sexta-feira, 4 de março de 2011

Trabalho e subjetividade no toyotismo

RESENHA DO LIVRO:"Trabalho e subjetividade: o espírito do toyotismo na era do capitalismo manipulatório"

Com olhar crítico sobre as novas tendências no ambiente de trabalho, Giovanni Alves desvenda em seu novo livro um tema crucial na reestruturação produtiva do século XXI: a subjetividade do homem que trabalha. Resultado de um profundo estudo sobre as engrenagens de envolvimento e sujeição do trabalhador no espaço laborativo e os processos de produção, o livro "Trabalho e subjetividade" revela as influências de uma nova modalidade no mercado: a “empresa enxuta” ou “flexível”.

Em substituição à coisificação típica da produção maquinal do taylorismo-fordismo, que formou a chamada sociedade do automóvel durante o século XX, surge uma nova lógica de controle e organização do trabalho, designada pelo autor como a “captura” da subjetividade. Nesse contexto, Alves aponta um intenso movimento de valores da empresa para a vida social e da vida social para a empresa, um impregnando o outro.

Essa nova planta produtiva, baseada no toyotismo, combina ampliação do maquinário técnico-científico-informacional, intensa exploração do trabalho, aumento da informalidade e perda de direitos, e é capaz de se apropriar ainda mais efetivamente do intelecto do trabalho, utilizando conceitos cada vez mais presentes na realidade do trabalhador.

Como aponta Ricardo Antunes, orientador do estudo e coordenador da coleção Mundo do Trabalho, da Boitempo Editorial, “as ‘células produtivas’, o ‘trabalho em equipe’, os círculos de controle de qualidade, as polivalências e as multifuncionalidades, as metas e as competências, os ‘colaboradores’, os ‘consultores’, os ‘parceiros’ são denominações infernais cuja substância se encontra na razão inversa de sua nomenclatura”.

Os estudos de Alves também revelam novos conceitos e críticas relacionados à psicologia das pulsões no trabalho e a um sistema de controle do metabolismo social, que articula em si e para si, de modo contraditório, mente e corpo do homem que trabalha. Muito utilizada por István Mészáros, depois de Marx, a noção de metabolismo social é ponto de partida para Alves organizar, no plano teórico, importantes elementos que explicam as novas conformações da reestruturação produtiva do capital no século XXI.

Para isso, sugere algumas categorias novas como sociometabolismo da barbárie, cooperação complexa, Quarta Revolução Tecnológica, valores-fetiche, expectativas e utopias de mercado, inconsciente estendido e compressão psicocorporal, salientando as implicações corporais da desefetivação do trabalho vivo no capitalismo flexível, com a disseminação da doença universal do estresse.

O economista e presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann, afirma a contribuição fundamental da obra de Alves como contraponto na literatura especializada, ainda muito comprometida com a oferta de visões amenas das configurações atuais. Segundo ele, a partir de "Trabalho e subjetividade", o leitor tem condições de compreender a reconfiguração pela qual passou o mundo do trabalho. “O conhecimento dessa realidade constitui inexorável parcela no desejo de sua transformação, sobretudo se acreditamos que outro mundo ainda é possível”, conclui Pochmann.


Giovanni Alves:

É doutor em ciências sociais pela Unicamp, livre-docente em sociologia e professor da Unesp, campus de Marília. É pesquisador do CNPq com bolsa-produtividade em pesquisa e coordenador da Rede de Estudos do Trabalho (RET) e do Projeto Tela Crítica. É autor de vários livros e artigos sobre o tema trabalho e sociabilidade, entre os quais O novo (e precário) mundo do trabalho: reestruturação produtiva e crise do sindicalismo (Boitempo Editorial, 2000).

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