segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O perfil do endividamento do brasileiro


Nunca o brasileiro deveu tanto. Entre cartões de crédito, cheque especial, financiamento bancário, crédito consignado, empréstimos para compra de veículos, imóveis - incluindo os recursos do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) -, a dívida das famílias atingiu no fim do ano passado R$ 555 bilhões. O valor é quase 40% da renda anual da população, que engloba a massa nacional de rendimentos do trabalho e os benefícios pagos pela Previdência Social.

O endividamento da população brasileira com alguma renda é crescente que é necessário a elaboração de uma lei que trate do superendividamento do consumidor brasileiro. Os bancos e as financeiras preferem ter um devedor atrelado a uma dívida impagável do que permitir que ele pague, analisando este fato chegamos a uma triste conclusão, que não se pode mais continuar com o modelo atual, em que não se renegocia, pois se lucra mais com um consumidor morto economicamente.

O aumento da oferta de crédito no País aquece artificialmente a economia, ao colocar mais dinheiro em movimentação. E acelera a outra ponta dessa cadeia, que é o endividamento do brasileiro. Levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) feito com 17,8 mil consumidores de todas as capitais e Distrito Federal mostrou que, em março, o total de brasileiros que declararam ter alguma dívida chegou a 63%.

Em janeiro deste ano, quando a pesquisa começou a ser feita, esse número estava em 61,2%. Segundo dados do Banco Central (BC), as concessões de crédito do sistema financeiro para pessoa física somavam R$ 650 bilhões ao final de fevereiro, um crescimento de 19,3% no período de 12 meses.

72,5% das famílias endividadas indicam o cartão de crédito como o principal tipo de dívida, seguido pelos carnês, com 27,4%, e pelo financiamento de veículos, com 12,5%. "É recorrente o limite do cartão de crédito de uma família atingir o limite de sua renda mensal, o que não ocorre em outros tipos de financiamento", aponta Dentes.

Mas a facilidade de acesso custa caro: o cartão de crédito, segundo pesquisa da Anefac, possui a maior taxa de juros entre as modalidades de crédito ao consumidor, com 10,69% ao mês, ou 238,30% ao ano. Mesmo o cheque especial, outro campeão de juros altos, cobra bem menos: em média 7,38% ao mês, ou 135,01% ao ano.

Em meio à euforia com a recuperação econômica e à fartura de crédito, acendeu a luz amarela entre especialistas. Após duas elevações seguidas da taxa básica de juros (Selic) e com a perspectiva de novas altas até o fim do ano, o que encarece os empréstimos, a taxa de inadimplência deve ter um repique em junho. A Serasa Experian vem detectando o avanço, puxado por consumidores das classes C e D, que receberam benefícios do governo para a compra de produtos da linha branca e veículos e, agora, não conseguiriam honrar seus compromissos. Os consumidores mais pobres não estão acostumados a lidar com o crédito. Eles têm pouca habilidade para gerenciar dívida, praticamente não têm poupança e acabam inadimplentes.

No estudo feito pelo consultor Humberto Veiga, da Universidade de Brasília, foi confirmado que o endividamento do brasileiro é recorde, mas com números diferentes. Ele considerou apenas o saldo de empréstimos com recursos livres, isto é, excluiu os empréstimos do SFH e levou em consideração somente a massa de salários das seis regiões metropolitanas do País, deixando de fora os benefícios da Previdência.

Como a base de rendimentos considerada no estudo de Veiga é menor, ou seja, é a massa de salários nas seis regiões metropolitanas, o economista concluiu que o brasileiro encerrou 2009 devendo o equivalente a 10 meses e 20 dias de salário, a maior marca da série iniciada em 2004. Em 2008, a dívida, nessa fórmula de cálculo, era menor: correspondia a 10 meses e 2 dias de salário.

O aumento do endividamento das famílias é apontado também por outro tipo de pesquisa. De acordo com a diretora da Kantar Worldpanel (ex-Latin Panel), Christine Pereira, 65% dos dois mil lares visitados na Grande São Paulo e na Grande Rio pela consultoria tinham algum tipo de financiamento em 2009. No ano anterior, esse índice estava em 60%. Ela observa que, no ano passado, o porcentual de famílias com financiamento era superior a 50% em todos os estratos de renda.

Avanço do crédito

O crédito no Brasil representa 45% do PIB. Em 2001, esse porcentual não passava dos 27%. Apesar do avanço, o segmento no País ainda é considerado tímido, se comparado a países como os Estados Unidos, cujo crédito atinge 187% do PIB (final de 2008), a Inglaterra, com 155% do PIB, a China, com 123% do PIB ou a Índia, com 78% do PIB. Essa diferença não significa, no entanto, que o País possa aumentar sua taxa de crédito de forma ilimitada.

"A percepção de alguns analistas de que o crédito no Brasil ainda deve avançar muito é perigosa", alerta o professor da EAESP-FGV, José Pereira da Silva. "Nós não suportaríamos chegar ao nível de endividamento do norte-americano." O professor explica que o custo da dívida no País ainda é muito elevado, além de a população ainda possuir renda baixa e prazos relativamente curtos de financiamento.

Silva aponta a popularização do uso do cartão de crédito pelas faixas de população com renda mais baixa como ponto de preocupação, uma vez que o comprometimento da renda dessas famílias para suprir necessidades básicas ultrapassa os 80%. "Há nesses casos mais necessidades reprimidas, pois estão fora do poder real de consumo dessas pessoas", explica.

Inadimplência

A expectativa de aumento da taxa básica de juros nos próximos meses, aliada ao crescimento do endividamento em ritmo superior ao da renda aumentou a quantidade de inadimplentes no segundo semestre deste ano, avaliou a CNC.

1 comentários :

Anônimo disse...

muito bom, é pena que ninguem ligue, pobre brasil,sorte da dilma, do serra,e do lula.Porque ninguem debate como vão pagar 1 trilhão e meio de divida interna.

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