sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Brasil: Mineradores morrem soterrados; são 4 mortes em um mês

Karoline Zilah/Paraíba 1

Dois mineradores foram vítimas de um soterramento enquanto trabalhavam numa empresa de garimpo localizada no município de Junco do Seridó, na região do Seridó paraibano. De acordo com uma cooperativa de trabalhadores, uma retroescavadeira da Prefeitura faz o trabalho de resgate junto com outros mineradores. Por estarem dentro de um túnel, os homens não conseguiram sobreviver ao desmoronamento de terra.

Os corpos foram levados para o Hospital Otília Balduíno, na mesma cidade. Uma terceira pessoa que estava no local conseguiu sair com vida, sofrendo ferimentos leves. Foi ele quem convocou os colegas para resgatar os homens soterrados.

Com a confirmação das mortes, a Paraíba tem um saldo de cinco mortes por acidentes em mineradoras neste ano. Destes, quatro foram registrados somente no último mês, o que alerta os órgãos competentes quando às condições de trabalho. O acidente aconteceu numa empresa regularizada de exploração de caulim na comunidade Várzea da Carneira.

Em novembro, o Jornal da Paraíba publicou que o setor de mineração emprega na informalidade cerca de 40% da mão de obra do município de Junco do Seridó. A informação é da Cooperativa de Mineradores do Seridó (Cooperjunco). O trabalho realizado por operários de forma irregular em mineradoras fez com que apenas este ano fossem encaminhados 30 procedimentos ao Ministério Público Federal (MPF), pedindo a apuração de acidentes e formas precárias de exploração do trabalho.

Os processos foram encaminhados pela superintendência local do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), órgão pertencente ao Ministério de Minas e Energia. A superintendente Marina Motta Gadelha demonstrou preocupação com o ocorrido. Ela informou que encaminhou engenheiros ao local e que deverá providenciar uma força-tarefa de fiscalização para detectar as irregularidades que resultaram nos acidentes mais recentes na região do Seridó.

No primeiro acidente ocorrido em novembro, o departamento encaminhou um pedido de providências a Brasília. Nestes casos, o Ministério Público do Trabalho também pode intervir para checar as condições de trabalho. Embora os números sejam preocupantes, o DNPM ainda aguarda laudos das perícias feitas na mineradoras. Os três primeiros casos do ano aconteceram em áreas exploradas irregularmente. Já este último foi numa barreira regularizada por uma empresa.

O trabalho informal, sem equipamentos de segurança e sem acompanhamento de profissionais em Engenharia e Geologia, reforça o perigo de acidentes com mortes. Em novembro, Aparecida Farias, representante da Cooperjunco, denunciou ao Paraíba1 que as autoridades responsáveis não agiam com eficácia no combate à exploração ilegal dos garimpos.

O Seridó paraibano é uma área rica em caulim e quartzitos, o que atrai empresários que terceirizam mineradores e exploram a atividade irregularmente. O Departamento de Produção Mineral, em parceria com a UFCG, o Sebrae e o Governo do Estado, tem um programa de regularização das mineradoras, oferecendo suporte técnico e acompanhamento profissional.

Estado ausente

De acordo com o chefe de segurança do Núcleo de Segurança ao Trabalhador do Ministério do Trabalho, Clóvis da Silveira Costa, responsável pela fiscalização sobre as condições a que são submetidos os profissionais em toda a Paraíba, o órgão não tinha ciência da gravidade do problema que os garimpeiros daquela região enfrentam. Clóvis afirmou que uma senhora de Junco do Seridó, cujo marido faleceu em um desses acidentes nas minas no início do mês de novembro, telefonou-lhe fazendo uma denúncia e pedindo que alguma providência fosse tomada. A partir disso, reuniões foram feitas a fim de discutir estratégias e o intuito é de fazer uma visita às minas hoje mesmo.

Risco

De acordo com informações da Cooperjunco, existem cerca de 300 minas que desenvolvem atividades de extração de minério no município de Junco do Seridó. Mais de 90% delas realizam trabalhos clandestinamente. Cerca de 30 pessoas morreram nos últimos cinco anos naquela região, soterradas nas minas. Em apenas um dia, houve o registro de três mortes por conta de acidentes com desmoronamento. Os sindicalistas denunciam que todos os anos morre alguém, seja em decorrência da queda de barreiras ou em virtude da precariedade dos equipamentos empregados no serviço, que não conseguem sustentar o peso dos corpos dos garimpeiros durante o trabalho e se quebram no momento em que eles precisam ser erguidos para ir da superfície até o final das valas, que atingem uma profundidade de 50 metros.

2 comentários :

Anônimo disse...

isto e uma falta de segurança. tenho 39 anos morei ai na carneira minha familia foi criada fasendo este trabalho. meu pai hoje tem serios poblemas de saude. por causa deste trabalho. escravo. bom para aqeles mais ricos claro q e quem fica com . com a moior produção. claro os que nececitam . vcs ja sabem .agora pelo menos esta sendo noticiado. estas tragedias quem sabe se nossos outoridades tomama algumas providencias.

Molina com muita prosa & muitos versos disse...

Mineradores do Seridó trabalham em condições subumanas

Extratores de caulim se arriscam diariamente para conseguir cerca de R$ 80 por mês de trabalho.
Por Ana Paula OliveiraTamanho do texto: A Imprimir
Ana Paula Oliveira

Darrimar Lopes: "Eles descem no túnel de cuecas porque o calor é muito forte".
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Mineradores do Seridó trabalham em condições subumanas
A extração artesanal do caulim, um minério quimicamente inerte com diversas aplicações na indústria, tem sido um vilão na vida de trabalhadores autônomos na Região do Seridó, mas precisamente em Equador e Parelhas, municípios considerados com alto risco para a saúde do minerador.

No início deste mês, o trabalho muitas vezes chamado de escravidão branca, devido ao pó do caulim, fez mais uma vítima. Devido a um soterramento de terra, em um buraco que em média tem profundidade de 50m, um trabalhador morreu.

“Quando eles não morrem soterrados, eles morrem adoecidos”, diz a coordenadora do Centro Regional de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest) de Caicó, Darrimar Lopes, explicando que o caulim provoca endurecimento dos pulmões, conseqüentemente, insuficiência respiratória.

Segundo a coordenadora do Cerest Caicó, o órgão desenvolveu entre setembro e novembro de 2007 pesquisas com objetivo de detectar essa dura realidade. “Depois dessa pesquisa, fomos convidados para apresentar os resultados em Brasília para o coordenador de Saúde de Minas e Energia, José Carlos do Vale”, enfatiza.

Na pesquisa, foi constatado que, no município de Equador, 62% dos trabalhadores de minas executam as atividades em túneis e 38%, a céu aberto. “Dentro ou fora dos túneis, o trabalho é muito complicado. Fora, eles correm o risco de desabamento de terra, e dentro, o risco é de soterramento”, explica a coordenadora.

Outro dado constatado pela pesquisa é que, em Parelhas, apenas 18% dos trabalhadores usam equipamento de proteção individual e 82% não utilizam nenhum material de segurança.

“Eles descem no túnel de cuecas porque o calor lá dentro é muito forte”, declara.

Em Parelhas, 53,3% dos trabalhadores apresentam sintomas respiratórios. Geralmente o minerador apresenta dores nas pernas, peitos e cabeça.

“Infelizmente é o único meio de vida para a sobrevivência deles”, afirma. Uma caçamba com o minério é vendida por eles ao preço de R$ 60. “Muitas vezes eles tiram R$ 80 por mês”, garante.
De acordo com a coordenadora, a grande preocupação do Cerest de Caicó é com a saúde do trabalhador e os direitos da vida de cada um. “O principal objetivo da gente é trabalhar, adoecer não”, alerta.

Ela informa que, nos trabalhadores em que são identificados problemas, eles são encaminhados para o Cerest e atendidos por médicos especialistas.

“Quase 95% dos trabalhadores que chegam ao Cerest estão num estado bastante avançado de debilitação”, lamenta.

As cidades de Ouro Branco, Carnaúba dos Dantas, Currais Novos, Jucurutu, Jardim do Seridó, Acari e Santana do Seridó possuem risco do trabalho de mineração.

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