou aparte, só pôde fazê-lo depois do discurso (por sugestão de Aécio), um consenso obtido em meio a protestos prorrogou a sessão especial.

Concedida a palavra a Gleisi, o clima de debate esquentou. A petista elogiou a iniciativa de Aécio e até as conquistas de governos anteriores, mas logo passou a criticar ações tucanas, como a emenda que garantiu a reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e política de privatizações atribuídas às gestões do PSDB.

“Nem tudo são flores, senador Aécio – nessa história não está contemplada aí a questão das privatizações, embora vossa excelência tenha falado delas. Mas foi uma transferência de patrimônio público para o patrimônio privado financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Social. E também não se colocou aí a forma escandalosa como foi obtida a aprovação da reeleição no Congresso Nacional, mudando as regras do jogo no momento em que o jogo estava ocorrendo”, disse Gleisi.

Os elogios de Gleisi foram reforçados pelo líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE) – que, a exemplo da colega, trocou as loas pelas reclamações. “Essas qualidades todas que vossa excelêcia tem não lhe dão, me perdoe dizer, o direito de ser injusto”, disse Humberto, em referência à versão sobre as preferências do PT.

“Vossa excelência, numa figura de retórica que eu reputo como bonita, disse que sempre que o PT foi chamado a escolher entre o Brasil e o PT, o PT ficou com o PT. Acho que essa frase seria melhor construída se nós fizéssemos o debate não entre o Brasil e o PT, mas que Brasil é o Brasil do PT e que Brasil é o Brasil do PSDB”, rebateu o petista, para quem as gestões do PT “mudaram a face” do país.

“O Brasil que incluiu mais de 23 milhões de pessoas que viviam na miséria; o Brasil que introduziu na classe média mais de 30 milhões de brasileiros e brasileiras; o Brasil que conseguiu reduzir a sua relação entre dívida pública e PIB a 37% e que, mesmo no momento mais crítico da maior crise acontecida no mundo desde 1929, alcançou uma relação que foi a 4,5%; o Brasil dos 15 milhões de empregos gerados com carteira assinada”, enumerou Humberto.

Comedido, Aécio reconheceu os avanços feitos “tijolo sobre tijolo, ao menos nessas duas décadas”, inclusive com o apoio do PT, e foi socorrido pelo oposicionista Itamar Franco (PPS-MG). “Hoje, o Governo tem uma inflação de 5% ao ano e perdeu o centro de gravidade. A verdade nós aceitamos, nobre Líder do PT, e lamentamos que debate não haja, nesta Casa, por falta realmente dos governistas, que não comparecem à instalação das medidas provisórias; que sequer aceitam debater conosco”, disse o ex-presidente da República, um dos mais ferrenhos críticos do alegado excesso de medidas provisórias editadas pelo Executivo e impostas ao Parlamento.

“O monólogo não é nosso, o monólogo é da situação. Ela não quer debater, ela só vem aqui para votar o que o Governo quer”, acrescentou Itamar.

Registrou-se cerca de 75 dos 81 senadores em plenário durante o discurso, que ainda foi testemunhado por deputados, ex-parlamentares e demais autoridades. Tendo sido iniciado às 15h40 desta quarta-feira (6), o primeiro discurso de Aécio Neves nesta legislatura está longe do fim, considerados os apartes diversos que se seguem em plenário. Pouco depois das 19h, ainda haviam oradores inscritos para falar em plenário. (Congresso em Foco)

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