sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

No Paraná as perdas com a seca vão a R$ 2,25 bi, diz Conab

As perdas dos produtores de milho, soja e feijão provocadas pela seca registrada entre novembro e o início de janeiro, inicialmente estimadas em R$ 1,5 bilhão, devem chegar a R$ 2,25 bilhões no Paraná, conforme avaliação técnica divulgada ontem pela Companhia Na­­cional de Abastecimento (Co­­nab). O impacto é 50% maior que o calculado no início de ja­­neiro.

O diagnóstico da Conab se baseia em dados do Depar­tamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab). Os valores consideram os preços atuais pagos aos produtores de grãos e o volume que deixará de ser colhido.

A maior queda de receita deve ser registrada entre os agricultores que cultivam soja: ao menos R$ 1,5 bilhão. A produção estadual, conforme a Conab, será de 11,6 milhões de toneladas, com redução entre 16% e 20%. Por falta de água e pela ocorrência de noites frias em pleno verão, a oleaginosa estaria rendendo 2,5 milhões de toneladas a menos que seu potencial.

No milho, a quebra climática também tende a atingir 20%, reduzindo o potencial de 7,4 milhões para 5,9 milhões de toneladas, afirma o técnico da Conab Eugênio Stefanelo. Essa diferença, de 1,5 milhão de tonelada, poderia render R$ 550 milhões.

“Nas áreas de maior concentração da cultura, as precipitações estão praticamente normais. No entanto, em toda faixa do Sudoeste e Oeste, que margeia o Rio Paraná, e também nas regiões Noroeste e Norte, que plantam 40% do milho do estado, existiram locais com 60 dias sem precipitação”, diz o analista. “As perdas variam de 20% a mais de 50%.”

A primeira das três safras de feijão que integram a temporada 2011/12 também sofreu forte impacto fenômeno La Niña. A produção poderia chegar a 430 mil toneladas, mas deve se limitar a 330 mil, aponta a Conab. A primeira projeção já considerava redução de 27% na área de cultivo, para 250,6 mil hectares. A receita do setor poderia ser R$ 200 milhões maior se o potencial de produção fosse atingido e os preços se mantivessem nos patamares atuais.

O clima da época do plantio e o atual contrastam com as condições enfrentadas pelas lavouras nos últimos meses. De setembro até o início de novembro, as precipitações foram normais, afirma o diagnóstico da Conab. No entanto, as variações bruscas de temperatura desse período, por si só, afetariam a produtividade do feijão e da soja. Do fim de novembro até a segunda semana de janeiro, faltou chuva, o que atingiu também o milho. Con­forme a análise técnica, as precipitações registradas entre 13 e 17 de janeiro eliminaram o déficit hídrico do solo em praticamente todas as regiões do estado e estão favorecendo o plantio da segunda safra de feijão e, em breve, a do milho de inverno.

O quadro tem impacto nos preços ao consumidor final. O produtor de feijão carioca, que recebia R$ 100 por saca de 60 quilos, agora consegue R$ 150. Nos supermercados, a tendência é de que o alimento bata em R$ 5 o quilo. A soja se mantém estável e o milho em alta, elevando o custo da ração e, consequentemente, os preços das carnes.

Campos Gerais e Centro-Sul aliviam impacto da quebra

Cassiano Ribeiro, enviado especial

O Centro-Sul e os Campos Gerais vão impedir que as perdas registradas no Oeste, Sudoeste, Centro-Oeste, Noroeste, Norte e Norte Pio­neiro tenham impacto tão forte na produção de grãos, apurou a Expe­­dição Safra Gazeta do Povo em via­gem pelo interior do estado. Plantadas quase um mês mais tarde do que nos polos atingidos pela seca, as lavouras de soja e milho do entorno de Guarapuava, Ponta Grossa, Pal­meira e Arapoti prometem ao me­­nos amenizar a quebra da safra paranaense.

No Oeste, boa parte dos agricultores havia concluído o plantio no início de outubro, enquanto nos Campos Gerais as plantadeiras ainda trabalhavam até o fim de novembro. Nos últimos meses, apesar de terem ocorrido semanas seguidas de sol, a situação não se compara à seca de até 50 dias enfrentada por lavouras de Toledo (Oeste). Encorpadas, as plantações dos Campos Gerais – ainda em fase de floração e frutificação – podem render tanto quanto na excepcional safra passada.

Os produtores de Guarapuava se mostram satisfeitos com o volume de chuvas desta safra. “O acumulado ficou um pouco abaixo da média, mas nada preocupante. O único problema que enfrentamos nos últimos anos foi o granizo”, afirma Carlos Eduardo Luhn, dono de 400 hectares cultivados com soja. Luhn espera colher 3,3 mil quilos de soja por hectare a partir de fevereiro, 100 quilos a menos (ou 2,9%) que um ano atrás. Apesar das chuvas suficientes, a temperatura surpreendeu, com noites mais frias que o normal e dias quentes. Esse fator pode limitar o rendimento do milho a 9 mil quilos por hectare, 480 quilos (ou 5%) a menos do que em 2010/11. “Quase todas as pontas das espigas tiveram problema de enchimento de grãos”, afirma.

O frio registrado em novembro e dezembro também deixou manchas nas lavouras de Ponta Grossa. Mas a expectativa dos agricultores, é positiva. “Acho que podemos fi­­car perto da média de 3,75 mil quilos de soja por hectare que tivemos no ano passado”, calcula o produtor Gustavo Ribas Netto.

Ele diz que o uso de sementes com ciclo curto, as mesmas usadas nas regiões atingidas pela seca, têm elevado em pelo menos 10% os rendimentos da soja nos últimos anos. “Começamos a colheita da soja precoce com produtividade média de 3,5 mil quilos por hectare. Quando chegamos nas áreas de ciclo tardio, o rendimento cai para 3 mil quilos”, diz.

No Oeste, além de permitir a antecipação do plantio do milho de inverno, a adoção das sementes de soja de ciclo curto é defendida como estratégia de redução de custos. O cultivo é abreviado em duas semanas, para 120 dias, e exige menos fungicida. (GP)

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